quarta-feira, 29 de junho de 2016

Fraude para encaminhar paciente do Samu para UTI particular é investigada

Funcionários do Samu recebiam para encaminhar pacientes para UTI's de hospitais particulares de Goiânia. Vinte uma pessoas foram presas.
 
Fábio CastroGoiânia, GO
 
 
Vinte e uma pessoas foram presas, em Goiás, suspeitas de fazer parte de um esquema que fraudava o Samu. O esquema funcionava há um ano e meio.
 
O vídeo mostra o momento da prisão de um dos investigados pelo Ministério Público de Goiás: Rafael Haddad, dono de um hospital particular. Assista no vídeo acima. Também foi preso na operação o diretor-geral do Samu de Goiânia, Carlos Henrique Duarte.

Entre os presos estão técnicos, enfermeiros e médicos do Samu e até dois bombeiros. Os suspeitos foram levados para o Ministério Público e encaminhados para a Casa de Prisão Provisória. De acordo com o Ministério Público cerca de 20 hospitais estão envolvidos no esquema.
 
Segundo a investigação, funcionários do Samu recebiam propina para encaminhar pacientes, que tinham planos de saúde, para UTI's de hospitais particulares de Goiânia. O Ministério Público descobriu inclusive os valores. Técnicos e enfermeiros recebiam até R$ 500 por paciente. Já os médicos do Samu ganhavam até R$ 15 mil, o equivalente a uma diária em UTI.
 
Ainda segundo o grupo de promotores, que investiga o caso, os socorristas envolvidos no esquema também são suspeitos de piorar o estado de saúde dos pacientes.
 
“Por exemplo, o paciente que estava com hipoglicemia não se fazia a glicose e ainda se aplica um medicamento para induzi-lo ao coma e assim permitir que esse paciente fosse encaminhado a uma UTI e o servidor recebesse essa propina por esse encaminhamento. A gente está apurando esses fatos”, fala o coordenador do Gaeco, Luís Guilherme Gimenes.
 
Os Bombeiros e a Secretaria de Saúde de Goiânia, a pedido do prefeito Paulo Garcia, do PT, abriram uma sindicância para apurar o envolvimento de funcionários. A defesa do médico Rafael Haddad, disse que ele é inocente. A direção do Hospital Renascense ainda não se manifestou.
 
Edição do dia 21/06/2016

terça-feira, 28 de junho de 2016

Negligência afasta tese de dupla caracterização da culpa, diz STJ

 
 

Não há bis in idem quando a caracterização da culpa está lastreada na negligência, e a aplicação da causa de aumento da pena por inobservância de regra técnica toma como base outros fatos. Assim entendeu a 6ª Turma do Superior Tribunal de Justiça ao manter a condenação de um médico por erro que resultou na morte de uma criança de três anos.
 
O caso aconteceu em 1999, em um hospital do interior de Minas Gerais. Horas depois de passar por uma cirurgia de adenoide, a criança morreu com sangramento intenso na garganta. A família acusou o médico de não ter prestado assistência adequada. O Ministério Público de MG denunciou o médico por homicídio culposo.
 
Em primeira instância, o médico foi condenado a 1 ano e 4 meses de prisão, mas a pena foi substituída pelo pagamento de 50 salários mínimos à família da criança. O MP recorreu, e o TJ-MG aumentou a condenação para 2 anos e 2 meses de detenção, mantendo o regime aberto e a substituição da pena por medidas restritivas de diretos.
 
O médico então recorreu ao STJ alegando que houve bis in idem na incidência da causa de aumento do artigo 121, parágrafo 4º, do Código Penal. Segundo ele, a inobservância de regra técnica teria sido usada para caracterizar a conduta culposa. Também questionou o cálculo da pena-base, pois ela teria sido fixada acima do mínimo legal sem fundamentação concreta.
 
Os argumentos não foram aceitos pela turma. Para o relator do caso, ministro Sebastião Reis Júnior, a pena foi aumentada pelo TJ-MG por causa do intenso sofrimento da vítima. “Cuida-se de elemento concreto não inerente ao tipo penal de homicídio culposo, mostrando-se idôneo o fundamento para justificar a majoração da pena-base”, disse.
 
O relator afastou, ainda, a alegação de bis in idem, afirmando em seu voto que “a caracterização da culpa está lastreada na negligência (omissão no dever de cuidado) e a aplicação da causa de aumento da inobservância de regra técnica assenta-se em outros fatos (prescrição de medicamento inadequado)”.
 
Apesar de Sebastião Reis Júnior destacar que o caso julgado não deve ser enquadrado no novo entendimento do Supremo Tribunal Federal sobre a prisão antes do trânsito em julgado, a turma entendeu que a possibilidade deve ser aplicada. Com informações da Assessoria de Imprensa do STJ.
 
REsp 1.385.814
 
 

Inquérito a alegada negligência médica arrasta-se há três anos

O Ministério Público abriu um inquérito a um caso de alegada negligência médica, que terá levado à morte de uma jovem de Paredes com um tumor no cérebro. Os pais ainda aguardam respostas.
 
 
 
A jovem tinha um tumor no cérebro com mais de quilo e meio, mas das 11 vezes que foi ao hospital da região os médicos diagnosticaram sempre ansiedade.

O Ministério Público ainda não se pronunciou, desconhece-se qualquer acusação e os pais, inconformados, avançaram com um pedido de indemnização ao Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa.
 

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Cirurgias de emergência ou eletivas estão no topo dos problemas

Procedimentos que deixam lesões, mal feitos ou até mesmo em que materiais são esquecidos no corpo do paciente são os mais reclamados nos processos de erro médico que chegam à justiça




autônoma Sandra de Fátima Nunes Morato, de 50 anos, que ainda se trata de um câncer,
teve um resultado de exame trocado e a má avaliação médica do laudo adiou o
diagnóstico em um ano (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A.Press)

Os casos de cirurgia – sejam eletivas, de emergência ou por questões estéticas – são os mais frequentes nas ações que cobram reparação em tribunais mineiros. De acordo com a desembargadora Cláudia Regina, é comum pacientes cobrarem reparação por terem ficado com alguma lesão em tratamentos feitos em regime de urgência. Ela explica que, em parte dos casos, o recurso disponível para a cirurgia ou a emergência do atendimento podem interferir, mas sustenta que há casos também de procedimentos malfeitos e até mesmo de esquecimento de materiais no corpo do paciente, o que é mais raro.

Já em relação às cirurgias estéticas, a exemplo de lipoaspirações, colocação de próteses de silicone e reparações na face, a possibilidade de lucrar cada vez mais com os procedimentos tem se configurado como agravante para erro médico, na opinião de especialistas. A desembargadora explica que, nesses processos, os motivos estão mais ligados à insatisfação do paciente, com o resultado ou com uma cicatriz, por exemplo. “Será sempre a perícia médica que vai avaliar se houve erro. É diferente de o médico ter esquecido um instrumenta dentro do paciente, o que nem exige perícia”, explica Cláudia Regina.
O advogado Felipe Cândido, que atua em muitos casos de erros médicos, destaca outro problema, que ele classifica como “mercantilização da medicina”. “Os profissionais têm aceitado cada vez mais serviços mais baratos, e operam sem tomar os cuidados necessários”, disse, lembrando ainda que a pressão dos planos de saúde para liberar leitos pós-cirurgias é grande.

Na ponta do atendimento, pacientes vítimas de erros sofrem com o somatório dessas dificuldades. No caso da autônoma Sandra de Fátima Nunes Morato, de 50 anos, que ainda se trata de um câncer, um resultado de exame trocado e a má avaliação de uma ginecologista em um centro de saúde da Prefeitura de BH tiveram consequências graves. O diagnóstico foi adiado em um ano. O tumor, de nível 2, evoluiu para nível 5.

“A mamografia de rotina foi feita em 2013. Quando levei o resultado para a médica no posto de saúde, as imagens estavam certas, mas o laudo era de outra mulher, que tinha o mesmo nome que eu. Na consulta, a médica nem olhou as chapas, leu apenas o laudo e disse que eu estava bem. Um ano depois, senti o nódulo crescendo e, quando fiz uma mamografia de urgência, o tumor estava avançado”, conta Sandra, ao lembrar que, quando fez cirurgia para retirada, o nódulo já havia chegado ao nível 8, o último estágio. “Sofri muito, porque o tratamento é muito pesado e doloroso. Meu caso é resultado de negligência”, diz a paciente, que ingressou com uma ação na Justiça no ano passado, exigindo reparação.
 
 

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Ações por erro médico crescem 29% em dois anos no estado

Lista de razões para aumento nos processos inclui falta de infraestrutura do sistema de saúde; má formação profissional e popularização de cirurgias estéticas, muitas vezes feitas em tempo recorde

 

Reparações para erros em cirurgias, lesões, medicamentos prescritos de forma inadequada e até mesmo pela morte de pessoas em tratamento têm sido cada vez mais cobradas na Justiça por pacientes e seus familiares no estado. Dados do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) mostram que o número de processos por erro médico em tramitação cresceu 29,4% em dois anos, no período entre 2013 e 2015. As ações na Justiça comum saltaram de 1.740 para 2.253 processos. A curva ascendente se refletiu ainda em outra ponta. As sentenças obrigando ao pagamento de indenizações por danos morais e materiais também cresceram, passando de 184 em 2013 para 300 no ano passado, o que representa aumento de 63% e significa pelo menos uma decisão a cada 29 horas em Minas.
 
Um dos casos levados à Justiça no estado ocorreu em junho de 2014 e, nesta semana, o Ministério Público Federal (MPF) denunciou cinco profissionais do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU), no Triângulo Mineiro, por homicídio doloso (artigo 121 do Código Penal). São duas médicas, uma técnica de enfermagem, uma enfermeira e uma farmacêutica. A denúncia se refere à morte de uma criança de 8 anos, em 9 de junho de 2014, depois que o paciente recebeu dosagem de cloreto de potássio quatro vezes maior do que o recomendado pela literatura médica. A criança morreu horas depois de receber a primeira das quatro doses do medicamento.

O quadro de aumento das ações na Justiça, que chama atenção de especialistas na área de saúde, promotores, desembargadores, advogados, vítimas e seus parentes, tem relação íntima com a decadência do setor de saúde. “Os casos de erro médico têm a ver com o sistema de saúde falido em nosso país, que não dá aos médicos boas condições de trabalho”, afirma a desembargadora Cláudia Regina Guedes Maia, 14ª Câmara Cível do TJMG. Ela ainda lista outras razões ligadas à responsabilidade dos profissionais, por agirem com imprudência, imperícia e negligência, e destaca a popularização de cirurgias estéticas – muitas vezes malfeitas ou marcadas em tempo recorde, sem avaliação prévia de risco adequada.

Na opinião da magistrada, era inevitável que em algum um momento os problemas enfrentados na ponta da saúde pública resultassem em ações na Justiça. “Todos os dias, o que vemos são hospitais em situações precárias de atendimento, com equipes desfalcadas, falta de medicamentos, insumos e equipamentos. Todas essas situações provocam uma pressão no profissional, que trabalha cada vez mais sobrecarregado e sujeito a cometer erros”, afirma. Com alta demanda e poucas equipes, pacientes e médicos ficam na mesma situação. “O atendimento clínico tem sido feito de uma forma cada vez mais rápida, porque há mais pacientes esperando. Os médicos deveriam fazer um prontuário mais pormenorizado, com detalhes da conduta adotada, até mesmo para se resguardarem. Por outro lado, isso deixaria o paciente menos exposto ao risco de ser vítima de erro”, afirma.

Fator também importante para a incidência de uma conduta inadequada do profissional está relacionado ao acúmulo de empregos para obtenção de rendimentos satisfatórios, o que pode implicar em falta de tempo para cursos, seminários e congressos de reciclagem, como explica a desembargadora.

No Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Saúde, o entendimento é semelhante. Segundo o coordenador do órgão, o promotor Gilmar de Assis, casos de erros médicos mostram o quanto é grave o quadro da saúde no estado e em todo o país. “Há uma demanda cada vez mais crescente pelo serviço, sobretudo na urgência e emergência. Isso pode ser visto pelas portas das unidades de pronto-atendimento da cidade, onde a procura é enorme”, comenta o promotor.

Além de também citar a falta de recursos humanos e de infraestrutura, o promotor destaca um ponto importante: a formação médica. “Mais e mais escolas de medicinas estão sendo abertas em todo o país. Abri-las não é o problema. O agravante é que nem todas oferecem boa formação ou contam com boa estrutura para qualificar bem os profissionais”, afirma. Ele explica, no entanto, que nenhuma dessas situações justifica o erro médico, do ponto de vista da vítima. “Para a Justiça, essas situações são irrelevantes e os erros devem ser reparados, se comprovada falha do profissional, por meio de perícia médica.” Ao mesmo tempo, os estabelecimentos de saúde devem adotar providências para que as inconformidades sanitárias sejam sanadas.
 

Vítimas de erros médicos reclamam da morosidade da Justiça

A presidente da Associação das Vítimas, Maria de Fátima, também faz parte da estatística. Seu único filho morreu por causa de negligência médica.
 
 
Para a presidente da Associação das Vítimas de Erros Médicos, Maria de Fátima, a impunidade dos profissionais geram ainda mais sofrimentos para as famílias
 

 
Cerca de 200 vítimas entraram com ação contra erros médicos em Mato Grosso. Os dados são da presidente da Associação das Vítimas de Erros Médicos (Avem), Maria de Fátima Oliveira, que argumentou que os números poderiam ser ainda mais expressivos, mas até que se chegue a conclusão dos fatos, muitos pedidos ficam no caminho por não haver constatação eficaz do erro.
 
Mária de Fátima além de presidente é a fundadora da Associação. Mas o seu papel principal é lutar pela honra de seu filho, Phelipe Bica, morto aos 15 anos, vítima de erro médico. Em depoimento emocionado, Maria de Fátima descreveu a vida curta de seu filho, que já nasceu diante da negligência de um médico de um respeitado hospital de Cuiabá.
 

A presidente da Associação disse que quando foi ter o bebê estava com dificuldades para ter o parto normal e, mesmo diante das limitações, o médico insistiu pelo procedimento. “Fiquei internada das 13h30 até às 20h, quando o médico resolveu fazer a cesária e, por causa disso, meu filho nasceu com paralisia cerebral. Mas mesmo com a saúde frágil, ele foi meu anjo”, declarou.

 
Maria apontou outros erros médicos sofridos pelo seu filho. Quando ainda era bebê, Phelipe precisou fazer uma cirurgia de gastrostomia (sonda na barriga) e também um procedimento para problemas de refluxo, contudo, a médica (também de Cuiabá) perfurou o estômago e o intestino da criança.
 
“Meu filho teve que fazer três cirurgias. Ficou 72 dias internado e nem conseguimos concluir o tratamento aqui em Cuiabá. Tive que ir para o Hospital das Clínicas, em São Paulo, onde a cirurgia para refluxo foi feita”, falou.

O terceiro erro médico que o filho de Maria de Fátima sofreu foi fatal. Em um dia de internação, o médico de um grande hospital de capital aplicou sedativo no paciente, mesmo a mãe falando que o procedimento não podia ser feito.
 
“Meu filho estava inquieto, mas isso era normal quando ele sentia dor. Mas o médico plantonista disse que era convulsão e aplicou remédio na veia com sedativo. Neste momento a pressão do meu filho caiu bastante (2/4) e de imediato o levaram para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI). O Phelipe pesava 42 kg, saiu da UTI pesando uns 100 kg. Meu filho suportou dois erros, mas no terceiro morreu”, relembra a mãe com lágrimas nos olhos. Phelipe Bica morreu no dia 4 de julho de 2004.
 
Maria de Fátima disse que seu sofrimento é duplo, pois até hoje o médico responsável pela morte de seu filho continua fazendo outras vítimas e a Justiça de Mato Grosso anulou a responsabilidade médica.
 
“Não bastasse a morosidade da Justiça, que demora uns 10 anos para julgar esses casos. O médico que eu denunciei venceu em todas as instâncias. Tive quer recorrer no Superior Tribunal de Justiça (STJ), mas ainda está em análise”.
 
A presidente da associação disse que sofreu e sofre muito, e por conta de todos os problemas que enfrentou desenvolveu a doença de Parkinson. Bastante abatida e emocionada, Maria de Fátima disse que tenta levar a vida, que depois de muitos anos, consegue entender que seu filho é um anjo.
 
Ela informou que outras famílias no Estado, que tiveram parentes vítimas de erros médicos, ainda vivem a angústia da impunidade.
 
ASSOCIAÇÃO
 
Criada em 1998, a Associação das Vítimas de Erros Médicos, tem o objetivo de lutar para a punição dos profissionais de medicina. A presidente Maria de Fátima disse que no começo os trabalhos eram difíceis de se concretizarem, já que os hospitais impediam repassar informações dos pacientes.
 
Apesar das dificuldades, as famílias não desistiram e recorrem à Justiça para ter acesso aos documentos que comprovem casos.
 
Maria de Fátima informou que qualquer pessoa que se sentir vítima pode ir na Associação e levar todos os documentos, que passará por uma análise jurídica para apontar procedência dos fatos e só depois entrar ou não com ação.
 
“As pessoas sempre vem aqui e nós informamos o que tem que ser feito. Normalmente os levantamentos dos documentos acontecem depois de uma primeira conversa. Mas nem tudo que chega até nós é possível virar processo”, frisou.
 
A Associação fica na rua Marechal Floriano Peixoto, 274, Centro. Telefone (65) 3027-7120.
 
HiperNotícias
 
 

quarta-feira, 15 de junho de 2016

PF faz operação contra quadrilha que desviava recursos do Conselho Fedral de Odontologia

Conselho Federal de Odontologia é autarquia federal.
Operação aconteceu no Rio e em mais 7 municípios em vários estados.
 
Operação da PF prendeu cinco pessoas (Foto: Divulgação)
Operação da PF prendeu cinco pessoas (Foto: Divulgação)
 
 A Polícia Federal prendeu nesta terça-feira (14) quatro integrantes da alta cúpula do Conselho Federal de Odontologia durante a Operação Tiradentes. Entre os detidos estão o atual presidente da autarquia, o ex-tesoureiro, um antigo conselheiro e o chefe do setor de compras. A Polícia Federal também conseguiu um mandado de prisão contra o procurador jurídico do conselho, mas ele não foi encontrado.

No total, foram cinco presos e 15 mandados de busca e apreensão cumpridos. Foram apreendidos cerca de R$ 250 mil em dinheiro, em endereços distintos, e seis carros de luxo. Os nomes dos presos não foram divulgados.
 
"Se verificou que ocupantes do cargo da alta cúpula recebiam diárias indevidas, despesas indevidas. Verbas indenizatórias com valores substanciais. Também foi investigados alguns contratos que se tem indícios de superfaturamento", afirmou o delegado Tacio Muzzi.
 
Além das prisões, foram apreendidos cerca de R$ 250 mil em espécie e seis carros de luxo, entre eles um Porsche. A Polícia Federal afirmou que tomaram conhecimento das fraudes em 2012 com denúncias de ex-conselheiros, no entanto as investigações ganharam provas substanciais em 2015 com novas informações de membros do conselho.
 
"Em 2012 foi feito uma denúncia por um ex funcionário e um ex prestador de serviço. Eles falaram que haviam desvio de recursos através de notas frias. Recentemente, três ex conselheiros, que ainda eram conselheiros na época, formularam uma nova representação reiterando essas denúncias sobre esses pagamentos de diárias. No último ano, descobrimos que foi feito pagamento de R$ 1 milhão em diárias para quatro conselheiros. Com a auditoria do TCU se obtiveram dados subunstanciai para a investigação", disse o procurador da República Thiago Lemos.
 
 As prisões foram realizadas em ação conjunta com o MPF e o Tribunal de Contas da União, nos municípios do Rio de Janeiro, Niterói e São Gonçalo no Estado do Rio de Janeiro; Manaus (AM); Campo Grande (MS), Araguaína (TO),  São Paulo capital e em Brasília.  Os mandados foram expedidos pela 3º Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro.
 
São investigados os crimes de peculato, estelionato qualificado, associação criminosa e lavagem de dinheiro. A Polícia Federal identificou fortes indícios no sentido de que conselheiros e funcionários desviavam recursos públicos do Conselho Federal de Odontologia.  As fraudes consistiam no ressarcimento de despesas inexistentes, no pagamento indevido de diárias e na contratação irregular de serviços. Segundo a PF, o valor total das despesas e contratações pode ultrapassar R$ 30 milhões e a PF suspeita que os desvios podem ultrapassar R$ 5 milhões.
 
 
 

terça-feira, 14 de junho de 2016

Médicos de postos de saúde passam a ter ponto monitorado em Fortaleza

Registro biométrico monitora toda a atuação diária do médico no trabalho.
Sistema já está implantado em 94% dos 104 postos de saúde da capital.
 
 
 
 
 O trabalho dos médicos que atuam nos postos de saúde de Fortaleza passou a ser monitorado pela Secretaria de Saúde do Município. O sistema, digital,  foi implantado para garantir que eles cumpram a carga horária contatada. Os horários de entrada e de saída serão registrados pelo equipamento e repassados ao sistema que calcula o valor do salário dos profissionais. 
 
O ponto biométrico ainda não impede que o profissional registre a entrada, vá embora e volte algumas horas depois para registrar a saída. Por isso, eles também têm o trabalho registrado e monitorado no decorrer de toda a jornada diária de trabalho, por meio de um prontuário eletrônico. “Serve de registro de acompanhamento médico do paciente”, diz a médica Mariza Bandeira de Araújo.
 
"A gente consegue saber o horário de cada paciente, quantos o médico já atendeu, quantos ele ainda atenderá no horário e ele permanecerá na unidade, das 7h às 13h ou das 13h às 19h”,  explica a coordenadora do posto de saúde, Keylla Márcia Souza. O sistema já funciona em 94% dos 104 postos de saúde da capital. A previsão é de que ele seja implantado em todas as unidades até o fim do ano.
 
Os registros chegam também à Secretaria de Saúde. Até os atendimentos fora das unidades de saúde, como as visitas domiciliares, são monitorados. “Tudo está dentro da agenda do médico e a gestora tem autoridade, ela tem todo o poder de avaliar e de dar essa frequência: quando ele sai ou quando ele vai fazer alguma atividade fora da unidade de saúde”, diz a titular da secretaria, Socorro Martins.
 
Se mesmo assim houver dúvidas quanto à frequência do médico no trabalho, as imagens das câmeras dos postos podem ser utilizada. Todo esse controle é aprovado por quem quer apenas ser atendido nos postos de saúde de Fortaleza. “Tem que ser assim mesmo. Ficar pagando para o médico só vir bater o ponto e ir embora não tem graça. Tem de atender quem precisa, né”?, ressalta a dona de casa Ivone de Almeida Miranda.
 

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Quando medicina e indústria farmacêutica preferem doenças

Ao contrário do esperado, a medicina, a indústria farmacêutica e a indústria alimentícia apostam na perpetuação das doenças para manterem seus lucros crescendo
 
O Dr. Sydney Bush desenvolveu um meio de reverter a arteriosclerose, que pode ser confirmado por meio de fotografias da retina (Robert Walker)
O Dr. Sydney Bush desenvolveu um meio de reverter a arteriosclerose, que
pode ser confirmado  por meio de fotografias da retina (Robert Walker)
 
A máfia da doença: alimentícia, medicina e indústria farmacêutica
 
Assim que se lê “a prevenção é melhor que…”, se pensa na cura para alguma coisa. Mas nos últimos 50 anos, “cura” se tornou uma palavra suja no ramo farmacêutico. “A cura é algo muito caro” é a crença comum. Como isso corresponde à situação real?
 
Fortes incentivos financeiros apoiam prolongar o tratamento o quanto possível. A prevenção farmacêutica está limitada a vacinas. Elas são destinadas a preservar as pessoas de eventuais tratamentos de doenças.
 
Enquanto o escorbuto é uma fonte definida de 100 doenças – incluindo as doenças fatais mais comuns em jovens e adultos -, o governo do Reino Unido não tem entusiasmo em prevenir o escorbuto e não paga pela vitamina C dos pacientes. Nem é provável que a política de saúde nos EUA faça algo diferente.
 
As vacinas são imensamente lucrativas – e controversas. A vacina MMR combate sarampo, caxumba e rubéola. Mas o médico pioneiro Fred Klenner descobriu que seus pacientes infectados com caxumba, sarampo ou mononucleose podiam retornar às atividades normais 24 horas após tomarem doses de vitamina C, que fossem toleráveis aos intestinos.
 
Ele não usou a expressão “toleráveis ao intestino”. Esse termo foi bolado por outro notável médico, o falecido Robert Cathcart III, MD, que era um ávido aluno de Klenner. Como Klenner, o Dr. Cathcart foi um marco da honestidade médica. Ao considerarem a tolerância do intestino, Cathcart, assim como Klenner, descobriram que quase qualquer infecção comum podia ser curada, independente de ser um vírus fatal, veneno de cobra ou bactéria.
 
Quantos morreram desnecessariamente de infecções SARM (Staphylococcus aureus resistente à meticilina)? Procure no Google por “Bush, MRSA, Biant” para ver meus artigos no British Medical Journal (BMJ) sobre este assunto.
 
Como a indústria farmacêutica reage a isso? Isso é ignorado. A máfia farmacêutica (a aliança entre as indústrias farmacêutica, médica e alimentícia) produz uma lista sempre crescente de produtos químicos em nossa alimentação.
 
Margarinas são feitas com óleos artificiais, produzidos originalmente pela indústria de tintas, algumas vezes contaminados com níquel; certamente um exemplo de alimentos processados que somos aconselhados a evitar. Parece que a margarina é duvidosa para a saúde, mas algumas chegam a usar a imagem de um coração para promovê-las.
 
Ainda que alguns bioquímicos [que trabalham produzindo margarinas] evitem que a margarina tenha contato com suas peles, ela é exibida junto à manteiga em supermercados, o que é uma piada. Ela não precisa de refrigeração. Colocá-la ao lado da graxa de sapato seria mais adequado. Após um mês, a manteiga é consumida pelo mofo. Já os microrganismos – como o mofo – rejeitam a margarina.
 
Promovida para a prevenção de doenças cardíacas, a  margarina contém óleos insaturados que são ditos como redutores de colesterol plasmático. Mas que os radicais livres causem doenças cardíacas (Dr. Denham Harman, Lancet, novembro de 1957), isso não preocupa os fabricantes. Harman disse que esta hipotética cura para doenças cardíacas pode ser “pior que a doença”.
 
Meus artigos no BMJ são ignorados. Eu me ofereci para verificar as arterias da retina daqueles que tomam estatinas para o tratamento do colesterol. “Evitar danos falando sobre os excessos” [cometidos pelas pessoas] é um objetivo digno, eu escrevi. Mas falar isso é uma ameaça para os bilhões de dólares feitos com a droga mais rentável da história.
 
Claramente, eu provei meu ponto. Soluções finais para tratamentos (ou seja: curas) são atualmente inaceitáveis. As curas custam muito caro [para tais indústrias: farmacêutica, médica e alimentícia].
 
 
O Dr. Bush pratica optometria no Reino Unido. Seu website é:
LifeExtensionOptometry.org
 

terça-feira, 7 de junho de 2016

“Os cirurgiões não gostam de admitir os seus próprios erros”

Henry Marsh, medicina, 2016, marlene carriço, sociedade,
Henry Marsh começou por se licenciar em Política, Filosofia e Economia.
Só depois enveredou pela medicina (MICHAEL M. MATIAS/OBSERVADOR)

Aos 66 anos, o britânico Henry Marsh já operou perto de 500 doentes. Muitas vezes correu mal. O neurocirurgião explica como é fácil errar e que o importante é aprender com os erros e ser honesto.
 
Admitir que se cometeu um erro nunca é fácil, muito menos para alguém como Henry Marsh. Mas o conceituado neurocirurgião britânico, — a quem os doentes atribuem superpoderes dignos de “deuses” — fá-lo, sem problemas e sem medos.
 
Neurocirurgião desde 1987, Henry Marsh já operou perto de meio milhar de pacientes. Reformou-se no ano passado, mas não abandonou o bloco operatório. Nos últimos anos tem-se dedicado sobretudo ao cancro. Esteve em Lisboa, no final da semana, a apresentar o seu livro “Não Faças Mal”, e o Observador falou com ele.
 
Esta é uma entrevista com um médico que faz questão de dizer que é humano. E que, como humano que é, tem sentimentos e comete falhas. Henry Marsh lembra que o importante é aprender com os erros e que na relação entre médico e doente é fundamental que haja confiança, mas que os doentes também têm de perceber que os médicos são falíveis.
 
Porque decidiu ser médico, especificamente, neurocirurgião?
 
Originalmente estudei Política, Filosofia e Economia, na Universidade de Oxford. Ao fim de dois anos abandonei o meu curso para trabalhar como auxiliar num hospital no norte da Inglaterra. Foi então que decidi tornar-me médico. Tive muita sorte que a Universidade de Oxford me tivesse aceitado de volta e esforcei-me muito durante um ano para terminar o curso que tinha interrompido, o que me permitiu depois entrar na Royal Free Medical School, em Londres. Eu queria ser cirurgião, mas, na realidade, quando me tornei médico não gostei, era aborrecido. Tinha a ideia de que ser médico envolvia usar as mãos e o cérebro — eu sempre gostei muito de usar as minhas mãos –, mas achei a cirurgia tão malcheirosa e nojenta… Só por acaso tive a oportunidade de ver uma operação a um aneurisma e ajudar. E percebi imediatamente o que queria fazer. Foi terrivelmente excitante, minucioso, perigoso. Despertou o meu sentido de drama e de vaidade. Mas também foi algo de muito bonito.
 
Bonito?

 Sim. Pode sê-lo, uma operação a um aneurisma, porque estamos dentro do cérebro. Mas também é muito assustador e emocionante, porque a qualquer momento o aneurisma pode rebentar, como uma bomba. E se acontecer é, normalmente, desastroso para o doente. Mas foi amor à primeira vista. Eu soube imediatamente que era o que eu queria fazer. Então decidi que ia especializar-me em neurocirurgia. E nunca me arrependi, apesar de ser muitas vezes horrível, porque é muito perigoso. Acabamos por carregar um grande fardo, uma grande culpa. Mas temos de aceitar isso e aprender a viver com isso. Os triunfos não seriam triunfos se não houvesse desastres. Se as operações fossem sempre seguras não seriam especiais. Então temos de aceitar que existirão maus momentos e que teremos de dar o nosso melhor para ajudar o paciente e a sua família. Apesar de ser muito difícil, às vezes.
 

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Um médico fraudou ao menos 100 perícias, diz MPF

Material apreendido pela Polícia Federal

Apenas um médico é suspeito de receber verba para fraudar ao menos 100 perícias médicas judiciais, segundo o MPF (Ministério Público Federal). O órgão e a PF (Polícia Federal) deflagraram nesta terça-feira (31) a maior operação já realizada no país contra suspeitos de fraudar perícias em nome de grandes empresas para prejudicar trabalhadores e a Justiça.
 
Das 20 cidades do Estado que recebem a operação, sete são da RMC (Região Metropolitana de Campinas): Americana, Campinas, Indaiatuba, Jaguariúna, Sumaré, Paulínia, Valinhos. De acordo com o MPF, empresas multinacionais do setor automobilístico estão entre as envolvidas. 
 
Segundo o PF, são 40 mandados de condução coercitiva, três mandados de prisão preventiva, e busca e apreensão em 52 locais. A rede de corrupção, que funcionaria desde 2010 inclui os médicos peritos judiciais, assistentes técnicos, que são médicos auxiliares contratados pelas partes do processo, advogados e representantes de empresas. 
 
O pivô do esquema, segundo o MPF, seria o do assistente técnico da parte, que faria o contato entre a empresa interessada em fraudar os laudos e o perito judicial, que aceitaria o suborno para realizar a fraude.
 
A operação, denominada "Hipócritas", aponta que as fraudes resultam em perdas para trabalhadores afastados, que perderiam ações de indenização na Justiça contra as empresas. Além disso, o próprio trabalho da Justiça é prejudicado, já que ela arca com as perícias da maioria dos trabalhadores que perdem as ações na Justiça do Trabalho.
 
O esquema de corrupção de médicos peritos judiciais foi detectado tanto em processos que tramitam nas varas do TRT (Tribunal Regional do Trabalho) da 15ª Região, sediado em Campinas, como no da 2ª Região, localizado em São Paulo, e que têm atribuição territorial sobre todo o Estado de SP.
O MPF afirma que as pessoas investigadas são suspeitas e o material colhido pela Polícia Federal nas diligências poderá reforçar as provas até agora obtidas. Segundo órgão, o médico com cerca de 100 fraudes pode pegar até 200 anos de prisão, se condenado. O pagamento da vantagem indevida ao perito geralmente era feito em espécie, entregue pessoalmente pelo assistente técnico nomeado pelas empresas.
 
SE NÃO ACEITA, É PREJUDICADO
 
A investigação revelou que um dos assistentes técnicos conhecia peritos que aceitavam subornos e fazia, em nome deles, a solicitação de propina às empresas.
 
Nos casos em que as empresas aceitaram o pagamento, os laudos periciais lhes foram favoráveis. Em outros, as empresas que recusaram a proposta tiveram laudos periciais prejudiciais. "Houve, também, processos em que o perito judicial recusou as investidas do assistente técnico", aponta o MPF.
 

Médicos simulavam cirurgia cardíaca sem necessidade para desviar recursos do SUS






Jornal GGN - A Polícia Federal deflagrou, na madrugada desta terça-feira (2), a Operação Desiderato, com o objetivo de combater e desarticular organização criminosa composta por médicos, profissionais da saúde e representantes da indústria farmacêutica de próteses cardíacas, que viabilizavam procedimentos cardiológicos sem a real necessidade clínica dos pacientes, muitas vezes simulando procedimentos, com o objetivo de desviar verbas do Sistema Único de Saúde.
 
A organização criminosa era formada por médicos, servidores do hospital e representantes de empresas de produtos médicos, e agia falsificando documentos para a realização de procedimentos cardiológicos sem nenhuma necessidade dos pacientes. As próteses não utilizadas nos procedimentos simulados eram desviadas e usadas em cirurgias efetuadas nas clínicas de propriedade dos membros do grupo.  Os médicos elaboravam dois laudos diferentes para um mesmo paciente: Um era encaminhado ao SUS, a fim de justificar o pagamento; outro ao paciente.
 
A empresa produtora da prótese pagava ao grupo grandes somas pela compra do equipamento, que, na maioria, sequer chegava a ser utilizado pelos pacientes. Os médicos recebiam das empresas propinas que variavam de R$ 500,00 a R$ 1000,00 reais por prótese. O grupo chegava a receber 110.000,00 por mês e os valores pagos, somente por uma das empresas investigadas, chegou a R$ 1.429.902,57 em menos de 03 anos. O grupo criminoso utilizava-se de uma empresa de fachada para lavar o dinheiro proveniente das atividades ilícitas.
 
A polícia investiga os óbitos que ocorreram em virtude de procedimentos similares para saber se os pacientes mortos também teriam sido vítimas da organização criminosa.
 
Os médicos, além de receber dinheiro do SUS, também costumavam cobrar pelos procedimentos executados e pagos pelo Sistema Único de Saúde. Sabe-se que, pelo menos um paciente, que veio a falecer, teria pagado uma quantia de R$ 40.000,00 para ser atendido pelos médicos integrantes da organização criminosa.

A operação conta com o apoio do Ministério Público Federal.
 
Os investigados foram indiciados pelos crimes de estelionato contra entidade pública, associação criminosa, falsidade ideológica, uso de documento falso, corrupção passiva, corrupção ativa e organização criminosa.
 
Policiais federais, de várias regiões do pais, estão dando cumprimento simultâneo a cerca de 72 medias judiciais nos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina. São 8 mandados de prisão temporária, 7 conduções coercitivas, 21 mandados de busca e apreensão e 36 mandados de sequestro de bens.
 
 
 

O médico excomungado por aborto de menina de 9 anos vítima de estupro

O médico obstetra Olímpio Moraes foi excomungado duas vezes por representantes da Igreja Católica em Pernambuco
O médico obstetra Olímpio Moraes foi excomungado duas vezes por
 representantes da Igreja Católica em Pernambuco


Este texto foi publicado originalmente no dia 19 de fevereiro de 2016, em cobertura sobre o debate de aborto em casos de microcefalia. O texto foi reorganizado para a publicação atual.
 
Em 30 anos como médico obstetra, o pernambucano Olímpio Moraes conhece como poucos a força do debate sobre direitos reprodutivos e aborto no Brasil. Ele foi excomungado duas vezes por representantes da Igreja Católica no Estado - uma delas apenas por apoiar a iniciativa disponibilizar pílulas do dia seguinte em postos de saúde no Carnaval do Recife. Na outra, por realizar o aborto em uma menina que ficou grávida após ser estuprada.
 
A polêmica que lhe trouxe fama na imprensa nacional ocorreu quando uma garota de nove anos do interior pernambucano foi encaminhada a Recife, grávida de gêmeos.
 
Ela tinha menstruado uma vez só e não entendia o que estava acontecendo, embora fosse dito para ela o que era uma gravidez. Ela achava que estava doente e ia para o hospital tirar o tumor. Estava sempre com uma boneca."
 
A gravidez da menina era produto do abuso sexual do padrasto. O caso atraiu a atenção da imprensa e também das autoridades religiosas locais.
 
"Eu nunca tive dúvidas de que aquilo era o correto a fazer. No caso dela se somavam duas indicações para o aborto legal. Além do estupro, havia o risco de morte. Era uma criança de 1,32 m grávida de gêmeos. Isso é uma gravidez de alto risco."
 
A excomunhão do obstetra anunciada em 2009 pelo arcebispo de Pernambuco na época, dom José Cardoso Sobrinho, não teve impacto em sua vida, diz Moraes.
 
"Toda a equipe médica daqui e a mãe da menina foram excomungadas. As pessoas me perguntam, mas não acontece nada. Até brinco dizendo que não recebi nenhum certificado para colocar no meu currículo, em defesa das mulheres", diz.
 
"Sou católico, como a maior parte dos brasileiros, mas não sou praticante. E acho que esse é um dos motivos que faz a gente se afastar quando começa a exercer a profissão. Às vezes acho que muitas religiões não condizem com um princípio básico que é ter compaixão e respeitar o sofrimento dos outros", diz.
 
Após o procedimento, a família da garota mudou-se para outra cidade. O arcebispo deixou o cargo no ano seguinte, por causa da idade avançada.
 

Objeção de consciência

 
Diretor do Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (Cisam) - o primeiro serviço médico a realizar abortos legais no Norte-Nordeste, que faz em média um procedimento a cada 15 dias -, em Recife, Moraes afirma que apesar da permissão em casos de estupro, de risco à vida da mãe e de anencefalia no bebê, mesmo o aborto legal ainda é difícil no Brasil.
 
Um dos principais empecilhos, diz ele, ainda é o comportamento de médicos e funcionários em relação às pacientes.
 
"Um grande problema para nós é a objeção de consciência, que é o direito do médico de se negar a realizar o aborto. Mas mesmo assim, o médico tem a obrigação de acolher a mulher, dar as informações a que ela tem direito e fazer o encaminhamento adequado."
 
"Ele não pode usar a objeção de consciência para obstruir o acesso à saúde. Isso é antiético", afirma.
Moraes admite, no entanto, que o argumento da objeção de consciência frequentemente significa que mulheres não terão amparo e orientação quando chegam à maternidade.
 
Em um caso recente, uma mulher grávida após um estupro chegou a ficar 24 horas no Cisam sem ser atendida, até que uma estudante de medicina se sensibilizou com sua situação.
 
"Você tem que tomar cuidado também porque os outros profissionais de saúde - enfermeiro, técnico de enfermagem - e mesmo o pessoal de apoio, como porteiro e maqueiro, agridem as mulheres com palavras", conta Moraes.
 
"Mas como diretor, às vezes só fico sabendo das coisas depois que ocorrem. Aconteceu de a paciente vítima de estupro estar numa área reservada e um funcionário abrir a porta e dizer: 'você vai matar seu filho', apenas porque soube que aquele era um caso de abortamento."
 

Mudança de posição

 
Mas apesar disso, Moraes se diz otimista sobre a mudança de mentalidade em relação aos direitos reprodutivos das mulheres.
 
"Houve um avanço. Quando eu me formei não se tocava no assunto. Quando a gente falava de aborto, era bem direto: aborto é crime, a mulher é criminosa. Era uma visão muito fria. E eu saí da faculdade com essa visão mesmo. Hoje sou diferente do que era há 30 anos", diz.
 
Me marcou muito um dos primeiros casos que atendi, de uma policial que foi estuprada por três homens e ficou grávida. Com o sofrimento e o contato com as mulheres, a gente vai aprendendo coisas que não foram ditas na faculdade."
 
Ele diz ainda que o debate moral frequentemente ignora a experiência das mulheres que optam por interromper a gravidez.
 
"A mulher que faz o aborto não quer abortar. Isso causa consequências pra ela, físicas e psicológicas. Na verdade, ninguém é a favor do aborto. Mas quem é contra precisa entender que criminalizar não é a maneira mais eficiente de diminuir esse número. É o contrário."
 
Na tentativa de mudar o cenário da formação de médicos, o obstetra criou, na Universidade de Pernambuco (UPE), onde ensina, uma disciplina em que leva setores da sociedade para apresentarem seu ponto de vista aos alunos.
 
"Trazemos o movimento de mulheres, por exemplo, para discutir questões de direitos reprodutivos e planejamento familiar na perspectiva delas. Eles debatem o mesmo assunto que estão vendo na faculdade na perspectiva da biologia, mas pelo outro lado", explica.
 
"O que me deixa feliz é que quem tem uma visão restritiva sobre o aborto e passa para o nosso lado, nunca mais volta. Eu tenho colegas aqui no Cisam que há 10 anos não faziam abortamento legal de maneira nenhuma e hoje fazem. Quando eles percebem que estão dando assistência, se sentem mais médicos."