sábado, 30 de abril de 2016

Justiça autoriza acesso de famílias a prontuário após morte de paciente

Patrícia Cláudia da Costa esperou dois anos e foi à Justiça pelo prontuário da mãe
 (Foto: Rodrigo Dionisio/Folhapress)


Protegido por sigilo médico, o prontuário de um paciente deve ser liberado aos familiares após sua morte, segundo nova decisão da Justiça Federal de Goiás.

A medida determina ao CFM (Conselho Federal de Medicina) que oriente os médicos a permitir o acesso da família ao documento, que contém dados do histórico de saúde e cuidados prestados.

A decisão contraria pareceres anteriores do conselho, o qual defende que o sigilo médico "seja respeitado mesmo após a morte do paciente" e que o prontuário seja liberado de acordo com o Código de Ética Médica –que prevê autorização ao acesso apenas pelo paciente ou após ordem judicial.

O principal argumento oposto à liberação está na necessidade de proteger informações que, por motivos diversos, o paciente poderia não querer revelar à família, como o diagnóstico de uma doença ou ausência de laços consanguíneos, por exemplo.

O conselho já havia sido obrigado a emitir, em 2014, uma recomendação os médicos e instituições de saúde para que liberem o acesso aos documentos, desde que seja "documentalmente comprovado o vínculo familiar e observada a ordem de vocação hereditária". Mas buscava reverter a medida.

Agora, a nova decisão da Justiça confirma o acesso ao prontuário. A medida passa a valer em todo o país.

Já o Ministério Público Federal de Goiás, responsável pela ação, que tramita há quatro anos, alega que o acesso ao prontuário deve ser facilitado, já que caberia à família tomar decisões e ser responsável pelos dados do paciente após sua morte.

A decisão que libera o acesso ao prontuário foi tomada neste mês pelo juiz Leonardo Buissa Freitas, da 3ª vara da Justiça Federal de Goiás. Em 2012, o acesso já havia sido permitido por meio de liminar, mas o CFM recorreu em seguida.

Com o avanço do processo, veio a obrigação de recomendação em 2014. Segundo o procurador Ailton Benedito, o pedido ocorreu após notícias de que familiares dos pacientes tinham dificuldades em acessar o prontuário. "Criava-se um obstáculo e a família buscava decisão judicial para isso", afirma.

LONGA ESPERA

Foi o que ocorreu com a professora Patrícia Cláudia da Costa, 41, nos últimos dois anos, tempo em que ela esperou para ter acesso ao prontuário do atendimento da mãe, Maria Goreti da Costa, que faleceu em 2013.

Internada após uma queda que atingiu sua medula, Maria precisava de uma cirurgia para tentar recuperar seus movimentos. Apesar do diagnóstico de urgência, o procedimento, custeado pelo plano de saúde, demorou 24 dias para ocorrer. Nesse período, ela sofreu uma infecção generalizada. Morreu um dia após a cirurgia.

Desconfiada, a família recorreu à Justiça para obter o prontuário, na tentativa de provar a demora do atendimento. Ainda assim, o hospital resistiu a ceder o documento. "Só conseguimos quando o juiz determinou busca e apreensão e prisão", conta ela, que entrou com nova ação por danos morais. " Queremos que o hospital reconheça o erro", diz.

Para Ailton Benedito, o prontuário médico é o melhor instrumento para que os familiares possam fazer o controle dos procedimentos médicos ministrados ao paciente. "Quem deve zelar pela integridade dos direitos do paciente quando ele falecer são seus sucessores, para ver se não houve nenhum tipo de negligência", diz.

De acordo com a sentença, o paciente, ainda vivo, que se opuser à liberação, deve deixar expressa sua vontade. Neste caso, o acesso será vedado.

Procurado, o CFM diz que ainda não foi notificado oficialmente da nova medida, sobre a qual ainda cabe recurso, afirma.

Fonte: Folha de S. Paulo

quinta-feira, 28 de abril de 2016

Sociedades médicas lançam campanha para evitar 'overdose' de exames

Quantos mais exames o médico pede, mais você está protegendo sua saúde? Pode não ser bem assim. Sociedades médicas brasileiras – de Cardiologia e de Medicina de Família – estão trazendo para o Brasil uma campanha internacional que tenta mostrar os riscos do que chamam de "epidemia de diagnósticos".
 
Fernanda Portugal
Entusiasta da campanha, André Volschan diz que muitos procedimentos têm efeitos colaterais
 
  
Ela seria causada por um excesso de exames, que poderia levar a uma "overdose" de tratamentos desnecessários e, em alguns casos, danosos. Mas como saber se uma prescrição está correta? A ausência de uma resposta exata gera discussão entre médicos e dúvidas entre pacientes.
 
“Com exames mais sofisticados, os diagnósticos e tratamentos aumentaram. Mas a mortalidade não caiu para nenhum tipo de câncer, nem para doenças cardiovasculares, segundo pesquisas. Certos procedimentos têm efeitos colaterais piores que algumas formas das doenças”, afirma André Volschan, coordenador do Centro de Estudos do Hospital Pró-Cardíaco, no Rio de Janeiro.
 
Entusiasta da campanha "Choosing Wisely" (escolhendo com sabedoria), iniciada nos Estados Unidos em 2012, Volschan afirma que procedimentos só se justificam se puderem aumentar a expectativa ou a qualidade de vida do paciente.
 
“A cada mulher salva da morte por câncer de mama, muitas outras sofrem biópsias, que são procedimentos invasivos. O mesmo ocorre com a próstata. Intervenções devem ser bem avaliadas, pois levam a problemas permanentes, como impotência sexual.”
 
No entanto, há quem discorde das ideias da campanha. O presidente da Sociedade Brasileira de Patologia, Clóvis Klock, é taxativo sobre a importância dos exames: “Temos que trabalhar com o máximo possível de prevenção, especialmente a do câncer. Falsos positivos são evitados com investigações posteriores mais complexas, como biópsias”.
 
Klock opina que o rastreamento das doenças, feito de acordo com faixas etárias e perfis adequados, só gera benefícios: “Através de técnicas mais precisas de diagnóstico e cirurgia, cura-se muito mais câncer que há 30 anos”.
 

Lista de exames

Para evitar mal-entendidos entre os médicos, a campanha no Brasil, que ganhou o apoio da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), adotou a estratégia da norte-americana, impulsionada pelo Conselho Americano de Medicina Interna.
 
A ideia não é impor condutas aos doutores, mas estimular as sociedades médicas a criarem suas listas de procedimentos a serem evitados.
 
Em sua lista, a Sociedade Brasileira de Cardiologia recomenda que seja deixada de lado uma intervenção que movimenta um mercado de US$ 10 bilhões por ano: a colocação de "stents" em pacientes assintomáticos – pequenos tubos que abrem vasos entupidos por placas de gordura no coração.
 
“O procedimento é invasivo, obriga a pessoa a ficar usando remédios e não previne infartos, mesmo em quem tem grande placa. O ‘stent’ só é indicado para melhorar a qualidade de vida de quem tem dor em repouso e outras situações específicas, como no pós-infarto”, explica o cardiologista Luís Cláudio Correia, do Hospital São Rafael, em Salvador (BA).
 
Segundo Correia, um dos responsáveis por trazer para o Brasil os conceitos da "Choosing Wisely", 50% das intervenções coronárias nos Estados Unidos são inadequadas ou incertas.
 
“O excesso é uma forma que alguns profissionais têm de parecerem competentes. É também uma questão mercantilista. Vivemos de procedimentos realizados. Às vezes, a remuneração por exame é baixa, então muitos são pedidos, o que é uma distorção”, critica Correia.
 
Para ele, dar garantias a um paciente de que determinado tratamento vai prevenir problemas graves, como infartos, é “medicina baseada em fantasia”.
 
“Precisamos ser mais científicos, o que requer a humildade de reconhecer que não temos controle sobre o destino, mas capacidade de reduzir a probabilidade de eventos adversos”.
 
“O trabalho agora é envolver sociedades de outras especialidades, para que façam suas listas”, diz o clínico-geral Guilherme Barcellos, coordenador do Programa de Medicina Interna Hospitalar do Hospital Divina Providência, em Porto Alegre (RS), e que também trouxe conceitos do "Choosing Wisely" ao Brasil.
 
Pesquisador da Fiocruz, Josué Laguardia diz que está em desenvolvimento uma página do "Choosing Wisely Brasil", onde haverá informações sobre o uso inadequado de procedimentos diagnósticos.
 

Consulta rápida

Para Volschan, os motivos que levam o médico a pedir exames são as incertezas sobre o diagnóstico e o prognóstico.
 
Além disso, ele cita as consultas rápidas, a exigência dos próprios pacientes, o medo de perder o "cliente" para um concorrente e de ser processado por não pedir os exames.
 
A campanha, diz Volschan, não pode ser entendida como uma recomendação de abandonar a medicina preventiva.
 
“O que buscamos é o uso dos exames de forma racional. Medicina não é assinar pedidos de ressonância.”

Conversa

Uma saída para o dilema pode ser a conversa franca entre médico e paciente para que, juntos, tomem decisões. Em seu consultório no Rio, o angiologista e cirurgião vascular Eduardo Fávero dedica tempo à troca de ideias.
 
“As pessoas sempre pedem exames. É mais fácil, porém errado, preencher uma guia em dez segundos do que explicar, em dez minutos, por que determinado teste não é indicado”, afirma.
 
Quando não se pode escapar dos testes, ele busca o mais adequado. “Há muitas doenças que podem ser acompanhadas por meio de ultrassonografia em vez das tomografias, para as quais se toma contrastes, que são tóxicos para os rins”, exemplifica.
 
Uma doença de manejo discutido é a embolia pulmonar, cujo tratamento inclui substâncias que aumentam o risco de sangramento. “Há questionamento sobre a necessidade de se tratar embolias de pequena repercussão clínica, porque as hemorragias teoricamente são mais perigosas do que a doença em si”, afirma Volschan.
 
Com a tomografia computadorizada de tórax, a incidência do problema aumentou 80%, dos anos 1980 para os 2000. “Na teoria, quando há mais pessoas se tratando, a mortalidade cai. Mas esta taxa continuou igual, e as complicações por sangramentos aumentaram 70%.”
 
 
 
 
 

terça-feira, 19 de abril de 2016

DOPPLER OU DOPPLERFLUXOMETRIA - O QUE É, PARA QUE SERVE E POR QUE ESTÃO ENGANANDO VOCÊ



Mais do que esclarecer sobre um determinado tipo de exame, ao escrever este artigo, eu me vejo na obrigação de denunciar um tipo de abuso que vem acontecendo com muita frequência em clínicas particulares do Brasil, particularmente na cidade onde moro!

Tenho total liberdade para tratar deste assunto, pois além de possuir Título de Especialista em Ultrassonografia Geral, também possuo Título de sub-especialidade na área de Ecografia Vascular com Doppler Colorido, conferido pela Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular, pelo Colégio Brasileiro de Radiologia e pela Associação Médica Brasileira.

O efeito Doppler recebe este nome devido ao seu descobridor: Christian Doppler, em 25 de março de 1842. Muito recentemente, passou a ter importante aplicabilidade como um método complementar na ultrassonografia geral e se tornou uma ferramenta obrigatória em todos os aparelhos mais modernos de ultrassonografia.

Infelizmente, devido a um conceito que está definitivamente enraizado em todos os seres humanos, temos a plena convicção de que tudo que é mais caro é melhor, chega a ser algo tão subconsciente, que na maioria das vezes não percebemos que fazemos praticamente todas as escolhas de nossas vidas utilizando esse conceito! Esse conceito é realmente verdadeiro, para a grande maioria das coisas, como por exemplo: casa, carro, roupas, produtos de tecnologia, etc, etc... 
Não há dúvida que um carro de R$ 100.000,00 é melhor que um carro de R$ 50.000,00. Como também de que uma roupa de R$ 300,00 é melhor que uma de R$ 30,00, e por aí vai...

O prolema é que em medicina essa conceito não funciona, já que muitos exames, por exemplo, são caros por serem específicos para determinados tipos de doenças raras, ou por incorporarem tecnologias novas e pouco testadas, que não tem sua eficácia comprovada, mas que são caras por exigirem equipamentos mais avançados e profissionais mais habilitados para executa-las! Se submeter a algumas tecnologias desse tipo, sem que haja uma indicação precisa para tal, pode até ser um risco à saúde do indivíduo!

O Doppler é um método fantástico, que consegue identificar o fluxo de sangue nos tecidos, mas possui indicações específicas, sendo fundamental para determinados tipos de doenças, mas inútil ou até prejudicial em outros tipos, devido à possibilidade de levar a interpretações diagnósticas errôneas quando é mal utilizado!

O que causa espanto, é a criatividade de muitos médicos que se utilizam do método com fins escusos, chegando ao ponto de termos hoje, dentre as principais indicações para a solicitação de um exame com Doppler, o intuito de apenas: Impressionar o paciente!

Outra indicação muito comum é a de solicita-lo com o intuito de encarecer o exame, nesses casos, o médico solicitante ganha uma "pontinha" da clínica que vai realiza-lo!  

Quando o cenário é o SUS, outro motivo surge com principal: dificultar a realização do exame para que o paciente demore a voltar (motivo muito comum). Realizo exames com Doppler todos os dias, mas são raras as situações onde o exame foi indicado para ajudar no diagnóstico, o que me causa uma enorme sensação de inutilidade!

Como o objetivo de alertar aos pacientes desse grande risco que correm em qualquer exame de ultrassonografia ou ecografia em que exista a palavra Doppler do lado, trouxe aqui, por ordem de ocorrência, os exames com Doppler mais erroneamente solicitados, e quais suas verdadeiras indicações:

Primeiro colocado - Tireóide com Doppler: 

Realmente, o valor do exame de tireóide com Doppler é o dobro do exame comum, porém ela só tem alguma utilidade prática em pacientes que possuem nódulos de tireóide com provável indicação de punção, que representam uma imensa minoria dos nódulos! 

Toda vez que um laudo de ultrassonografia de tireóide com Doppler foi dado como normal ou com alterações não significativas, o Doppler foi utilizado sem nenhuma necessidade  e não melhorou em nada a qualidade do exame! 
Ainda lembrando o exemplo que dei acima, seria como pagar por um carro de R$ 100.000,00 e sair dirigindo um de R$ 50.000,00!

E se você que tem convênio acha que isso é problema do plano pois é ele que paga a conta, devia se informar melhor, você está sendo enganado, pois a conta será embutida em seu próximo reajuste!


Segundo Colocado - Doppler Venoso de Membros Inferiores:

Um dos preferido dos médicos golpistas, por ser um exame caríssimo e feito por poucos especialistas!

Doppler venoso de Membros inferiores só serve basicamente para duas indicações: 

- Forte suspeita de trombose de membros inferiores;
(O problema é que os médicos de hoje em dia são incapazes de diferenciar, clinicamente, uma suspeita de trombose de um paciente com edema (inchaço) nas pernas devido a problemas no coração ou inflamação; coisa que qualquer estudante de medicina da década de 60 fazia muito bem!)

- Varizes em membros inferiores com suposta indicação cirúrgica, seja uma cirurgia mais simples (estética) ou uma mais complexa. 

Ainda por cima, sendo suspeita de trombose, por ser um quadro agudo, só serviria se o exame fosse feito preferencialmente no mesmo dia do surgimento do sintomas, ou no máximo, na mesma semana, aí já com importantes prejuízos para o paciente!

No caso dos exames indicados por varizes, a coisa é mais escandalosa ainda, já que o diagnóstico de varizes é visual (é só o médico olhar para as pernas do paciente, porém a maioria não olha nem para a cara) e o exame estaria indicado apenas para verificar a extensão das lesões e facilitar a programação cirúrgica!
Lembrar sempre que esse exame não tem nenhuma utilidade em pacientes sadios e sem sintomas, nesses casos é certeza que o médico está ganhando por fora!


Terceiro Colocado - Doppler de Artérias Carótidas e Vertebrais

Indicado sempre acima dos 50 anos (com raras exceções), vem sendo muito usado em golpes para extorquir dinheiro dos pacientes.

Se você é jovem, independentemente do que esteja sentindo, tome cuidado se algum médico solicitar esse exame para você, provavelmente é golpe!


Quarto Colocado - Doppler Arterial de Membros Inferiores

Indicado sempre em pacientes mais idosos, que tem um tipo de dor na perna muito específico, chamado claudicação intermitente. 

Esse exame também não tem nenhuma utilidade em pacientes sadios e sem sintomas, nesses casos é certeza que o médico está ganhando por fora!


Quinto Colocado - Doppler Obstétrico

Teoricamente só deveria ser realizado em situações de risco!

Quando obstetra é competente, experiente e seguro, ele sabe diferenciar muito bem situações normais, de situações de risco onde haja indicação de Doppler, o problema é encontrar um obstetra que tenha esses cuidados...


Outros menos solicitados: 

Doppler Transvaginal - sua indicação sempre depende de alterações existes em um exame transvaginal simples prévio, se não for o caso, com certeza tem gente ganhando por fora!

Doppler Cervical - indicado apenas em casos de suspeita ou após tratamento para câncer. É preciso ter cuidado com crianças, muitos médicos interpretam errado linfonodos aumentados em crianças, levando a biópsias desnecessárias!

Doppler Arterial de Membros Superiores - indicados em situações excepcionais, em pacientes com sintomas muito específicos, não fazem parte da rotina diária de exames!

Doppler de Qualquer articulação - Somente solicitados em situações muito excepcionais, já que tem muito pouca aplicabilidade clínica. Parecem ser úteis em alguns tipos específicos de artrites, porém o diagnóstico de artrite não é dado por ultrassonografia, sendo exclusivamente clínico e laboratorial!

Doppler de Artérias Renais - específico para hipertensos de difícil controle, com suspeita de estenose de artéria renal!


Outros que são solicitados apenas em nível hospitalar e de pronto-socorro (se o seu médico incluiu algum desses no seu checkup de rotina, saiba que você estás sendo enganado):
- Doppler Venoso de Membros Superiores;
- Doppler de Jugular.

Exame que ainda não tem indicação prática, tendo utilidade apenas em ambiente acadêmico, com objetivo de pesquisa para possível (mas pouco provável) utilidade futura: Doppler de Mama.

Fiquem atentos, muito cuidado com determinados tipos de exames solicitados por médicos, desde que os checkups viraram meio de aumentar os lucros, não são confiáveis!

 
Dr.Renato Paula da Silva - Como sobreviver ao seu médico

sábado, 16 de abril de 2016

Mantida condenação por erro médico em tratamento de recém-nascido

 
 
 
Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) manteve decisão do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) que condenara uma casa de saúde e parte de sua equipe médica por negligência e imperícia no tratamento de uma recém-nascida.
 
A condenação incluiu danos morais, estéticos, materiais e lucros cessantes reclamados pela mãe da criança, que ficou impedida de exercer sua profissão de psicóloga para acompanhar o tratamento da filha.
 
Segundo os autos, a recém-nascida apresentou fatores de risco para a displasia do desenvolvimento do quadril. Entretanto, não foi imediatamente encaminhada ao ortopedista para a realização de ultrassonografia e demais exames necessários pelo médico pediatra que acompanhou o parto.
 
O não encaminhamento da criança ao ortopedista pediátrico impossibilitou que ela fosse atendida por um especialista habilitado. Também inviabilizou que fossem realizados os devidos exames e procedimentos médicos específicos logo após seu nascimento e nos meses imediatamente subsequentes.
 
O tribunal mineiro concluiu que diante da evidência dos fatores de risco, a não realização dos necessários exames, a tempo e modo, configurou a culpa dos médicos e da casa de saúde onde ocorrera o nascimento da menor. Para o TJMG, a medicina tem obrigação de utilizar todos os meios adequados e necessários em prol do paciente.
 
Responsabilidade
 
O estabelecimento hospitalar recorreu ao STJ alegando responsabilidade exclusiva dos médicos. Os profissionais de saúde sustentaram que não ficara comprovado que os danos causados tenham sido cometidos por ação ou omissão médica. Com base nesse fundamento, eles pediram o afastamento da responsabilidade civil.
 
Acompanhando o voto do relator, ministro Marco Buzzi, a turma aplicou a Súmula 7 do STJ para rejeitar todos os recursos apresentados. O ministro também ressaltou que o entendimento firmado na Segunda Seção do tribunal determina a responsabilidade subjetiva dos hospitais pelos danos causados por profissionais, mesmo que eles atuem sem nenhum vínculo de emprego ou subordinação.
 
Para o relator, o entendimento adotado pelo tribunal mineiro está em consonância com a jurisprudência do STJ, que reconhece a responsabilidade solidária do hospital diante da comprovação da culpa dos médicos e caracterização da cadeia de fornecimento. A decisão foi unânime.
 

DF deve pagar R$ 100 mil a paciente que ficou paraplégico por erro médico

TJ manteve condenação de 1ª instância; DF diz que médico seguiu protocolo.
Homem também receberá pensão vitalícia de salário mínimo; cabe recurso.
 
Fachada de anexo do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (Foto: Raquel Morais/G1)
Fachada de anexo do Tribunal de Justiça do Distrito Federal
(Foto: Raquel Morais/G1)
 
O Tribunal de Justiça do Distrito Federal condenou o DF a indenizar em R$ 100 mil um paciente que ficou paraplégico por uma falha no diagnóstico. A condenação também prevê uma pensão vitalícia no valor de um salário mínimo por mês e restituição de despesas médicas com produtos e tratamentos hospitalares. A sentença já havia sido dada por um juiz em primeira instância e foi mantida pela 2ª Turma Cível.
 
Por nota, a Procuradoria Geral do DF informou que aguarda ser notificada para avaliar se vai recorrer.
 
O autor do processo diz que sofreu um acidente em 2009, em Laciara (GO), a 320 quilômetros de Brasília, e foi encaminhado para o Hospital Regional de Planaltina. Devido à gravidade dos ferimentos, ele foi encaminhado para o Hospital de Base, onde foi examinado e recebeu alta, com consulta marcada para avaliar os danos.
 
No dia seguinte, o paciente sentiu fortes dores e retornou ao hospital, onde foi internado e encaminhado para cirurgia. Ele afirma que a falha no primeiro atendimento resultou no agravamento do quadro clínico.
 
No processo, o DF defendeu que não houve falha no serviço, pois os médicos agiram segundo o protocolo, e negou qualquer responsabilidade.
 
O juiz analisou o laudo pericial e entendeu que houve negligência médica no atendimento, o que ocasionou o agravamento das lesões na coluna. A decisão destaca que o paciente teve alta hospitalar sem que houvesse a realização de exames.
 

sexta-feira, 15 de abril de 2016

Medicina faz mal à saúde

O médico Vernon Coleman diz que os hospitais mais matam do que curam e que é preciso ser muito saudável para sobreviver a um deles.



Um selo colado na testa advertindo sobre os perigos que podem causar à saúde. Se dependesse do inglês Vernon Coleman, esse seria o uniforme ideal dos médicos. Dono de um diploma em medicina e um doutorado em ciências, Coleman abandonou a carreira após dez anos de trabalho para ganhar a vida escrevendo livros com títulos sugestivos do tipo Como Impedir o seu Médico de o Matar.
 
Autor de 95 livros, o inglês é um auto-intitulado defensor dos direitos dos pacientes. Em seus textos, publicados nos principais jornais do Reino Unido, costuma atacar a indústria farmacêutica – para ele, a grande financiadora da decadência – e, principalmente, os médicos que recusam tratamentos que excluam a utilização de remédios e cirurgias. Dono de opiniões polêmicas, Coleman ainda afirma que 90% das doenças poderiam ser curadas sem a ajuda de qualquer droga e que quanto mais a tecnologia se desenvolve, pior fica a qualidade dos diagnósticos.
 
Como um médico deve se comportar para oferecer o melhor tratamento possível a seu paciente?
 
Os médicos deveriam ver seus pacientes como membros da família. Infelizmente, isso não acontece. Eles olham os pacientes e pensam o quão rápido podem se livrar deles, ou como fazer mais dinheiro com aquele caso. Prescrevem remédios desnecessários e fazem cirurgias dispensáveis. Ao lado do câncer e dos problemas de coração, os médicos estão entre os três maiores causadores de mortes atualmente. Os pacientes deveriam aprender a ser céticos com essa profissão. E os governos, obrigá-los a usar um selo na testa dizendo “Atenção: este médico pode fazer mal para sua saúde”.
 
Qual a instrução que pacientes recebem sobre os riscos dos tratamentos?
 
A maior parte das pessoas desconhece a existência de efeitos colaterais. E grande parte dos médicos não conhece os problemas que os remédios podem causar. Desde os anos 70 eu venho defendendo a introdução de um sistema internacional de monitoramento de medicamentos, para que os médicos sejam informados quando seus companheiros de outros países detectarem problemas. Espantosamente, esse sistema não existe. Se você imagina que, quando uma droga é retirada do mercado em um país, outros tomam ações parecidas, está errado. Um remédio que foi proibido nos Estados Unidos e na França demorou mais de cinco anos para sair de circulação no Reino Unido. Somente quando os pacientes souberem do lado ruim dos remédios é que poderão tomar decisões racionais sobre utilizá-los ou não em seus tratamentos.
 
Você considera que os médicos são bem informados a respeito dos remédios que receitam a seus pacientes?
 
A maior parte das informações que eles recebem vem da companhia que vende o produto, que obviamente está interessada em promover virtudes e esconder defeitos. Como resultado dessa ignorância, quatro de cada dez pacientes que recebem uma receita sofrem efeitos colaterais sensíveis, severos ou até letais. Creio que uma das principais razões para a epidemia internacional de doenças induzidas por remédios é a ganância das grandes empresas farmacêuticas. Elas fazem fortunas fabricando e vendendo remédios, com margens de lucro que deixam a indústria bélica internacional parecendo caridade de igreja.
 
E o que os pacientes deveriam fazer? Enfrentar doenças sem tomar remédios?
 
É perfeitamente possível vencer problemas de saúde sem utilizar remédios. Cerca de 90% das doenças melhoram sem tratamento, apenas por meio do processo natural de autocura do corpo. Problemas no coração podem ser tratados (não apenas prevenidos) com uma combinação de dieta, exercícios e controle do estresse. São técnicas que precisam do acompanhamento de um médico. Mas não de remédios.
 
Receber remédios não é o que os pacientes querem quando vão ao médico?
É verdade que muitos pacientes esperam receber medicamentos. Isso acontece porque eles têm falsas idéias sobre a eficiência e a segurança das drogas. É muito mais fácil terminar uma consulta entregando uma receita, mas isso não quer dizer que é a coisa certa a ser feita. Os médicos deveriam educar os pacientes e prescrever medicamentos apenas quando eles são essenciais, úteis e capazes de fazer mais bem do que mal.
 
Que problemas os remédios causam?
 
Sonolência, enjôos, dores de cabeça, problemas de pele, indigestão, confusão, alucinações, tremores, desmaios, depressão, chiados no ouvido e disfunções sexuais como frigidez e impotência.
 
Em um artigo, você cita três greves de médicos (em Israel, em 1973, e na Colômbia e em Los Angeles, em 1976) e diz que elas causaram redução na taxa de mortalidade. Como a ausência de médicos pode diminuir o risco à vida?
 
Hospitais não são bons lugares para os pacientes. É preciso estar muito saudável para sobreviver a um deles. Se os médicos não matarem o doente com remédios e cirurgias desnecessárias, uma infecção o fará. Sempre que os médicos entram em greve as taxas de mortalidade caem. Isso diz tudo.
 
Muitas pessoas optam por terapias alternativas. Esse é um bom caminho?
 
Em diversas partes do mundo, cada vez mais gente procura práticas alternativas em vez de médicos ortodoxos. De certa maneira, isso quer dizer que a medicina alternativa está se tornando a nova ortodoxia. O problema é que, por causa da recusa das autoridades em cooperar com essas técnicas, muitas vezes é possível trabalhar como terapeuta complementar sem ter o treinamento adequado. Medicina alternativa não é necessariamente melhor ou pior que a medicina ortodoxa. O melhor remédio é aquele que funciona para o paciente.
 
Em um de seus livros, você afirma que a tecnologia piorou a qualidade dos diagnósticos. A lógica não diz que deveria ter acontecido o contrário?
 
Testes são freqüentemente incorretos, mas os médicos aprenderam a acreditar nas máquinas. Quando eu era um jovem doutor, na década de 70, os médicos mais velhos apostavam na própria intuição. Conheci alguns que não sabiam nada sobre exames laboratoriais ou aparelhos de raio X e mesmo assim faziam diagnósticos perfeitos. Hoje, os médicos se baseiam em máquinas e testes sofisticados e cometem muito mais erros que antigamente.
 
Você faz ferrenha oposição aos testes médicos realizados com animais em laboratórios. De que outra maneira novas drogas poderiam ser desenvolvidas?
 
Faz muito mais sentido testar novas drogas em pedaços de tecidos humanos que num rato. Os resultados são mais confiáveis. Mas a indústria não gosta desses testes porque muitos medicamentos potencialmente perigosos para o homem seriam jogados fora e nunca poderiam ser comercializados. Qual o sentido de testar em animais? Existe uma lista de produtos que causam câncer nos bichos, mas são vendidos normalmente para o uso humano. Só as empresas farmacêuticas ganham com um sistema como esse.
 
O que você faz para cuidar da saúde?
 
Eu raramente tomo remédios. Para me manter saudável, evito comer carne, não fumo, tento não ficar acima do peso e faço exercícios físicos leves. Para proteger minha pressão, desligo a televisão quando médicos aparecem na tela apresentando uma nova e maravilhosa droga contra depressão, câncer ou artrite que tem cura garantida, é absolutamente segura e não tem efeitos colaterais.
 
Vernon Coleman
 
• Tem 57 anos
• Gosta de escrever livros de ficção e já publicou 12 romances
• Divide seu tempo entre o interior da Inglaterra e uma cobertura no centro de Paris
• Sofre de “cotovelo de tenista” nos dois braços por causa da má-postura ao digitar
 

quarta-feira, 13 de abril de 2016

Pelo fim do bullying de médicos contra enfermeiros

O desprezo de cirurgiões e especialistas por seus auxiliares pode estar matando pacientes


O paciente estava com dor no peito. A análise inicial indicava que podia ser infarto, mas não tínhamos certeza. Quem pegou o caso foi o médico de plantão, um sujeito difícil. Como drogas mal administradas podem piorar o problema, uma enfermeira perguntou se não era melhor esperar o cardiologista. "Por quê?", ele perguntou com desdém na frente da equipe. Foi como se a enfermeira tivesse desafiado a autoridade do médico, quando seu objetivo era apenas zelar pelo paciente. Isso aconteceu recentemente em um grande hospital dos EUA.

Muitos enfermeiros se sentem intimidados com piadas, menosprezo e agressões verbais que recebem de médicos. Eu também me sinto assim. No caso que relatei, felizmente o tratamento deu certo e o paciente ficou bem. Mas várias vezes a relação conturbada entre membros da equipe pode terminar mal. Quase metade dos funcionários de hospitais prefere ficar quieta a levantar questionamentos ou falar sobre problemas no tratamento para um médico de temperamento difícil, de acordo com uma pesquisa do Instituto para Práticas Seguras no Uso de Medicamentos, dos EUA, em 2004.

Ou seja, por causa do bullying, uma vida pode deixar de ser salva. Outros números do estudo mostram isso: entre enfermeiros que declararam ter desconfiado de erros de prescrição, 40% deram o remédio ao paciente mesmo assim - só para não ter de enfrentar o médico. E 7% afirmaram ter se envolvido em um caso de erro médico em que o bullying teve alguma parcela de culpa.

Claro, médicos não são os únicos a menosprezar colegas. Funcionários tiram sarro de residentes, enfermeiras antigas colocam médicos jovens à prova.Também é verdade que só uma pequena parcela dos médicos se comporta desse jeito. Porém, em uma estrutura vertical como a dos hospitais, quem tem mais poder gera um efeito cascata. Se as pessoas que estão em cima depreciam as demais, isso provavelmente vai ser reproduzido em todos os níveis.

A pior forma de bullying não é uma agressão flagrante. Na maioria das vezes a agressão vem na forma de um comentário sarcástico em vez de um insulto. O próprio paciente é vitima de bullying ao sentir que não está autorizado a falar o que pensa. Isso é grave, já que o trabalho de um hospital depende do diálogo entre as pessoas.

Que soluções poderíamos encontrar para esse problema? Clínicas e hospitais deveriam adotar padrões de comportamento para todos os funcionários, das recepcionistas ao presidente. Também precisam criar linhas de denúncia para que empregados possam reclamar do bullying confidencialmente. Os que fossem acusados passariam por treinamentos. E os que insistissem na prática perderiam privilégios, como o direito de receber pacientes particulares para cirurgias naquele hospital. Se é o que custa para salvar vidas, vale a pena.


Superinteressante - Por Theresa Brown -  enfermeira nos EUA e autora do livro Critical Care, sem tradução no Brasil.

A dor que não passa nunca

Um belo dia, fui descer a escada de casa e caí. Quebrei um ossinho, mas não parecia muito grave. Até que uma série de cirurgias transformou minha vida para sempre
 
A dor que não passa nunca
"Os médicos ofereceram uma solução quase milagrosa. Eu tinha medo, mas aceitei."
Foto: Raoni Maddalena 
 
Faltavam só três dias para a minha formatura na faculdade de medicina. As aulas já tinham acabado, então acordei tarde naquele dia, o fatídico 8 de novembro de 2010. Eu tinha 23 anos. Meu único compromisso era ir cortar o cabelo. Descendo as escadas da minha casa rumo ao cabeleireiro, escorreguei, caí e fraturei o cóccix. Eu não sabia, mas ali começava uma nova fase da minha vida. Uma fase que seria dominada por uma única sensação: dor. Dor ininterrupta, constante, eterna, que me acompanha por todos os minutos de todos os dias. Uma dor que não passa nunca.
 
No começo, eu só sentia dor quando sentava. Já era o suficiente para interferir em várias tarefas diárias e me deprimir bastante. Os médicos resolveram fazer uma cirurgia de remoção do cóccix. Foi um grande erro. A dor só aumentava, e começou a se espalhar pelo meu corpo - alcançou a perna direita, a lombar, a pélvis. Na tentativa de corrigir o estrago, me submeti a mais uma operação. E outra, e outra, e mais outra. Em três anos, passei por cinco cirurgias na coluna. O plano de saúde não cobria, e minha família gastou mais de R$ 100 mil. Nenhuma operação deu certo. Mas a última... foi especial. Não apenas não resolveu o meu problema. O elevou à vigésima potência.
 
Os médicos me prometeram uma solução quase milagrosa. Seu nome: neuroestimulador medular. A essa altura da história, meu medo de cirurgias já era considerável, haja vista que as anteriores não tinham eliminado minha dor. Apenas me deixado com cicatrizes feias e tendo de tomar remédios fortes para funcionar no dia a dia. Mas o lero-lero médico novamente me convenceu de que dessa vez seria diferente. O neuroestimulador seria implantado por meio de um procedimento minimamente invasivo, rápido e com sedação mínima. O aparelhinho ficaria alojado no espaço epidural, dentro da minha coluna, e seria alimentado por uma bateria implantada na minha barriga. Não era pouca coisa. Mas eu aceitei, porque a promessa era boa. O neuroestimulador aplicaria pulsos elétricos sobre a minha medula. Isso bloquearia os sinais de dor, impedindo que chegassem ao cérebro. E eu não sentiria mais dor.

"Sete meses depois do procedimento, a dor veio com tudo. Tinha uma força que não consigo descrever. De zero a dez, era um gritante dez."

Antes de prosseguir com a história, preciso fazer um parêntese importante. Um paciente de dor crônica que um dia foi saudável, ao ouvir as palavras "livre de dor", "vida normal novamente", "retorno às atividades", "alívio significativo", "risco pequeno" e qualquer coisa que indique o fim, ou pelo menos a atenuação de uma vida de sofrimento físico, se agarra a isso com todas as forças que tem. Se enche de vida. Começa a sonhar acordado. Ele tentará qualquer coisa que lhe oferecerem. Eu, se um dia acordar sem sentir dor, provavelmente serei mais feliz do que todas as pessoas que conheço - somadas. É um clichê, mas os clichês existem por uma razão: não se dá valor à saúde até que ela seja perdida. Saúde significa liberdade. Se eu soubesse desde sempre o que só descobri há quatro anos, teria aproveitado cada milésimo de segundo dessa liberdade. Mas estou divagando. Ficar no terreno do "se" nunca levou ninguém a lugar algum.
 
Na mesa de cirurgia
 
Antes de implantar o neuroestimulador, os médicos precisavam fazer um teste. Colocar um catéter com analgésicos (opioides, os mais fortes que existem) e metilprednisolona, um anti-inflamatório, no meu espaço epidural. Se isso aliviasse minha dor, significava que eu era boa candidata ao implante. O problema é que não aliviou. Aconteceu o contrário. Comecei a sentir uma dor excruciante, beirando o insuportável, no local de inserção do catéter. Ninguém conseguiu entender o porquê. Nem meus médicos e nem eu mesma, que, afinal, também já havia me formado médica. O catéter foi retirado, e a dor aguda foi cedendo. Mas deu lugar a uma dor intermitente, que piorava muito quando eu fazia esforço, na coluna dorsal (adjacente às costelas). Era ainda mais debilitante. A menor atividade física, como andar ou tomar banho, passou a me deixar de cama. Tive que sair do pilates, que me ajudava muito com as outras dores. Não tinha mais força nos membros. A explicação que os médicos me deram à época - e, veja bem, todos eram especialistas em dor crônica e trabalhavam num hospital privado conceituado e caro - foi que era apenas a dor crônica anterior seguindo seu curso natural e sensibilizando todo o meu sistema nervoso central.
 
A explicação não me pareceu razoável. Afinal, antes da cirurgia essa nova dor não existia. Ela começou exatamente depois da operação.
 
Comecei a sentir muita dor, todos os dias, o tempo todo. A dor crônica é um emprego de 24 horas por dia e sete dias por semana. Eu nunca deixo de senti-la. Em algumas posições sinto mais; em outras, menos. Mas sempre. Ela também tem uma faceta muito cruel: é invisível. Como as pessoas não conseguem ver a sua dor, acham que é neurose, preguiça, fingimento. É complicado convencer alguém de que você sofre de algo que não aparece nos exames. Nós podemos estar morrendo por dentro, desabando, mas se estivermos com um sorriso no rosto, acharão que está tudo bem. E o comportamento em relação à dor é uma faca de dois gumes: se o doente sorri, é porque deve estar bem. Não tem dor. Se chora, reclama e se contorce a cada movimento doloroso, é porque é uma pessoa negativa, só sabe reclamar. É fraco.
 
Outros sintomas foram aparecendo. Dor na coluna dorsal, mudanças de sensibilidade na perna esquerda, zumbido constante nos ouvidos, visão turva, dificuldade para urinar, congestão nasal, febre constante, sudorese excessiva, espasmos musculares, inchaço em pés e mãos, dores articulares e perda progressiva de força nos membros inferiores. Numa determinada semana, cerca de sete meses após o tal teste e já com todos esses sintomas, a "nova" dor na coluna me quebrou. Ela veio com uma intensidade que eu não consigo descrever. Talvez seja melhor usar a escala de dor, de zero a dez, que os médicos usam com os pacientes. Minha dor era um gritante dez.
 
Dessa vez, eles tentaram parar de me dar explicações furadas e resolveram fazer todos os tipos possíveis de exame. Para meu desespero, todos vieram normais. Enquanto isso, eu não saía da internet. Pesquisava sintomas e síndromes raras. Numa dessas pesquisas, encontrei um artigo que descrevia com clareza matemática o que eu sentia. Era sobre uma doença chamada aracnoidite adesiva. Eu não cheguei a estudá-la na faculdade, apesar de ter visto as meningites mais comuns.
A aracnoidite é um tipo de meningite. As meninges são as membranas que envolvem e protegem o sistema nervoso central. Elas são três: a dura-máter, a aracnoide e a pia-máter. A aracnoidite adesiva é uma doença na membrana intermediária, a aracnoide.
 
Me lembrei do relato de um homem, num dos fóruns sobre dor que eu acompanhava. Na tentativa de conter a dor no cóccix, ele fez infiltrações de corticoide no espaço epidural. E desenvolveu aracnoidite adesiva. Uma de suas principais causas é a injeção de corticoide epidural, como a que fizeram em mim. É que, dependendo da composição do corticoide, ele pode atravessar a barreira da meninge e ir parar dentro dela (o que também pode acontecer se o médico perfurar acidentalmente a membrana dura-máter). Isso irrita a membrana aracnoide, e consequentemente os nervos. Eles iniciam um processo inflamatório e, depois, um processo cicatricial, que faz com que a membrana fique repleta de adesões e os comprima. Os feixes nervosos grudam uns aos outros e às meninges. Isso provoca uma dor extremamente resistente a todo tipo de analgésicos e anti-inflamatórios.
 
Os médicos aventaram as mais diversas possibilidades para a minha dor - inclusive a de eu estar louca ou fingindo. Tentaram me colocar na psicoterapia. Não fui. Não por achar que seria inútil, mas porque a minha condição não estava "na cabeça", como insinuaram. Psicoterapia poderia me ajudar a lidar com a dor, mas jamais tirá-la. E antes de aprender a lidar com ela, eu precisava provar que ela existia. Tentaram persuadir meus pais de que eu não tinha o que achava que tinha, duvidaram da intensidade da dor, me encaminharam para outras pessoas e sumiram. Pararam de atender minhas ligações. Não sei deles até hoje. Minha vida foi virada de cabeça para baixo e a deles continuou como sempre foi. Provavelmente nem lembram que existo.
 
Um ano após o início dos sintomas, minha aracnoidite finalmente foi diagnosticada. Ela apareceu nos exames de ressonância magnética. Não foi surpresa para mim. Foi o pior "eu já sabia" que amarguei na vida.
 
A aracnoidite adesiva é uma das doenças mais subdiagnosticadas da atualidade. É por isso que ninguém ouviu falar dela, e não por ser "rara", como a comunidade médica acredita e quer que acreditemos também. Um motivo importante para varrê-la para baixo do tapete é o fato de ser uma doença essencialmente iatrogênica - ou seja, causada por erro médico. Ela pode ter outras causas, como meningites infecciosas, mas em pequena parcela dos casos. Na maioria das vezes, ela é causada por intervenções cirúrgicas, que médicos recomendam ao menor sinal de problemas na coluna. Os pacientes acabam recebendo diagnósticos genéricos, como fibromialgia ou FBSS (failed back surgery syndrome - síndrome da cirurgia fracassada de coluna), e nunca descobrem o que realmente têm. Mesmo assim, nos EUA - país campeão em intervenções cirúrgicas na coluna - estima-se que 11% dos casos de FBSS sejam, na realidade, aracnoidite adesiva. Isso significa que, nas últimas cinco décadas, houve pelo menos 1 milhão de casos de aracnoidite naquele país.

"Os médicos não acreditavam em mim. Achavam que eu estava louca ou fingindo. Tentaram me colocar na psicoterapia."

Lutarei contra a doença pelo resto da vida. Não consigo mais trabalhar, praticar atividades físicas ou fazer muita coisa que não seja estar deitada ou sentada em uma cadeira reclinável. Tomo diversos remédios para suportar a dor. Mas não perdi a esperança no surgimento de uma cura ou, ao menos, de um tratamento eficaz. A ciência não falhou comigo; as pessoas, sim.
 
Eu gostaria que alguém tivesse me pedido, naquele 8 de novembro de 2010, para que não descesse as escadas da minha casa. Sonho acordada com a minha vida antes da lesão o tempo todo. Vejo fotos antigas e fico desejando - como se, inconscientemente, achasse que o desejo possa se tornar realidade - voltar ao dia em que elas foram tiradas. Penso no passado o tempo inteiro. "Com o que eu me preocupava, e do que tanto reclamava, quando era saudável? O que podia ser tão ruim?" Nunca consigo encontrar respostas. Não me lembro de nenhum sofrimento que se compare ao que vivo hoje.
 
Por outro lado, quando não estou desejando voltar à minha vida pré-lesão, consigo manter algum grau de otimismo. Aprendi a dar mais valor ao que tenho. Um dia com pouca dor é um dia feliz. Não preciso de mais do que isso para ficar de bom humor. Quando um problema é grande demais, os outros esmaecem. Hoje me preocupo pouco com coisas pequenas. E sei que não falo só por mim, mas por muitos doentes crônicos - sejam eles de dor ou de outra coisa. Nossa luta não é só contra a doença, mas também em busca de esperança, paciência e vontade de viver. E eu, mesmo com toda a dor, consegui encontrar as três. 

Super Interessante - Por: Fernanda Ferrairo / Editado por: Bruno Garattoni

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Justiça alagoana adota Câmara Técnica em Saúde para auxiliar juízes

As juízas auxiliares da Presidência em exercício do Conselho Nacional de Justiça, Cristiana Cordeiro e Joelci Araújo Diniz se reunem com a presidente em exercício do Tribunal de Justiça de Alagoas, a desembargadora Nelma Torres Padilha.Foto: Gilmar Ferreira/ Agência CNJ
Tribunal de Justiça de Alagoas. Crédito: Gilmar Ferreira/Agência CNJ.


O Judiciário de Alagoas lançou, na quarta-feira (30/3), a Câmara Técnica de Saúde, que vai dar condições para os magistrados decidirem com mais segurança em processos relacionados à área. O órgão vai atuar sobretudo em casos de obrigação do Estado ou de planos de saúde de prover remédios e procedimentos médicos.
 
“Às vezes, o magistrado é induzido por alguém para tomar uma decisão mais cara para os cofres públicos. Esse corpo técnico vai dar alternativas em que pessoa possa ser atendida de forma satisfatória, mas com um custo bem menor”, exemplificou o presidente do tribunal, Washington Luiz Damasceno Freitas. “Nós sabemos perfeitamente que todo magistrado tem o bom senso, mas não tem a formação técnica em saúde”, disse.
 
O secretário de Saúde de Maceió, José Tomaz Nonô, frisou que a economia de recursos pelo setor público beneficia toda a sociedade, apesar de este não ser o objetivo primário da Câmara Técnica. “Não é só um problema de reduzir o custo, é propiciar decisões mais justas. Se resultar em alguma economia, ótimo. Este dinheiro vai ser utilizado nas outras despesas da Saúde”, explicou.
 
Um dos envolvidos na elaboração do projeto em Alagoas, inspirado na experiência exitosa de outros estados brasileiros, o juiz auxiliar da Presidência Maurílio Ferraz ressaltou que a gestão atual do tribunal tem “condições cooperativas que agregam os membros do Estado, instituições públicas e privadas para o bem da sociedade”. A ideia, informa Maurílio, é que os gestores públicos tenham acesso às informações sobre como a Justiça tem decidido nos casos, proporcionando mais previsibilidade para os gastos estatais.
 
Evidências - Para o presidente do Conselho Regional de Medicina de Alagoas (Cremal), Fernando Pedrosa, a câmara não deve tentar resolver o problema da judicialização. “A gente vai ter que conviver com ela e procurar ser justo. Tudo tem que ser decidido com base na evidência, na ciência”, afirmou. A câmara conta com 15 profissionais, dos quais 13 são médicos e 2 são dentistas, todos integrantes do Judiciário de Alagoas. Ela funcionará todos os dias. Além dos pareceres, quando solicitado pelo juiz, também serão feitas perícias presenciais.
 
O reumatologista Georges Basile coordena a equipe. “Através de um e-mail, os magistrados enviam para gente todos os documentos necessários, e um questionário com as dúvidas (do juiz) sobre o assunto. Dentro de um prazo de 24h, responderemos”, explicou Basile. Não nos cabe ver a parte financeira ou qualquer outra, somente a parte técnica”, ressalvou.
 
“A Câmara vai permitir o uso racional dos recursos e uma melhor assistência à saúde”, reforçou Viviane Malta, presidente da Unimed Maceió e representante dos planos de saúde durante a elaboração da Câmara. Desde segunda-feira (4/4), os trabalhos são iniciados no Juizado da Fazenda Pública. Após o primeiro mês, o serviço começará a ser estendido para as demais unidades interessadas.
 
 

Médico é preso suspeito de estuprar pacientes em Montes Claros

Dermatologista teria dopado uma das vítimas para cometer o crime.
Casos foram dentro da sua própria clínica de estética, no centro da cidade.
Médico é preso suspeito de estuprar pacientes em Montes Claros (Foto: Valdivan Veloso/G1)
Ação da Polícia Civil durante prisão do médico em seu consultório, em Montes Claros
 (Foto: Valdivan Veloso/G1)
 
 
Um médico foi preso na tarde desta quarta-feira (6) durante cumprimento de mandado em Montes Claros, Norte de Minas. Ele é suspeito de estuprar duas pacientes, de 21 e 23 anos, durante procedimentos estéticos em sua própria clínica. De acordo com a Polícia Civil, o dermatologista escolhia as vítimas mais novas para cometer os crimes.
 
De acordo com o juiz Isaís Veloso, o mandado de prisão preventiva foi expedido baseado em laudos da investigação e depoimento de duas supostas vítimas. Linton Wallis Figueiredo Souza levado para a Delegacia da Mulher para prestar depoimento, para depois ser encaminhado ao Presídio Regional. Ele deve ficar preso por 30 dias, enquanto as investigações são concluídas.

A Polícia Civil marcou uma entrevista coletiva para esta quinta-feira (7) para dar detalhes da investigação. O G1 não conseguiu falar com o advogado do médico.
 
Vítima sedada

 Um dos abusos teria ocorrido no dia 17 de março, dentro da clínica do dermatologista. Segundo relatos da vítima à Polícia Civil, ela procurou a clínica para um procedimento estético no rosto. Porém, segundo o boletim de ocorrência, ao chegar na clínica, o médico à receitou um medicamento que a fez dormir por mais de 18 horas.
 
Ela relatou também ter sido levada para casa por uma prima. No dia seguinte, ainda de acordo com os relatos da vítima, ela sentiu “desconforto vaginal” e procurou um ginecologista, que a aconselhou procurar a polícia para denunciar o caso.
 
Cassação CRM

 O conselheiro do Conselho Regional de Medicina em Montes Claros, Itagiba de Castro Filho, informou que independente de denúncia formal ou da autoridade policial, o CRM “instaura uma sindicância para apuração de eventual infração ética”, sempre que toma conhecimento dos casos.
Ele informou também, que estas denúncias são “extremamente graves” e serão objeto de uma apuração rigorosa. “Caso fique comprovado, o médico sofre uma série de penalidades, dentre elas a cassação de seu registro profissional”.
 
 

OS MÉDICOS DA ATUALIDADE E SEUS EXAMES INÚTEIS


Foto: Rogerio da Silva / Agencia RBS


Quem tem mais de 30 ou 40 anos talvez se lembre dos médicos de antigamente, pessoas de respeito e caráter inabalável, que tinham como armas apenas a boa vontade e no máximo um estetoscópio e um tensiômetro, mas acertavam muito mais os seus diagnósticos que os médicos de hoje, que são armados das mais incríveis ferramentas tecnológicas!
Vamos aos fatos: Antigamente a medicina se baseava em duas coisas fundamentais, chamadas anamnese e exame físico. A anamnese consistia na conversa com o paciente, não um simples bate-papo informal, mas uma conversa direcionada, que indagava sobra a história de vida daquela pessoa, doenças pregressas e sintomas relacionados com a queixa atual. O exame físico, sempre completo, incluía uma boa olhada no paciente como um todo, do fio de cabelo, às pontas dos pés. A partir desses dados o médico já construía sua hipótese diagnóstica, e para confirma-la solicitava, ou não, os chamados "exames complementares" (exames de sangue, raio X, ultrassonografia, tomografia, etc...), mas apenas o mínimo necessário para ajuda-lo a confirmar a sua suspeita.
Mas como acontece hoje?
A anamnese e o exame físico desapareceram por completo, e para compensa-los, surgiram centenas de "exames complementares"! Os ditos "exames complementares" foram criados com o propósito de ajudar o médico com sua suspeita, após o mesmo ter realizado a anamnese e o exame físico, sem esses dois primeiros, qualquer exame complementar (Seja a mais avançada tomografia ou ressonância na melhor clínica do país ou seja um simples exame de sangue) se torna extremamente falho, isso ocorre devido às grande possibilidade de falso positivo que esses exames passam a apresentar nessas situações.
Mas o que é "falso positivo" ?
Qualquer pessoa já ouviu sobre exames que deixaram de ver uma doença existente, esse é o falso negativo!

Falso positivo, ao contrário, é quando um exame vê uma doença que não existe, ou seja, "inventa" uma doença! As pessoas comuns não têm ideia de como resultados falsos são comuns em nosso dia a dia.
Por isso os exames são chamados "complementares", pois eles servem apenas para confirmar o que o médico já tem quase certeza; quando são usados sem critério (como acontece hoje em dia) acabam "inventando" doenças que simplesmente não existem!
A culpa não é do exame, mas do médico que pediu, pois pressupõe-se que o médico só queria confirmar uma suspeita e não que o exame fizesse todo o trabalho! Agora imagine milhares de pessoas todos os dias usando milhares de remédios para doenças que foram simplesmente inventadas, fazendo mal ao seu organismo e causando outras doenças, numa bola de neve gigantesca, que movimenta a já chamada por mim, "máfia de branco"!

Essa é a realidade da medicina em nosso país, muda-la só depende de nós!


Dr. Renato Paula da Silva (médico especialista e membro titular do Colégio Brasileiro de Radiologia).


terça-feira, 5 de abril de 2016

A MÁFIA DE BRANCO


imagem internet

 
 
Apesar de não parecer, devido ao título, não tenho por objetivo falar mal dos médicos, mas ao contrário, defende-los! Defender os bons profissionais e tornar evidente a má prática da medicina é um objetivo que venho perseguindo desde que formei em medicina, no ano 2000! Hoje em dia, determinadas verdades sobra a medicina acabam passando despercebidas ante ao turbilhão de informações em que vivemos no mundo moderno.
 
Desde a revolução industrial no início do século passado, o mundo passou por uma transformação ideológica, baseada exclusivamente na valorização do capital. Essa atitude, nas mais variadas áreas de atuação, trouxe avanços que melhoraram significativamente a qualidade de vida das pessoas!
 
 Na medicina porém, essa excessiva mercantilização infelizmente produziu efeito contrário e ao invés de melhorar o atendimento médico, vem condenando às pessoas a adoecerem e sofrerem mais, num processo contínuo que vem se acentuando a cada dia.
O problema é que no caso da medicina, o produto que é vendido é a doença. O médico hoje virou um homem de negócios que lucra com as doenças, e nenhum homem de negócios que se preze quer ver seu negócio ir mal ou falir, ou seja, quer ver pessoas saudáveis! 
 
Em sendo assim, a máquina que movimenta a medicina atual: planos de saúde, hospitais, clínicas, laboratórios, indústrias farmacêuticas  e principalmente os médicos, trabalham exclusivamente em prol de aumentar a quantidade de doenças e doentes, aumentando assim o consumo de remédios, os gastos com exames e procedimentos desnecessários e os gastos hospitalares, o que movimenta uma gigantesca "máfia" de lucro fácil e garantido!
 
A população por sua vez, que julga estar recebendo o "melhor" tratamento,  é vítima de uma medicina que engana e adoece.
 
Combater essa verdadeira "máfia" não é tarefa fácil, até porque os maiores interessados no assunto (os pacientes) não têm muita noção do que realmente acontece nos bastidores, e para falar a verdade, muitas vezes não parecem muito interessados em saber. Porém, acredito que esse verdadeiro "sono profundo" em que se encontram os pacientes não irá durar eternamente, e basta uma pequena fagulha para detonar o estopim de uma verdadeira revolução na medicina moderna, no intuito de prestarmos uma assistência realmente de qualidade, onde as pessoas precisem muito menos de médicos do que precisam hoje e vivam com muito mais saúde, por muitos e muitos anos.
 
 

Dr.Renato Paula da Silva - médico especialista / membro titular do Colégio Brasileiro de Radiologia e preceptor do HospitalUniversitário de Brasília (H.U.B.)


segunda-feira, 4 de abril de 2016

Mãe da criança vítima de apendicite em Cajazeiras se emociona em programa ao vivo e revela sofrimento da criança até a morte; Menina pediu para chamar um padre

A mulher já procurou o Ministério Público e denunciou o hospital e a médica por negligência; "Levaram tudo de mim"
 
Gabrielle com o tio em Cajazeiras
Gabrielle com o tio na cidade de Cajazeiras
 
A funcionária pública, Maria Jusinere (Nerinha), mãe da cajazeirense Maria Gabrielle, de 8 anos, que morreu durante o final de semana, em Patos, vítima de apendicite participou nesta sexta-feira (1), do programa Olho Vivo da TV Diário do Sertão e contou que a criança deu entrada no Hospital Universitário Júlio Bandeira (HUJB), quatro vezes. A menina era filha única.
 
Com um brinquedo da criança nos braços, a mãe explicou que no dia 14 de março a pequena Gabrielle apresentava um quadro de febre, vômito e dores abdominais, mas a medicação foi dipirona e buscopan, e em seguida foi liberada. No dia seguinte, a mulher disse que a criança não apresentava melhora e retornou ao hospital, onde foi atendida por uma médica, realizou exames e foi constatada uma bactéria, mas a menina foi novamente encaminhada de volta para casa.
 
“A médica muito arrogante disse que quem sabia das coisas era ela. Dra. a senhora poderia ter salvado a minha filha naquele momento”. Declarou a mãe emocionada.
 
No dia 26, Sem acreditar mais no HUJB, a mulher disse que foi procurar o Hospital Regional de Cajazeiras, mas teve que retornar para o hospital infantil, desta vez com a ajuda dos profissionais do HRC. “Já era grave demais. Minha filha não tinha mais chance”, lamentou a mãe informando que o médico de posse do exame detectou apendicite.
 
Após o diagnóstico, a menina retornou ao HRC, mas não pode ser cirurgiada porque estava com alto grau de infecção e não tem UTI neonatal. Gabrielle foi transferida para a cidade de Patos, onde passaria por cirurgia, pois a apendicite estava estrangulada, mas demorou porque a criança ainda não tinha nenhum exame de imagem.
 
“Minha bebzinha. Só tinha ela. Eles me destruíram. Perguntei quanto eles queriam pra salvar a minha filha”. Revelou a mãe chorando.
 
Ela disse que somente no dia seguinte é que a criança foi chamada para a cirurgia, mas não resistiu e faleceu. A funcionária pública informou que desde a partida de Gabrielle que está sob efeito de medicamento e passa por acompanhamento do psicólogo.
 
Nerinha informou que deu entrada no Ministério Público questionando o hospital pelo atendimento e pela negligência da médica.”Quero Justiça. Não quero que nenhum pai ou uma mãe passe pelo que eu estou passando”.
 
 
 
Pedido

 Antes de ser transferida para a cidade de Patos, Gabrielle teria pedido a mãe para chamar um padre para que ela fosse batizada. A menina recebeu o batismo no hospital de Cajazeiras, onde já apresentava um quadro debilitado.
 
O outro lado

 A diretora do HUJB, Mônica Paulino disse que é de interesse do hospital averiguar o que ocorreu, mas disse que estava havendo uma difamação por parte da imprensa com o hospital.
 
Monica Paulino informou que a menina deu várias entradas no hospital, mas apresentava quadro de cansaço.
 
Segundo a diretora, a menina foi diagnosticada com um quadro de infecção e foi tratada. “Quando há suspeita de apendicite encaminhamos para a avaliação do cirurgião no HRC”, adiantando que nas primeiras entradas Gabriele não apresentava quadro de apendicite.
 

sábado, 2 de abril de 2016

A partir de agosto, diploma em medicina dependerá de teste final

Estudantes que não conseguirem atingir a nota de corte não poderão se formar
 
Cerca de 20 mil estudantes que ingressaram nos cursos de Medicina em 2015 já devem
 ser submetidos ao exame no segundo semestre.  Getty Images
 
 
O diploma de Medicina estará, a partir de agosto, condicionado à participação em um exame de avaliação dos estudantes, informou nesta sexta-feira (1º) o MEC (Ministério da Educação). As provas serão aplicadas em caráter pedagógico a alunos dos segundo e quarto anos de faculdade; no sexto (e último), porém, quem não atingir a nota de corte não poderá se formar.
 
Cerca de 20 mil estudantes que ingressaram nos cursos de Medicina em 2015 já devem ser submetidos ao exame, aplicado pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), no segundo semestre deste ano. A medida responde a uma resolução do CNE (Conselho Nacional de Educação) publicada em 2014 — e que estimava um prazo de dois anos para sua implementação.
 
A Anasem (Avaliação Nacional Seriada dos Estudantes de Medicina) será um componente curricular obrigatório e os alunos e as instituições que não se inscreverem ou não participarem estarão sujeitos a "penalidades" que ainda não foram definidas. O conteúdo da prova será nos moldes do Revalida - exame que certifica diplomas médicos expedidos por instituições estrangeiras para que passem a valer também no Brasil.
 
No segundo e quarto anos, a prova será apenas escrita e com conteúdo proporcional ao que o estudante já aprendeu. "Isso vai permitir que as escolas de medicina acompanhem a evolução de seus alunos e trabalhem para melhorar seu processo de formação", disse o reitor da UFCE (Universidade Federal do Ceará) Henry Campos, representante da subcomissão do Revalida. Já no ano final, além de uma prova de conhecimentos médicos, haverá uma segunda etapa que avaliará as habilidades clínicas do formando — fundamental para o acesso a programas de residência médica, por exemplo.
 
Segundo o ministro Aloizio Mercadante, instituições e entidades médicas já apelavam para que existisse uma maneira de avaliar o progresso do estudante durante a faculdade. "O exame possibilita que problemas sejam corrigidos ao longo da formação do aluno, que terá um parâmetro para saber como está se saindo. Vamos ter um salto de qualidade. Queremos mais médicos, mas mais médicos bons", pontuou o ministro.
 
Campos frisou que o Anasem para graduandos em Medicina será mais frequente que o Revalida, atualmente realizado uma vez por ano. "Assim, quem não alcançou um bom resultado terá a oportunidade de, em um curto espaço de tempo, tentar de novo", disse.
 
A nota de corte vai variar de acordo com a prova. O escore é definido da seguinte maneira: um painel de educadores médicos, que não participaram da elaboração do exame, se debruça sobre as duas etapas do exame e, com base em seu conteúdo, estabelecem o porcentual de acertos esperados para um aluno considerado "médio". Além da residência médica, outros programas de pós-graduação como mestrados e doutorados, podem optar por avaliar a nota do candidato no Anasem. O MEC também lembrou que, uma vez que a reprovação no exame impede a expedição do diploma, o aluno que conclui a faculdade também não poderá solicitar o registro profissional (CRM).