domingo, 2 de abril de 2023

Família denuncia negligência na morte de grávida e bebê em Prainha; Câmara, MP e Semsa investigam o caso

 

Segundo familiares, o médico da UBS do Cupim não teria dado a devida importância às dores relatadas por Clarissa Araújo Bezerra que estava no 8º mês de gestação.


Da direita para esquerda: Altino Bezerra ao lado da filha grávida Clarissa Araújo Bezerra com o esposo e a cunhada da jovem

As mortes de uma grávida de apenas 17 anos e do bebê dela, provocaram revolta em familiares e na população em Prainha, no oeste do Pará. É o segundo caso de morte materna no município em pouco mais de um mês. Nos dois casos, familiares denunciam negligência no atendimento médico.

No caso mais recente, que aconteceu na segunda-feira (20), a jovem Clarissa Araújo Bezerra de 17 anos, estava no 8º mês de gestação, e desde o fim de semana começou a se queixar de fortes dores. Ela buscou atendimento na Unidade Básica de Saúde (UBS) do Cupim, na zona rural de Prainha, onde ela morava. Mas de acordo com relato do pai de Clarissa, a dor relatada pela filha foi negligenciada pelo médico da UBS da comunidade.

“A minha filha foi no posto do Cupim, contou que estava com muitas dores, mas o médico Dr. Breno disse pra ela que não era nada, que ela estava sentindo dor porque o bebê estava se mexendo. Ela voltou pra casa, mas as dores não passavam. Aí ela saiu daqui do Cupim e eu a acompanhei até o Carapanaúba. Lá ela entrou no carro, eu segurei as bolsinhas dela e da minha esposa, coloquei no carro e ela foi. Chegou no posto do Jatuarana, a criança ainda estava se mexendo, mas quando chegou em Prainha o coração da criança não estava mais batendo e a enfermeira disse que só ia bater a ultrassom dela no outro dia. E minha filha veio a falecer. Minha filha morreu à míngua no hospital de Prainha”, relatou o pai de Clarissa, Altino Bezerra.

Para a mãe de Clarissa, Claudenice Oliveira Bezerra, houve negligência do atendimento da filha. Ela contou que a filha fazia as consultas do Pré-Natal na data certa e também os exames na UBS, sempre que o médico pedia.

“Sábado foi aniversário da minha filha. Ela estava bem, veio pra minha casa, almoçou. Já no domingo ela amanheceu com febre, dor de cabeça, vomitou. E a gente procurou logo a unidade de saúde. Mas ela não foi atendida pelo médico porque era domingo. A enfermeira passou um remédio pra ela e mandou para casa. Ela ficou esperando pra ser atendida na segunda no Cupim. Na segunda ela passou com o médico, ele examinou, ouviu o batimentos do bebê e disse que a dor era porque o bebê estava encaixando. Mas a dor que ela sentia era no estômago. Ela tomou o remédio que ele passou, mas não melhorou. Ela foi ficando pálida até que o pessoal do posto conseguiu que o carro do Jatuarana fosse buscar a minha filha”, contou Claudenice Bezerra.

Ainda segundo Claudenice Bezerra, na UBS de Jatuarana, Clarissa recebeu os primeiros socorros. A pressão arterial estava alta, mas o bebê ainda apresentava batimentos cardíacos. A jovem grávida foi colocada novamente no carro e foi levada da UBS para o hospital de Prainha.

“Não era 5h como disseram. Era 4h quando ela deu entrada no hospital. Colocaram ela numa sala, a cabeça doença e a pressão muito alta. A enfermeira foi examinar e disse que não ouviu mais o coração do bebê. O médico veio e pediu um ultrassom, mas o outro médico que batia ultrassom não estava. Eu pedi várias vezes para eles tomarem providências e ninguém fez nada. Largaram minha filha lá com dor e a pressão subindo", relatou.

Claudenice ficou no hospital acompanhando a filha e no começou da noite, quando houve troca de enfermeiro, ela ouviu uma conversa da equipe que estava deixando o plantão com uma enfermeira que estava entrando, em que a profissional dizia que se o feto estivesse realmente morto não dava pra fazer mais nada.

"Veio outra enfermeira, ela pediu pra minha filha deitar e depois de examiná-la, ela disse que o feto estava morto há três dias e minha filha depois de ouvir aquilo começou a se agoniar, e a enfermeira deixou ela na sala daquele jeito. Foi lá pra frente conversar. A minha filha começou a se contorceu, a respiração ficou ofegante, eu gritei por socorro, os enfermeiros vieram, e enquanto eu fui pegar o documento da minha filha ela morreu”, contou Claudenice.

O corpo de Clarissa Araújo Bezerra foi sepultado na terça-feira (21). Dezenas de pessoas acompanharam o funeral e o cortejo até o cemitério, e todos se emocionaram com a palavras do pai da jovem, Altino Bezerra, e seu pedido por justiça.

Investigação


A revolta da população e a repercussão do caso fizeram a Câmara Municipal de Prainha instalar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o caso.

“Os trabalhos vão iniciar segunda-feira (27). Já sentamos com o jurídico e vamos fazer tudo passo a passo para não cometer falhas. Nosso objetivo é apurar tudo com clareza e dar uma resposta à sociedade. Eu acredito nos colegas vereadores que abraçaram essa causa e com certeza em um curto espaço de tempo nós vamos apurar tudo”, disse o presidente da CPI, vereador José Benedito (Benoca).

O relator da CPI, Elias Campos, disse que o desejo da Comissão é buscar respostas e responsabilidades, saber onde o município falhou. “Vamos ouvir os familiares da Clarissa, dos profissionais do posto do Cupim, do Jatuarana, e fazer um levantamento de dados para que a gente possa chegar ao final da CPI e mostrar no relatório onde aconteceram as falhas, para que a partir daí fatos dessa natureza não voltem a acontecer”.

A CPI vai ouvir familiares de Clarissa Bezerra, profissionais de saúde envolvidos no atendimento da jovem e os responsáveis pelas UBS e pelo hospital de Prainha.

O Ministério Público e a Secretaria Municipal de Saúde, por meio do Setor de Epidemiologia também apuram o caso.

Esclarecimentos


De acordo com o secretário municipal de Saúde Abraão Nascimento, a gestão ainda não tem elementos para apontar se houve falha no atendimento a Clarissa Bezerra, e pediu paciência à população.

“Primeiramente a gente se compadece da família. E a gente como gestão pede que a população tenha paciência, que tudo será devidamente apurado. A gente trabalha com indicadores e um óbito materno é muito negativo para o município. Recentemente houve também um óbito materno em Santa Maria e automaticamente o município é obrigatório o município fazer a investigação desde a atenção primária, ver se a gestante fez as 6 consultas de pré-natal prevista e tudo é informado no prontuário eletrônico. E isso tudo é importante pra ver onde o município errou e procurar melhorar. A princípio não dá pra dizer quem teve culpa, até porque a informação que nós temos é de que a paciente já chegou com o feto morto”, explicou.

Maria Rosa, diretora do hospital Wilson Ribeiro disse que para profissionais de saúde a morte de Clarissa foi um acontecimento muito triste um acontecimento, e garantiu que tudo será devidamente apurado.

“Quando a paciente chegou no hospital já estava bem grávida, e o fato com ausência de batimentos cardíacos. Ela foi avaliada, mas infelizmente já estava em óbito fetal. Ela eu entrada às 5h da tarde e morreu por volta das 8h da noite, no momento não estava disponível a ultrassom pra fazer, mas os exames laboratoriais indicavam que ela estava com uma infecção bem avançada. Mas os médicos precisavam do exame de imagem pra decidir o que fazer”, finalizou.





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