A Constituição brasileira estabelece que a saúde é bem de todos e dever do Estado. Porém, em um país com 200 milhões de habitantes, a questão financeira se torna um fator limitante. Muitos se eximem da responsabilidade sobre a própria saúde apoiados no “dever do Estado”, esquecendo-se de que os custos envolvidos no tratamento de doenças são muito altos e serão repassados aos usuários de alguma forma, seja pelo sistema público ou pelo suplementar.
No Brasil, por exemplo, 50% da população acima dos 50 anos desenvolvem hipertensão e 8%, diabetes. Tais doenças são tidas por muitos brasileiros como “normais”. Todo mundo conhece alguém cuja mãe ou pai tem pressão alta, por exemplo. Entretanto, doenças desse tipo podem gerar complicações que implicam em custos altíssimos de tratamento, como cegueira, insuficiência renal, transplantes, AVCs, ataques cardíacos, entre outros. Outro exemplo bem comum é o do sobrepeso e da obesidade. O paciente engorda e começa a ter dores no joelho (condição que pode evoluir para a necessidade de próteses), pressão alta, infartos, cirurgias, “stents”. Mais uma vez, os gastos são elevados e serão divididos entre os outros usuários do plano.
É provocada, então, uma discussão acerca dos hábitos dessas pessoas e dos motivos que levam as operadoras a não se posicionarem a respeito. Percebe-se que há duas formas instintivas de abordar o problema: pela punição daqueles que não modificam seus hábitos prejudiciais ou pela bonificação daqueles que adotam costumes mais saudáveis. A lei brasileira impede que os planos ofereçam preços diferentes do mesmo plano por conta de hábitos pessoais, de modo que a melhor alternativa seria a segunda: nada impede que a operadora dê descontos a quem se cuida melhor. No caso de pessoas com sobrepeso, por exemplo, poderia haver um desconto na mensalidade a cada quilo perdido até que se atingisse um peso considerado sadio.
As operadoras pouco falam em prevenção, pois a maioria acredita que o investimento não traz retorno imediato, o que entra em conflito com a situação econômica não favorável do sistema suplementar. A visão ainda não é clara de que, com a mudança de perfil dos usuários, a operadora que inovar com programas preventivos ficará à frente das demais, criando uma cadeia de incentivo, o que beneficiaria a todos. Apenas uma ação conjunta das prestadoras conseguiria corrigir o desvio presente entre a ação proativa (antes da doença se instalar) e reativa (aquela que se concentra no tratamento da doença).
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