Caso ocorreu em 2021, em hospital particular de Brasília. Família acusa Shakespeare Novaes Cavalcante de Melo de negligência; g1 tenta contato com defesa do obstetra.
Bebê Bernardo segurando dedo do pai, logo após parto
O médico Shakespeare Novaes Cavalcante de Melo foi afastado do trabalho em uma maternidade particular na região do Sudoeste, em Brasília, após ser denunciado por homicídio culposo pela Justiça. O obstetra se tornou réu após a morte de um bebê depois do parto, em 2021.
A informação foi confirmada pela assessoria de imprensa da Maternidade Brasília, nesta terça-feira (8). O g1 tenta contato com a defesa do médico.
Na segunda (7), Shakespeare Novaes disse que "lamenta profundamente o caso", e que "sempre pautou o trabalho com base na aplicação de técnicas e métodos amplamente conhecidos no meio científico". Ele disse que será comprovado que "não agiu com negligência, imprudência ou imperícia".
Segundo o Ministério Público, houve negligência na atuação do profissional. A investigação apontou que o recém-nascido sofreu traumatismo craniano depois que o médico inseriu uma ferramenta, conhecida como "vácuo extrator", para tentar retirá-lo do útero da mãe. A família afirma que o parto foi "assustador".
Procedimento na maternidade
Imagem ilustrativa de um vácuo extrator
Segundo a família, a mãe do bebê, Beatriz Mendonça, chegou ao hospital particular em trabalho de parto e a médica plantonista que a atendeu indicou que deveria ser feita uma cesariana. No entanto, os parentes afirmam, que o médico Shakespeare Novaes insistiu que "induziria um parto normal".
Durante o procedimento, ele usou o "vácuo extrator" para sugar o bebê, de dentro do útero, pela cabeça. De acordo com o pai da criança, Paulo Neto, o procedimento assustou a família.
"Depois de muitas tentativas e posições, enfim, um estampido muito forte. Um barulho muito forte, como se fosse um desentupidor de pia mesmo. Eu orava nessa hora, eu não conseguia reagir", conta o pai.
Como não conseguiu retirar o bebê, o médico acabou optando por uma cesariana de emergência. Bernardo nasceu e, em seguida, foi intubado e levado para a unidade de tratamento intensivo (UTI).
"Naquele momento, parece que meu mundo parou", afirma o pai do bebê.
Bernardo morreu 13 horas após o parto. De acordo com a família, o médico disse que a causa da morte foi parada cardíaca, mas Paulo desconfiou da versão e pediu a necropsia do corpo no Instituto Médico Legal (IML).
O laudo do IML apontou que o bebê morreu por asfixia por sofrimento fetal agudo, e por traumatismo cranioencefálico, causado pelo uso do vácuo extrator.
Laudo do IML sobre morte do bebê Bernardo
Investigação
Os pais de Bernardo registraram um boletim de ocorrência contra o obstetra Shakespeare Novaes Cavalcante de Melo, na 3ª Delegacia de Polícia, na região do Cruzeiro, por erro médico.
"Havia uma contraindicação absoluta para o uso do vácuo extrator", que gerou um "tocotraumatismo", um tipo de lesão causada pelo trabalho de parto, "que foi determinante para o óbito de Bernardo", aponta um parecer da Promotoria de Justiça Criminal de Defesa dos Usuários dos Serviços de Saúde.
Shakespeare Novaes Cavalcante de Melo também responde a um outro processo no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), em que os autores alegam que ele cometeu um erro médico durante o parto, que causou deficiências e problemas de saúde em um bebê. O caso está na 2ª Vara Cível de Samambaia.
Para Paulo Neto, a vida do filho serviu como uma lição. "Acho que essa é a maior lição que o Bernardo deixou pra gente. Porque nosso filho não vai voltar. A gente tem consciência disso todos os dias. Mas ele, a memória dele, vai ser lembrada pra que outros pais não passem pelo que a gente passou", diz.
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