terça-feira, 18 de julho de 2017

Pacientes denunciam descaso e erros de prescrição médica na UPA

Em alguns casos, familiares revelam que médicos receitaram remédio de meningite para quem estava com um princípio de AVC e medicamento para infecção intestinal para quem estava com a apendicite estourada.
 
Foto: Divulgação
 
Reclamações de pacientes que receberam prescrições médicas erradas na Unidade de Pronto Atendimento de Bento Gonçalves (UPA) tornaram-se cada vez mais comuns nos últimos meses. Boa parte dos casos se refere propriamente às receitas, com medicamentos ou procedimentos que não condizem com a enfermidade que o paciente apresenta. Em alguns casos, o medicamento, em vez de curar, trouxe consequências mais graves para o paciente. Quem procura a UPA também reclama da falta de uma análise mais detalhada da doença por parte dos médicos, o que provoca os erros nas receitas.
 
Nos últimos meses, vários casos com esta característica aconteceram na UPA e vieram à tona por meio das redes sociais. Um desses casos aconteceu com Alessandra Stringhi dos Santos, que levou seu filho até a UPA, onde os médicos não conseguiram perceber a verdadeira doença que a criança possuía. “Levei meu bebê achando que era varicela. Passei pela triagem e me passaram para o médico. Quando cheguei, notei que era uma menina jovem, provavelmente recém formada. Ela analisou meu bebê, chamou outra colega e ligaram também para uma dermatologista, mandaram fotos pelo whatsapp. No fim, me falaram que era uma bactéria do lençol e me receitaram um remédio para piolho. Na verdade o bebê tinha brotoeja”, comenta Alessandra.
 
Outro caso aconteceu com Cintia de França, em que o médico receitou um medicamento inadequado para a idade do seu filho. Cintia levou seu bebê de 1 ano três vezes para consultar na UPA. “Eram duas médicas jovens e um rapaz jovem que nos atenderam. Quando falamos o que estava acontecendo com o bebê, eles consultaram no Google e em livros e nos deram duas ou três escolhas de medicamento para que nós escolhêssemos, mas como não sou médica não sabia dizer qual deles escolher. Receitaram-nos uma vez um colírio que só podia receitar a partir de 2 anos. A farmacêutica não foi autorizada pelo gerente a vender e nos aconselhou a não usar o colírio no bebê. As outras duas vezes também nos receitaram medicamentos que não eram recomendados para crianças menores de 2 anos”, afirma Cintia. 
 
Exemplos como o de Jan Carlos Missio mostram a gravidade que uma análise ou prescrição médica errada pode ocasionar. Segundo Jan, sua esposa foi medicada sem realizar uma análise mais detalhada do caso. No fim, o seu caso se agravou significativamente, o que poderia ser impedido com uma análise mais profunda e segura. “Medicaram minha esposa como se ela tivesse meningite, mas não fizeram nenhum tipo de exame antes de dar a medicação, pois o médico deu alta para ela. Quando fui ao quarto para levá-la para casa, percebi que ela estava diferente, seus olhos, suas pernas, sua fala. Coloquei-a novamente na cama e ela estava sem movimentos nas pernas. O médico nem se quer foi até o quarto vê-la e a seguraram das 13h30 até as 20h40 para depois mandá-la ao Hospital Tachini. No outro dia, pela manhã, foi constatado que ela teve um AVC isquêmico”, explica Jan. 
 
Roselene Freitas também sofreu com um erro de análise do problema do paciente, no caso, seu marido, que depois se agravou expressivamente. “Meu marido foi com dores e disseram que era infecção alimentar. O médico(a) receitou alguns medicamentos e afirmou que ia demorar cinco dias para passar. No domingo, queimando em febre, levei ele em outro médico que disse que ele estava com a apendicite estourada há quatro dias. Ele teve que fazer três cirurgias no hospital”, comentou Roselene.
 
O presidente da Comissão da Saúde e da Frente Parlamentar em Defesa da Saúde na Câmara, vereador Moacir Camerini (PDT), afirmou que encaminha, semanalmente, uma série de pedidos através de ofícios para a Secretaria da Saúde, solicitando diretamente ao secretário da pasta para averiguar a grande quantidade de denúncias apresentadas por moradores do município nas redes sociais.  “Em muitos desses encaminhamentos, não recebemos sequer um retorno por parte do Poder Público. Essa falta de respostas também ficou evidenciada com o não comparecimento de representantes da prefeitura em uma audiência pública na qual foram levantados inúmeros problemas, nos mais diversos bairros. A saúde é um dos temas que mais tenho dado atenção, mas, infelizmente, não temos visto avanços. E estamos falando de problemas que, pelo volume de reclamações, parecem ser recorrentes. Os bairros e os distritos seguem desamparados, mas continuaremos reivindicando melhorias e acompanhando o andamento de todos os pedidos realizados”, ressalta Camerini.
 
Segundo o secretário Municipal da Saúde, Diogo Segabinazzi Siqueira, todos os casos ocorridos na UPA estão sendo analisados e verificados, para que todas as providências cabíveis sejam tomadas brevemente e estes fatos não  venham a se repetir . “Eu vejo como protocolo que toda a reclamação e crítica que recebemos, o primeiro passo é verificar o que realmente aconteceu, jamais podemos nos omitir da função de verificar o que aconteceu nesses atendimentos. Temos que entender o lado dos nossos funcionários também. É importante escutar as duas versões dos fatos. Sabemos que todo profissional é um ser humano, e todo ser humano está propenso a cometer erros, ocasionalmente. Infelizmente a gente sabe que pode acontecer, como em qualquer outra profissão, e por isso é importante nós investigarmos o que realmente aconteceu. É importante que neste momento a gente verifique e analise os prontuários para tomar alguma providência caso realmente tenha acontecido”, afirma o secretário. 

 
Siqueira revela que já recomendou aos médicos que tenham uma atenção redobrada ao lidar com pessoas e que devem colocar-se no lugar do paciente, visando dar uma total atenção para evitar erros quanto à análise ou quanto à prescrição médica. “A primeira situação é o cuidado, a gente sempre fala em nossas reuniões que nós não lidamos com números, não lidamos apenas com pacientes, mas sim com seres humanos. A gente quer que o médico tenha 100% de atenção com o paciente. Muitas vezes, é lógico, que a gente não consegue dar toda essa atenção porque dentro de uma UPA temos emergências, temos situações em que o médico precisa agir em menos de um minuto e que pode resultar na vida ou morte deste paciente. Sabemos dessa dificuldade, mas sempre tentamos orientar os nossos médicos para que tenha o maior cuidado possível e que a gente sempre tente se colocar no lugar do paciente. Quando acontecem erros, e logicamente acontecem dentro da área da saúde, a gente precisa recuperar da melhor forma possível”, ressalta Diogo.
 

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