Falha no parto causou paralisia cerebral em recém-nascido há 15 anos. Família espera até hoje o pagamento de indenização determinada pela justiça.
Família espera há 15 anos indenização por erro médico em clínica que era de deputado |
Um dos deputados que toma posse na Alerj nesta sexta-feira (1º) Doutor Deodalto, do DEM. Ele vai para o terceiro mandato e no currículo carrega também a experiência como médico e como sócio de uma maternidade. A unidade foi condenada por erro médico.
Uma falha na hora do parto, que impôs a uma criança recém-nascida uma pena cruel: passar a vida inteira sobre uma cama. O filho de Roberta Gomes da Silva, o Cauã, sofreu paralisia cerebral durante o parto, na Casa de Saúde e Maternidade de Belford Roxo, na Baixada Fluminense. A angústia é diária e já dura 14 anos.
“Agora, ele depende 24 horas de oxigênio, depende de vários medicamentos, nebulização, aparelhos. Ele não anda. Ele é acamado 24 horas, não tem condições de andar”, disse a mãe.
Uma perícia apontou que houve erro médico.
“Assim que ele nasceu, para mim, ele já estava até morto, porque quando eu olhei para o lado, a minha pressão baixou muito, e eu vi, ele estava totalmente preto. Não tinha um oxigênio, um cilindro, pequeno que fosse, não tinha. Levaram ele direto para uma incubadora, com uma lâmpada de cozinha de 60, sem oxigênio”, conta Roberta.
Até hoje, a família não recebeu a indenização, nem a pensão de dois salários mínimos, determinadas pela Justiça.
Na época do parto de Cauã, o diretor e um dos sócios do hospital onde aconteceu o erro médico era justamente quem atualmente deveria defender os interesses dos cidadãos. O deputado estadual pelo DEM Doutor Deodalto é médico e obstetra.
“É inadmissível que um médico, uma pessoa que tem que ter amor, uma pessoa que tem que ter apreço pelo ser humano, a gente não pode entender que um deputado, que a gente até procura, muitas vezes, para intervir, nesses casos, esteja se esquivando. É impossível que uma maternidade, uma casa de saúde, seja penhorada a parte financeira dela e não tenha um real”, disse o advogado da família José Henrique Machado.
Relatório do Coaf aponta movimentação em conta conjunta
Enquanto a Justiça não encontra o dinheiro para pagar a indenização nem a ajuda para o Cauã nas contas dos sócios da clínica, um relatório do Coaf apontou detalhes da movimentação na conta conjunta de Doutor Deodalto e da mulher dele, Márcia Regina Lagos Reis.
De acordo com o documento, entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017, Márcia Regina movimentou mais de R$ 6,7 milhões na conta. O Coaf diz que ela é criadora de bovinos, e tem renda mensal de quase R$ 17 mil.
Nesse período, só em saques em espécie, a mulher de Doutor Deodalto sacou mais de R$ 620 mil, em várias agências. O órgão que fiscaliza movimentações financeiras suspeitas também identificou duas transferências para o marido de uma assessora parlamentar do deputado.
Em uma dessas transferências, Márcia Regina depositou mais de R$ 540 mil reais na conta de Diogo Teixeira Dias de Oliveira. Na outra, depositou mais R$ 480 mil.
Nesse período, a família de Cauã passou por dificuldades, segundo Roberta.
“Fiquei endividada. Em 2016, perdi cartão de crédito, fiquei devendo cinco meses de aluguel. Eu me apertei muito, paguei um plano de saúde, entrei com uma liminar também para conseguir o home care, para manter ele, senão ele ia ficar dentro do hospital dos servidores”, contou a mãe de Cauã.
O RJTV conversou com o deputado.
“Hoje eu não sou mais sócio do hospital, presto serviço para o hospital. Não tenho nada a ver com esse caso. Eu era diretor-médico e sócio. Quando você vende a empresa, você vende com tudo, com os processos passivos, ativos, enfim, tudo que existe no hospital. A pessoa que compra, ela inclusive sabia desse processo”, disse o deputado, afirmando que sua responsabilidade em relação à indenização pelo erro médico é “nenhuma, zero”.
Roberta não se conforma com a situação.
“Já me perguntei várias vezes: será que eu vou ter que levar meu filho com a maca, com o cilindro de um 1,20 m, para dentro do fórum, para ver se alguém se comove? Porque até hoje não foi feito nada. Ou por que eu sou pobre, e, ele, deputado estadual?” Indagou a mãe de Cauã.
Sobre a movimentação financeira de sua esposa Márcia Reis, o Doutor Deodato disse que nunca teve conta conjunta com ela e que as transferências feitas para a conta do servidor Diogo Teixeira de Oliveira são relativas à movimentação anual, para despesas de custeio, pagamentos de fornecedores, entre outros, da maternidade em Belford Roxo, onde Diogo também trabalha.
O Tribunal de Justiça do Rio disse que, no dia 18 de janeiro, o juiz determinou, mais uma vez, que a Casa de Saúde e Maternidade de Belford Roxo pague a indenização à família do Cauã. Até agora a decisão não foi cumprida.
O RJTV não conseguiu contato com a atual direção da clínica. Mas o deputado Doutor Deodato, que continua prestando serviços para o hospital, disse que a maternidade vai pagar o que deve depois que receber um repasse de R$ 2 milhões da Prefeitura de Belford Roxo.
Cauã completa 15 anos esse ano. São 15 anos esperando essa indenização.
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