quarta-feira, 31 de agosto de 2022

Paciente vítima de erro médico em cirurgia plástica tem alta no Rio: 'Feliz por estar viva'

 

Dona de casa que se operou com o médico Bolívar Guerrero Silva, no Hospital Santa Branca, em Duque de Caxias, ficou quase quatro meses internada para se recuperar dos procedimentos.


Paciente que acusa médico de cárcere privado recebe alta no Rio

Teve alta no início da tarde desta segunda-feira (29), a dona de casa Daiana Chaves Cavalcanti, de 35 anos. Ela foi vítima de erro médico após cirurgias plásticas realizadas pelo médico equatoriano Bolívar Guerrero Silva, no Hospital Santa Branca, em Duque de Caxias, no dia 3 de maio.

Inicialmente, Daiana acusava o médico e sua equipe de cárcere privado por não promoverem sua transferência para outra unidade médica para tratar as complicações das cirurgias, mas isso não ficou provado pelas investigações policiais e na denúncia feita pelo Ministério Público.

Daiana só foi transferida após apelos públicos. Ela foi levada para o Hospital Federal de Bonsucesso, onde permaceu 38 dias e realizou mais cinco procedimentos para tratar das cirurgias feitas por Bolívar.

Na saída da unidade médica, Daiana estava muito emocionada e falou da expectativa de rever o filho.

"Estou muito feliz e agradecida por todo apoio que me deram no hospital. Ainda estou com um buraco aberto na barriga, mas estou feliz por estar viva e também por rever meu filho depois de quase quatro meses internada", disse ela emocionada.

Daiana Chaves chora ao deixar o hospital

Daiana Chaves ainda tem sequelas das cirurgias plásticas feitas por Bolívar


Emoção no encontro com o filho


Durante todo o tempo em que estava internada, Daiana pensava em se recuperar e a voltar a ver o filho, Bryan, de 2 anos.

Os dois estavam sem se ver pessoalmente há quase três meses, desde que Daiana voltou para a Clínica Santa Branca para novos procedimentos, em 1º de julho, e depois sofreu complicações.

"Só queria rever meu filho. Dar esse abraço Graças a Deus esse dia chegou", disse Daiana.

Advogado tenta recursos para cuidados em casa


O advogado de Daiana Chaves, Ornélio Mota, disse ao g1 que, apesar da alta, sua cliente ainda requer muitos cuidados.

"O médicos deram alta médica para ela terminar de se recuperar com a sua família, mas disseram que os curativos na ferida aberta têm que ser feitos todos dos dias e devem ser impecáveis. Eles já fizeram contato com a Clínica da Família que atende a Rocinha, onde a Daiana mora, e eles se disponibilizaram a ir lá fazer esses curativos. Mas a clínica não funciona nos finais de semana. Neste sentido, estou peticionando que a Justiça libere parte do dinheiro bloqueado do Hospital Santa Branca para contratar um 'home care' para ela aos finais de semana", disse Ornélio.

O advogado explicou ainda que Daiana está bastante fragilizada e que vai pedir também que ela possa ter acesso a um tratamento psicológico ou psiquiátrico para se recuperar de todo o processo que viveu.

Daiana Cavalcanti: nova complicação

O caso


O caso de Daiana Chaves Cavalcanti, de 35 anos, veio à tona depois dela começar a denunciar publicamente que era mantida em cárcere privado na Clínica Santa Branca, de propriedade do médico equatoriano Bolívar Guerrero Silva.

No dia 3 de maio, ela realizou intervenção cirúrgica para fins estéticos nas nádegas, costas e abdômen. Teve complicações, voltou à Santa Branca no dia 1º de julho e foi convencida a fazer uma abdominoplastia para corrigir os problemas da primeira cirurgia e também realizar uma gigantoplastia, cirurgia que reduz as mamas e as reposiciona.

O quadro de saúde de Daiana só piorou e ela passou a pedir transferência, inclusive na Justiça, o que não foi atendido pela clínica, nem por Bolívar.

Bolívar Guerrero Silva foi preso no dia 18 de julho quando estava dentro do centro cirúrgico da Clínica Santa Branca, por não cumprir a ordem judicial de transferir Daiana. Os bens da clínica també foram bloqueados pela Justiça.

Daiana só conseguiu transferência depois que o Hospital Geral de Bonsucesso ofereceu uma vaga no CTI para a dona da casa. Ela foi transferida no dia 21 de julho para a unidade federal, na Zona Norte do Rio.

Médico é preso por suspeita de manter paciente em cárcere privado no RJ

Médico foi denunciado pelo MP por tentativa de homicídio


Bolívar Guerrero, que segue em prisão preventiva, foi denunciado no dia 18 de agosto pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), por meio da 3ª Promotoria de Investigação Penal de Duque de Caxias, por tentativa de homicídio por motivo torpe no caso de Daiana Cavalcanti.

"Entreguei a denúncia na 4ª Vara Criminal de Caxias por tentativa de homicídio por motivo torpe pelo que ele fez com a Daiana, mas estou pedindo que os inquéritos que estão na Deam, e que já são mais de 40, sejam entregues aqui na promotoria para que a gente possa dar continuidade nos casos", disse ao g1 a promotora Cláudia Portocarrero sobre outras denúncias contra o médico.

Além do caso de Daiana e das denúncias na Deam de Caxias, Bolívar responde a pelo menos 19 processos na Justiça por erros médicos.







terça-feira, 30 de agosto de 2022

Polícia investiga caso de superdosagem de remédio que deixou jovem em estado vegetativo em Porto Alegre

 

Alexandre Moraes de Lara, de 28 anos, recebeu dosagem 10 vezes maior do que a indicada. Hospital diz que 'lamenta profundamente o ocorrido e vem prestando toda a assistência médica necessária e disponível' ao paciente.


Polícia apura caso de superdosagem que deixou jovem em estado vegetativo em Porto Alegre

A Polícia Civil de Porto Alegre investiga a suspeita de superdosagem de medicamento oferecido a um paciente de um hospital da cidade. O caso ocorreu em outubro de 2021. Desde então, o jovem Alexandre Moraes de Lara, de 28 anos, está em estado vegetativo e precisa de cuidados 24 horas por dia.

O Hospital Humaniza, onde o paciente segue internado, afirma que o atendimento a Alexandre ocorreu na gestão anterior da unidade. "O Hospital lamenta profundamente o ocorrido e vem prestando toda a assistência médica necessária e disponível para a melhoria do quadro clínico do paciente. Ao mesmo tempo, vem mantendo tratativas com os familiares para, também, proporcionar o máximo de assistência e acolhimento necessários", diz em nota.

Alexandre deu entrada no hospital para tratar um problema cardíaco. No entanto, em vez de receber dois comprimidos de um medicamento, o paciente recebeu 20 – 10 vezes mais. O remédio, indicado para controlar batimentos do coração, acabou provocando uma parada cardiorrespiratória. Um laudo assinado por um médico contratado pela família afirma que o estado vegetativo de Alexandre tem grande potencial de ser permanente.

A esposa dele, Gabrielle Gonçalves Bressiani, recorda que o marido era ativo fisicamente e que gostava de surfar e ir à academia. Ela, que estava grávida na época do ocorrido, diz que Alexandre ainda não entende quando vê a filha.

"Eu estava grávida de três meses quando aconteceu. Agora eu levo a Sara, filha dele, ali para vê-lo, mas ele não entende nada", diz, emocionada.

Alexandre Moraes de Lara, de 28 anos, antes e depois de superdosagem em hospital de Porto Alegre

A investigação policial ainda não foi concluída. O Conselho Regional de Medicina (Cremers) afirma que investiga a atuação dos profissionais envolvidos no caso.

"A pessoa entra conversando, caminhando, saudável, sorrindo, e nunca mais sai. Nunca mais sai, sem poder dar um 'tchau' para seus familiares", lamenta o tio, Luciano Pacheco Martins.

Laudo de médico contratado pela família de Alexandre 

Superdosagem


A esposa estava junto de Alexandre quando o caso aconteceu. Ela diz ter questionado o técnico de enfermagem, que confirmou a dosagem, indicada por uma médica. Pouco depois, o rapaz passou mal.

Segundo a família, o médico cardiologista deu a receita correta, e o primeiro erro aconteceu na farmácia do hospital.

"A farmácia, na hora de cadastrar o medicamento, cadastrou errado. Ao invés de cadastrar como 300 miligramas, que era o correto, cadastrou como 30 miligramas. Então, ao invés de tomar os dois comprimidos que ele deveria, ele tomou 20 comprimidos", diz Gabrielle.

Um prontuário assinado pelo diretor-executivo do hospital aponta o erro da equipe. Segundo o documento, "a medicação dispensada pela farmácia do hospital era divergente da dosagem registrada no sistema e da prescrição médica". O médico indicou 600 miligramas ao paciente, mas o hospital deu 6 mil miligramas.

Entrada do Hospital Humaniza, em Porto Alegre 

Atendimento


A família ainda reclama do atendimento de urgência oferecido pelo hospital. Segundo o tio, a equipe demorou mais de cinco minutos para socorrer Alexandre.

"A médica não sabia orientar os enfermeiros ou técnicos do procedimento, se tinha que fazer intubação, se não tinha. O equipamento para respirar que eles foram utilizar estava faltando uma peça, então não deu para utilizar, ajudou a faltar oxigênio. O medicamento, que era adrenalina, que tinha que ser dado, não foi dado no tempo adequado", relata.

Família de paciente aguarda em frente a hospital em Porto Alegre








Médico alerta sobre descaso e “colapso iminente” da maternidade do HU

 Médico publicou alerta nas redes sociais; HU se pocionou sobre a situação



Em uma publicação nas redes sociais, o médico Luiz Fernando Sommacal, do Hospital Universitário Professor Polydoro Ernani de São Thiago (HU-UFSC), fez um desabafo sobre a situação da maternidade da unidade. No texto, o profissional alerta para a situação e chama a atenção para o “colapso iminente do Serviço de Residência Médica e do funcionamento da maternidade por falta de condições físicas e de profissionais”, e afirma haver risco grave às gestantes e fetos.

De acordo com o médico, a maternidade teve redução no quadro de funcionários e vem realizando cerca de 250 partos mensais, número superior ao dobro do projetado, de 100 partos mensais. “Não há previsão de concursos e tampouco interessados em trabalhar nas condições que o serviço se encontra. Os sucessivos governos vem desmontando o SUS e os hospitais universitários sofrem diretamente com a política de industrialização da medicina e investimentos em medicina privada. Espero que os órgãos competentes principalmente o Conselho Regional de Medicina tome uma atitude diante deste cenário lamentável que nos encontramos”, diz o médico.

“Venho alertando o descaso do poder público e dos órgãos ligados à gestão do hospital universitário para o colapso iminente (…) Não venham querer culpar os médicos depois”

Procurado pela reportagem, o médico informou preferir não se manifestar além da publicação em sua rede social.

Posicionamento do HU


Em nota, o Hospital Universitário informou que possuí capacidade de 150 partos por mês e, desde o final de 2021, vem registrando um aumento na demanda na ordem de 60% por mês e que desde então, a direção do HU vem fazendo uma série de gestões junto ao Ministério Público Federal, às secretarias Estadual e Municipal de Saúde e ao Conselho Regional de Medicina. “Foram feitos alertas às autoridades responsáveis pela regulação de pacientes na rede, sendo que todos estes contatos estão devidamente documentados”, diz a nota. 

Segundo o HU, o Hospital possui compromisso contratualizado de atender 4.500 casos de emergência, sendo pediátrica, obstétrica e adulto, por mês e desde janeiro deste ano estão sendo atendidos uma média de 5,8 mil pacientes, sendo que 25% destes são gestantes. “Além de alertar os órgãos públicos sobre a situação, o Hospital providenciou pagamento de horas extras para garantir a equipe necessária para este aumento da demanda e, respeitando as exigências legais, convocou profissionais concursados. 


CRM se manifestou sobre o caso:


Citado pelo médico, O Conselho Regional de Medicina de Santa Catarina (CRM-SC) afirmou em nota que acompanha com atenção a situação do Hospital Universitário. “A autarquia fez uma reunião com diretores do hospital e com representantes do serviço de obstetrícia no início da semana para levantar informações sobre o caso.
Há sobrecarga de trabalho sobre os médicos que atuam na unidade”, diz o documento.

“Agora, o CRM-SC discute ações que podem ser sugeridas às autoridades responsáveis para garantir a qualidade no atendimento à população e, ao mesmo tempo, que solucionem as deficiências identificadas”, informou o Conselho.




segunda-feira, 29 de agosto de 2022

Prefeitura é condenada a indenizar família por erro médico fatal

 Marido e filho de mulher que morreu após passar por diversas falhas de diagnóstico na rede municipal de saúde devem receber indenização de R$ 100 mil; caso aconteceu em 2019

Mulher passou por três unidades de saúde antes de receber o diagnóstico correto; após cirurgia de emergência de emergência, ela não resistiu e faleceu

Familiares de uma mulher que morreu após passar por diversos diagnósticos incorretos devem sere indenizados pela Prefeitura de Fortaleza. O caso ocorreu em 2019, na rede municipal de saúde.

A paciente, que tinha 37 anos, passou por três unidades de saúde da Prefeitura antes de receber o diagnóstico correto. Ao longo de 15 dias, foram atendimentos na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Jangurussu e no Frotinha da Messejana, e uma internação no Hospital São José.

Nos dois primeiros locais, foram apenas receitados remédios para os sintomas de Veronilde: dor abdominal intensa, diarreia e vômitos. No terceiro, ela recebeu um diagnóstico incorreto de leptospirose. Após mais de duas semanas buscando auxílio, a mulher faleceu.

Apenas no fim do processo veio a identificação correta do quadro de Veronilde: uma apendicite aguda. Ela chegou a ser transferida para o Instituto José Frota (IJF) e operada emergencialmente, mas não resistiu.

O processo, conduzido pela Defensoria Pública Geral do Ceará (DPCE), foi aberto pelo marido da paciente em novembro de 2019. Em outubro de 2021, a Prefeitura foi condenada a pagar R$ 40 mil a ele e R$ 60 mil ao filho do casal, a título de danos morais.

A Prefeitura recorreu da decisão, mas o Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE) manteve a sentença. No momento, pai e filho aguardam o pagamento da indenização. O O POVO entrou em contato com a Procuradoria Geral do Município (PGM). De acordo com o órgão responsável pelos processos judiciais, a Prefeitura de Fortaleza ainda não foi notificada pelo caso. 




Mulher do sertanejo George Henrique diz que foi vítima de importunação sexual dentro de hospital

 

A dentista e influenciadora Francine Toaldo diz ter sido vítima do crime enquanto estava sedada



O caso, que veio à tona agora, aconteceu em setembro do ano passado. A dentista e influenciadora Francine Toaldo, mulher do cantor sertanejo George Henrique, foi para um hospital de Goiânia (GO) quando sofria com fortes dores de uma intoxicação alimentar. No atendimento, Francine teve de passar por um exame em que recebeu uma pequena sedação. E, enquanto estava vulnerável, afirma ter sido vítima de importunação sexual. O Domingo Espetacular procurou o suspeito. Veja ainda o que diz o hospital sobre o que aconteceu.




domingo, 28 de agosto de 2022

GO: obstetra investigado por erro foi denunciado por outras pacientes

 

Obstetra afastado após denúncia de violência durante parto em Niquelândia (GO) já foi denunciado por outras pacientes na mesma cidade



Goiânia – O médico obstetra de Niquelândia, no norte de Goiás, afastado das atividades do hospital municipal da cidade essa semana após ser denunciado por violência obstétrica contra uma enfermeira grávida, de 31 anos, que perdeu o bebê, já foi alvo de outras denúncias.

Américo Lúcio Neto foi denunciado por ter chamado uma mulher de “obesa” e de ter xingado o marido dela, durante o trabalho de parto, no último dia 12 de agosto. A vítima registrou boletim de ocorrência e a prefeitura da cidade afastou o profissional. O caso vem sendo investigado pela polícia.

Só que não é a primeira vez que Américo é denunciado por situações semelhantes. O obstetra responde a pelo menos três processos por erro médico e três por danos morais. O caso mais antigo é de 2013. Todos foram em Niquelândia.

Mulher denunciou violência obstétrica em hospital de Niquelândia 

“Mulher velha”

Em um dos processos por erro médico, uma pescadora de 37 anos relatou que foi chamada de “mulher velha” enquanto realizava o parto no Hospital e Maternidade Santa Efigênia, mesma unidade municipal em que houve denúncia em agosto. Esse caso foi em abril de 2021.

Segundo depoimento na polícia, o obstetra teria várias vezes chamado a paciente de velha, inclusive durante o parto natural, além de a discriminar por já ter três filhos.

“Mulher velha de 36 anos não dá conta de fazer força para ter filho?”, teria falado o médico enquanto a mulher tinha dificuldade no momento do parto.

“Não sei por que uma mulher com 36 anos quer ter mais filhos, sendo que você já tinha três filhos. Só para dar trabalho para o médico e, se acontecer alguma coisa, a culpa é do médico”, teria dito o médico, segundo a vítima, que mora na zona rural.

Grosseria

Durante o parto da pescadora, conforme seu relato, uma enfermeira teria forçado a barriga com cotovelos e teria sido feito o ‘pique’, um corte entre o ânus e a vagina para facilitar a passagem do bebê.

Além disso, o médico teria falado que só não iria operar (fazer cesárea) porque a vítima não teria feito a “papelada”. O bebê acabou morrendo durante o parto natural. A mãe tinha pressão alta. Logo após o parto, o obstetra teria falado para a mulher que ela não poderia mais ter filhos e ofereceu cirurgia para laqueadura.

Em depoimento, a vítima relatou que já tinha ouvido falar da grosseria do obstetra. “Sabe, por ouvir dizer, que as gestantes mais velhas, gordas e negras, que são atendidas pelo Dr. Américo, sofrem na forma de tratamento, de maneira preconceituosa”, diz trecho do documento.

Mais xingamentos

Uma outra mulher relatou que sofreu violência obstétrica durante parto em janeiro de 2017, também no hospital municipal. Ela disse que quando chegou passando mal no hospital, o médico teria falado: “Não tinha outra hora para você vir não?”.

Além disso, a mulher teria sido xingada pelo obstetra na sala de pré-parto. A vítima relatou que foi chamada de vaca e de porca. “Mulher quando engravida acha que deve engordar muito”, teria declarado o obstetra.

Para piorar a situação, essa mulher ainda pegou uma infecção hospitalar durante o parto e ficou vários dias internada. Ela chegou a ser transferida para Goiânia e precisou de doação de sangue. O caso tramita no Judiciário de Goiás como danos morais.

Demora para nascer

O médico também foi processado por um suposto erro médico que aconteceu entre outubro e novembro de 2020 no mesmo hospital municipal. A vítima tinha uma gravidez considerada de alto risco. No entanto, segundo ela, o médico marcou o parto para uma data que seria após mais de 42 semanas de gestação, sendo que normalmente a gravidez dura 40 semanas.

Uma enfermeira chegou a questionar a decisão do médico e a família resolveu reclamar, mas mesmo assim ele teria mantido a mesma data. “Ele disse em tom irônico que enfermeiras não fazem parto e que era ele quem sabia a hora certa para realizar a cesariana”, descreveu o advogado na ação.

Enquanto esperava a data estipulada pelo médico, a vítima chegou a sentir dores e um médico de plantão pediu um ultrassom. No entanto, Américo não teria aceitado analisar o exame, alegando que não foi pedido por ele.

Só que chegou uma hora que a paciente grávida não aguentou e dois dias antes da data marcada pelo médico, com praticamente 42 semanas de gravidez, a mulher chegou no hospital sentindo muita dor. Ela relatou que esperou mais de duas horas por atendimento, enquanto o batimento do bebê diminuía.

O médico então fez o parto e o bebê morreu. O laudo do IML indica que houve aspiração de fezes presentes no líquido amniótico, provocando pneumonia química, com provável causa por “pós-datismo”, que é a gestação que se prolonga acima do necessário.

Infecção pós parto

Américo ainda responde por um caso mais antigo, que teria acontecido em abril de 2013, segundo processo de suspeita de erro médico que tramita no Tribunal de Justiça de Goiás.

Esse caso foi em Niquelândia, mas no hospital privado Santa Marta. Nesse caso, a vítima disse que fez todo o acompanhamento da gravidez com outro médico, mas começou a perder líquido amniótico de forma repentina e precisou ser atendida por Américo, único obstetra presente no momento.

Ela então voltou ao obstetra Américo, que teria deixado ela dois dias sendo tratada com soro fisiológico, açúcar esterilizado e retirada de pus da barriga. Os parentes da vítima tiveram que insistir muito para levá-la para Goiânia, pois inicialmente, o obstetra não teria concordado.

A mulher então foi para um hospital de Goiânia e depois transferida com urgência para Anápolis. Ela foi diagnosticada com infecção puerperal, precisou tomar antibióticos e fazer uma cirurgia para aspirar a secreção e retirar o útero. Após mais de uma semana internada, ela se recuperou, mas ficou com uma grande cicatriz.

Profissionais dos hospitais de Goiânia e Anápolis teriam falado para a vítima que o açúcar esterilizado estava piorando a ferida da cicatriz e teriam perguntado: “Em qual açougue você estava?”.

Mais duas ações

Além desses quatro casos detalhados na reportagem, Américo ainda foi processado por danos morais por uma mulher que alegou ter perdido o bebê em 2016, dois dias após o parto, por falta de transporte, equipamentos e pediatra.

Ele também foi processado por danos morais pela família de um paciente que sofreu um acidente de ônibus e morreu por um suposto erro na forma de colocar a sonda para alimentação.

Outro lado

Procurado pela reportagem, o advogado do obstetra Américo, Luiz Gustavo Barreira Muglia, ressaltou que em nenhum dos casos as ofensas alegadas foram comprovadas. “Nenhum dos processos em desfavor do médico doutor Américo tiveram decisões em seu desfavor”, afirmou.

Sobre a pescadora que disse ter sido chamada de “velha” e perdeu o bebê, a defesa do obstetra disse no processo que foram realizados os procedimentos possíveis, mas sem êxito, já que o feto não reagiu às manobras de ressuscitação. Além disso, o bebê estava com peso aumentado para a idade gestacional e a mãe fazia uso de medicamento por estar com pressão alta.

Em relação ao caso da grávida que teve infecção hospitalar e perdeu o útero, a defesa do hospital alegou no processo que a alegação de danos estéticos é descabida, pois qualquer cirurgia deixará cicatriz. A defesa ainda defendeu que não há provas de que a perda do útero causou sofrimento, pois a mulher já pretendia fazer laqueadura após a gravidez. E sobre a infecção em si, a defesa diz que isso ocorreu por conta da suposta demora da paciente de mais de oito horas entre o tempo do rompimento da bolsa e a cesárea.

Já sobre o caso da paciente que teve o bebê após 42 semanas por suposta indicação do médico, a defesa de Américo disse no processo que a paciente tinha 40 anos e pressão alta. O bebê teria nascido com depressão respiratória. Todos os procedimentos possíveis teriam sido feitos, mas não houve resultado.

Sobre o caso da mulher que disse ter sido chamada de “porca” e “vaca” no momento do parto e teve infecção, a defesa do doutor Américo disse no processo que não está demonstrado um nexo de causalidade entre as ações do médico e o suposto dano da paciente. A defesa alega que o tratamento foi feito de forma correta e que a paciente foi transferida para Goiânia quando a infecção foi identificada.

O Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego) disse em nota que não informa sobre a tramitação de denúncias. A entidade ainda afirmou que a sindicância e o processo ético-profissional tramitarão em sigilo processual.