quarta-feira, 20 de maio de 2020

“Não adianta fazer homenagens aos profissionais de saúde”: funcionários do Hospital Regional de Juazeiro denunciam as péssimas condições de trabalho


Em plena pandemia do novo coronavírus, quando o trabalho dos profissionais de saúde, que estão na linha de frente no atendimento aos pacientes contaminados, é imprescindível, o Hospital Regional de Juazeiro vem negligenciando o tratamento aos seus funcionários.

O PNB recebeu denúncias de um grupo de profissionais de saúde, composto por pessoal do administrativo, técnicos em enfermagem, enfermeiros e médicos, sobre o que chamam de “maus tratos” e desrespeito.

A direção do hospital, referência para a Covid 19, não pagou o mês de abril a nenhum dos profissionais do seu quadro. Além disso eles denunciam a falta de equipamentos de proteção individual e até de alimentação para quem está em serviço

“Em um momento como este, quando se fala tanto na importância dos profissionais de saúde, estamos há 15 dias sem receber salário e a empresa diz que o Governo do Estado não fez o repasse. Pesquisamos no Portal da Transparência e constatamos que isso não é verdade. A direção parece não ter humanidade, sensibilidade e não nos valoriza. Desde que esta empresa entrou que nunca mais pagamos uma conta em dia, pois os atrasos são constantes”, desabafou um funcionário.

Outro servidor também questionou a empresa devedora.

“A situação do momento é tão crítica que até mesmo os profissionais autônomos e outros que estão parados por conta da pandemia, estão recebendo o Auxílio Emergencial do Governo Federal; o Governo do Estado também está garantindo benefícios para estudantes e trabalhadores, e nós, que estamos na ativa, sobrecarregados, trabalhando sob tensão, arriscando nossas vidas e dos nossos familiares, não temos direito ao mínimo, que seria o pagamento dos nossos salários. É muita contradição e desrespeito”, desabafou outro profissional.

De acordo com as reclamações, é constante a falta dos EPIs, até mesmo para quem lida, diretamente, com pacientes confirmados e suspeitos de Coronavírus.

“No momento está faltando luva. Imagine aí, o que é ter contato com os pacientes, inclusive, os contaminados, sem usar luvas? questionou o funcionário que ainda afirmou “toda semana falta uma coisa. Semana passada faltou máscaras para todos. O setor que faz a entrega constantemente informa a falta de algum equipamento”.

De acordo com ele, a negligência é tanta, que fata até mesmo alimentação para quem está de serviço.

“Ontem faltou a janta para quem estava trabalhando a noite. Só teve refeição para sete funcionários, e ainda assim foi a sobra do almoço, os outros trabalharam com fome. A situação é de horror. Nós sentimos desvalorizados e desmotivados, mas ainda assim, estamos dando o nosso melhor em respeito aos pacientes que precisam de nós. A situação aqui é muito grave e imploramos as autoridades, principalmente aos promotores do Ministério Público que olhem por nós. Já tem alguns funcionários pensando em pedir demissão”, declarou.

Outro servidor, finalizou a série de desabafos e pedidos de socorro.

“Não adianta fazer homenagens aos profissionais de saúde e, da boca pra fora, declarar a nossa importância e os riscos que corremos no combate ao coronavírus, se na prática não nos valorizam e respeitam. Aqui já tem muitos profissionais contaminados com o novo vírus e disso ninguém quer saber, ninguém está tomando providências. Estamos cheios de tanto blá blá blá e valorização, proteção que é bom, nada”.

O Hospital Regional de Juazeiro é gerido pela Associação de Proteção à Maternidade e a Infância de Castro Alves, terceirizada da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab). A unidade hospitalar atende cerca de 55 municípios da região norte e do sertão pernambucano, que integram a Rede PEBA.

Encaminhamos as denúncias para o MP, para a Secretaria de Saúde do Estado e também para a direção do hospital. Aguardamos respostas.

Outras denúncias

Em janeiro deste ano profissionais do HRJ reclamaram de atraso salarial. Na época, eles informaram que estavam sem receber os salários, há dois meses.

Em abril, os profissionais reclamaram que estavam com os salários do mês de março atrasados. Os profissionais reclamaram ainda que estavam trabalhando com Equipamentos de Proteção Indivíduos reduzidos.

Em 2019 a situação não foi diferente. Ao longo do ano, os médicos do HRJ realizaram diversas paralisações.

Em abril, eles suspenderam os atendimentos. A paralisação decorreu por conta das precárias condições trabalho no hospital e da falta de pagamento dos salários, segundo o Sindimed.

Em 4 de julho, os médicos da unidade deflagaram greve reivindicando o pagamento do salário do mês de maio. Um dia depois, o pagamento referente ao mês de maio foi efetuado, mas a categoria manteve estado de greve, tendo em vista que os salários de junho estavam pendentes. Uma nova greve, prevista para iniciar no dia 19 de julho, foi suspensa, após a regularização.

Em setembro, as atividades também foram paralisadas após atraso no pagamento dos salários do mês de agosto. No dia 23 de outubro, deflagaram outra greve, revindicando pagamento do salário referente ao mês de setembro e melhores condições de trabalho


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