sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Novas vítimas acusam Roger Abdelmassih de abuso sexual

Bom Dia Brasil - 22/08/2014

Depois da prisão de Roger Abdelmassih, novas vítimas apareceram e acusam o ex-médico de abuso sexual. Segundo o levantamento do Conselho Regional de Medicina de São Paulo, menos de 1% das denúncias contra médicos terminam em cassação do registro.

VEJA A MATÉRIA COMPLETA!

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Morte de jovem com apendicite é investigada no Rio

 Bom Dia Brasil - 21/08/2014

No Rio de Janeiro, o Conselho Regional de Medicina abriu uma sindicância para apurar as causas da morte de uma jovem, de 23 anos. Ela foi internada num hospital particular com apendicite. A família diz que houve demora para fazer a cirurgia.

VEJA A REPORTAGEM!


quinta-feira, 14 de agosto de 2014

A medicina que não cura


Em Foco 1308
A engenheira (elétrica e agrônoma) Urbânia Carvalho teve o intestino perfurado em uma cirurgia e faleceu aos 47 anos, em outubro de 2012. A família resolveu transformar a dor em bandeira de luta e enxergou nas redes sociais a primeira trincheira contra novos erros médicos. Texto do Em Foco desta quarta-feira, por Luce Pereira.
O erro que custa vidas
Há 28 mil médicos transformados em réus, no país, de acordo com levantamento feito por um advogado, entre 2000 e 2012
Luce Pereira
A mídia, aqui e acolá, traz à tona um caso de erro médico, o que poderia sugerir que eles acontecem pouco no Brasil. Mas, não se engane. Apesar de estes números serem escondidos pelo silêncio dos conselhos de medicina nos vários níveis e de processos correrem em segredo de Justiça, já existem 28 mil médicos transformados em réus, no país, segundo levantamento feito no período de 2000 a 2012 pelo advogado Raul Canal, especialista no assunto. Isto, é claro, porque não resta mais nada às famílias que perderam um ente querido por negligência, imperícia ou imprudência desses profissionais senão buscar o consolo de vê-los minimamente punidos, o que significa apenas desembolso financeiro com fins de indenização.
Mas o que representa dinheiro diante da certeza de que uma vida poderia ser poupada, se o profissional se comportasse segundo o juramento feito na conclusão do curso? De fato, apenas um consolo, quando parentes e a sociedade o que esperam mesmo é uma lição com o rigor da lei, única forma de conseguir dos trabalhadores da área de saúde, de um modo geral, a devida atenção, comprometimento e respeito com aqueles entregues aos seus cuidados. Isto sem entrar no mérito das condições para o exercício da profissão, especialmente a sempre alegada jornada de trabalho, porque não está dito em nenhum momento da carreira de cada um que o bom cumprimento dela ficará atrelado a esta ou aquela circunstância.
E porque este entendimento é geral, os poucos casos de erro médico trazidos pela imprensa (eles cresceram de 4% para 7%, nos últimos anos) costumam repercutir com a força de escândalo entre os habitantes. Provocam indignação geral, como foi o caso da idosa atendida em um posto de saúde do Rio de Janeiro, em 2012, que recebeu na veia, em lugar de soro, café com leite. E como não protestar diante de relatos de instrumentos ou material cirúrgico esquecidos no corpo de pacientes, enquanto outras pessoas perdem a vida em cirurgias simples, porque tiveram parte importante do organismo perfurada? Caso da engenheira (elétrica e agrônoma) Urbânia Carvalho.
Era outubro de 2012 e a família estava longe de imaginar que uma simples cirurgia de mioma transformaria aquele ano num dos mais tristes de suas vidas. Urbânia, que deveria ter retomado normal e imediatamente a vida, sofreu perfuração no intestino e veio a falecer, aos 47 anos. A diferença entre este e centenas de outros casos que ocorrem no país é que a família resolveu transformar a dor em bandeira de luta e enxergou nas redes sociais a primeira trincheira.
Lançou uma campanha em busca de assinaturas para conseguir, junto ao TJPE, a criação de Vara especializada em ações judiciais contra erros desta natureza. Além disso, ontem, inaugurou a Associação das Vítimas de Erro Médico do Estado de Pernambuco (Asvem-PE), com o lançamento de uma cartilha para orientar à população sobre como fugir desta ameaça, diminuindo as chances de enfrentá-la. E para não deixar dúvidas sobre o tamanho do sofrimento vivido pelos que sentem a mesma dor, estreou com um blog (www.asvem-pe.blogspot.com. br) onde lista ocorrências semelhantes. Ao menos um aspecto é comum a todas elas – a humilhação da impunidade, porque as condenações, quando acontecem, doem apenas no bolso – não mandam os réus para a cadeia.
E novamente a pergunta: o que significa dinheiro diante da certeza de que uma vida poderia ser poupada, se houvesse o devido cuidado de profissionais da área de saúde com ela? Cem pessoas que já aderiram à Associação, além de ter a resposta, agora também têm uma trincheira. E a luta, além de urgente, é legítima.


por Paulo Goethe

Associação lança cartilha que trata de erro médico

Publicação com 500 exemplares traz orientações para pacientes e parentes de vítimas de imprudência e imperícia

Publicação: 13/08/2014 18:07 Atualização:

Aos 47 anos, a engenheira elétrica e agrônoma Urbânia Carvalho tinha saúde invejável. A cirurgia para a retirada de um mioma, em outubro do ano passado, não preocupava os familiares. Quando deveria receber alta, porém, a paciente, mãe de dois filhos, precisou voltar para o centro cirúrgico. Durante o primeiro procedimento, ela teve o intestino perfurado. O quadro clínico se agravou e, após 60 dias, a engenheira morreu em um hospital do Recife. A morte de Urbânia motivou a criação da primeira Associação das Vítimas de Erro Médico do Estado de Pernambuco (Asvem-PE).

Ontem, para marcar o surgimento da entidade, os associados lançaram uma cartilha com orientações sobre erros médicos. Inicialmente, foram impressos 500 exemplares. O lançamento da cartilha Erro médico, não deixe passar em branco, denuncie  aconteceu na Câmara Municipal de Olinda.

As entidades médicas de Pernambuco, como o Conselho Regional de Medicina (Cremepe), não informam quantos médicos respondem por imprudência, imperícia ou negligência no estado. No Brasil, o número de profissionais que respondem da Justiça por erro cresceu nos últimos anos. Subiu de 4 para 7%, ou seja, 28 mil médicos, o total de processados no país entre 2000 e 2012, de acordo com um levantamento feito pelo advogado Raul Canal, especialista em direito médico.

Para a pedagoga Urbaneide Beltrão, 55, irmã de Urbânia, além da dor por perder um parente, os familiares de vítimas de erro médico enfrentam muita burocracia. “Além de promover um trabalho educativo que vamos realizar com panfletagem e caminhadas, a associação orienta as vítimas de erro médico com relação aos seus direitos”, pontuou.

Cerca de 100 pessoas, da Região Metropolitana do Recife, já estão associadas. As histórias dos pacientes são contadas no blog (www.asvem-pe.blogspot.com.br) da Asvem-PE, onde há um link para uma petição criada pela entidade. “Lutamos pela criação de uma vara judicial especializada em ações relacionadas à saúde”, explicou Urbaneide.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Associação lança cartilha que orienta como denunciar casos de erros médicos e buscar reparação na Justiça

O número de médicos que respondem na Justiça por erro em procedimentos no trabalho cresceu nos últimos anos no Brasil. Entre 2000 e 2012, subiu de 4 para 7% do total de profissionais no País, o que representa quase 28 mil pessoas.
Esses dados são de levantamento feito pelo especialista em Direito Médico, Raul Canal. No Recife, em outubro do ano passado, a engenheira elétrica da Chesf, Urbânia Carvalho, de 47 anos, foi mais uma vítima de erro médico, quando passou por cirurgia para retirada de mioma, e teve o intestino perfurado.
O quadro clínico se agravou após internamento que durou mais de 60 dias em um hospital da capital pernambucana. A morte de Urbânia motivou o surgimento da Associação das Vítimas do Erro Médico (Asvem-PE), criada pela família dela em dezembro de 2013.
Nesta terça-feira (12), às 19h, ocorre um ato na Câmara Municipal de Olinda para alertar casos deste tipo. Irmã de Urbânia e diretora da Asvem, Urbanira Carvalho, relembra o caso e explica a criação do grupo, na reportagem de Houldine Nascimento:

Da Rádio Jornal

Também há uma petição na internet que luta por uma vara específica no Tribunal de Justiça de Pernambuco para julgar causas envolvendo falha médica.



Associação lança cartilha sobre como denunciar erros médicos

Lançamento acontece nesta terça-feira, no bairro de Varadouro, em Olinda

12/08/2014 13:24 - Camilla Lima, da Folha de Pernambuco

Será lançada, nesta terça-feira (12), no bairro do Varadouro, em Olinda, a cartilha "Erro Médico, não deixem passar em branco, denuncie!", promovida pela Associação das Vítimas de Erro Médico (ASVEM/PE). Formada pelos familiares de Urbânia Carvalho, falecida em outubro do ano passado, vítima de complicações pós-cirúrgicas, a associação tem fins filantrópicos no auxílio às vítimas e familiares que sofreram com procedimentos errôneos na área de saúde.
Na ocasião, será apresentado um resumo do caso de Urbânia, além de considerações de alguns especialistas convidados. Também haverá a distribuição gratuita da cartilha. A ASVEM/PE não possui sede fixa, e atende através de e-mail e telefone, além de possuir um blog informativo. A associação, quando recebe os casos, faz uma triagem e encaminha-os aos com órgãos competentes. A entidade necessita de voluntários interessados em fazer parte da associação, já que não possuem nenhum tipo de verba.

Fonte: Folha-PE.

Familiares criam Associação das Vítimas de Erro Médico


Publicação: 12/08/2014
 

Será criada nesta terça-feira, na Câmara Municipal de Olinda, a  Associação das Vítimas de Erro Médico (ASVEM/PE), idealizada para sensibilizar e conduzir a população a prevenir erros médicos e proceder em busca de justiça. A organização está sendo fundada por três irmãs da engenheira elétrica e agrônoma, funcionária da Chesf, Urbânia de   Barros Carvalho Melo. Urbânia, de 47 anos, mãe de dois filhos,  morreu no dia 12 de outubro de 2013, depois de ter o intestino perfurado durante cirurgia para rerirada de um mioma e quadro clínico agravado após internamento de mais de 60 dias em hospital do Recife.

A solenidade está marcada para as 19h.Na ocasião, serão apresentados vídeos de associações de outros estados e especialistas convidados falarão sobre o assunto. Haverá ainda a distribuição gratuita de uma cartilha, fichas para adesão de novos sócios e um abaixo-assinado, pleiteando a criação de vara da Fazenda específica no Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJ-PE), para julgar causas relativas à saúde. A adesão também pode ser feita pela internet
 
 

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Negligência na hora do parto destrói os sonhos de várias famílias

JC publica, deste domingo (10) até terça-feira (12) a série de reportagens Tarde demais, sobre mulheres que tiveram o sonho da maternidade interrompido por causa da demora no atendimento em maternidades públicas
                    

Publicado em 10/08/2014

 
Vanda perdeu o filho, João Guilherme, por conta da demora no atendimento / Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem

Vanda perdeu o filho, João Guilherme, por conta da demora no atendimento - Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem

"Pedia a Deus para que não fosse verdade o que estava acontecendo.” O clamor, em tom desesperado, veio de Vanda Menezes, 34 anos, num momento que ela define como o pior da sua vida: a morte do filho. João Guilherme nasceu no dia 23 de janeiro deste ano, por volta das 17h. Passou apenas 15 minutos com vida. Não deu tempo, sequer, da mãe escutar o seu choro. Vários médicos tentaram reanimá-lo. Em vão. Era tarde demais. O que Vanda e Guilherme queriam mesmo era que, horas antes, quando havia chegado o momento dele vir ao mundo, esses mesmos médicos, ou pelo menos algum deles, tivessem ouvido os apelos da gestante e percebessem que os dois precisavam ser atendidos com urgência.

Vanda chegou ao Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip), no bairro dos Coelhos, área central do Recife, às 2h30, já com a bolsa rompida. Imediatamente apresentou o seu cartão pré-natal na recepção. “Fui orientada assim durante todas as consultas. Profissionais do Imip que me atendiam diziam que eu teria prioridade para internamento porque fiz meu pré-natal lá”, disse. Além desse detalhe, estava escrito no cartão e também carimbado: a gravidez era de alto risco e a paciente tinha miomatose (tumores benignos no útero que podem provocar parto prematuro ou dificuldades no parto). “Mas nada disso foi levado em consideração. Esperei até as 4h para que um enfermeiro viesse aferir minha pressão. Falei que sentia uma forte dor na bexiga e estava sangrando, mas ele simplesmente saiu”, afirmou. Somente às 11h20 a paciente foi examinada por um médico, que decidiu que ainda não era a hora de Vanda entrar na sala de cirurgia.
 
Por volta do meio-dia, veio a notícia de que ela seria transferida para outro hospital. Ali não havia vagas. “Isso só não aconteceu porque não tinha ambulância no hospital. A partir daí, não consegui mais ficar esperando. Entrei e disse: “Ou conseguem a ambulância, ou eu vou embora”. Só assim me colocaram numa enfermaria. Já passava das 14h. João Guilherme nasceu com dificuldades de respirar. “Vi que saía um líquido pela boca e pelo nariz dele. Acho que engoliu líquido amniótico. Em seguida, vários médicos e enfermeiros rodearam a maca onde o bebê estava, ao meu lado, tentando reanimá-lo. Poucos minutos depois, tive que ouvir o que menos queria: meu filho estava morto”, detalha.
 
No atestado de óbito, as causas da morte: anoxia intrauterina (falta de oxigenação no cérebro, que pode ser causada, entre outras coisas, por hemorragia na gestante ou ritmo fetal irregular) e pneumopatia (doença que afeta os pulmões). Receber alta e chegar em casa foi ainda mais difícil. “Passei duas semanas sem conseguir abrir a porta do quarto do bebê e vivia à base de Rivotril”, relata.
 
Em nota, o Imip respondeu que o diagnóstico de miomatose uterina não está necessariamente relacionado à gestação de alto risco, nem à indicação de parto cesário. “As causas de morbidade neonatal são inúmeras e podem acontecer mesmo diante das melhores assistências ao trabalho de parto. No caso em questão, asseguramos que foram realizados todos os procedimentos preconizados conforme os protocolos de obstetrícia em vigor. Exames realizados na criança comprovaram grave doença congênita como responsável pelo óbito fetal."
 
SEM MULHER E SEM FILHO DE UMA SÓ VEZ - Luiz e Carina se conheceram quando eram crianças. Cresceram juntos em São Lourenço da Mata, Grande Recife. Na adolescência namoraram, separaram. Voltaram, já adultos. Decidiram morar juntos, formar uma família. Em 2013, Carina engravidou. E a partir daí, o pai do bebê, ajudante de pedreiro, não mediu esforços para garantir o bem-estar do seu primeiro filho. Descobriram que seria um menino. Ia se chamar Luiz Henrique. O pai juntou toda a economia para comprar o melhor enxoval e decidiu deixar de beber para que o menino não conhecesse o Luiz que várias vezes provocou mal-estar em casa por ter chegado alcoolizado. O pré-natal de Carina foi tranquilo. Por isso Luiz jamais imaginou que, ao atender o celular, na manhã de 18 de outubro de 2013, enquanto trabalhava, fosse escutar aquela notícia: seu bebê estava morto. Poucos minutos depois, outra ligação fez Luiz sentir o peso do mundo em suas costas: Carina também estava morta. E ali morriam os sonhos da família. O quarto do filho seria desfeito, o enxoval, doado. A casa com quatro cômodos se tornaria grande demais para ele. Assim, de supetão. Sem que tivesse a oportunidade de se despedir.
 
“Na última vez em que ela foi ao hospital, de madrugada, nem acompanhei porque tinha que acordar cedo para ir trabalhar no outro dia. E nunca imaginei que eles iam morrer, pois no pré-natal, as consultas, os exames davam tudo certo. Eu não conseguia acreditar”, contou o jovem João Luiz Benício da Silva, 24 anos. Carina de Lima e Silva, 23, saiu de casa no dia 14 de outubro de 2013, um domingo à noite, para a maternidade mais próxima de sua casa, a do Hospital Petronila Campos. Sentia dores e cansaço. A sogra, Geilsa Benício, que a acompanhou, disse que colocaram a paciente no soro. “Antes do soro terminar, mandaram Carina de volta para casa”, afirmou. No dia seguinte, às 6h, mais dores e cansaço. No mesmo hospital deram uma injeção em Carina e mandaram voltar para casa mais uma vez. Foi medicada, mas as dores não cessaram. Ficaram mais intensas. A gestante foi ao Petronila novamente. Dessa vez, deram um remédio sublingual. E mandaram voltar para casa. Dia 16 de junho, mais dores. E mais uma ida ao mesmo hospital. Aplicaram soro com remédio emandaram voltar para casa. "De madrugada (dia 17) ela começou a tremer na cama, gemia de dor. Deu entrada novamente e dessa vez receitaram Buscopan e uma pomada vaginal por sete dias. Ela passou mal de novo. Fomos para a Maternidade de Camaragibe”, relatou a sogra. O médico que atendeu a paciente percebeu que ela corria riscos e encaminhou ao Hospital Barão de Lucena, na Zona Oeste do Recife.
 
Na madrugada do dia 18 foi realizada uma cesárea e Luiz Henrique nasceu. Segundo a família, passou algumas horas vivo. Morreu às 7h25. Carina ainda foi levada para a UTI. De acordo com nota divulgada pelo Barão de Lucena na época, a mulher estava na 35ª semana de gravidez. O menino já nasceu morto, por falta de oxigenação. A mãe sofreu a primeira parada cardiorrespiratória ainda durante a cirurgia. Foi reanimada e encaminhada para a UTI, onde sofreu uma segunda parada e não respondeu às manobras de reanimação. Morreu às 7h40.
O Hospital Petronila Campos afirmou, por meio de nota, que a paciente chegou se queixando de dores no baixo ventre e recebeu atendimento adequado. “Como a gestação era de 35 semanas, ainda não se tratava de caso cirúrgico. O Serviço de Verificação de Óbito (SVO) apontou como causa da morte tromboembolia pulmonar, caso considerado como morte inevitável, uma vez que a paciente não apresentou sintoma”, diz a nota. O Comitê Estadual de Mortalidade Materna avaliou o caso e chegou à conclusão de que a morte seria provavelmente evitável. “Nos reunimos com representantes dos hospitais envolvidos e com o SVO. Concluímos que algumas providências poderiam ter sido tomadas para evitar a morte, pois a paciente procurou cinco vezes os hospitais de São Lourenço e Camaragibe até ser encaminhada para o Barão de Lucena”, declarou a médica Sandra Valongueiro, coordenadora do Comitê.
 

sábado, 9 de agosto de 2014

O que os hospitais não contam para você

Infecções, erros grosseiros, amputações desnecessárias – as armadilhas que se escondem sob a face tranquilizadora da medicina moderna; e um guia para defender seu bem mais precioso: a saúde

CRISTIANE SEGATTO
 
Quando atravessamos a recepção elegante de um hospital de boa reputação, somos encorajados a pensar que ele funciona como um território vigiado. Cada funcionário em seu lugar, trabalhando de acordo com padrões, atento ao fato de que deslizes serão notados, anotados e corrigidos. Quem conhece os bastidores das mais respeitadas instituições tem outra visão. “A realidade é mais parecida com o Velho Oeste”, diz o médico americano Martin Makary, um observador privilegiado das entranhas dos mais badalados hospitais dos Estados Unidos. Sem meias palavras, Makary expõe verdades incômodas no livro Unaccountable: what hospitals won’t tell you and how transparency can revolutionize health care (em português, Sem prestar contas: o que os hospitais não contam e como a transparência pode revolucionar a assistência à saúde). É hora de quebrar o silêncio.
 
 Hospitais: o que eles não contam e como se proteger (Foto: ÉPOCA)

 A obra de Makary, comentarista das redes de TV CNN e FoxNews, recém-lançada nos Estados Unidos e ainda sem editora brasileira, não passou despercebida. “A cada colega que me considerou um traidor por escrever esse livro, cinco me agradeceram”, disse Makary a ÉPOCA. “É um sinal de que o tempo da transparência chegou.” Cirurgião especializado em aparelho digestivo, Makary trabalhou em várias das mais respeitadas instituições médicas dos Estados Unidos. Fez pesquisas sobre saúde pública na Universidade Harvard, em Boston, e atualmente atende no Hospital Johns Hopkins, em Baltimore. Ele não está sozinho. Há um movimento crescente, observável também no Brasil, em defesa de uma medicina mais transparente. Essa corrente acredita que qualquer cidadão deveria ter acesso a informações objetivas sobre a qualidade dos hospitais.

Qual é a parcela de pacientes que contrai infecção em determinada instituição? Qual é o índice de complicações cirúrgicas? Qual é a sobrevida dos doentes depois de um transplante ou operação cardíaca? Quantos recebem medicações erradas durante a internação? No Brasil, os melhores hospitais são avaliados periodicamente nesses quesitos e em muitos outros – num total de 1.300 itens. Eles fazem parte de uma elite de 21 instituições (leia a lista abaixo) num universo de 6.500 hospitais do país. Só elas dispõem do selo de qualidade emitido pela Joint Comission International (JCI), uma espécie de norma de controle de qualidade da área da saúde. Esse é o selo mais prestigiado do mundo. Além dessas, 180 instituições têm certificados emitidos por outras entidades.

Nos Estados Unidos e no Brasil, as informações detalhadas sobre cada hospital existem, mas são guardadas a sete chaves. Raras são as instituições que divulgam um ou outro indicador de qualidade. Makary defende a divulgação desses dados. Uma forma simples e objetiva de dar poder aos consumidores do bem mais precioso do mundo: a saúde. Se podemos escolher um hotel ou um restaurante a partir de critérios técnicos, por que não temos o direito de fazer o mesmo por nossa vida?

Esse é um debate que faz cada vez mais sentido no Brasil. Nos últimos dez anos, o número de brasileiros que dispõem de planos de saúde privados cresceu 50%. São hoje 47 milhões. Nas grandes cidades, as obras de expansão dos hospitais particulares avançam em ritmo acelerado. Mal são inauguradas, as novas alas se mostram insuficientes para atender tanta gente – principalmente nos prontos-socorros. “Há filas de quatro horas e reclamações por todos os lados”, diz Francisco Balestrin, presidente do conselho da Associação Nacional dos Hospitais Privados. “A pressão dessa demanda exacerbada tira a qualidade do atendimento.” O excesso de doentes é um complicador, mas não explica todas as falhas.

Um estudo feito por pesquisadores da Universidade Harvard em dez bons hospitais americanos expôs um fato conhecido no meio médico: 25% dos pacientes internados sofrem algum tipo de dano. Mesmo nos centros americanos de alta tecnologia, pequenas falhas ou erros gravíssimos ocorrem rotineiramente. Esponjas cirúrgicas são esquecidas no corpo dos pacientes, membros errados são operados, crianças recebem excesso de medicação por causa da terrível caligrafia dos médicos.

O excesso de confiança dos profissionais, a falta de comunicação entre os integrantes da equipe e o descuido em relação às normas de segurança (parece incrível, mas muitos médicos não lavam as mãos antes e depois de atender um paciente no quarto ou na UTI) expõem os pacientes a riscos desnecessários. No Brasil, o diagnóstico é semelhante. Os avaliadores de hospitais flagram erros de identificação, falta de pessoal qualificado, desleixo em relação à estrutura física (leia o quadro ao lado). O cenário é hostil, principalmente porque escolhemos hospital da forma mais subjetiva possível. Somos influenciados pelo marketing, pela decoração e pela opção das celebridades. Esta, por sinal, pode ser a pior maneira de eleger um médico. Makary relembra um caso exemplar. Trocando o nome dos envolvidos, poderia ser uma história bem brasileira.

Em 1980, Mohammad Reza Pahlavi, o xá do Irã, era um dos aliados mais importantes dos Estados Unidos. Quando um câncer no sistema linfático (linfoma) o fez adoecer de repente, Washington fez questão de oferecer o que havia de melhor na medicina americana. Michael DeBakey, o mais famoso cirurgião do mundo, chegou rapidamente ao Oriente Médio. Recomendou uma cirurgia imediata de remoção do baço. Nesse tipo de operação, há o risco de perfurar o pâncreas acidentalmente. Para evitar complicações, uma precaução básica é instalar um dreno cirúrgico. Ele evita que o fluido pancreático fique acumulado no corpo do paciente e provoque uma infecção. Confiante em sua habilidade, DeBakey não colocou o dreno. Ao final da cirurgia, declarou que a operação fora um sucesso. Recebeu medalhas e virou um herói no Oriente Médio. Pouco tempo depois, o xá começou a ter febre e vômitos. A infecção, combinada ao agravamento do linfoma, debilitou-o até a morte.

O erro do governo americano, do xá e de sua família foi não ter percebido que DeBakey era um excelente cirurgião cardíaco – não de abdome. Dos 479 artigos científicos que DeBakey assinara, mais de 95% eram sobre cirurgia cardiovascular. Apenas um mencionava o baço, e, ainda assim, ele não era o autor principal. A aura de superstar ofuscou a razão de todos os envolvidos. DeBakey errou duplamente. O excesso de autoconfiança o impediu de fazer o básico. Ou de pedir a ajuda de um especialista. Se até os poderosos erram ao escolher cuidados médicos, como o cidadão comum pode se defender?