terça-feira, 17 de julho de 2018

Mãe denuncia possível caso de fraude em exames preventivos de câncer

A filha dela buscou o laboratório SEG para o procedimento, que diagnosticou como normalizado a situação


Dona Nair Ribeiro Alvaides, 57 anos, perdeu a filha Greice Ribeiro Alvaides Dóro, de 33 anos, devido a um câncer de colo de útero. Entretanto, a morte da mulher se transformou em uma denúncia de fraude contra exames preventivos de câncer de colo de útero do SUS (Sistema Único de Saúde). Greicei, que faleceu em janeiro deste ano, havia realizado o exame Papanicolau, na rede pública de saúde de Pelotas, no Rio Grande do Sul. As informações são do portal R7.

Na ocasião, ela buscou o laboratório SEG (Serviço Especializado em Ginecologia) para o procedimento, que diagnosticou como normalizado a situação de Greice. Porém, em pouco tempo depois a mulher apresentou sintomas incomuns. “Menos de dois meses depois ela começou a sangrar. Procuramos um médico particular e descobrimos que ela já estava tomada pelo câncer, que não tinha mais como fazer cirurgia”, lamentou a mãe.

A doença, que não foi diagnosticada previamente no exame realizado, já teria se espalhado de forma generalizada pelo corpo de Greice: começou no útero, foi para a bexiga e para a parte interna da vagina. A mulher realizou o tratamento por mais de um ano, mas não resistiu a agressividade do câncer.


Nair tem certeza que a filha foi vítima da negligência e fraude nos exames do SUS. Ela pretender denunciar o caso para que a história de Greice sirva de exemplo para outras pessoas e não venha a se repetir. “Sei que minha filha não volta mais, mas se através dela outras mães puderem evitar essa dor que sinto, farei de tudo para ninguém passe por isso”, disse.

Denúncia

Na semana passada, o laboratório SEG, que possui contrato com a prefeitura de Pelotas, foi acusado publicamente por médicos e enfermeiros da UBS Bom Jesus. A equipe percebeu uma redução significativa no número de casos da doença, que no período de janeiro de 2014 e junho de 2017 não teve nenhuma mulher que fez o exame diagnosticada com a lesão cancerígena.

Uma tabela de exames da mesma unidade mostrou que antes deste período, 44 resultados emitidos pelo mesmo laboratório apontaram lesões. A suspeita é de que as amostras coletadas nos postos e enviadas ao SEG foram analisadas por amostragem: a cada 100, apenas uma era examinada. De acordo com as médicas autoras da denúncia, mesmo pacientes com lesões aparentes recebiam resultado “normal”.

Segundo o Portal de Transparência, o laboratório recebeu um total de 6.923 amostras para preventivo de câncer de colo de útero no ano passado. A ata de licitação mostra que para cada amostra o SEG recebeu R$ 7,45. De acordo com as contas, o laboratório somou R$ 51.578,35. Na tabela base do SUS, o exame Papanicolau sem biópsia custa R$ 6,97.

O portal R7 entrou em contato com Christiane Ualt Fonseca, advogada representante do laboratório, que afirmou que a proprietária da instituição não dará entrevista.  O posicionamento da empresa só será dada “através de nota de esclarecimento à população na segunda-feira”.

Segundo nota divulgada pela prefeitura, uma primeira denúncia já havia sido feita em julho de 2017. Na época, uma equipe da Vigilância Sanitária foi encaminhada até o laboratório para realizar fiscalização. Os relatórios de monitoramento interno de qualidade foram solicitados e, após serem entregues, o SEG teve o alvará sanitário renovado até o dia 23 de novembro de 2018.

Com a denúncia feita pela imprensa, a prefeitura voltou a solicitar os relatórios. O laboratório prometeu entregar até esta segunda-feira (16). Ao fim do comunicado, o órgão afirma que a secretaria municipal de saúde “voltará a se manifestar formalmente sobre o assunto após receber e analisar os relatórios do SEG”.

Ministério Público e CPI

Um inquérito civil público foi aberto no Ministério Público do Rio Grande do Sul e está sob a responsabilidade da promotora Ângela Rotundo. A intenção da câmara de vereados da cidade é de que o caso seja levado para o Ministério Público Federal, por “trata-se de verba do Sistema Único de Saúde”.

O vereador Marcos Ferreira (PT), presidente da Comissão de Saúde da entidade, quer encaminhar a denúncia também para a Assembléia Legislativa, Câmara de Deputados e Senados, pois “trata-se de recursos das três esferas”. Além disso, na terça-feira (17) devem iniciar os trabalhos da CPI da Saúde, que também vai analisar o caso. “Este pode ser o maior crime já cometido na saúde em Pelotas, visto que o câncer não tem cura, um dia sem tratamento é um dia a menos de vida”.




Nenhum comentário:

Postar um comentário