Segundo a Prefeitura, exoneração de Tânia Trilha será assinada nesta quarta-feira (12). Mensagem de voz foi enviada para o então diretor médico do Hospital Raul Sertã. Cremerj repudiou o ato.
Prefeitura de Nova Friburgo anuncia exoneração de secretaria de Saúde após áudio vazar |
A Prefeitura de Nova Friburgo, na Região Serrana do Rio, confirmou a
saída de Tânia Trilha, secretária de Saúde, na noite desta terça-feira
(11), após um áudio que ela enviou para o então diretor médico do
Hospital Raul Sertã, Arthur Mattar, vazar na internet. Na mensagem de
voz, ela diz:
"Arthur meu querido, olha só! Eu preciso só que resolva; que opere o paciente ou que ele morra, entendeu, pra gente se ver livre do problema, mas é só o que eu preciso porque eu tenho que cumprir uma decisão judicial, você me ajuda nisso por favor? obrigada meu querido", diz.
A Prefeitura confirmou ao G1 que o áudio foi enviado pela secretária, mas não disse a data.
A secretária enviou para a equipe da Inter TV uma nota justificando o áudio (veja na íntegra abaixo).
O texto também foi publicado na página de Tânia em uma rede social. Ela
diz na nota que enviou a mensagem de voz em um grupo privado: "Eu disse
com ênfase às frases veiculadas no áudio de forma isolada, buscando não
a morte do paciente, mas a resolutividade da circunstância".
No texto, a secretária afirmou ainda: "Entendo que a conduta de
divulgar um áudio de um grupo privado de direção descontextualizada, é
um ato criminoso e no mínimo antiético que não merece crédito, pois se
vale de um momento político e de julgamento daqueles que desconhecem a
minha postura integra, profissional e acima de tudo humana. Sendo certo
que as medidas judiciais cabíveis serão tomadas".
Secretária confirmou à Prefeitura ter enviado áudio que vazou na internet nesta terça-feira (11) — Foto: Daniel Marcus/Divulgação |
Em maio, o diretor médico pediu demissão do
cargo. Na época, Arthur Mattar disse que o motivo foi: "por não
compactuar com esta gestão da Secretaria Municipal de Saúde, onde os
valores judiciais são mais importantes que os valores humanos".
Nesta terça-feira (11), o Conselho Regional de Medicina do Estado do
Rio de Janeiro (Cremerj) publicou na internet uma nota de repúdio e
disse que vai entrar com uma representação de improbidade administrativa
no Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) por violação do
princípio da moralidade administrativa. (Veja a nota na íntegra abaixo).
Áudio que vazou na internet foi enviado pela Secretária de Saúde para o então diretor médico do Hospital Raul Sertã — Foto: Daniel Marcus / Ascom Friburgo |
O Cremerj diz que: "repudia todo e qualquer tipo de coação ao médico
que o iniba de praticar da melhor forma seu trabalho e possa colocar em
risco a vida do paciente".
O Conselho afirma ainda que "o Código de Ética respalda todos os
procedimentos médicos, protegendo não só o paciente, assim como o médico
em questão e diz que este tipo de atitude da Secretária fere,
frontalmente, os princípios fundamentais deste Código de Ética!" .
O presidente da Comissão de Saúde da Câmara de Vereadores de Nova
Friburgo, Wellington Moreira, encaminhou o caso para o Ministério
Público do Rio de Janeiro (MPRJ).
Em nota enviada para a Inter TV, a Promotoria de Justiça de Tutela
Coletiva do Núcleo Nova Friburgo informou que a notícia foi autuada como
representação e que foram adotadas medidas para aferição da legalidade e
autenticidade da gravação.
Resposta Secretária
Em
23/01/2019, recebemos um mandado judicial para internação de um
paciente no CTI. Como De costume, falamos no grupo restrito da Direção
do hospital Raul Sertã, em que participavam eu, o Diretor Médico na
ocasião, Arthur Mattar, a Diretora Geral e a Subsecretária de Atenção
Hospitalar, vez que sempre conversávamos de forma privada em tal grupo,
sobre o direcionamento das condutas a serem realizadas.
Ressalvando
que as condutas médicas não eram de minha competência, pois o médico
dirigente, era o Dr. Artur, que no caso do referido paciente, ele mesmo
já havia nos informado da situação de risco de morte e que só teria vaga
no CTI do nosso hospital se alguém morresse, ou seja, se tivesse “alta
celestial”, palavras frequentes do Dr. Arthur.
O
paciente, segundo o Diretor Médico, tinha a saúde completamente
debilitada, necessitando fazer uma cirurgia e o mandado determinava a
internação dele no CTI.
Nosso
hospital não tinha leito de CTI vago. Autorizei de pronto a internação
dele em um hospital privado da municipalidade, arcando a administração
pública com o custo e demais despesas necessárias à acomodação do
paciente no CTI, prática reiterada, por vezes, pois nossa gestão prima
sempre pela vida.
Prática
essa que aprendi em casa com a minha família e a pratico no dia a dia
por aqueles que comigo convivem, sendo fácil comprovar.
Após
horas e horas de discussão que se prolongou até o dia 24/01, a respeito
da situação do paciente, se primeiro seria feita a cirurgia e depois a
sua remoção para o CTI, ou vice versa, aguardando posicionamento do
Diretor Médico quanto ao contato com os profissionais que realizariam a
cirurgia e quanto a decisão se o paciente estava estável o suficiente
para suportar o procedimento, eu disse com ênfase às frases veiculadas
no áudio de forma isolada, buscando não a morte do paciente, mas a
resolutividade da circunstância.
Entendo
que a conduta de divulgar um áudio de um grupo privado de Direção
descontextualizada, é um ato criminoso e no mínimo antiético que não
merece crédito, pois se vale de um momento político e de julgamento
daqueles que desconhecem a minha postura integra, profissional e acima
de tudo humana. Sendo certo que as medidas judiciais cabíveis serão
tomadas.
Nota Cremerj
O CREMERJ vem a público denunciar e repudiar um descalabro que aconteceu em uma unidade de saúde, em Nova Friburgo.
Abaixo
a transcrição do áudio com um pedido da Secretária Municipal de
Friburgo, Tânia da Silva Trilha, ao antigo Diretor do Hospital Municipal
Raul Sertã, Artur Mattar:
"Arthur
meu querido, olha só! Eu preciso só que resolva; que opere o paciente
ou que ele morra, entendeu, "pragente" se ver livre do problema, mas é
só o que eu preciso porque eu tenho que cumprir uma decisão judicial,
você me ajuda nisso por favor? obrigada meu querido".
O
CREMERJ, em defesa da população e da boa prática médica, repudia todo e
qualquer tipo de coação ao médico que o iniba de praticar da melhor
forma seu trabalho e possa colocar em risco a vida do paciente!
O
Código de Ética respalda todos os procedimentos médicos, protegendo não
só o paciente, assim como o médico em questão! E este tipo de atitude
da Secretária fere, frontalmente, os princípios fundamentais deste
Código de Ética!
A
Constituição Federal em seu artigo 5, afirma que "a vida é direito
inviolável". Nenhuma decisão judicial, lei ou qualquer decisão pode se
sobrepor a esse mandamento.
Os
Médicos são os guardiões deste direito e o Conselho Regional de
Medicina, fiscalizador e atuante, está indignado com esta franca
violação.
Ao
gestor público cabe zelar pela vida e pela moralidade dentro do serviço
público. A atitude que presenciamos é um descalabro. O CREMERJ
ingressará, no dia de hoje, com representação de improbidade
administrativa no Ministério Público do Rio de Janeiro por violação do
princípio da moralidade administrativa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário