quinta-feira, 20 de novembro de 2014

ERRO MÉDICO: Ações na Justiça aumentam 300 % em MT

Entre as áreas julgadas na Justiça estão às especialidades de obstetrícia,
 traumas de ortopedia, cirurgia gerais e plásticas


 
26/05/2014
 
De acordo com o Conselho Regional de Medicina (CRM), nos últimos cinco anos 126 médicos passaram por algum tipo de processo. Quatro perderam o direito de exercer a profissão.  Outro dado assustador é que 8,5% dos médicos de Mato Grosso respondem por algum tipo de processo. O percentual é considerado alto em relação a média nacional que é de 7%. O levantamento faz parte do livro “Erro Médico e Judicialização da Medicina”, do advogado e especialista em direito médico Raul Canal. Ele alerta para os problemas estruturais e da capacitação dos médicos até mesmo na rede privada.
 
Entre as principais áreas julgadas na Justiça de Mato Grosso estão às especialidades de obstetrícia 33%, traumas de ortopedia 13%, cirurgia gerais 10% e cirurgias plásticas 9%. Para Raul Canal, os principais fatores que podem ser analisados na área de obstetrícia para ocorrer tantos erros é a falta de estrutura dos hospitais no Estado e até nas clínicas particulares.  “No caso das cirurgias plásticas posso garantir que 67% dos erros estão atribuídos a profissionais que não tem especialidade na área”, explica Canal.
 
Quem conta um pouco desta triste realidade é a presidente da Associação de Vítimas de Erros Médicos (Avem), Maria de Fátima Oliveira. Ela diz que mais de 200 vítimas aguardam o resultado final de suas ações no Estado. De acordo com Oliveira, os números poderiam ser mais expressivos, mas até que se chegue à conclusão do processo muitas ações ficam no caminho por não haver constatação eficaz do erro.
 
Além de presidente da Avem, Maria de Fátima é fundadora da entidade. Sua luta começou quando perdeu seu filho Phelipe Bica, com 15 anos de idade, vítima de erro médico em Cuiabá. Antes disso, a saúde de Bica já havia sido prejudicada.
 
Maria de Fátima recorda que os problemas começaram ainda no parto da criança. “Mesmo tendo dificuldades para ter o parto normal o profissional insistiu pelo procedimento durante sete horas e após esse período resolveu fazer a cesária. Devido a demora, meu filho nasceu com paralisia cerebral”. Segundo ela, vários erros contribuíram para dar fim à vida de seu filho, pois quando ele ainda era bebê precisou fazer uma cirurgia de gastrostomia (sonda na barriga) e um procedimento para problemas de refluxo. “Uma médica também da capital perfurou o estômago e intestino da criança. Meu filho precisou fazer três cirurgias. Ficou 72 dias internado e não conseguimos concluir o tratamento em Cuiabá. Tive que ir para o Hospital das Clínicas, em São Paulo, onde a cirurgia de refluxo foi feita”, contou.
 
Houve ainda um terceiro erro e este foi fatal. “No dia da internação, o médico aplicou sedativo no Phelipe, mesmo eu tendo avisado que o método não poderia ser feito. Ele sempre ficava inquieto quando sentia dores. Mas o médico de plantão disse que era convulsão e aplicou um medicamento na veia como sedativo. Nesse momento a pressão caiu bastante e de imediato meu filho foi levado para Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Ele pesava 42 kg. Saiu da UTI pesando 100 kg”, relembra a mãe com lágrimas nos olhos.
 
Morosidade
 
Maria de Fátima diz que seu sofrimento persiste, pois até hoje o médico responsável pela morte do seu filho continua fazendo outras vítimas já que a Justiça de Mato Grosso anulou a responsabilidade médica. “Se não bastasse a morosidade da Justiça para julgar os casos, o médico que denunciei venceu em todas as instâncias. Tive que recorrer ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), mas ainda está em análise. Outras famílias em Mato Grosso, que tiveram parentes vítimas de erros médicos, ainda vivem a angústia da impunidade. Qualquer pessoa que se sentir vítima pode procurar a associação e levar os documentos,que passarão por análise jurídica para identificar a procedência dos fatos e só depois entrar ou não com a ação”, informa a presidente da Avem.
 
O barato que sai caro
 
Um balanço divulgado pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), regional de Mato Grosso, confirmou que 370 mulheres por ano apresentam problemas decorrentes de cirurgias estéticas realizadas na Bolívia, pois cada um dos cirurgiões plásticos no Estado atende no mínimo 10 pacientes com complicações neste período.
 
 número é apenas uma amostra do problema que ainda não tem estatísticas oficiais, pois as vítimas não têm a quem recorrer e muitas ficam com as deformidades e não procuram atendimento médico por falta de dinheiro. Segundo a SBCP, a maioria dos casos que chega às autoridades é de mulheres que moram em Mato Grosso, por causa da proximidade com a fronteira. As cirurgias são realizadas em clínicas que nem sempre segue os procedimentos utilizados no Brasil, como o cumprimento de todos os exames pré operatórios e as condições de higiene nas salas de operação.
 
Vários sites na internet oferecem os serviços com direito a fotos de antes e depois e preços tentadores para um pacote que pode remodelar o corpo de qualquer mulher com lipoaspiração, implante de silicone, rinoplastia (plástica no nariz), entre outros.
 
O cirurgião plástico Ewaldo Bolívar salienta que apesar dos benefícios estéticos a cirurgia plástica traz riscos. “Para operar um paciente fazemos diversos exames e um anestesista faz uma segunda análise para decidir qual é o melhor tipo de anestesia para se usar. Um médico, para ser credenciado pela SBCP, precisa fazer medicina, dois anos de cirurgia geral, passar em um teste, fazer residência em cirurgia plástica e depois fazer um exame da sociedade”, enfatiza Bolívar. Já o presidente regional da SBCP, Wagner Targa Ripari, alerta que refazer uma cirurgia realizada de forma errada sai muito mais caro para a paciente do que fazer a plástica com um cirurgião brasileiro. “Este ano já atendi cerca de 20 mulheres que apresentaram problemas após cirurgias na Bolívia e que irão precisar fazer novas operações. A diferença nos preços tem diminuído, muitas vezes é de até R$ 2 mil, mas só com o que a paciente gasta em passagens e hospedagem já diminui essa diferença, além disso, aqui há toda uma infraestrutura para atender a pessoa em casos de complicações”. Quando há complicações, outro problema é que além da falta de atendimento médico a paciente também enfrenta mais dificuldades para processar o médico, diferente do que acontece no Brasil onde vítimas recebem indenizações e os médicos podem perder o direito de exercer a medicina por erro médico.
 
Bisturi fatal
 
Um dos casos mais polêmicos de erro médico envolveu o cirurgião Samir Khedi. Ele foi condenado por homicídio culposo (sem intenção de matar) por ter cometido erro médico durante um procedimento cirúrgico que levou à morte  Rosimeire Aparecida Soares, no final de dezembro de 2007.
O laudo emitido pelo Instituto Médico-Legal, na época, comprovou que houve erro médico, uma vez que Rosimeire morreu de choque hipovolêmico (perda de sangue), provocado por lesão na veia cava inferior, em consequência de uma perfuração. Rosimeire se submeteu a várias intervenções cirúrgicas realizadas por Khedi, entre elas: lipoaspiração do abdome e culote, enxerto nas nádegas e na panturrilha, correção de nariz e axila. 
 
 
 

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