segunda-feira, 13 de maio de 2019

No Acre, filhos enterram matriarca no “dia das mães” após suposta negligência médica


“Hoje no dia das mães em vez de está dando uma caixa de perfume pra ela, vou esta dando um caixão e enterrando-a”. Essas foram as palavras usadas pelo cidadão e pai de família, o Jornalista Silas Cavalcante, de 35 anos, mais conhecido na capital acreana, como o “Palhaço Alegria”, após a morte de sua sogra, Elizabeth Maia da Silva, 71 anos, na tarde deste sábado (11), na Unidade de Pronto Atendimento (UPA Franco Silva) na baixada da Sobral.

Silas procurou o ac24horas para denunciar o suposto descaso por parte do governo na unidade de saúde e informar que sua sogra morreu por volta das 12h45min por negligência médica.

De acordo o denunciante, sua sogra havia dado entrada na unidade hospitalar na manhã de sexta-feira (10) por ter sofrido um pequeno corte no pé direito e que estava inchado. Por estar com febre e ânsia de vômito, a paciente foi atendida, e a médica de plantão receitou os remédios dipirona e plazil e em seguida deu alta a paciente. Pela tarde a Idosa Elizabeth foi encaminhada novamente a unidade de pronto atendimento, pois se queixava de dores abdominais e novamente a médica de plantão apenas olhou para a idosa, fez alguns exames e passou as mesmas medicações apenas com acréscimo de um antibiótico, pois o hemograma indicou que a paciente estava com uma infecção. Mesmo sabendo da gravidade, a médica mandou que Elizabeth fosse descansar em casa.

Por volta da 5h deste sábado (11) a Senhora Elizabeth chamou o genro e disse que não estava se sentindo bem. a mulher foi conduzida novamente ao hospital com o pé muito inchado e vermelho, dores abdominais e disenteria.

“Quando cheguei novamente na UPA já estava na troca de plantão, o médico assumiu e pedi para ele dar uma olhada na minha “mãe” que ela não estava bem. O médico mandou aplicar as medicações por volta das 7h. Pedi pro médico ver o pé dela que estava muito inflamado e saindo sangue, depois ela começou a piorar, pedi a transferência dela ao pronto-socorro e depois que já estava muito mal que tiveram a coragem de acionar a ambulância do Samu, o Samu demorou quase duas horas para chegar”, disse Silas.

Cavalcante disse ainda à reportagem que sua esposa Sandréia Maia da Silva, de 38 anos, é funcionária da unidade de saúde e mesmo assim o médico ao qual o acusa de negligência,  Herico Rocha, não deu a devida atenção a sua sogra.
“Hoje no dia das mães em vez de está dando uma caixa de perfume pra ela, vou esta dando um caixão a enterrando”, diz Jornalista que perdeu a sogra por suposta negligência médica na UPA Franco Silva
“Os amigos de minha esposa lutaram para ajudar minha sogra, o médico veio lutar pela vida dela quando o secretário Alysson Bestene enviou um representante da Sesacre ao local, quando minha sogra já estava muito mal. Só queria saber o porquê que esse médico não transferiu com urgência ao pronto-socorro, minha sogra entrou conversando, brincando comigo e do nada morreu e ninguém sabe explicar nada. Meu sentimento é de um filho, que hoje no dia das mães em vez de está dando uma caixa de perfume pra ela, vou está dando um caixão e enterrando-a. Não acredito mais na saúde do Acre, já não acreditava, mataram a minha sogra e alguém terá que ser responsabilizado. Mataram uma vó, uma mãe, uma serva de Deus, uma pessoa alegre”, disse muito abalado Silas Cavalcante.

Após a morte de Dona Elizabeth, o médico Herico Rocha explicou ao ac24horas o que aconteceu e quais os procedimentos foram tomados.  

“Eu recebi o plantão aqui às 7h. A dona Elizabeth estava com a Drª Adriana, e ela tinha acabado de acolher a paciente na unidade, me passou a situação dizendo que a paciente estava com quadro de diarreia, já com a presença de sangue e vômitos e que estava passando mal. No momento que ela chegou os sinais vitais dela estavam com a pressão baixa, com falta de ar, e aí a Drª Adriana já iniciou com o primeiro atendimento e assim que eu peguei o plantão, fiz o meu atendimento. No caso quando o paciente está com pressão baixa, a gente considera que precisa fazer um protocolo, assim como em toda medicina. Começamos então fazer todo protocolo. A primeira coisa é você fazer soro, fazer as medidas, tomar as medicações e a medida que o paciente for respondendo a gente vai avaliando. Então a paciente ficou em observação até  aproximadamente às 9h30min, melhorando a medida que foi aplicando o soro, foi fazendo as medicações, apesar dela estar passando mal, ela estava respondendo, ainda estava consciente, respondia minhas perguntas. A medida que foi passando o tempo o soro ia respondendo, a pressão dela ia aumentando pouco a pouco, o protocolo era continuar o tratamento. Então em determinado momento próximo ao horário em que eu liguei pro Samu, por volta das 10h, a dona Elizabeth baixou bruscamente a pressão, então a gente começa a cair na segunda parte do protocolo, que é iniciar as medicações, já começar o protocolo para proteger o paciente com as possíveis gravidade, como intubação, colocar as medicações para melhorar a pressão, então a gente já se preparou para fazer tudo isso”, disse o médico.

Herico chegou a afirmar a reportagem que a ambulância do suporte avançado do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) demorou cerca de 1h30min para chegar a Unidade de Pronto Atendimento (UPA Franco Silva) e disse ainda que a unidade de saúde não é referência para atendimento quando se trata de um paciente em estado grave.

“Liguei para o Samu, passei o caso da paciente, aí foi informado que já estava vindo uma ambulância, com a Drª Jéssica do Samu que é a reguladora. Não lembro o horário que chegaram, mas demorou pelo menos 1h30min. Quando eu liguei a paciente não estava com parada cardíaca, ela estava baixando a pressão, ficando grave, aí começamos a fazer as medidas de um paciente que está ficando grave. E nisso nessa demora, a paciente foi ficando grave e aí ficamos com pouca coisa pra fazer numa unidade de saúde que não é referência, referência para atendimento clínico no caso seria o pronto-socorro, no momento que é necessário. Até o presente momento antes de ligar pro Samu, estava respondendo com as coisas que tenho aqui. No que chegou a ambulância do Samu, a paciente já estava estável, eu já estava preparando o material pra fazer a intubação dela e aí a gente começou a fazer medidas para tentar estabilizar ela, pra poder ter a segurança de fazer a transferência. Só podemos transferir um paciente, em segurança de fazer”, explicou o médico.

Em depoimento, Rocha confessou ainda que a unidade hospitalar não tem bomba de fusão e que teve que improvisar a medicação na paciente com soro para tentar melhorar a pressão de Dona Elizabeth. 

“A gente tentou, passamos a intubação na paciente, fizemos as medicações que normalmente são feitas em bombas de fusão, mas a gente não tem disponível aqui o material para fazer essa medicação, então a gente teve que improvisar, colocar no soro para tentar melhorar a pressão dela, para ela ficar mais um pouco estável e assim alguns momentos que a paciente apresentava uma melhora, pensávamos em colocar ela na ambulância para ao pronto-socorro, até iria acompanhar. A Drª Jessica do Samu me ajudou em todos os procedimentos a gente tomava todas as decisões juntos e aí a paciente foi piorando. A dona Elizabeth entrou em parada cardiorrespiratória pela primeira vez, fizemos as manobras, fez a reanimação cardiopulmonar, fez as massagens cardíaca, em dois ciclos de massagem cardíaca ela retornou, voltou o batimento cardíaco e aí já estávamos começando um novo processo de estabilização para poder fazer a transferência, e nesse novo processo de estabilização a paciente caiu muito bruscamente a pressão, apesar de todas as medicações que a gente fez pra melhorar a pressão. Elizabeth então entrou na segunda parada cardíaca, passamos 30 minutos, tentando reanimá-la, fazendo tudo como manda o protocolo, dada as possibilidades aqui nesta unidade”, disse Herico. 

Perguntado sobre as possíveis causa da morte de Elizabeth, o Médico não soube explicar e confessou que a paciente estava com um quadro infeccioso.

“A paciente estava em investigação, ela foi atendida na unidade ontem (10) estava com um quadro infeccioso que a gente não conseguiu coletar dados suficiente para diagnosticar, disseram que o hemograma dela tinha dado alterado, só que ela foi medicada e talvez com a melhora encaminhada pra casa. Não sei direito,  eu não acompanhei o atendimento ontem, foi outro colega que atendeu não posso falar sobre esse assunto porque o plantão não era meu. O quadro clínico e a causa eu não consigo te dizer, porque a gente não tem mecanismo suficiente em pouco tempo, ainda mais em situação de emergência”, concluiu Rocha.

O representante da Secretaria de Saúde, Wilson Afonso Dias Júnior, esteve na Unidade de Pronto Atendimento e disse que todo apoio foi dado ao Jornalista Silas Cavalcante. “Me dirigi a UPA pra dar um apoio ao Silas, quando cheguei a paciente já estava sendo assistida pela equipe médica, ela estava consciente, falando, e de repente veio piorando esse quadro, mas teve toda assistência da equipe, que inclusive parou de atender todos os pacientes da emergência clínica para atendê-la. Entrei em contato com o Samu, a gente pediu a ambulância de suporte avançado a 01, porque o quadro clínico da paciente já estava ficando grave. Entrei em contato com a direção do Hospital de Urgência de Rio Branco (Huerb) para ver a questão do acolhimento da chegada dela lá e tinha três leitos disponíveis, que tinha oxigênio para recebê-la. Fiquei amparando o Silas, todo apoio foi dado, é uma situação que a gente não deseja pra ninguém, justamente nas véspera do dia das mães, e logo com a sogra que era uma mãe pra ele. Foi concentrado todo atendimento a dona Elizabeth, mas ela infelizmente teve duas paradas cardíaca e na última não resistiu, disse Wilson.

A senhora Elizabeth está sendo velada na Igreja Batista Renascer, na Estrada da Sobral, ao lado do Antigo Rufino, até as 15h deste domingo (12). O sepultamento será no Cemitério São João Batista, na rua Rio de Janeiro. Elizabeth era professora aposentada e deixou quatro filhos, Mauriceia e três servidores do estado do Acre, o Subtenente J. Maurício, o Sargento J. Márcio, a servidora da Saúde Sandreia Maia.



















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