domingo, 31 de maio de 2020

Testemunha diz que clínica da Zona Sul do Rio foi negligente diante de denúncia de casos de abusos sexuais

Jovem de 21 anos denunciou ter sido estuprada por pacientes de clínicas e que funcionários ignoraram pedidos de socorro. Rapaz que transmitiu pedido de socorro contou que viu outro caso de abuso enquanto esteve internado.


Rapaz que ajudou jovem que diz ter ser estuprada em clínica dá mais detalhes

Funcionários de uma clínica de saúde particular na Gávea, Zona Sul do Rio, teriam sido negligentes diante casos de abusos sexuais cometidos entre pacientes internados na unidade. É o que afirma um rapaz que ajudou a socorrer uma jovem de 21 anos que denunciou ter sido vítima de estupro no local.

denúncia de abuso sexual na clínica foi exibida pelo RJ1 nesta quinta-feira (28). A vítima passou um mês internada na unidade e foi retirada pela mãe após o rapaz, que também era paciente da clínica, ligar para ela contando que a filha pedia socorro.

O rapaz passou 15 dias internado na mesma clínica da Gávea. Ele contou que ouviu o pedido de socorro no dia em que teve alta. Revelou ainda que já havia percebido um outro caso de abuso na mesma unidade de saúde.

“Quando eu estava saindo da clínica, no dia que eu saí, ela anotou o telefone da mãe, me deu e pediu pra eu ligar para mãe para dizer que ela estava sendo estuprada lá dentro”, contou o rapaz.

A jovem diz que foi abusada por três pacientes enquanto estava dopada e sem forças pra resistir. Ela contou que a violência aconteceu pelo menos duas vezes e que pediu ajuda a médicos, psicólogos, assistente social e enfermeiros, mas que foi tratada com deboche e negligência.

A mãe disse que procurou a clínica no mesmo dia em que o rapaz a telefonou. Na ocasião, o atendente da recepção permitiu que a mãe conversasse com a filha pelo telefone. Foi então que a jovem pode contar o que vinha acontecendo na clínica. Ela chegou a temer pela própria vida.

“Ela começou a chorar desesperadamente. ‘Mãe, mãe, mãe, pelo amor de Deus, me tira daqui. Eles vão me matar aqui. Eu estou sendo estuprada, me tira daqui", contou a mãe.

A mãe tirou a filha da clínica e a levou a uma ginecologista, que atestou lesões.

Tanto a testemunha quanto a jovem que alegou ter sofrido o abuso disseram que avisaram a clínica sobre tudo o que estava acontecendo. Eles afirmam que ninguém tomou uma providência. Segundo eles, os funcionários e a direção sabiam o que se passava ali dentro dos portões, mas faziam "vista grossa".

A mãe que denunciou o abuso diz que a filha saiu da clínica pior do que entrou. Ela teve que ser encaminhada para uma outra unidade de saúde, onde continua internada.

A mãe disse que trouxe o caso a público para evitar que o mesmo aconteça com outros pacientes. “Isso é um crime. Isso é uma tragédia”, enfatizou.

Testemunha viu outro caso


O rapaz, que fez a denúncia revelou, ainda, que durante as duas semanas de internação, viu outra jovem sendo abordada pelos mesmos agressores.

“Eu vi, com os meus olhos, tinha uma garota completamente, que andava completamente grogue o dia inteiro. Ela mal conseguia andar, não conseguia comer direito, totalmente dopada. E aí, esse cara chegou, pegou na mão dela e começou a levar ela para um quarto, que não era dele, nem dela. Um quarto que estava vazio. E eu vi isso na hora e gritei ‘ô, o que que é isso aí, o que é isso aí?’”, contou o rapaz.

Uma outra testemunha conta que tem um sobrinho internado na mesma clínica. Ela é profissional de saúde e estranhou o fato de que, ali, pacientes homens e mulheres compartilham a mesma área.

“Unidade de psiquiatria tem que haver homens em uma unidade, mulheres em outra unidade. Durante a noite, fica homem e mulher tudo na mesma enfermaria, entendeu? Isso não pode acontecer”, disse a mulher.

Drogas na clínica


O pai de uma jovem que também já ficou internada na clínica fez outra denúncia. Segundo ele, drogas são levadas para dentro na unidade.

“Vinha um mototáxi subindo ali aquelas curvas todas, ia pelo lado da grade e jogava dentro de uma maçã, de maçã, por cima, jogava com pedra por cima da grade”, disse o homem.

Segundo ele, o consumo de drogas entre pacientes foi confirmado durante um sábado em que foi visitar a filha.

“Eu comecei a conversar no dia de sábado, que era dia de visita, conversar com as outras pessoas que estavam internadas lá. E todos falavam a mesma coisa, que só não usa aqui quem não quer droga”.

Clínica nega negligência


Em vídeo, o diretor administrativo da clínica, Neube Brigadão, alegou que uma unidade psiquiátrica está sujeita a "todo tipo de denúncia infundada".

"A Clínica da Gávea esclarece que nunca divulga informações sobre seus pacientes por razões éticas, mas nunca se recusou a fornecer qualquer prontuário quando solicitado pelo paciente ou pelo seu responsável legal. Esclarece ainda que, como todo hospital psiquiátrico, está sujeita a todo tipo de denúncia infundada, cabendo às autoridades policiais averiguação da veracidade dos fatos e ao judiciário a penalização de quem infringiu a lei", disse o diretor.

Depois de enviar o vídeo, a clínica mandou uma nota com outras informações. Disse que não tinha conhecimento das supostas ocorrências relatadas na reportagem e que não acredita que seus profissionais teriam se omitido caso soubessem de algo.

A clínica disse ainda que está contribuindo com a investigação da polícia e pede que a sociedade espere pela conclusão do inquérito para que não sejam cometidas injustiças.

Embora questionada, a clínica não se manifestou sobre não haver separação de pacientes homens e mulheres no setor psiquiátrico. Também não comentou sobre a denúncia de entrada de drogas na clínica e sobre o relato do rapaz que diz ter visto outra mulher sendo abordada pela mesma pessoa que teria estuprado a jovem de 21 anos.


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