terça-feira, 7 de agosto de 2018

Menos estética; mais segurança e saúde, por Hiran Gallo*

A febre por cirurgias plásticas e outros procedimentos tem deixado como herança mortes, sequelas e insatisfação com resultados, que, não raras redundam em ações na justiça e infelicidade.


PORTO VELHO – “Toda beleza é imperfeitamente bela. Jamais deveria haver um padrão, pois toda beleza é exclusiva como um quadro de pintura, uma obra de arte”. O escritor Augusto Cury foi extremamente feliz ao definir a forma ideal de relação da sociedade com um tópico altamente subjetivo. A percepção do que é belo e do que não é belo muda em função da passagem do tempo, do nível socioeconômico, das referências culturais e até da localização geográfica.

O que é admirado, transformado em parâmetro, nos países da América do Norte diferente da visão dos povos da África ou do Ásia. No Brasil, como somos bombardeados, diariamente, por mensagens inspiradas pelas indústrias sediadas na Europa ou nos Estados Unidos o imaginário social se detém sob critérios que bebem dessas fontes.

Ou seja, conforme ditam esses padrões, o homem e a mulher belos, na atualidade, são brancos, altos, magros, de músculos definidos e torneados. Em outros tempos, já foi diferente, com o privilégio de formas e curvas em detrimento da rigidez extraída de horas de levantamento de pesos. Certamente, em breve, outros modelos passarão a ser incensados como ideais, tornando a perseguição ao mito da beleza algo sem fim.

Essas mudanças não teriam impacto maior, salvo o das reflexões filosóficas, se pessoas – de todos os sexos, idades e classes sociais – não tivessem adotado os padrões definidos pela indústria, em especial a do entretenimento, como sendo um objetivo de vida. Por eles, para muita gente, tem válido a pena aderir a dietas altamente restritivas e sem resultados comprovados; tomar fórmulas de procedência duvidosa; e se submeter a cirurgias estéticas sem necessidade.

O resultado aparece de forma trágica no noticiário, que, recentemente, foi invadido por denúncias de mortes causadas por negligência de profissionais durante a realização de procedimentos estéticos. São casos que devem levar a sociedade brasileira a refletir sobre padrões inalcançáveis de beleza que assediam, sobretudo, as mulheres.

A febre por cirurgias plásticas e outros procedimentos tem deixado como herança mortes, sequelas e insatisfação com resultados, que, não raras redundam em ações na justiça e infelicidade. Por isso, antes de tomar a decisão de passar por um ato desse tipo, faz-se necessário ficar atento a alguns passos.
Em primeiro lugar, avalie a real necessidade de se submeter a uma cirurgia. Lembre-se que todos têm sua individualidade e nossas características nos diferem e nos tornam únicos. Saiba que o imediatismo leva à busca por soluções milagrosas – em geral, questionáveis – para seus problemas, que podem ser superados com a auto aceitação e o reconhecimento de limites.

Se a decisão inicial se manter, cerque-se de profissionais capacitados e preparados para ajudar na superação de seus objetivos. Fuja daqueles que prometem resultados impressionantes, transformações mirabolantes. Opte pelos que te tratarem de forma clara, didática e sincera, sem garantir resultados definitivos ou em curto prazo, com zero esforço. Isso vale para educadores físicos, psicólogos, nutricionistas, médicos, enfim, todos que atuam na área.

Como boa parte dos procedimentos estéticos são invasivos, com aplicações de substâncias ou pequenas intervenções, nunca os realize com não médicos. Ao fazer com profissionais que não possuem o preparo necessário, ou em condições distantes das ideais, o paciente se coloca numa zona de alto risco.

No caso de contar com o suporte de um médico, recomenda-se que busque aqueles especialistas que são habilitados para intervir na estética, como os cirurgiões plásticos e os dermatologistas, em caso de procedimentos realizados sobre a pele. Certifique-se se o profissional que encontrou tem realmente a habilitação para fazer o que anuncia. Busque essa informação no site do Conselho de Medicina ou junto à Sociedade de Especialidade com a qual estaria vinculado.

Prefira os que têm o reconhecimento de outros pacientes por meio de depoimentos, do compartilhamento de experiências. Evite os que baseiam seu êxito ou competência pelo número de seguidores nas redes sociais e de curtidas em posts que não valorizam a privacidade e o sigilo.

Enfim, que sejamos todos mais saudáveis e menos radicais nas expectativas com relação ao nosso corpo. Cuidar da saúde, se alimentar bem, praticar esportes, manter a mente livre e atenta são os reais segredos de beleza. Homens e mulheres que seguirem esses cuidados serão bonitos por fora e, principalmente, por dentro.

*É diretor-tesoureiro do Conselho Federal de Medicina; doutor e pós-doutor em Bioética

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