terça-feira, 14 de maio de 2019

Ginecologista é suspeito de assediar 24 mulheres durante consultas em Conquista

Médico nega denúncias e advogado luta para tirar perfil com relatos da internet

Um médico especializado em ginecologia e obstetrícia, que atende em Vitória da Conquista, no sudoeste da Bahia, está sob suspeita de assediar ao menos 24 mulheres durante consultas que realiza na rede pública e privada de saúde da terceira maior cidade do estado, com 338 mil habitantes.

As mulheres procuraram a Subseção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), nesta segunda-feira (13), para relatar os supostos assédios, denunciados primeiramente por meio de um perfil na rede social Instagram, criado por uma mulher na sexta-feira (10).

A mulher diz ter sido assediada pelo médico Orcione Júnior, que rebateu as acusações por meio do advogado de defesa. Desde então, o perfil tem recebido vários relatos de supostos assédios por parte do mesmo médico; além do apoio de mulheres de outros estados, que estão compartilhando as informações em suas respectivas contas na rede social.

Em nota, a OAB diz que as 24 mulheres “solicitaram uma audiência com a diretoria da Ordem e com as Comissões da Mulher Advogada e dos Direitos da Mulher e, nessa ocasião, reivindicaram apoio e providências, a fim de que sejam adotados procedimentos de investigação acerca de notícias já veiculadas nas redes sociais”.

Segundo a nota, “a OAB acolheu o pleito e prontamente encaminhou expediente às autoridades competentes, pugnando pela adoção das providências que o caso requer”. Diz ainda que “permanecerá acompanhando o desenrolar dos procedimentos que serão adotados pelas autoridades, por considerar que é de relevante interesse social a elucidação dos fatos, ao tempo em que se compromete ministrar apoio técnico-jurídico às ofendidas em seu direito e dignidade”.

Por conta das publicações nas redes sociais, o caso já está sendo alvo de investigação na Delegacia de Atendimento Especial à Mulher (Deam), cuja delegada titular, Dercimária Cardoso Gonçalves, informou que abriu nesta segunda-feira uma “investigação pública incondicionada” para averiguar as denúncias.
Uma investigação desse tipo, explica a delegada, não precisa que haja representação por parte da vítima para que seja aberta. Contudo, ela informou que o primeiro passo está sendo identificar quem fez a denúncia na citada rede social. “Já temos algumas pistas de quem seja, mas ainda estamos buscando informações”, afirmou a delegada.

“Não temos nenhuma queixa contra o médico apontado na denúncia. O que se espera é que depois dessa publicação apareçam pessoas na delegacia para fazer denúncias formais e a partir daí tomarmos as providências”, acrescentou a delegada, que chegou a ver os relatos e os achou “muito fortes”.

Depoimentos nas redes
Denunciado por meio de um perfil anônimo chamado “diganaovca” (as últimas três letras se referem a Vitória da Conquista), a publicação afirma que “há algumas semanas” a denunciante esteve no consultório do médico Orcione Júnior para realizar um exame preventivo e “no início, a consulta estava seguindo com normalidade, até eu achar estranho/desnecessário ele elogiar o meu clitóris”.

“Seu clitóris é um pouco grande, mas é bonito e interessante”, foi o que a moça relatou ter ouvido do médico Orcione Júnior. “A partir daí não tive nem reação para respondê-lo”, acrescentou.

“A consulta continuou e ele estava colhendo o meu material, até que eu senti que ele estava tentando estimular o meu clitóris, mas como ele ainda estava colhendo o material eu até achei que seria normal, foi quando ele tirou o espéculo [instrumento usado para dilatação], mas ainda assim continuou na tentativa de me estimular”.

A moça diz que em seguida o médico pediu que ela retirasse a blusa para examinar os seios e que logo depois tentou guiar o braço dela em direção ao pênis dele, “e no primeiro momento ele obteve êxito, pois eu achava que era a posição correta que o braço teria que ficar e nesse momento eu senti que o pênis dele estava ereto”.

“Foi aí que eu tirei meu braço de perto dele e só tremia”, relatou a suposta vítima. “Depois, me pediu pra ir vestir minha roupa e assim eu fiz. Quando voltei, ele me pediu para sentar e foi aferir minha pressão. Ele segurou meu braço de uma forma que queria que a minha mão passasse novamente no pênis dele, mas eu esquivei e coloquei em cima da mesa. Logo depois disse que a minha pressão estava normal e que eu poderia voltar com 30 dias para pegar o resultado”.

A moça diz ainda que “talvez eu não tenha sido a primeira, mas tenho certeza que não serei a última, fui atrás de um profissional e me deparei com isso. Minha mente ficou perturbada por dias”, diz o relato complementar publicado no Story do Instagram, onde foram publicados outros relatos também anônimos de mulheres que se dizem assediadas de forma semelhante.

Defesa
 
Um dos relatos publicados no perfil @diganaovca afirma que o médico acusado tentou beijar uma paciente. Até o início da noite de ontem, o perfil contava com 5.760 seguidores. Mas, se depender do advogado Paulo de Tarso, que defende o profissional acusado pelas internautas de assédio, será retirado do ar o quanto antes.

“Já tentamos fazer isso de forma administrativa, por meio do próprio Instagram, mas não conseguimos, então decidimos ingressar com um pedido de liminar (decisão temporária) na Justiça contra o Facebook para que ele possa ser retirado do ar imediatamente. O que está ocorrendo é um linchamento virtual”, disse o advogado.

Paulo de Tarso disse que havia identificado a autoria da mulher que criou o perfil e fez o relato. Contudo, a pessoa indicada conversou com o CORREIO e disse que nunca foi atendida pelo médico e que apenas compartilhou a informação recebida sobre a denúncia. “Eu nem conheço a autora da denúncia, só achei o caso absurdo”, disse.
Questionado pelo CORREIO se há alguma investigação contra o médico Orciole Júnior, o Conselho Regional de Medicina da Bahia (Cremeb) informou que “não pode compartilhar informações sobre denúncias e processos que tramitam no Tribunal de Ética Médica, pois estes conteúdos estão sob sigilo processual”.

A Associação de Obstetrícia e Ginecologia da Bahia (Sogiba) e o Ministério Público da Bahia (MP-BA) informaram que ainda não receberam informações sobre o caso e que, por isso, não tinham o que comentar. Segundo o advogado Paulo de Tarso, o médico Orcione Júnior prefere não dar entrevista sobre o caso.







Nenhum comentário:

Postar um comentário