Comemoração custou R$ 156 mil. O RJ2 teve acesso a uma relação de remédios que estão em falta no hospital. Entre eles, um dispositivo que custa R$ 1.290 e era um pedido de urgência para um menino de 11.
Funcionários do Hospital Federal de Bonsucesso fizeram um protesto e invadiram uma festa para comemorar 70 anos da unidade, que sofre com vários problemas, entre eles falta de medicamentos.
O valor investido na comemoração foi de R$ 156 mil. O evento contava com tenda climatizada e serviço de bufê.
A reportagem do RJ2 teve acesso a uma relação de remédios que tiveram o estoque zerado no hospital no último mês de dezembro. De acordo com funcionários, até agora nada foi reposto.
Entre os medicamentos em falta, está um dispositivo para isolamento pulmonar, usado para tratar de enfisemas ou bronquites crônicas. O aparelho custa R$ 1.290 e era um pedido de urgência para um menino de 11 anos.
Além disso, outros produtos mais caros também estão em falta na unidade, como é o caso da Vinorelbina (R$ 20.530), para casos de câncer de pulmão, mamas, próstata e colo do útero; o laxante Glicerol (R$ 40 mil); o Anfortericina (R$ 840 mil), para pacientes imunodeprimidos, como os portadores do vírus HIV; e o anestésico Propofol (R$ 350 mil).
"O que a gente vivi aqui é a falta de medicamentos, principalmente antibióticos. Normalmente a gente tem falta de antibióticos. Faltam materiais. A gente vive numa crise de abastecimento aqui. E a tendência é a direção negar, mas ela existe", disse Tatiana Alves, funcionária do hospital.
A assessoria do hospital informou que os R$ 156 mil, que garantiram a estrutura e a organização da festa, foram doados por empresas que prestam serviços ao Hospital Geral de Bonsucesso. A direção da unidade hospitalar ficou de divulgar, assim que possível, a planilha com estas doações.
Porém, segundo alguns funcionários, a empresa que apresentou o orçamento, Blue Consult, não está cadastrada na base de fornecedores oficiais do Governo, o Sicaf. E por isso, não poderia prestar este tipo de serviço ao hospital.
"Infelizmente, nós funcionários, que lutamos em defesa do hospital, vivemos um momento muito angustiado. A gente não consegue atender o nosso paciente da maneira que ele necessita. Nós não conseguimos suprir as necessidades adequadas para o tratamento dos nossos pacientes", comentou Tatiana.
Na última quinta-feira (10), o RJ2 também mostrou que o hospital enfrenta problemas no atendimento aos pacientes, que muitas vezes são obrigados a ficar internados em cadeiras nos corredores.
A paciente Lucilha Campos Moura é o exemplo do descaso. Ela ficou 45 dias internada no hospital esperando para tratar um câncer, teve alta e foi encaminhada ao Inca, mas sem saber quando poderá iniciar a radioterapia. Em poucas palavras, Lucilha resumiu o sentimento de frustração.
"Remédio a gente tem que comprar. Vários remédios eu deixei de tomar porque eu não tive condições de tomar. E o que eu tomei foi porque eu trouxe de casa", comentou a paciente.
O Hospital Federal de Bonsucesso garante que não há falta de medicamentos ou materiais na unidade e que alguns problemas pontuais no estoque são corrigidos rapidamente. O hospital informou também que vai apurar os casos citados na reportagem e que ainda não finalizou as planilhas das doações feitas para a festa. O RJ2 tentou, mas não conseguimos falar com a empresa Blue Consult.
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