terça-feira, 7 de agosto de 2018

Pacientes renais reclamam da demora para retorno de transplantes no AM

Cirurgias estão suspensas no estado desde 2016 e pacientes dependem de Tratamento Fora de Domicílio (TFD) para conseguir um novo órgão

Pacientes em tratamento na Clínica Renal de Manaus reclamam da demora para que os
 transplantes voltem a ser realizados no estado | Foto: Janailton Falcão

Manaus - Os pacientes renais no Amazonas seguem sem uma previsão de retorno dos transplantes de rim no Estado. Suspensas desde março de 2016, quando o contrato entre Governo e a empresa que realizava os procedimentos foi encerrado, as cirurgias são realizadas apenas em outros estados, para quem está inserido no programa de Tratamento Fora de Domicílio (TFD).

A gestão do governador Amazonino Mendes já anunciou duas medidas para sanar o problema, entretanto, nenhuma delas saiu do papel. Cansados de aguardar pelo retorno dos procedimentos, pacientes relatam o sofrimento causado pela doença e exigem uma resposta do governo.

Para elas, a demora é uma questão de sobrevivência e cada dia que passa diminui a qualidade de vida. Daniela Sampaio, de 39 anos, é paciente renal há 10 anos e aguarda por um órgão de um doador.

Mesmo com tanto tempo de espera, a paciente relata que não faz parte do TFD, programa que envia os pacientes para tratamento em outros estados. Ela diz que depende exclusivamente da volta do procedimento em Manaus.

“Nós precisamos que o transplante volte a ser feito aqui porque não temos condições financeiras de partir para outra cidade. Minha mãe é a minha única acompanhante e, se eu for tratar em outro local, ela não poderá ir junto comigo porque já tem mais de 60 anos. O TFD não permite acompanhantes idosos. Além da falta de dinheiro, quem vai cuidar de mim? ”, lamentou.

Estar longe dos familiares também é a grande preocupação de Maria Neide Vieira Paraíba, de 54 anos, mãe de Arivelton Viera Martins, de 34, que aguarda por um novo rim há cinco anos. A dona de casa deixou Maués (a 253 km de distância da capital) para tomar conta do filho em Manaus e vive aflita com a possibilidade de ter que ir para outro Estado.

“Além do problema nos rins, meu filho ficou cego por causa da pressão alta e depende de mim para tudo. Aqui em Manaus, nós vivemos numa casa alugada e contamos com a ajuda de parentes. Mas se formos para outra cidade, eu terei que cuidar dele sozinha”, relatou a mãe.

Repasses demoram

O TFD envia amazonenses para outras cidades brasileiras, entre elas Fortaleza (CE) e Curitiba (PR), com custeio de passagens aéreas e verba para estadia e alimentação. Na teoria, o programa cobre financeiramente aqueles que precisam de tratamentos não oferecidos no Estado. Na prática é comum ouvir relatos de pacientes que aguardam até dois meses para receber o auxílio.

O dinheiro não apenas faz falta, assim como impede muitos doentes de viajar por não terem condição de se manterem em outra federação. Pacientes relatam que, muitas vezes viajam, "na cara e na coragem", por receberem a verba com muito atraso.

O casal recebe apoio apenas da filha, que está desempregada e não tem como auxiliar financeiramente os pais como antes.

“Chegamos aqui no dia 13 de junho e até agora só recebemos R$ 1.100. Vai fazer quase dois meses e até o momento foi só esse valor que recebi. É difícil porque precisamos pagar hotel, alimentação, transporte”, contou Audenia preocupada.

Outro relato é de Carla Andressa de Medeiros, de 18 anos, que perdeu um transplante de rim porque estava fora da cidade onde faz tratamento. A paciente entrou em contato com o TFD e pediu urgência na emissão das passagens para Fortaleza, no Ceará. Porém, devido à demora, ela foi informada que um paciente - que chegou antes dela - estava apto para receber o rim doado.

“Eu recebi uma ligação do hospital das clínicas e me perguntaram se eu estava em Fortaleza, eu disse que não. Eu informei que, mesmo assim, entraria em contato com o TFD para eles mandarem as passagens. A moça me mandou entrar em jejum e informar ao TFD que eu estava na nona colocação. Pediu que eu voltasse com urgência. Daí eu entrei em contato com o TFD, eles me falaram que só poderiam liberar as passagens se eu estivesse na quarta colocação”, contou Carla.

Decidida a não perder outra oportunidade, a família de Carla promoveu uma feijoada beneficente e arrecadou uma renda para manter a jovem em Fortaleza, enquanto ela aguardava pela liberação da verba do TFD.

“Sem dúvidas seria muito melhor se tivesse o transplante em Manaus”, declarou a jovem, que não sabe quando terá outra chance de receber um novo órgão.

Transplantes retornariam este ano

Em maio deste ano, a Secretaria de Saúde (Susam) anunciou que o Hospital da Zona Norte, conhecido como Delphina Aziz, foi credenciado pelo Ministério da Saúde para realizar os procedimentos de transplante de rim, fígado e coração. A Central de Transplantes informou que iniciaria, de imediato, o ambulatório e avaliação dos pacientes com doadores vivos. Mas, até o momento, a medida não entrou em vigor.

O titular da pasta, Francisco Deodato, disse, em dezembro de 2017, que os transplantes voltariam a ser feitos em três meses, dessa vez no Hospital Adriano Jorge, na zona Sul, que já é referência em cirurgias ortopédicas.

A reportagem questionou a assessoria de imprensa da Susam sobre o número de pacientes que estão na fila de espera por transplantes de rim. Foi questionado ainda a quantidade de pacientes atendidos pelo TFD e um posicionamento sobre o retorno das cirurgias, maior questionamento dos pacientes.

A reportagem também solicitou uma entrevista com a coordenadora de transplantes, Leny Passos e a secretaria se pronunciou apenas por meio de nota. Segundo ela, após a nova gestão assumir o órgão, deu início aos procedimentos para retomada do programa de transplantes de rins e figado, que não vinha sendo desenvolvido pelo governo anterior.

"O processo é complexo e depende de habilitação junto ao Ministério de Saúde, mas encontra-se em fase avançada. O Hospital e Pronto-Socorro da Zona Norte já está credenciado pelo Ministério da Saúde como nova unidade para a realização dos transplantes e foi  iniciado o cadastramento dos pacientes que necessitam fazer transplante de rins. O próximo passo será iniciar o serviço de atendimento ambulatorial para os pacientes no HPS Zona Norte. No Ambulatório, os pacientes que já têm doador passarão por avaliação, atualização dos exames e preparação para o transplante", diz a nota.

Quanto à espera pelos procedimento, a Susam esclareceu que só existe fila quando o serviço de transplante é autorizado a funcionar pelo Ministério da Saúde, o que ainda não aconteceu no Amazonas.

"O MS está acompanhando o processo de retorno dos procedimentos e se dispôs a auxiliar no que lhe couber, tendo em vista que o Amazonas é estratégico na região Norte".


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