Documentos serão transportados e armazenados em local seguro, devendo ser utilizados como elementos de prova
O Ministério Público recolherá nesta sexta-feira (20), a pedido do Serviço Especializado de Ginecologia (SEG), 17 mil amostras analisadas entre janeiro de 2017 e junho deste ano em Pelotas. A medida faz parte da investigação aberta pela promotoria dos Direitos dos Idosos, Deficientes Físicos e Mentais e da Saúde Pública.
Os exames, contendo lâmina com materiais coletados, requisição do médico e o laudo do SEG serão transportados do laboratório e armazenados em local seguro, devendo ser utilizados como elementos de prova. Além do MP, a Polícia Federal investiga suposta falhas em exames, a Câmara de Vereadores aprovou abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) e prefeitura de Pelotas instaurou uma sindicância.
Aliado ao recolhimento das lâminas, o MP já está de posse de três livros de registros da Unidade Básica de Saúde (UBS) Bom Jesus, posto no qual surgiu na semana passada suspeitas de erro em exames de pacientes entre 2014 e 2017 Neste período, todos os exames para detectar câncer de colo do útero teria dado negativo, ou seja nenhuma mulher teria a doença, fato que chamou atenção de profissionais de saúde. O MP também está solicitando listas de pacientes, cópia de contrato da prefeitura com o SEG e deverá colher depoimentos de pacientes.
— Solicitei a guarda do material para nossa defesa, para comprovar a inocência do laboratório— afirmou a advogada do SEG, Christiane Ualt Fonseca.
A advogada reiterou que todos os exames são realizados na totalidade, que jamais ocorreu análise por amostragem, como chegou a ser divulgado na imprensa local.
Nesta quinta-feira (19), a reportagem de GaúchaZH teve acesso ao SEG. Cinco funcionárias trabalham de portas fechadas e não atendem ao telefone, dedicados a separar as 17 mil amostras para entregar ao MP. No local, há uma sala repleta de exames que somam 41,7 mil lâminas e laudos desde 2014. Por norma do Ministério da Saúde, o SEG armazena as coletas com os devidos resultados por 20 anos, no caso de exames com resultados positivos (indicando a doença) e por cinco anos aqueles que apontam negativo.
A dona do SEG, a médica Claudete Maria Dias Correa, 75 anos, não tem ido ao laboratório, pois estaria abalada emocionalmente com a repercussão do caso.
Sem revelar seus nomes com medo de represálias, funcionárias afirmaram atuar dentro das regras do Ministério da Saúde e que estão sendo vítimas de suspeitas infundadas.
— Trabalho aqui há 40 anos. Todos em Pelotas me conhecem. Me sinto envergonhada e até recebendo ameaças. A gente não dorme e nem come. Minha colega perdeu seis quilos em uma semana — desabafou uma técnica em laboratório, responsável por preparar as lâminas para análise em microscópio, sob responsabilidade da médica, especialista em citopatologia.
O laboratório costuma realizar 1,5 mil exames mensais, enviadas por Pelotas e outras oito cidades da Região — Arroio Grande, Morro Redondo, Cerrito, Herval, Turuçu, Piratini, São José do Norte e Amaral Ferrador. Além disso, presta serviços para dois hospitais.
Desde a semana passada, postos de saúde de Pelotas não enviam mais amostras e na quarta-feira (18) os demais municípios também interromperam as remessas. Nesta quinta, em reunião da Associação dos Municípios da Zona Sul (Azonasul), representantes das prefeituras decidiram que contratarão um novo laboratório em caráter emergencial.
Na tarde desta quinta-feira (19), a prefeita de Pelotas, Paula Mascarenhas (PSDB), enfatizou que está sendo contratado um laboratório em Porto Alegre para revisar exames realizados pelo SEG. Sobre a hipótese de avaliação divergente de resultados dos exames, Paula disse que "tudo será investigado a fundo".
— Vamos tomar todas as providências para esclarecer o caso. É um assunto gravíssimo. Deixou a população em pânico.
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