sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Quando o médico vira paciente

Para quem foi treinado para tratar e prevenir doenças, ver-se na mesma situação de seus pacientes é uma situação difícil. Mas a experiência pode ter como resultado uma mudança positiva na forma de ser médico

Por Cristina Almeida | Fotos Danilo Tanaka

O que eu aprendi com o meu medo do câncer? Esse foi o título de uma matéria de capa publicada pela revista Time, na segunda quinzena de junho de 2011. O protagonista da história era o médico Mehmet Oz, ou o Dr. Oz, conhecido por suas aparições no programa da apresentadora americana Oprah. A reportagem é um depoimento sobre como ele enfrentou o diagnóstico da existência de pólipos em seu intestino, a colonoscopia, o medo da biópsia, o comportamento esquivo para um segundo exame, além das questões relativas à comunicação do problema para a família. No final, Oz declara que todo o estresse que viveu durante esse processo é nada se comparado aos benefícios de uma atitude preventiva, que poderá garantir um futuro saudável, ao lado das pessoas que lhe são caras. "Algumas vezes isso demanda coragem... Não é fácil. Porém pode salvar sua vida", concluiu o especialista.
 
Mas seria possível que médicos, treinados para tratar doenças, sejam maus pacientes, isto é, resistam a um diagnóstico ou tratamento? Segundo Robert Klitsman, psiquiatra da Columbia University Medical Center (EUA) e autor do livro intitulado When doctors become patients [Quando médicos se tornam pacientes] (ed. Oxford), os médicos aprendem cedo que é necessário estabelecer uma hierarquia entre eles, seus pacientes e as doenças. Klitsman afirma que usar um jaleco, desde os primeiros tempos da faculdade, tem como efeito principal a crença de que ele possui poderes mágicos que repelem todo mal. Por isso, acreditam que nunca ficarão doentes. Apesar disso, vivenciar essas circunstâncias pode ser extremamente benéfico para a relação entre médicos e pacientes. Confira algumas histórias de vários especialistas e saiba quais foram as lições que eles tiraram dessas intensas experiências.

 
 
Hipertireoidismo

        Entre as doenças que um reumatologista trata existem aquelas de natureza autoimune. E eu descobri que tinha uma desse tipo, o hipertireoidismo. Comecei a me sentir mal e resolvi fazer os exames por conta própria, os resultados foram positivos. Depois, fui a um especialista, que conduziu todo o tratamento. Como é comum nesses casos, tive que tomar cortisona. As consequências foram as restrições alimentares e físicas, além do inchaço e a fome intensa, um dos efeitos do remédio. A partir de então, passei a entender como meus pacientes se sentiam na mesma situação. Eu me preocupava quando ouvia no consultório as queixas deles, e insistia para que se esforçassem na aceitação das circunstâncias da doença e no controle do peso. Minha doença é crônica, e está sob controle graças à medicação que estou usando.
Cláudia schainberg, professora de reumatologia da Faculdade de Medicina da Universidade de são Paulo (FMUSP.)

Dor aguda


      No meu caso, vivenciei um quadro de dor aguda, que teve como causa desencadeante dois procedimentos cirúrgicos. Um deles foi nos ombros e o outro, um refluxo gastroesofágico. Toda lesão de tecidos tem como consequência a dor e a primeira semana do pós-operatório foi muito difícil. Mesmo em repouso, eu não sentia alívio. Ter sido paciente nessas situações não foi complexo. Sou muito zeloso com meus pacientes, e sempre tive um cuidado especial com suas queixas. Jamais me neguei a receber um telefonema, nem desprezei uma preocupação. Ser um paciente, em curto espaço de tempo, ativou a crítica, pois fui capaz de perceber o grau de atenção que deve ser dispensado.
Dr. Claudio Corrêa, coordenador do Centro de Dor e Neurocirurgia Funcional do Hospital 9 de Julho.
 
Câncer de próstata

  Sempre estive atento aos exames preventivos, os quais fazia regularmente com meu urologista, até que ele identificou um nódulo e solicitou uma biópsia. Claro que me sentia preocupado, pois tinha consciência dos riscos da doença, mas enfrentei todos os procedimentos com tranquilidade. Após 45 dias do diagnóstico, fiz a cirurgia, e o prognóstico foi muito bom. Passados dois anos e meio desse evento, faço exames semestralmente, e assim seguiremos até que completem cinco anos da intervenção. A experiência influenciou minha relação com os meus pacientes: não em razão da cirurgia em si, mas pelo médico que me assistiu. Foi ele que me lembrou que é preciso olhar para o paciente com compaixão, conceito que, para mim, também engloba a solidariedade, sem que exista alguma diferença entre uma parte e outra. A lição que fica é que prevenir é sempre melhor do que curar.
Rubens de Barros, cirurgião cardíaco da Santa Casa de Misericórdia de Marília.
 
Acidente Vascular Cerebral (AVC)

        Numa manhã, acordei sentindo um leve formigamento na parte esquerda da face e da língua, mas achei que era um mal-estar passageiro. Os sintomas avançaram e tomaram todo o lado esquerdo do corpo. Comecei a ver as imagens duplicadas. O que se seguiu foi um autodiagnóstico de AVC. O curioso é que, sendo neurologista, esse é o tipo de problema com o qual lido diariamente. Desta vez, era eu quem estava vivenciando as queixas dos meus pacientes, incluído o medo. Meu maior receio eram as outras possibilidades que poderiam explicar os sintomas, como um tumor ou um surto de esclerose múltipla. Depois de fazer uma ressonância, o resultado indicou um pequeno AVC na região do tronco cerebral. O tratamento indicado nesses casos é medicamentoso, e o meu não foi diferente. Hoje, penso que me tornei bem mais tolerante com as demandas da prática médica.
Dr. Ricardo Afonso Teixeira, neurologista do Instituto do Cérebro de Brasília (IBC).

Obesidade/Cirurgia bariátrica

 Apesar de ter um histórico de obesidade familiar e pesar 211 kg, eu me sentia protegido de todos os males. Mas isso só até a noite em que acordei passando mal e tive um sangramento pelo nariz. Eu sabia que era sinal de elevação súbita da pressão arterial e me assustei. Há anos que não fazia uma visita médica e, por isso, a maioria dos exames tiveram resultados alterados. Sempre fui muito cético em relação à cirurgia bariátrica em razão de seus riscos, mas percebi que eu tinha mais passado do que futuro. Me submeti à cirurgia, mas fui um paciente negligente.
As complicações apareceram. Como eu não tomava remédios para controle da acidez, desenvolvi uma úlcera. Essa condição levou ao desfazimento da cirurgia. Eu e minha cirurgiã decidimos fazer nova intervenção, que, no final, foi bastante delicada. Após a experiência, o que eu mais desejava era ser um médico como minha médica foi para mim. A lição que fica é que precisamos sair do banco do motorista e virar passageiros. É preciso se colocar no lugar do outro.
Dr. Emilton Lima Júnior, cardiologista da Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).
 

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Médico é exonerado de Londrina por bater ponto em dois locais de trabalho

Conforme denúncia, ele registrava-se em um local e ia trabalhar em outro.
Além da demissão, profissional foi condenado a devolver salários ao erário.
 
 
 
Um médico foi exonerado da Secretaria Municipal de Saúde de Londrina, no norte do Paraná, porque batia ponto em dois lugares ao mesmo tempo e só trabalhava em um. A decisão foi formalizada na quinta-feira (21).
 
De acordo com a Corregedoria-Geral do Município (Cogem), foi constatado que o médico registrava presença na Maternidade Municipal Lucilla Ballalai, deixava o local, e ia para o outro emprego, no Hospital Universitário, onde também batia ponto.
 
A irregularidade ocorreu durante meses em 2013, conforme a denúncia. Além da demissão, o profissional também foi condenado a devolver ao erário toda a remuneração que ganhou indevidamente, sem trabalhar.
 
O servidor foi afastado em 8 de janeiro, quando foi considerado culpado no Processo Administrativo Discipilinar (PAD). A Prefeitura afirma que, desde então, ele não exerceu nenhuma função e não realizou mais nenhum plantão na maternidade.
 
Processos

 Tramitam, atualmente, mais de 140 processos - denúncias, sindicâncias e processos administrativos disciplinares - contra médicos na Corregedoria-Geral de Londrina, de acordo com a Prefeitura.
 
De acordo com o corregedor-geral do município, Alexandre Alberto Trannin, a Corregedoria-Geral tem proferido decisões demissionais quando são comprovadas condutas que ferem gravemente as normas estatutárias e a moralidade administrativa.
 
“O Estatuto dos Servidores Públicos do Município de Londrina estabelece que o servidor tem o dever de agir com honestidade, moralidade e lealdade, dever este que, se descumprido, gera responsabilizações severas”, enfatizou.
 
Trannin ressaltou, ainda, que as irregularidades investigadas também são comunicadas ao Ministério Público, que, com base nas apurações da Corregedoria, ingressa judicialmente com Ação Civil Pública contra o servidor pela prática de ato de improbidade.
 
A demissão é a penalidade mais grave prevista no Estatuto dos Servidores Públicos Municipais e impede que o servidor demitido tome posse em outro cargo público no município.
 

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

“Das coisas que me irritam”, ou “Vai trabalhar, vagabundo”

Médico reclamando do Estado e dos planos de saúde.
 
 
Eu confesso: desenvolvi um preconceito invencível contra médicos. Não gosto deles como categoria profissional — na verdade não é um simples desgostar, é desprezar, mesmo.
 
Poucas coisas me irritam mais que ver médico do Estado ou da Prefeitura, que na hora de prestar concurso faz fila de dobrar a esquina, se recusando depois a trabalhar e justificando sua canalhice profissional com a alegação de que os salários são baixos.
 
Fazem isso porque podem, porque contra o Estado tudo parece ser permitido.
 
Nas últimas décadas, com o surgimento do SUS, o Estado ampliou bastante a estrutura de saúde pública no país. Algumas cidades, como Aracaju, têm cobertura de quase 100%. Mas a ampliação da estrutura não significou necessariamente melhoria dos serviços, e o principal calcanhar de Aquiles do sistema público de saúde é justamente esse: a qualidade no atendimento.
 
O mundo está cheio de médicos que deveriam ser expurgados de profissão que se pretende tão nobre. Profissionais que não atendem direito os pacientes, gente que faz exames em 3 minutos sem sequer olhar para o doente à sua frente. Isso, claro, quando vão trabalhar, porque o salário do Estado é garantido, eles podem simplesmente faltar e cuidar de outros empregos.
 
Quando alguém tenta fazer esse bando de vagabundos trabalhar, a coisa fica feia. Recentemente, um hospital público de Aracaju instalou um sistema de biometria para checar a frequência dos médicos. Colocaram cola nos leitores ótico.
 
E quanto aos planos de saúde, que segundo eles pagam muito mal, é simples: basta ter vergonha na cara e evitá-los. Montem seu consultório. Mas não: eles precisam dos planos de saúde para fazer algum nome, conquistar alguma clientela.
 
Médicos me irritam por uma questão de dignidade, se não profissional, humana. Eu tenho a impressão de que eles acham que, porque estudaram por seis, sete anos, merecem tratamento diferenciado em relação ao resto da humanidade. Como se o trabalho real fosse a faculdade, e o resto da vida uma aposentadoria confortável.
 
 

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Remédio de graça é responsabilidade da União, Estados e municípios, decide STJ

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União, Estados, Distrito Federal e municípios são igualmente responsáveis quando o assunto é garantir aos carentes o acesso grátis a remédios. Este é o entendimento da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que levou em consideração que todos esses entes federativos formam o Sistema Único de Saúde, o SUS. As informações foram divulgadas no site do STJ nesta quarta-feira, 23.
 
Os ministros do colegiado julgaram recurso especial que chegou ao STJ contra o Estado do Paraná e a União para a aquisição, em caráter de urgência, de medicação especial para tratamento de um agricultor diagnosticado com linfoma não-hodgkin, que é um tipo de câncer.
A União argumentou que a responsabilidade para a aquisição do medicamento seria do Paraná, principalmente porque o repasse de verbas do Ministério da Saúde é feito para que os governos estaduais comprem e forneçam os medicamentos.
 
Segundo o STJ, o Estado do Paraná alegou que o medicamento solicitado seria excepcional e que não faz parte do rol de remédios fornecidos pelo SUS.
 
O relator do recurso, ministro Herman Benjamin, não acolheu nenhuma das duas argumentações. Segundo ele, a responsabilidade dos entes federativos, no cumprimento dos serviços públicos de saúde prestados à população, é solidária, ou seja, todos são responsáveis.
 
“A responsabilidade em matéria de saúde, aqui traduzida pela distribuição gratuita de medicamentos em favor de pessoas carentes, é dever do Estado, no qual são compreendidos aí todos os entes federativos”, advertiu o ministro.
Em relação ao fato de o remédio necessário ao tratamento do agricultor não constar do rol daqueles distribuídos pelo SUS, uma perícia comprovou a inexistência de outro medicamento que pudesse substituí-lo. O laudo comprovou também a eficácia do remédio no tempo de sobrevida do paciente.
Para a Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, por ser a saúde um direito fundamental, previsto na Constituição, “os entes federativos deveriam mover esforços para cumprir o que é estabelecido na Carta Maior e não criar entraves para que o cidadão tenha acesso àquilo que lhe é garantido constitucionalmente”.
 
 
 
 

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Entidades médicas pedem a proibição de gorduras trans nos alimentos no País

Carta-aberta direcionada ao Ministério da Saúde alega que o consumo do ingrediente eleva os níveis de colesterol ruim, aumentando os riscos de problemas cardíacos, obesidade e hipertensão
 
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Após o excesso de sal ser considerado um vilão da saúde pública, agora a comunidade médica foca esforços para acabar com a gordura trans.
 
Em parceria, a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso) exigiram, em carta-aberta, que o Ministério da Saúde, por meio da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), estabeleça a imediata proibição da gordura trans nos alimentos em território nacional. De acordo com o documento, esse tipo de determinação já está em andamento nos Estados Unidos e em alguns países da Europa.
 
Usada para intensificar o sabor e aumentar o prazo de duração de um alimento, a gordura trans está presente em diversos produtos, como biscoitos salgados, doces, batatas-fritas, pipoca de micro-ondas, pizza congelada e batatas-fritas congeladas. Como argumento, as entidades alegam que vários estudos já revelaram que o consumo de gordura trans eleva os níveis de colesterol ruim, aumentando os riscos de problemas cardíacos, obesidade e hipertensão.
 
Em 2013, a FDA (departamento que regulamenta alimentos e medicamentos nos EUA) concluiu que os óleos vegetais parcialmente hidrogenados, principal fonte de gordura trans nos alimentos processados, não são considerados seguros para a alimentação humana. Assim, o governo americano determinou que os produtos feitos com gordura trans devem ser retirados do mercado no país até 2018.
 
Na carta, as entidades brasileiras apontam problemas no Guia Alimentar para População Brasileira (GAPB), lançado em 2006, que restringe o consumo de gordura trans a 1% do valor energético diário, o que corresponde a aproximadamente 2 g/dia em uma dieta de 2 mil calorias, baseando-se em uma sugestão publicada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) de 1995. Segundo o documento, em 2004, a própria OMS teria revisto essa sugestão e lançado a Estratégia Global para Promoção da Alimentação Saudável, Atividade Física e Saúde, com a meta de eliminar o consumo de gordura trans industrial.

Estima-se que, no Brasil, 14 milhões de pessoas sejam diabéticas. Entre eles, a maioria é de obesos, hipertensos com colesterol elevado e com risco de morte por doença cardiovascular muito elevado.
 

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Artigo: Saúde e corrupção, as maiores preocupações nas pesquisas

Imagem internet

Ao contrário do propalado com insistência no passado, pela população, como merecedora de maior atenção das autoridades, a segurança tem cedido espaço para a opinião apontar, como prioridade a ser atacada, a saúde, por sinal primordial em primeiro plano, seguida da corrupção, esta cada vez mais em proporção desenfreada. A saúde, pela sua complexidade em atender de acordo o cidadão pelo SUS (Sistema Único de Saúde), tem sido periclitante pela falta de suporte financeiro –haja vista a insistente reclamação dos hospitais e postos de atendimento quanto à falta de estrutura para operar convenientemente. Tem se constituído no grande desafio presente no setor.
 
Nem os possuidores de planos de saúde têm ficado satisfeitos, pois os mesmos padecem de um melhor agasalho, quando necessitados, com as extensas filas para uma consulta, até no serviço de urgência, quando vários empecilhos são evocados para não dar ao segurado apoio de acordo com o contrato assinado. Por outro lado, a falta de medicamentos tem sido uma constância nos hospitais públicos.
 
Sempre, há a alegação da falta da verba para cobrir gastos com cirurgias e manutenção da hotelaria no mínimo padrão. Com o passar do tempo, sem a devida manutenção, hospitais se tornam sucatas de difícil recuperação, complicando mais o problema. E o pior na história é o agravamento da situação em todo o território, com uma saúde acéfala: faltam médicos e profissionais capacitados, e até a recente importação dos mesmos não melhorou a situação, considerada caótica, razão de ser apontada como negativa nas pesquisas de avaliação.
 
No que tange à corrupção, segundo item mais citado nas pesquisas, é horripilante. Nunca se descobriu tantas falcatruas cometidas como nos últimos dois anos, fazendo arrepiar até o mais cético, pelo volume desviado com facilidade, com conluio entre integrantes do poder e empreiteiras prestadoras de serviço à administração pública. As sucessivas prisões de altos figurões, muitos considerados intocáveis em qualquer avaliação prévia, entraram para as barras dos tribunais e estão mergulhados a cumprir rigorosas penas, com a ressalva de possuírem, à medida que o tempo passa, mais condenações com as novas delações e descobertas com as recentes investiga- ções –até atingindo elementos de escala superior.
 
O que deveria estar em uma escala de menos importância, tem preocupado a sociedade, porque essa escalada poderá diminuir, mas jamais acabar, e assim continuaria a deteriorar cada vez mais o nome do Brasil e do brasileiro além de nossas fronteiras. Lamentável. Lembro quando, em passado não muito distante, a preocupação maior era com relação a uma melhor segurança –tanto policial em ostensivo trabalho a ser exigido como na manutenção das estradas para se evitar maior número de acidentes– passou para um segundo estágio na aspiração das melhorias a serem atacadas com intensidade, assim ocorrendo com o combate ao desemprego com o decréscimo latente da economia, passaram a um patamar ínfimo perante os avaliados.
 
Desviar o foco para os problemas mundiais de desconforto com os desentendimentos, somados às insatisfações com os conflitos étnicos, não deveria ser a maior preocupação de um país em desenvolvimento quanto ao seu futuro, e sim outra alternativa ser revista com acelerada incidência, pois saúde e corrupção devem merecer maior atenção dos governantes, em detrimento às demais postulações.
 

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Corrupção no setor de saúde: Um grande desafio na perspectiva de três grandes países

O setor movimenta valores gigantescos e ainda é completamente suscetível a irregularidades iminentes, comprometendo a utilização dos recursos para melhora dos serviços prestados à sociedade.


Cynthia Catlett
Cynthia Catlett - Managing Director da divisão de Consultoria Técnica
 e Investigativa em Apoio a Litígios da FTI Consulting no Brasil.
A prática de pagamento de propina a médicos não é novidade, tampouco é uma prática exclusiva no Brasil. O setor de saúde movimenta cerca de 3 trilhões de dólares mundialmente por ano e está sujeito a diversas fraudes, como comissões ilegais para encaminhamento de pacientes, notas superfaturadas, falsificação de registros e assinaturas, solicitação de equipamentos e produtos – como famigerado caso das próteses – desnecessários, e, o mais comum, requisições falsas – faturas de serviços não prestados ou excessivos.
 
 
No Brasil, os casos de corrupção envolvendo o setor são sofisticados a ponto de utilizarem quase toda a estrutura governamental existente. Além do pagamento a médicos, existem supostos pagamentos a fiscais, subsídios desviados, licitações fraudadas, liminares judiciais utilizadas para obrigar instituições governamentais a pagar por procedimentos desnecessários.
 
O sistema de saúde norte-americano também apresenta características que propiciam mecanismos de corrupção, como por exemplo: os serviços de assistência médica são prestados por empresas privadas que são, ocasionalmente, pagos por programas governamentais; os fornecedores de assistência médica (médicos e empresas) são livres pra determinar quais os cuidados necessários (podendo haver faturamento de procedimentos supérfluos ou inexistentes) e as empresas fornecedoras de equipamentos e medicamentos estão em posição privilegiada de negociação com funcionários de saúde; além do mais, o grande volume de transações e produtos diluem informações de possíveis superfaturamentos, tornando mais difícil a identificação imediata de desvios.
 
Mas os escândalos relativos à corrupção não são apenas atributos ocidentais. A China, por exemplo, foi palco de grandes casos de corrupção em meados de 2012 – ano no qual o Partido Comunista mudou suas lideranças – e que resultaram na prisão perpétua ou pena de morte para figuras do alto escalão, como o ex-vice-presidente da Comissão Nacional para Desenvolvimento e Reforma e de um ex-dirigente do partido, entre outros, condenados por casos de corrupção, desvio de verbas, suborno e abuso de poder.
 
Desde então o governo se viu forçado a tomar medidas anticorrupção que evitassem irregularidades e retomassem a confiança no governo, já que quase metade da população chinesa acredita que a corrupção tem crescido desde 2009, o que poderia ocasionar descontentamento e agitação interna.
 
Com relação ao modelo de saúde chinês, ele é de certo modo semelhante ao brasileiro: existe um sistema público (sendo mais focado em áreas rurais, atualmente) e um privado. No entanto, o sistema público sofre com fundos escassos e funcionários mal pagos (principalmente médicos, diferindo do Brasil que, em contraste, oferece boa remuneração para estes profissionais), o que leva à utilização de uso de propinas para que cirurgias sejam efetuadas, além de solicitação de testes e procedimentos desnecessários para obtenção de mais dinheiro. O setor privado, em contrapartida, é extremamente caro, levando diversas famílias à pobreza ou a débitos de longo prazo, assim como ocorre nos Estados Unidos.
 
Apesar desse cenário negativo, existem medidas que podem ser tomadas para prevenir essas irregularidades, como: efetivo controle contábil e de recursos; transparência e participação popular na formulação, execução e análise da alocação de recursos; existência de alternativas privadas ao sistema de saúde público, o que poderia estimular a competitividade; campanhas de conscientização para que a própria população atue na fiscalização destes serviços; punição rigorosa para casos comprovados de fraude e avaliação de qualidade e desempenho do quadro de pessoas do setor.
 
Entretanto, nada disso vem sendo feito. O setor movimenta valores gigantescos e ainda é completamente suscetível a irregularidades iminentes, comprometendo a efetiva utilização dos recursos para melhora dos serviços prestados à sociedade e colaborando assim para uma perpetuação da corrupção sistêmica.
 

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

As mentiras dos médicos

Pesquisa americana revela que boa parte dos doutores não conta toda a verdade aos pacientes sobre prognósticos e erros
 
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VÍNCULO
Parte dos profissionais não fala de suas relações com laboratórios
 
 
Médicos mentem? Além de competência técnica, espera-se que o profissional de medicina nunca omita ou exagere, para mais ou para menos, o quadro de um paciente. Mas uma pesquisa feita nos Estados Unidos e publicada este mês na revista Health Affairs, voltada ao aprofundamento de políticas de saúde, revela que a honestidade não está sendo levada tão a sério pelos principais profissionais da área de saúde. De cerca de 1,9 mil médicos entrevistados, 55,2% confessaram ter dado um prognóstico mais otimista do que exigia a situação. “O grande problema nesses casos é a omissão de informação necessária para que o paciente tome decisões sobre sua saúde”, disse à ISTOÉ a coordenadora da pesquisa, Lisa Iezzoni, professora da escola de medicina da Universidade de Harvard.

Lisa cita o exemplo de um paciente de câncer que, ao receber o diagnóstico, não compreendeu o avançado estágio da doença. O resultado foi que não conseguiu se preparar – nem preparou a família – para as perdas emocionais e financeiras que sofreriam. “É humano não querer chatear. Mas isso não pode impedir um médico de passar a informação correta”, pondera Lisa. Para o médico Edevard José de Araújo, do Conselho Federal de Medicina (CFM), a verdade deve sempre ser dita, e de maneira muito clara. “Talvez não toda a verdade num primeiro encontro, mas durante dois, três ou mais, se for necessário, para um melhor entendimento”, defende.

O estudo apontou também uma grave omissão em relação aos erros médicos. “Somente 20% disseram ter assumido e relatado ao paciente a ocorrência de erros durante o tratamento ou diagnóstico”, afirma a pesquisadora. “O profissional não pode prometer um resultado 100% satisfatório. Mas, se algo acontecer fora do previsto, ele tem que informar”, orienta Araújo, do CFM.

Porém, 34% dos profissionais revelaram que não concordam completamente com a ideia de que devem reportar aos pacientes os erros médicos significativos cometidos no atendimento.

Outro ponto obscuro na relação médico-paciente é a transparência sobre o envolvimento dos profissionais com a indústria farmacêutica. Trinta e cinco por cento não estão seguros ou discordam da obrigatoriedade de informar ao paciente os seus vínculos com as empresas. “É um relacionamento impossível de não existir por causa do assédio e da força dessa indústria e que leva a um tipo de relação condenada, da qual nem sempre o paciente sabe”, diz Araújo.

E já que a relação médico-paciente nunca é tão clara como parece, a solução é desmistificá-la, conforme a professora Ligia Bahia, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro. “Os médicos são seres humanos e, como tais, sujeitos a diversas influências.” Ela recomenda aos pacientes exercerem sua autonomia, exigindo sempre explicação completa sobre qualquer diagnóstico ou tratamento.
 
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Luciani Gomes
 N° Edição:  2209 |  09.Mar.12
 

Dengue já pode ter causado mais de 100 mortes em Pernambuco

Aedes aegypti, mosquito da dengue, zika  e chicungunha, está em todas as localidades de Pernambuco / Rodrigo Lobo/ Acervo JC Imagem
Aedes aegypti, mosquito da dengue, zika e chicungunha, está em todas as localidades de Pernambuco
 Rodrigo Lobo/ Acervo JC Imagem
 
 
A contagem do número de adoecimentos por dengue, zika e chicungunha relativos a 2015 ainda não terminou em Pernambuco, mas os números parciais apontam 31 mortes confirmadas, atribuídas à velha conhecida, e 71 em investigação. Se todas forem comprovadas, já teremos ultrapassado a marca de 100, o que mostra a gravidade da epidemia, com mais de 146 mil prováveis doentes. Em 2014,  morreram 46 pessoas em razão da doença, segundo a Secretaria Estadual de Saúde. Na conta dos mortos não entra ainda a da índia xucuru Daniele Santana, que faleceu dia 6 de janeiro com infecção generalizada, 20 dias depois de ter apresentado sinais de virose. Na cidade onde ela morava, mais de 300 chegam ao hospital com sinais de dengue, zika e chicungunhs. Em uma semana, Pesqueira, no Agreste, pulou da 32ª para a 26ª posição entre os municípios com maior incidência de dengue no Estado.

 As próprias autoridades sanitárias acreditam, no entanto, que parte desses adoecimentos foi na verdade zika ou chicungunha, que só no segundo semestre do ano passaram a ter relevância nos levantamentos epidemiológicos. Em 22 dias, já são 1.386 casos suspeitos de zika e de janeiro de 2015 a 2 de janeiro de 2016, 2.605 de chicungunha, com 450 confirmações.o que mostra a gravidade da epidemia, com mais de 146 mil prováveis doentes. Confira a lista dos municípios com maior incidência (número de doentes por cada 100 mil habitantes).


Verônica Almeida - JC Mais Saúde

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Diagnóstico errado pode não ser culpa apenas do médico

O resultado da consulta também está em suas mãos. Saiba como fazer a sua parte para não ser a próxima vítima
 
No Dia Mundial do Rim, saiba mais sobre o Câncer renal
Qualquer paciente está sujeita a protagonizar esses episódios de final nada feliz
Foto: Getty Images
 
Um diagnóstico médico errado gera perda de tempo, gasto de dinheiro à toa e, pior, coloca a paciente em risco. Mulheres jovens - presumivelmente saudáveis e pouco habituadas a fazer perguntas - são um prato cheio para o engano. Conheça os hábitos que costumam levar ao equívoco e faça a sua parte para não ser a próxima vítima.
 
A verdade é que qualquer paciente está sujeita a protagonizar esses episódios de final nada feliz - você, inclusive. As pessoas estão aprendendo a exigir seus direitos no Brasil. De acordo com o Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp), a quantidade de processos ético-profissionais saltou de 1.022, em 2001, para 3.089, dez anos mais tarde. Nesse mesmo período, o número de condenações subiu 80%: de 246 para 444. Um crescimento muito maior que o da população de médicos em atividade no estado (32%). Conheça as principais causas de erro médico e proteja-se.
 
Excesso de Trabalho
 
Dos conselhos de medicina aos professores universitários, há unanimidade de opinião: nossos doutores trabalham demais. Segundo a tese de doutorado sobre erro médico que a socióloga Maria Marce Moliani defendeu na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a precariedade nas condições de trabalho é um dos três grandes fatores para a origem dos processos, ao lado de formação inadequada e autoconfiança exagerada do profissional.
 
Enquanto pilotos são obrigados a passar pelo menos 10 horas descansando entre os voos, não existe uma definição clara sobre o repouso dos médicos. A legislação brasileira apenas determina o limite de 12 horas de plantão, norma em geral ignorada pelos profissionais, que têm mais de um emprego. Um médico não pregar o olho pode ter consequências negativas. Cirurgiões que dormem menos de 6 horas na noite anterior a um procedimento costumam ter o dobro de complicações em operações que seus colegas descansados, segundo dados da American Medical Association.

Faça a sua parte - Quando for agendar um procedimento, pergunte ao médico quando é o plantão dele - e evite marcar seu atendimento para o dia seguinte. E, se você parar em uma sala de emergência e for atendida por um residente sonolento, peça para trocar de médico. "Ele pode até não gostar, mas precisa aceitar o pedido", afirma o pediatra José Fernando Maia Vinagre, corregedor do Conselho Federal de Medicina. "A autonomia do paciente é soberana."
 
Autoconfiança Exacerbada
 
Já ouviu aquela anedota que diz que os advogados acham que são Deus e os médicos têm certeza? Pois ela ilustra bem esse fator identificado pela socióloga Maria Marce: a autoimagem dos médicos. "É uma profissão em que admitir dúvida é quase como se declarar incompetente", explica. Talvez seja a roupa branca ou o título de "doutor", sabe-se lá, mas há algo neles capaz de transformar as mulheres mais mandonas em cordeirinhas. Muitas se sentem intimidadas de fazer perguntas. E é uma situação em que você já está se sentindo vulnerável. "É comum que a relação paciente/médico seja vertical, um se comporta como superior ao outro, como entre pais e filhos", explica Andrew Cook, do Vital Health Institute, nos EUA.
 
Há outra pedra no caminho: para ter um bom atendimento, tendemos à obediência. E quem nunca escondeu sintomas privados (hello, coceirinha vaginal) para evitar reprovação?

Faça a sua parte - Pense que esse não é um jogo de "nós contra os médicos". Temos de trabalhar em conjunto com eles, com o mesmo afinco destinado à nossa vida profissional e doméstica. Quando estiver no "modo pesquisa", não tenha medo de suas dúvidas arranharem a autoestima alheia. "Arrogância e ego são problemões na comunidade médica, mas os bons profissionais acolhem bem pacientes interessados em conhecer seus tratamentos", diz Richard Klein, autor de Surviving Your Doctors: Why the Medical System Is Dangerous to Your Health and How to Get Through It Alive (inédito no Brasil). Pergunte quanto achar necessário para se sentir tranquila.
 
Consulta Impessoal

Existem três cenários de atendimento de saúde no Brasil: o particular, o do convênio e o público. Nos dois últimos casos, nem sempre o paciente consegue se consultar com o mesmo médico - a rede credenciada dos convênios vive mudando e nos hospitais estaduais a superlotação atrapalha o processo. E até alguns médicos particulares fazem o tipo "tempo é dinheiro!" e encurtam as consultas para conseguir aumentar o número de atendimentos. "Foi-se o tempo em que era possível manter um contato de longo prazo com um profissional que sabia tudo sobre você e sua saúde", diz o médico Peter J. Weiss, autor de More Health, Less Care: How to Take Charge of Your Medical Care and Write Your Own Personal Prescription for Lifelong Health (inédito no Brasil). "Sem conhecer seu histórico, é mais difícil o especialista acertar o alvo."

Faça a sua parte - Monte um arquivo com seu histórico, incluindo exames, procedimentos, remédios e consultas - trabalhoso, sim, mas uma mão na roda quando trocar de profissional. Porém, mesmo que você faça uma linha do tempo detalhada dos dias de hoje até a fase dos dentes de leite, é provável que o médico não tenha tempo de olhar com a devida atenção. Nesse caso, tenha na ponta da língua um resumo no estilo "cenas do capítulo anterior".
 
Diagnóstico Precoce

Há milhares de doenças. Exceto pelo doutor House, da série de televisão homônima, a maioria dos médicos vê apenas cerca de 250 tipos delas ao longo da carreira. Isso dá margem a erro: profissionais da saúde aprendem que a doença mais óbvia é a correta - e geralmente acaba sendo. Mas, depois de diagnosticar dezenas de pessoas, é tentador se apressar nas conclusões. Imagine um médico que viu dez casos de garganta inflamada por estreptococos nos últimos dez dias. Se você entrar no consultório com a goela doendo, qual será a primeira coisa a passar pela cabeça dele?
 
Uma vez estabelecido um diagnóstico, esse rótulo tende a grudar até que apareça alguma evidência gritante de que se trata de outra doença (ou conforme a persistência do paciente). "Diagnóstico é uma questão de jogar contra as probabilidades", diz Peter Weiss. "Ainda que eu tenha 99% de certeza de que seja determinada doença, sempre haverá aquele 1% de perigo que eu esteja enganado."

Faça a sua parte - Parece óbvio, mas é preciso procurar o especialista da área. Muitas mulheres esclarecem dúvidas sobre qualquer problema de saúde com o ginecologista. Ok, a vida moderna é corrida à beça, mas nem por isso você deve abusar dos conhecimentos dele. "Mesmo que você tenha uma relação fantástica com o seu, precisa se habituar a consultas com um clínico geral", sugere a psiquiatra americana Janet Taylor, que trabalha com planejamento estratégico do segmento de saúde, em Nova York. Aumente as chances em seu favor com uma pesquisa antes da consulta - lembre-se, você está estudando o caso, não diagnosticando -, o que permitirá argumentar com o doutor. Mais importante: não pense duas vezes sobre buscar uma segunda opinião. Muita gente se intimida, o que é ruim especialmente para mulheres, já que doenças femininas são mal diagnosticadas - e não esqueça que o tratamento pode ser uma corrida contra o relógio. Um médico confiável não vai se ofender por um parecer de um colega, principalmente se for um especialista. "É um direito do paciente. Não existe essa de se melindrar", afirma o pediatra José Vinagre, do Conselho Federal de Medicina.
 
Receiturário Pronto

Um levantamento feito nos EUA - e a realidade brasileira não deve mudar nesse caso - mostrou que é de 17 minutos o tempo médio que um especialista leva para ouvir a queixa do paciente, diagnosticá-lo e prescrever o tratamento. Muitos já deixam o bloco de receitas à mão para agilizar o processo. Entre os americanos, a indicação de medicamentos aumentou 39% entre 1999 e 2009. A quantidade de receitas de remédios para dormir cresceu 21 vezes mais depressa que o número de queixas de insônia, segundo o periódico American Journal of Public Health. "Os médicos seguem a tradição de sacar o bloco de receitas, mas podem existir soluções como massagem ou acupuntura", ressalta Peter Weiss.

Faça a sua parte - Antes de comprar o remédio, você deve perguntar ao seu médico: há algum tratamento não alopático que eu possa tentar antes? Por que você escolheu esse medicamento, e não outro? Quais são os prós e contras de ingeri-lo? Se o profissional titubear nas respostas, procure outro. Caso você aceite a prescrição e tome as pílulas, fique atenta ao fato de que nem sempre a mesma solução se aplica a todos os casos. Cada organismo reage de modo diferente a um tratamento. Então, certifique-se de quais são os possíveis efeitos colaterais e não deixe de monitorar seu organismo atentamente. Se o seu tratamento terminou, mas você ainda se sente mal, marque outra consulta logo. Seu médico não vai adivinhar que você está doente, certo? "Sempre lembro meus pacientes que esse follow-up é essencial", diz o médico Napoleon Knight, vice-presidente do Carle Foundation Hospital, nos EUA. "É dever do paciente voltar ao consultório se perceber que não houve melhora." Afinal, ainda que desvendar o quebra-cabeça seja trabalho do médico, ninguém deve se importar mais com a sua saúde do que você mesma.
 
Como denunciar o erro médico

pode enviar a reclamação para o Conselho Regional de Medicina do seu estado pelo correio. Pode ser o próprio paciente ou um familiar: o importante é que haja identificação e assinatura do denunciante. O prontuário médico deve acompanhar a queixa. Não são aceitas acusações por e-mail, telefone ou anônimas.

· Outra opção é comparecer pessoalmente a uma das sedes que os CRMs mantêm nas capitais e em cidades do interior.

· Hospitais, serviços de saúde, Ministério Público, Poder Judiciário e delegacias são algumas das instituições que também podem encaminhar reclamações para o conselho.

· O CRM de seu estado pode, por iniciativa própria, denunciar um especialista por erro, por exemplo quando são veiculadas em meios de comunicação. O Cremesp recebe, em média, dez denúncias por dia.
 
5 doenças que passam despercebidas
 
 Milhares de mulheres recebem diagnósticos errados todos os anos. Conheça algumas doenças que muitos médicos ignoram nas pacientes

· Disfunções hormonais

· Doenças na tireoide atingem uma em cada oito mulheres, mas são tidas por ovário policístico e depressão. O trio causa alterações no humor e ganho de peso, falsamente atribuídos a falta de exercícios e dieta. Os médicos nem sempre perguntam em que fase do ciclo menstrual os piores sintomas aparecem, desprezando um indício da desordem. Testes de sangue (hormônios TSH e T4) e ultrassom completam o diagnóstico.

· Câncer de ovário

· O papanicolau aponta o câncer cervical, mas os testes estão em desenvolvimento no que diz respeito à versão ovariana. Esse câncer pode causar distensão e dores abdominais, confundidos com síndrome do intestino irritável. O diagnóstico é feito por palpação do abdômen, ultrassom, ressonância magnética e um exame de sangue para medir a proteína CA125.

Doenças do coração

Embora seja a causa de mortalidade número 1 entre as mulheres, muitos médicos ainda a consideram uma enfermidade masculina. Os doutores às vezes interpretam os sinais de alerta (dor no peito irradiando para o braço, sudorese, dor nas costas, queimação no estômago, enjoo, náuseas e cansaço inexplicável) como desordens de ansiedade.

Endometriose

Levam-se em média sete anos para a paciente descobrir a doença, que atinge de 10 a 15% das mulheres em idade fértil. São indícios cólica, dor na relação sexual e menstruação irregular. O diagnóstico é feito por meio de ultrassom, ressonância magnética, ecocolonoscopia e dosagem do CA125. Falta de zelo e de conhecimento do médico fazem a enfermidade passar batida.

Doenças autoimunes

Males como lúpus e fibromialgia - mais incidentes no sexo feminino do que no masculino - são confundidos com stress. Sintomas como dores nos ossos e fadiga também são recorrentes em casos de depressão e ansiedade, atribuídos a quem sofre de doenças autoimunes. O diagnóstico de ambas as doenças é um jogo de xadrez, feito por meio de um cruzamento de dados.

Tome as rédeas do seu checkup

1. Faça uma lista

Escrever seus sintomas, dúvidas e medicações que tem tomado evita o que Napoleon Knight chama de "Ah, mais uma coisinha", aquele momento em que a consulta está no fim e você se lembra de um dado crucial.

2. Diga a verdade

Honestidade total sobre informações como uso de drogas e prática sexual é inegociável. "Seu médico está lá para tratar você, não julgar", diz Janet Taylor. "Caso ele pareça ofendido, não é a pessoa que você procura."

3. Peça uma tradução

"Os médicos muitas vezes não percebem que estão usando uma linguagem que só especialistas entendem", afirma Richard Klein. Se o medicinês está difícil de compreender, sinalize. Peça ao doutor para falar mais devagar e simplificar o vocabulário.

4. Anote

É difícil reter a enxurrada de informações, sobretudo quando você recebe uma notícia difícil. Anote o que o seu médico tem a dizer sobre causas, tratamentos e cura. Depois repasse as informações com calma em casa.

5. Informe-se sobre os exames

Nem todos os testes são iguais: alguns apresentam resultados precisos, enquanto outros são mais vagos. Informe-se sobre as peculiaridades dos exames, incluindo falsos positivos e negativos.

6. Faça o follow-up

Não imagine que os resultados foram ok só porque seu médico não lhe deu retorno. Acesse o site do laboratório, ligue ou vá pessoalmente atrás dos números e dos laudos.
 
 



domingo, 10 de janeiro de 2016

Justiça manda indenizar em R$ 100 mil por perfuração no intestino e morte de paciente

Imagem internet

A 5ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo julgou procedente o recurso do autor e condenou o hospital e o profissional médico a indenizá-lo em R$ 100 mil pelo falecimento de sua esposa.
 
Em 27 de junho de 2003, a esposa do recorrente se submeteu à intervenção cirúrgica para retirada de um cisto no ovário. Não houve relato de intercorrência durante a cirurgia e a paciente foi avaliada positivamente pelo médico na visita pós-cirúrgica.
 
Contudo, dois dias após a realização do procedimento, a paciente foi encaminhada para UTI em estado grave. Depois de nove dias de internação e sem obter melhora, foi submetida a nova intervenção cirúrgica, ocasião em que se constatou a perfuração do intestino, tendo sido retirada uma parte do órgão para conter a infecção, porém sem sucesso, ante ao óbito da paciente.
 
Em sede administrativa, o médico foi absolvido pelo Conselho Regional de Medicina, que entendeu tratar-se de complicação possível no tipo de cirurgia realizada em virtude da proximidade entre o local operado e o intestino e a provável aderência do cisto àquele órgão.
 
Na esfera penal, entretanto, o médico foi declarado culpado pelo falecimento da paciente, na modalidade negligência, “pela inobservância de um dever objetivo de cuidado”.
 
Diante da sentença penal condenatória, a 5ª Câmara do TJ-SP entendeu que restou comprovada a prática de ato ilícito por parte do médico, nos termos do voto do relator, que concluiu: “Considerando as peculiaridades do caso, sobretudo a extensão do dano (falecimento da paciente), entendo que a importância de R$ 100.000,00 atende satisfatoriamente a dupla finalidade da indenização por danos morais. Nesse sentido, reformo a sentença para julgar procedente a pretensão e condenar os réus, solidariamente, ao pagamento de indenização no valor de R$ 100.000,00″.
 
 

Hospital Memorial São José é condenado a indenizar paciente que teve atendimento médico negado

imagem internet

O Hospital Memorial São José foi condenado ao pagamento total de R$ 45.423,50 a uma paciente que teve atendimento médico negado. A unidade de saúde deverá pagar R$ 20 mil, por danos morais, além de ter que ressarcir a autora em R$ 25.423,50, relativo ao valor utilizado por ela para a realização do procedimento médico. Os valores serão atualizados com juros e correção monetária. A sentença, proferida pelo juiz Carlos Gonçalves de Andrade Filho, da 29ª Vara Cível da Capital, foi publicada no Diário de Justiça Eletrônico (DJE) desta quinta-feira (25/9). As partes podem recorrer da decisão.
 
De acordo com o processo, a autora da ação firmou um contrato de plano de saúde com a Unimed Guararapes – Cooperativa de Trabalho Médico. Ela disse que foi internada no Hospital Memorial São José com complicações no sistema vascular cardiológico e que o médico acompanhante recomendou a realização de angioplastia e cateterismo com urgência. Porém, mesmo com a autorização do custeio do procedimento por parte da Unimed Guararapes, o hospital informou que não realizaria o tratamento, alegando que a Unimed estava em débito com a instituição. Devido à recusa, a paciente custeou o procedimento médico particular e a Unimed cobriu as despesas inerentes ao tratamento.
 
A autora da ação requereu a condenação tanto do Hospital Memorial São José quanto da Unimed Guararapes ao pagamento de indenização por danos materiais e morais. Em contestação, o Hospital Memorial São José negou ser responsável pelo ocorrido e, por isto, pediu a extinção do processo sem resolução do mérito ou a improcedência dos pedidos autorais. Já a Unimed Guararapes não apresentou defesa no prazo legal.
 
O magistrado relatou que não existe justificativa plausível para a negativa do hospital, pois a paciente havia comprovado o custeio do tratamento autorizado pela Unimed Guararapes. "Se a operadora de plano de saúde é inadimplente, trata-se de imbróglio a ser solucionado entre ela e o hospital, e o ônus dessa inadimplência não pode, de forma alguma, recair sobre a parte hipossuficiente dessa relação – o consumidor".
 
O juiz Carlos Gonçalves falou que o ato ilícito foi ainda mais grave devido à urgência e à seriedade do procedimento médico. Ele disse que não vislumbrou nexo causal entre os danos ocorridos e as ações da Unimed Guararapes, pois esta custeou o tratamento, cuja efetivação cabia fundamentalmente ao hospital, não à seguradora.
 
"Por fim, os danos materiais estão fartamente comprovados pela documentação. Já os danos morais são evidentes, pois a parte autora nutriu legítima expectativa na prestação do serviço pelo hospital, alimentada pela autorização fornecida pela operadora, e a quebra dessa expectativa é ato que vai muito além do mero aborrecimento, mormente em se tratando de caso que envolve o direito à saúde e à integridade física do paciente", finalizou o magistrado.
 
O Hospital Memorial São José também foi condenado a arcar com as custas processuais e os honorários advocatícios, fixados em 20% sobre o valor da condenação, com atualização monetária. 
 
 
 

Violações de Direitos Humanos e Currículo Oculto

Presente na Faculdade de Medicina da USP, o 'currículo oculto' é o conjunto de práticas que visa a manutenção do corporativismo e da exclusão social.
 
Estudantes de medicina da USP fazem piada com cirurgia de redesignação sexual
Créditos da foto: Estudantes de medicina da USP fazem piada com cirurgia de redesignação sexual
 
Em 2014 aconteceu a CPI dos Trotes, aberta na Assembleia Legislativa de São Paulo - Alesp, para apurar inúmeras denúncias que chegaram até aquela Casa referentes à violações de Direitos Humanos nas faculdades paulistas. Devido a gravidade dos fatos apresentados, nos quatro meses de duração da CPI, a imprensa não deixou de dar cobertura aos trabalhos da Comissão comandada pelo então deputado Adriano Diogo. Em novembro de 2015 completou-se um ano da Audiência Pública, também na Alesp, que deu origem à CPI; e, em março, fará um ano que a CPI  se encerrou.

No domingo último, o jornal Estado de São Paulo (edição de 3/1/2016, pp. E11), na capa principal do Caderno Metrópole, fez um balanço dos desdobramentos da CPI e das recomendações por ela feitas. A conclusão do jornal é a de que pouco se avançou na maioria das faculdades, sendo que impunidade e leniência parecem ser traços preponderantes de agentes públicos e dirigentes que deveriam dar prosseguimento aos trabalhos da CPI dos Trotes de forma efetiva e não cosmética, com exceção da promotora Paula de Figueiredo e Silva, que deu o primeiro acolhimento às denúncias encaminhadas ao MPE/SP e abriu inquérito; das colegas que a sucederam no caso, as promotoras Beatriz Helena Budin Fonseca e Silvia Chakian de Toledo Santos; da direção da PUCCAMP (Pontifícia Universidade Católica de Campinas); e, claro, da ação corajosa das vítimas e testemunhas que se apresentaram e de coletivos de estudantes e professores que, por fora da instituição, colocaram em prática mecanismos para coibir abusos e gerar uma cultura mais humanizada.

Não vamos tratar aqui da matéria de o Estado de São Paulo, mas discorrer sobre uma das consequências mais salientes e pouco debatida sobre o que pode levar a esse estado de coisas quando não tomado a sério e solucionado. Falamos aqui do pouco conhecido, mas presente no cotidiano de muitas instituições de ensino: o currículo oculto.

Currículo oculto
 
O enfoque que damos abaixo é nas escolas médicas, uma vez que foram as mais trabalhadas durante a CPI dos Trotes, mas é válido para todas as instituições de ensino que permitem práticas trotistas em seus ambientes acadêmicos.

Um texto descritivo que enumerasse formas de trote: tinta, farinha, cabelo raspado; pasta de dente perianal; álcool forçado; banho de urina; piscina de vômito; formas eufêmicas de abuso sexual etc. A lista, como demonstrou a CPI das universidades, não teria fim. Mas seria perda de tempo escrever um texto só pra dizer que não é legal jogar fezes nos colegas, certo?

Grande parte das pessoas entende trote enquanto conjunto de práticas de recepção supostamente amistosas, com intuito humorístico, mas que de vez em quando saem do controle. A intenção aqui é rechaçar esse discurso e mostrar que as barbaridades relatadas não são ‘acidentes’ ou ‘exageros’, tampouco se limitam ao período de recepção. Pelo contrário: tais casos são derivações naturais daquilo que representa a própria essência do fenômeno trote. E suas consequências se desdobram por muito além das primeiras semanas de curso.

A cultura de trote tem origem anterior à entrada na universidade. Isso fica evidente pelo folclore em torno da temática, que embebe o imaginário escolar, a abordagem do cinema e da literatura, o marketing das empresas de “cursinhos” etc. Nesse sentido, o recém-ingresso geralmente não é surpreso pelos grupos trotistas – ele já os esperava, muitas vezes com euforia e ansiedade.
 
Vale mencionar que essa expectativa só é possível em uma conjuntura de restrição do direito à educação. O ensino superior (sobretudo de medicina) é entendido como prêmio, disputado de forma desigual pelos setores privilegiados da sociedade que tiveram acesso ao ensino privado e\ou pelo subgrupo que pode pagar pelas caríssimas mensalidades. Os estudantes que ingressam são então nutridos com autoenaltecimento e ufania em relação a sua “conquista” e sua faculdade (o que foi bem exemplificado pelas canções de atléticas e fraternidades durante a CPI [1]). É frequente que os grupos trotistas alimentem essa cultura de ufanismo e de superioridade [2], deixando em evidência seu classismo e arrogância.

A ritualística de trote, então, revela as relações de veteranismo que demarcam a inserção do recém-ingresso nas dinâmicas hierárquicas da universidade. As brincadeiras guardam um implícito constitutivo de submissão performática, isto é, joga-se ludicamente com a autoridade teatral do veterano sobre o calouro. As piadas, em geral, destacam-se das prerrogativas que o mais velho tem sobre o mais novo. E esse humor costuma ser embalsamado por todos os pressupostos mais preconceituosos e marginalizantes contidos na sociedade (não são raras as piadas e cantos machistas, racistas, transfóbicos, lgbtfóbicos etc. [3]).
 
“Bu..., bu..., bu... eu como a seco. No c..., eu passo cuspe. Medicina, medicina é só na USP!” – gritam os veteranos, rodeando as calouras - “Eu tava no banheiro comendo a empregada, o índio abriu a porta e eu comi a bu... errada”.

Diante disso, observamos que a essência do trote repousa sobre a verticalidade das relações entre veteranos e calouros, sobre a desigualdade de poder, de voz e de prerrogativas entre esses personagens. Esse fenômeno pode se expressar em dinâmicas amistosas, mas também pode se radicalizar em situações mais violentas, o que varia e decorre de sua própria natureza.

A verticalidade imposta na relação de veteranismo perfaz a maior parte das instituições universitárias (CAs, DAs, atléticas, fraternidades etc) e se estende pelo próprio ambiente de ensino, em que os mais velhos, na hierarquia, tendem a ensinar aos mais novos (internos, residentes, preceptores) as condutas pertinentes. A despeito das dificuldades próprias no aprendizado dos saberes técnicos, isso evidentemente gera consequências de método para a maneira como se desenvolve a cultura universitária. Aulas são expositivas, entidades estudantis são hierarquizadas, conhecimento e decisões são construídos verticalmente.

Em suma, observamos que opera, sobretudo nos cursos de medicina, um currículo oculto, paralelo às grades oficiais. Através de entidades estudantis, em muitos casos financiadas e vigiadas por antigos membros (agora formados, médicos, professores), perpetuam-se tradições incontestáveis e arquiteturas sociais permeáveis ao assédio e a violência sistemática. A abrangência das consequências é incalculável, mas não por isso menos palpável, como indicam os inúmeros casos de estupro e de sequelas devido a trotes.

A construção da cultura do trote e de seus fundamentos (hierarquia, ufanismo, violência coletiva) confere homogeneidade aos grupos universitários e conforma unidade corporativa avessa a contestação. Em outras palavras, a submissão performática do trote não tem fim no trote em si, mas esbanja sua continuidade na construção de uma postura passiva dos estudantes, que se inserem numa dinâmica social de saúde mercantilizada, não enquanto agentes transformadores, mas como operadores diante de uma ordem social adoecedora.

É importante ressaltar que o trote constitui uma cultura exclusiva. Aqueles que se recusam a aceitar os rituais ou enfrentam os grupos trotistas são, então, perseguidos pelo bloco hegemônico. A CPI das Universidades deixou evidente tanto a falta de instituições que acolhessem as denúncias, quanto a dificuldade de garantir a proteção dos denunciantes, em muitos casos ameaçados por professores, vítimas de agressões físicas etc.

Quebrar com a cultura do trote e com sua ritualística significa, além de defender vítimas de violações de direitos humanos e apurar denúncias, afirmar com categoria que a universidade é espaço de construção coletiva e, portanto, apenas um ideário democrático pode formar práticas, concepções e profissionais empenhados na saúde da população.

* Allan Brum é coordenador da Denem (Direção Executiva Nacional dos Estudantes de Medicina) e estudante de medicina.** Ricardo Koba é professor e ativista de Direitos Humanos.
Apêndice:
[1] – “Escola de tradição, grande sem comparação. Nos esportes soberana, na ciência sem igual” – trecho de música do Show Medicina, fraternidade da FMUSP denunciada em escândalos de prostituição e violência
[2] – É bem elucidadivo o conceito freudiano de narcisismo das pequenas diferenças, que explica a atitude muito frequentemente hostil das atléticas para com seus supostos inimigos, num claro mecanismo psicológico de inferiorização do agrupamento rival a fim de elevar-se a patamares superiores
[3] – “Bu..., bu..., bu... eu como a seco. No c..., eu passo cuspe. Medicina, medicina é só na USP!” ou “Eu tava no banheiro comendo a empregada, o índio abriu a porta e eu comi a bu... errada”– cantos da AAAOC (Associação Atlética Acadêmica Osvaldo Cruz da FMUSP), sendo “índio” um termo usado pra se referir aos estudantes de outra faculdade (Escola Paulista de Medicina)

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Fátima Oliveira: Vivemos em uma época em que médicos não gostam de gente e enfermeiros que não gostam de cuidar



"Cuidados” como balizadores da atenção em saúde

Compartilho trechos do capítulo “Política médica”, que escrevi no livro “Médico – Profissional Diferente” (Folium Editorial, 2012), organizado pelo professor emérito da UFMG Alcino Lázaro da Silva, cirurgião, um ser humano de muitos dons, sobretudo o de gostar de cuidar de gente!
 
“No mundo contemporâneo há um entendimento generalizado de que as profissões não podem se furtar aos contratos sociais e éticos do tempo em que são exercidas. Aqui temos um ponto crucial da revalorização do profissional médico, pois, a meu ver, a medicina jamais perdeu prestígio, ao contrário, acumula cada dia mais e mais prestígio perante a sociedade, já que as pessoas confiam e têm esperança na ciência médica. No entanto, avalio que o médico teve perda de prestígio social e de poder também, ressaltando que poder e prestígio não são palavras sinônimas, logo, são de natureza incomparáveis.
 
“Destaco que circula em meio à categoria médica uma saudade de um tempo idílico em que o médico gozava de um prestígio social quase divino. Evidentemente, é impossível um retorno a tal estado de ser, por vários motivos.
 
Em primeiro lugar, porque isso ocorreu no Brasil até há mais de três décadas, em um tempo em que os médicos eram em número reduzido; considerando-se o tamanho continental do Brasil, então, constituíam uma raridade. Registro que só em 5 de novembro de 1808, por decreto de d. João VI, foi criada a Escola Anatômico-Cirúrgica e Médica, em Salvador, na Bahia; e em 1832, foi instalada a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.
 
“Em segundo, porque os procedimentos diagnósticos, digo: exames complementares, além de poucos, eram quase rudimentares, logo o desempenho médico era baseado muito mais no tino clínico e na experiência cotidiana, sem que houvesse meios que fizessem face a tal estado de coisas. Outro elemento importante quando se analisa esse tempo idílico é o poder descomunal de médicos como ‘deuses da medicina’, pois estavam envoltos numa aura de senhores da vida e da morte diante de pessoas e famílias fragilizadas em meio às doenças.
 
“Hoje o contexto é outro, não apenas pelos avanços exponenciais da medicina, como também pelo perfil da clientela – massivamente de serviços públicos de saúde, mais esclarecida, em particular, mais consciente dos seus direitos; e a crescente judicialização das demandas por tratamentos da medicina de alta tecnologia, ou mesmo acesso a UTIs, fatos que, forçosamente, alteram o espectro do contrato social e ético que deve ser firmado entre as partes, ou seja, médicos versus clientela e, por tabela, com a sociedade de modo geral e o governo.
 
“Uma política de atenção integral à saúde pressupõe que ‘cuidados’, enquanto cuidar bem das pessoas, balizam toda a ação. Evidentemente, falo do ideal, daquilo a que as pessoas têm direito. Sabemos que na vida real não é bem assim.
 
“E nos preocupamos que não seja assim, sobretudo porque, para que cuidados sejam balizadores das ações em saúde, precisamos, minimamente, que duas categorias profissionais da área de saúde repensem seus parâmetros culturais, cujos valores se perderam, paulatinamente, no tempo. Eu sou partidária da hipótese de que vivemos em uma época que sedimenta uma cultura em que formamos profissionais da medicina que não gostam de gente e de profissionais da enfermagem que não gostam de cuidar.
 
“Se isso é verdade, o estabelecimento de uma política nacional de cuidados em saúde necessita atacar tais males em suas raízes. Urge um processo de revolucionarização do aparelho formador da área de saúde”.
 

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Médicos terão ponto eletrônico após profissional ser flagrada em academia

Denúncia foi feita por paciente em Jundiaí.
Quase 4 mil médicos vão aderir ao sistema.

Além do ponto eletrônicos, unidades terão placas com horário dos médicos (Foto: Reprodução/TV TEM)
Além do ponto eletrônicos, unidades terão placas com horário dos médicos
 (Foto: Reprodução/TV TEM)
 
A denúncia de uma paciente alterou o controle da jornada de trabalho de médicos e funcionários da saúde em Jundiaí, no interior de São Paulo. A mudança foi motivada depois que uma investigação apurou que uma profissional usava o horário de expediente para ir à academia.
 
Um encontro feito todos os meses reúne membros do Conselho Municipal de Saúde, moradores e funcionários. Em uma dessas reuniões, uma paciente denunciou que a médica usava parte do horário de trabalho para fazer musculação. “A funcionária foi flagrada por um usuário de Unidade Básica de Saúde, que encontrou a médica na academia sendo que ela deveria estar trabalhando naquele horário”, explica o conselheiro de saúde, Ilcemar da Fonseca.
 
A reclamação chegou ao Ministério Público que, depois de um ano de reuniões, fechou um acordo com a prefeitura e determinou que o controle do horário dos médicos será feito agora por ponto eletrônico. Quase quatro mil funcionários públicos já tiveram a rotina alterada e estão sendo treinados para usar o novo sistema.
 
Além de assinar a folha de frequência, os médicos também marcam a entrada e a saída do trabalho com as digitais. No entanto, o ponto eletrônico só passará a valer a partir de março. Todas as informações do registro serão divulgadas na internet para que os moradores possam acompanhar a rotina dos profissionais.
 
Cada posto de saúde terá uma placa com os nomes, especialidades e o horário de cada profissional em serviço. “A possibilidade do cidadão ter informação viabiliza que ele possa reclamar de eventual atuação não adequada daquele servidor no momento de seus plantões”, ressalta a promotora de Justiça, Karina Bagnatori.
 
Todo o sistema, que inclui o ponto eletrônico, as placas nas unidades de saúde e as informações no site da prefeitura, precisa estar pronto até março. Caso isso não ocorra, a Prefeitura de Jundiaí vai pagar R$ 5 mil de multa por dia.
 


As pendências da saúde pública para 2016

 
A idosa Josefa rodou por três serviços para conseguir tratar fratura no braço/ Foto de Bobby Fabisak/ JC Imagem
A idosa Josefa rodou por três serviços para conseguir tratar fratura no braço
 Foto de Bobby Fabisak/ JC Imagem
 
 
Usuário, trabalhador e gestor do SUS não têm dúvidas: 2015 foi um ano difícil e cheio de retrocessos na saúde pública, em qualquer esfera de governo. A crise já constante do sistema, que trabalha com recursos insuficientes e nem sempre bem aplicados, mostrou-se bem mais grave, com atrasos de repasses, demissões, fechamento de leitos. Em Pernambuco, que teve sua rede estadual mais que triplicada nos cinco anos anteriores, com abertura de UPAs, UPAEs e hospitais metropolitanos, o cobertor ficou curto demais. Além dos problemas já citados, amarga-se uma lista de obras não concluídas, herdadas do governo anterior, do mesmo partido político (PSB), entre elas reformas e construção de maternidades municipais, readequação da emergência do Hospital Getúlio Vargas e a ampliação do Hospital Agamenon Magalhães, assim como a abertura de novas UPAEs. No Recife, o Hospital da Mulher também ficou para 2016.
 
A única certeza é que o novo ano vai exigir muita luta e negociação para obter prioridade junto ao governo federal, do Estado e dos municípios. Na rede estadual, o ano começa com orçamento apertado, de R$ 4,2 bilhões, e o foco é reabrir serviços fechados nos últimos seis meses, adianta o secretário estadual de Saúde Iran Costa. Já neste início de janeiro ele terá que apresentar à Promotoria da Saúde do Ministério Público Estadual um cronograma de reabertura de leitos de UTI.  Falta regularizar totalmente a distribuição de medicamentos, liquidar a dívida com fornecedores  e organizar melhor os encaminhamentos entre unidades do SUS, justamente num momento em que a demanda aumenta em razão das epidemias de dengue,  chicungunha e de zika vírus, esta última acompanhada da microcefalia que afeta bebês.
 
“Minha mãe caiu em casa, quebrou o pulso direito e ficou sendo empurrada de um serviço a outro”, diz Tereza Venâncio de Lima. A idosa Josefa Ferreira, 72 , foi atendida inicialmente na UPA do Curado II, em Jaboatão, onde o médico entendeu que ela precisava de cirurgia. Encaminhou o caso ao Hospital Dom Helder, que devolveu a paciente. A unidade, então, transferiu Josefa ao Hospital da Restauração. Depois de passar uma noite no corredor, ela conseguiu o tratamento para a fratura. “Quando teve alta, precisamos comprar todos os remédios”, completa Tereza. Júlio César Bezerra, conselheiro de saúde, denunciou, nos últimos dias de 2015, que um homem infartado esperava há uma semana, numa UPA do Recife, vaga em UTI coronariana. O paciente acabou falecendo, segundo a Aduseps.
 
 

Médico confunde ferimento de bala perdida com corte em Brasília

Criança atingida passou por três hospitais até conseguir o diagnóstico certo e cirurgia. Família acompanhava queima de fogos quando filho ficou ferido.
 
 
 
Caso revoltante: um erro grave que é mais um exemplo do caos que se instalou na saúde pública da capital federal. Um médico confundiu um ferimento de bala perdida com um corte.
 
A criança atingida passou por três hospitais até conseguir um diagnóstico certo e uma cirurgia. Foram 17 horas de sofrimento para essa criança e para a família.
 
Sabe aquela história que se fosse em um filme você diria: ‘que mentira, isso não existe, isso não acontece?’. Pois é, mas aconteceu. Foi na cidade de Samambaia, no Distrito Federal. Uma família acompanhava a queima de fogos no réveillon quando o filho, de 11 anos, ficou ferido no rosto.
 
Foi levado para o hospital e o médico examinou, deu uns pontos, fez um curativo e liberou. Só que a dor continuou e o garoto foi levado para outro hospital. Lá, finalmente viram que o menino tinha levado um tiro. Acha que terminou? Não, ele foi levado para um terceiro hospital.
 

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Avanços da medicina 2016

Auxílio a prematuros, suspensão da perda de visão e um exame rápido para detectar doenças fatais são alguns dos avanços recentes da pesquisa médica  
 
 
 
Primeiro antibiótico novo em 30 anos
 
Em janeiro de 2015, cientistas da Universidade de Bonn, na Alemanha, em colaboração com a Universidade Northeastern, em Boston, EUA, anunciaram a descoberta de um antibiótico capaz de agir contra uma grande variedade de infecções potencialmente fatais, como pneumonia, tuberculose e infecções do sangue e de tecidos moles.
 
Os estudos mostram ser improvável que o medicamento teixobactina provoque resistência, um dos maiores obstáculos ao desenvolvimento de novos antibióticos e um grande problema de saúde hoje. A teixobactina foi muito eficaz contra a tuberculose, doença que está ressurgindo em muitos países, principalmente no Leste Europeu. Espera-se que o novo antibiótico seja aprovado na Europa e nos Estados Unidos dentro de cinco anos.
 
Não corte o cordão... ainda
 
Entre as muitas complicações sofridas por prematuros, a mais comum é a hemorragia cerebral, principal causa de morte desses bebês. Pesquisadores do Instituto de Pesquisa Baylor, em Dallas, nos EUA, encabeçados pela Dra. Arpitha Chiruvolu, verificaram que esperar apenas 45 segundos a mais antes de grampear o cordão umbilical reduz significativamente esse risco. “Ficamos impressionados com a redução de quase 50% [da hemorragia cerebral]”, disse ela. “Não houve efeitos colaterais, e muito menos bebês com grampeamento tardio do cordão precisaram ser entubados por apneia ou doenças respiratórias na sala de parto.”
 
Exame rápido para doenças fatais
 
Imagine identificar doenças potencialmente fatais e muito contagiosas, como ebola, dengue e febre amarela, rapidamente e no local – por exemplo, em regiões remotas ou subdesenvolvidas –, de modo a não perder um tempo precioso para começar o tratamento. Esse exame, sob a forma de tiras que mudam de cor, foi desenvolvido por pesquisadores do MIT, o Instituto de Tecnologia de Massachusetts, nos EUA, em conjunto com a FDA, agência americana que regula a comercialização de alimentos e remédios. As tiras funcionam de modo parecido com os exames de gravidez domésticos e alertariam o paciente (que poderia procurar ajuda imediata) e as autoridades de saúde (para a possível presença de uma determinada infecção virótica e fatal). As novas tiras não substituirão os exames mais precisos feitos em laboratório. “Essa é uma técnica complementar para locais sem água corrente nem eletricidade”, explica a Dra. Kimberly Hamad-Schifferli, um dos líderes da equipe. “Queremos ir a campo e pôr as tiras nas mãos de quem precisa.”
 
Sucesso no transplante de útero
 
Surge uma nova esperança para mulheres que, por defeito congênito ou tratamento de câncer, ficam sem útero. Em setembro de 2014, depois de um bem-sucedido transplante de útero, uma sueca deu à luz um menino saudável. Malin Stenberg, 37 anos, nasceu sem útero; o órgão que recebeu foi doado por uma amiga da família, de 61 anos. O Dr. Mats Brännström, da Universidade de Gotemburgo, na Suécia, encabeçou a equipe internacional de médicos e pessoal de apoio que realizou o transplante. Até agora três mulheres deram à luz na Suécia depois de transplantes de útero bem-sucedidos.
 
Pulmão portátil
 
Em julho de 2013, especialistas em transplantes do Hospital Universitário de Leuven, na Bélgica, conseguiram preservar durante 11 horas um pulmão fora do corpo do doador, um recorde na história da medicina. Essa é uma boa notícia para quem sofre de insuficiência pulmonar crônica e aguarda um transplante. A façanha se deve à OCS-LUNG, máquina portátil que fornece ao pulmão do doador um suprimento fresco e constante de oxigênio. Desenvolvida pela empresa americana TransMedics, a máquina revolucionará os transplantes de pulmão e permitirá aos cirurgiões conservarem e monitorarem o pulmão do doador por mais tempo durante o transporte. Ela já está à venda nos mercados europeu e australiano.
 
Nova ajuda para quem está perdendo a visão
 
Em meados de 2015, a Ocata Therapeutics anunciou a segunda fase dos estudos de uma terapia com células-tronco embrionárias humanas. A pesquisa dessa empresa americana com sede em Massachusetts pode restaurar a visão perdida com a degeneração macular relacionada à idade. Na forma mais comum da doença, uma fina camada de tecido que leva nutrientes e oxigênio aos cones e bastonetes do olho começa a se deteriorar. Sem esses nutrientes, a visão fica comprometida. A Ocata estimula células-tronco a se tornarem células saudáveis do epitélio pigmentar da retina, que depois são injetadas no olho. Nos dois primeiros estudos clínicos da empresa, 10 dos 18 pacientes tiveram alguma melhora da visão, e parece que a terapia interrompeu o processo degenerativo em outros sete. Espera-se que, algum dia, o tratamento seja tão comum quanto a cirurgia de catarata.
 
Virada de jogo para salvar crianças
 
Em julho de 2015, a Agência Europeia de Medicamentos anunciou a recomendação para aprovar uma vacina que talvez seja a primeira contra malária em bebês e crianças. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, estima-se que, em 2013, houve 627 mil mortes por malária, das quais quase 90% ocorreram na África subsaariana e 77% delas em crianças com menos de 5 anos. O estudo clínico mais recente da nova vacina Mosquirix mostrou que quatro doses reduziram os casos de malária em quase 40%. Boa parte do crédito da vacina é atribuída a Ruth e Victor Nussenzweig, um casal de cientistas do Departamento de Microbiologia do campus de Langone da Universidade de Nova York, nos EUA, cuja pesquisa contra a malária nos últimos 50 anos lhes trouxe reconhecimento internacional. Hoje, com mais de 80 anos, os Nussenzweigs trabalham para aumentar a eficácia da vacina.
 
Filtrar água com livros
 
Na África subsaariana, cerca de 358 milhões de pessoas não têm acesso seguro a água potável. Agora, pesquisadores criaram um livro sobre segurança hídrica cujas páginas podem ser usadas para filtrar água. Em estudos feitos na África do Sul, no Haiti, no Quênia e em Bangladesh, o papel conseguiu remover mais de 99% das bactérias. Uma página pode purificar até cem litros d’água. A Dra. Teri Dankovich, pesquisadora da Universidade Carnegie Mellon, em Pittsburgh, nos EUA, que desenvolveu e testou a tecnologia em vários anos de trabalho com colegas da Universidade McGill, do Canadá, e da Universidade de Virgínia, nos EUA, espera iniciar estudos em que os próprios moradores utilizem os filtros. Cada página traz instruções no idioma local. “Precisamos pôr o material nas mãos das pessoas para ver o efeito”, diz a Dra. Teri.
 
Vacina contra câncer de pulmão
 
Todas as células, inclusive as cancerosas, precisam de vários “fatores de crescimento” naturais para proliferar. Assim, cientistas cubanos desenvolveram a CimaVax, vacina que, em estudos clínicos, pareceu segura e muito eficaz para inibir a produção do fator de crescimento epidérmico presente em determinadas células cancerosas.
 
De acordo com o Dr. Kelvin Lee, do Instituto do Câncer de Roswell Park, em Nova York, os pacientes com câncer de pulmão metastático que receberam CimaVax sobreviveram bem mais do que os que não receberam. O câncer não desapareceu, mas cresceu mais devagar. Com seus colegas, agora o Dr. Lee espera permissão da FDA americana para fazer um estudo com a CimaVax e diz: “Há muitos outros cânceres que contam com esse fator de crescimento, como os de cólon, mama, cabeça, pescoço, pâncreas e próstata.” Isso significa que é possível que a vacina CimaVax também possa detê-los ou retardá-los.