São três infectologistas e nenhum nefrologista atendendo pelo município, por exemplo.
Paciente com HIV questiona falta de médicos e prolonga filas de espera por consultas em SC |
A rede municipal de saúde de Florianópolis está com falta de médicos em algumas especialidades. A cidade tem, por exemplo, somente três infectologistas para atender a toda a população. Levatamento feito pelo vice-diretor clínico dos médicos da prefeitura, Renato Figueiredo, com alguns colegas, a partir de dados públicos, diz que a rede tem hoje déficit de 70 médicos.
A prefeitura contesta esse número e diz que já chamou 56 novos profissionais da Saúde, sendo 16 médicos, todos da família.
Essa falta de médicos faz com que alguns pacientes esperem meses por uma consulta. É o caso de um microempresário, que pediu para não ter o nome divulgado. Ele descobriu que tinha o vírus HIV há 20 anos, quando ainda morava no Rio de Janeiro, e desde então faz tratamento na rede pública de saúde.
Ele não pode ficar sem tomar os remédios. São seis comprimidos por dia e às vezes é preciso trocar a medicação. "Dá efeito colateral, então no meu caso eu tenho diarreias mais frequentes, um pouco de náuseas na hora de dormir", declarou.
Mas para conseguir mudar os remédios, ele precisa passar primeiro por um especialista. O tratamento do microempresário na capital catarinense era feito na Policlínica de Canasvieiras, no Norte da Ilha, mas em dezembro de 2017 o único médico infectologista que atendia no local saiu e ainda não foi substituído.
Em março deste ano, o microempresário conseguiu atendimento com um dos três infectologistas, no Continente. Fez todos os exames, mas até agora não conseguiu agendar o retorno. A explicação para essa demora é que tem muita gente na fila: uma lista de 840 pessoas na frente dele para atendimento.
Déficit de médicos
O déficit de 70 profissionais engloba várias áreas, disse Figueiredo. "Isso inclui os médicos especialistas das policlínicas, os pediatras e clínicos das Upas [Unidades de Pronto-Atendimento], os psiquiatras da Atençao à Saúde Mental, do Caps, e também os médicos de família, da atenção primária", declarou.
Não há nefrologista, por exemplo, na rede municipal. Para ele, é preciso chamar mais profissionais, além dos médicos da família.
"Aí você transferir a responsabilidade do especialista da policlínica para os médicos de família, é uma sobrecarga de trabalho que faz com que o médico passe a buscar outra alternativa, fora de Florianópolis", declarou Figueiredo. "Acompanhar um caso de HIV/Aids precisa de um especialista, porque são muitas nuances, e muitas vezes o médico, por mais bem-intencionado que ele esteja, ele pode cometer algum equívoco, aí vão dizer que é erro médico", disse.
Outro lado
Sobre a falta de infectologistas, o secretário municipal de Saúde, Carlos Alberto Justo da Silva, o Dr. Paraná, disse que mais dois médicos foram chamados, o que vai totalizar cinco. A respeito das filas de espera por atendimento, ele reconheceu o problema.
"É verdadeiro, isso é real. Nós temos uma fila controlada com 5 infectos em 30 dias. Quando ele saiu, há 2 meses, pede demissão, essa fila já está em 800. Claro, porque não atende. Nós já chamamos os outros, estamos esperando que eles assumam e com cinco nós vamos trazer a fila novamente para 30 dias", disse. Segundo ele, a lei municipal estabelece que quando é determinada a chamada, são até 90 dias para o médico se apresentar.
O Dr. Paraná disse ainda que não há procura em número adequado para se manter determinados médicos na rede municipal. "Há várias especialidades que eu não tenho demanda suficiente que justifique eu pagar esse profissional fixo por mês na secretaria porque a consulta fica enorme. Tenho, 10 casos 15 casos, não justifica.
A prefeitura, porém, tem adotado medidas para não deixar a população sem certos atendimentos, segundo o secretário. "O que a gente faz é quando há uma demanda de ter um profissional próprio, do ponto de vista da econometria, é melhor para a Secretaria, a gente incorpora ao quadro. Quando a gente vê que não, não, a gente compra na rede", declarou.
Ele também falou que um portador de HIV não precisa somente de um infectologista.
"O paciente de HIV ele não precisa ser só por um especialista. Porque um indivíduo que apresenta outras situações além do HIV. Então que nós estamos querendo é que o médico da rede quando ele não se sentir em condições de atuar ele encaminha para especialista como em todas as outras especialidades", disse o secretário.
O secretário afirmou ainda que não existe falta de 70 médicos na rede estadual. "Não existe esse déficit. O padrão do Ministério da Saúde é de um médico a cada 3,5 mil habitantes. Nós temos médico a cada 2,5 mil habitantes. Há uma reivindicação dos médicos de ter um médico só para cada 1,5 mil habitantes. Se você for ter um médico para cada 1.500 habitantes é claro que você tem déficit médico. Pelos padrões do Ministério, nós realmente temos uma falta de 27 profissionais tanto que nós estamos chamando agora para compor as equipes para voltar a ter 100% de cobertura das equipes", disse.
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