quarta-feira, 27 de maio de 2020

Hospital no interior tem respirador e aparelho de raio-x parados há mais de um mês; famílias de vítimas da Covid-19 relatam caos

Secretário de saúde de Tonantins informou que não há técnico disponível para instalar o aparelho de raio-X.


Amazonas enfrenta dificuldades de atendimento a doentes em cidades menores

O hospital municipal de Tonantins, 863 Km distante de Manaus, tem um aparelho de raio-X parado há mais de 40 dias e um respirador, há um mais de um mês. Famílias de pessoas mortas pela Covid-19 na cidade relatam caos no atendimento de pacientes. O município tem mais de cem casos confirmados, com nove mortes registradas pelo novo coronavírus.

De acordo com apuração da Rede Amazônica, os dois equipamentos estão novos, na caixa, e guardados no hospital, que tem dez leitos para pacientes com covid-19 e apenas cilindros de oxigênio.

A família de Getúlio Marinho, de 68 anos, que morreu no dia 5 de maio, afirma que a falta de estrutura na unidade de saúde afetou o estado clínico dele. Marinho ficou oito dias internado no hospital da cidade, com Covid-19. Em estado grave, segundo a família, ele não conseguiu ser transferido para Manaus, que não tinha vaga nas Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs).

"Morreu sem fazer chapa no pulmão porque não tinha raio-X e foi enterrado pelos sobrinhos porque não tinha coveiro", disse a filha de Getúlio Marinho, Natalina Barbosa Marinho.

Indeberto Rocha, de 65 anos, morreu na quinta-feira (21), após três dias de internação. Com Covid-19 e em estado grave, ele teve uma parada cardíaca e não resistiu. "Não tinha um médico na hora que ele mais precisou, tinha uma enfermeira e o técnico e não tinha aparelho respiratório", disse Edevelton Alves da Rocha.

O secretário de saúde de Tonantins, José Julio Junior, informou que não há técnico disponível para instalar o aparelho de raio-X e que o respirador está sendo utilizado para transporte de pacientes e que o aparelho estava embrulhado e na caixa para preservar o equipamento.

Sobre a situação, A Secretaria de Estado de Saúde (Susam) informou que não houve nenhum pedido de transferência do paciente de Tonantins para Manaus ao Sistema de Transferências de Emergências Reguladas (Sister).

O Amazonas tem, até sexta-feira (22), 27.038 casos confirmados e 1.669 mortes pelo novo coronavírus. A população do interior - que concentra 52% dos casos - sofre com o crescimento da Covid-19. Das 62 do estado, apenas duas não têm casos da doença.

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pela Covid-19
Pandemia no Amazonas

Os crescentes números de pessoas infectadas pela Covid-19 superlotaram as unidades de saúde de Manaus e colocaram o sistema de saúde perto de um colapso, com quase 100% dos leitos ocupados.

No último domingo (17), no entanto, o Governo informou que a taxa de ocupação de leitos de UTI caiu de 86% para 82%, depois do aumento de mais de 65% dos leitos em pouco mais de dois meses. As instalações, ainda segundo o Governo, "desafogaram" o sistema.

A pandemia em Manaus também causou aumento de mortes - já são mais de 1,1 mil.

Com isso, a quantidade de enterros saltou de uma média de 30 para 100 ao dia e, afetou, também, o sistema funerário da capital. O pico ocorreu no domingo, 26 de abril, com 140 sepultamentos.

Mesmo com as estatísticas, Manaus teve queda significativa nos enterros diários em cemitérios nos primeiros dias de maio. A média passou de 118 para 59 enterros. Apesar disso, o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto, em nota pública, o fez apelo para que a população respeite as medidas de prevenção e o isolamento social.

Por causa da demanda, contêineres frigoríficos são usados para comportar os corpos em hospitais de Manaus. A medida ocorreu após um vídeo mostrar corpos posicionados ao lado de pacientes internados no Hospital João Lúcio.

Na capital, a maioria dos sepultamentos é feita no cemitério Nossa Senhora Aparecida, que recebeu contêineres frigoríficos para armazenar corpos. Lá, a Prefeitura abriu valas comuns para conseguir suprir a demanda de enterros. O empilhamento de caixões também chegou a ser adotado, mas foi cancelado depois de protesto de familiares.


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