Marido diz que vítima foi atendida 4 vezes na Santa Casa de Sertãozinho com dor e perda de líquido. Polícia Civil investiga o caso e hospital alega que exames não apontavam trabalho de parto.
A família da dona de casa Érica Lima dos Santos, de 24 anos, morta após dar a luz a uma menina, que também morreu, alega que houve negligência nos atendimentos prestados pela Santa Casa de Sertãozinho (SP), quando a vítima procurou a unidade relatando fortes dores e perda de líquido.
A Polícia Civil instaurou um inquérito para investigar o caso. Segundo o delegado José Carvalho de Araújo Júnior, o laudo que apontará as causas das mortes da mãe e do bebê deve ficar pronto em 30 dias.
Em nota, a Santa Casa informou que Érica foi atendida na noite anterior ao óbito e liberada porque os exames não constataram trabalho de parto, e os batimentos cardíacos do bebê estavam normais. A paciente foi orientada a retornar no dia seguinte para realizar uma cardiotografia.
Para o marido da vítima, Samuel Souza Neves, os médicos insistiram na realização do parto normal, mesmo depois de a mulher procurar o hospital por quatro vezes, relatando dores, dilatação e perda de líquido.
Por fim, Érica sofreu uma hemorragia na Santa Casa de Pontal (SP), para onde foi levada depois de sofrer um mal estar na noite do último sábado (14).
"Ela estava sofrendo muito, muito. A cesárea era a melhor saída, porque ela não tinha dilatação. Ela ficou três semanas com três dedos de dilatação. O médico disse que não poderia fazer a cesária porque ela teve dois partos normais, e teria que ser normal", conta.
Ainda de acordo com Neves, a mulher estava na quadragésima primeira semana da gestação e todo o pré-natal foi realizado na rede pública de saúde em Sertãozinho, onde a família mora - o casal tem mais dois filhos, de 3 e 6 anos.
Érica foi consultada pela médica que a acompanhava na quarta-feira (11) e relatou que sentia muitas dores. A profissional, segundo o marido, disse que se tratavam de dores normais e seria preciso aguardar as 41 semanas de gestação. No sábado (14), a dona de casa foi até à Santa Casa da cidade com a mesma queixa.
“Ela estava morrendo de dor e o médico disse que não iria examiná-la porque já conhecia o caso, e que era para ir embora, porque não estava na hora de o beber nascer.”
Érica, o marido e os filhos foram então para Pontal visitar alguns familiares. A dona de casa passou mal novamente e foi levada à Santa Casa do município, onde acabou sendo internada e sofreu uma hemorragia.
"Em vez de levarem para a sala de urgência, levaram para o quarto e deixaram ela sangrando, com as enfermeiras dando injeção. Ela começou a apagar, apagar, e eu comecei a gritar pelos médicos. Minha esposa disse 'não estou enxergando nada' e, quando ela estava virando os olhos, os médicos resolveram levá-la para a emergência", afirma.
Segundo o marido, o bebê foi retirado já sem vida na madrugada de domingo (15). Érica morreu logo depois. Os corpos foram levados ao Instituto Médico Legal (IML) e um boletim de ocorrência foi registrado por morte suspeita.
Mãe da vítima, Josefa Carneiro de Lima reforça a versão do genro, dizendo que Érica buscou atendimento na Santa Casa de Sertãozinho quatro vezes, sempre relatando dores, perda de líquido e de sangue, mas sempre foi orientada a retornar para casa.
“Na quarta vez, disse que não iria nem por a mão porque já sabia do caso. Teve erro médico, porque não fizeram a cesárea na minha filha, sabendo que ela já estava com 41 semanas, com três dedos de dilatação, perdendo líquido e com tampão rompido", reclama.
A Polícia Civil instaurou um inquérito para apurar o caso. Neves já prestou depoimento. O delegado José Carvalho de Araújo Junior disse que outros familiares também serão chamados para depor.
“Aguardamos os laudos que serão realizados e todas as pessoas envolvidas serão ouvidas, e virá, posteriormente, a responsabilização daqueles envolvidos a esse fato", disse.
Em nota, a Santa Casa de Sertãozinho informou que Érica deu entrada no hospital às 20h49 de sábado, foi atendida pelo médico de plantão e os exames clínicos não constataram que ela estava em trabalho de parto.
"Foi agendado um exame de cardiotografia de controle para o dia seguinte. Diante disso e estando tudo bem com a gestante e o bebê, ela foi liberada com recomendações de que voltasse no dia seguinte ou a qualquer momento, em caso de alteração no quadro clínico", alega.
O hospital informou, por fim, que está à disposição para todos os esclarecimentos.
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