Cesárea ou parto normal? Projeto defende parto adequado para cada situação, apenas com intervenções necessárias
Quando a publicitária Ana Carolina Rocha estava no início da gestação, começou a pesquisar sobre tipos de parto. Como havia sofrido um acidente e fraturado o quadril alguns anos antes de engravidar, alguns médicos disseram que ela não poderia nem entrar em trabalho de parto.
Arquivo pessoal
Ana Carolina é defensora do parto humanizado, em que as vontades da mulher são respeitadas
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Quando estava com três meses de gestação, seu médico já deixou claro a intenção de agendar a cesariana. Ana ficou chocada. “Como assim, com três meses ele já quer marcar?”, conta ela. E foi conversando com uma amiga que descobriu o parto humanizado.
A amiga entregou um DVD com um documentário que explicava como funcionava esse tipo de nascimento e, segundo Ana, a partir de então tudo mudou e ela foi em busca de uma médica obstetra que fizesse parto humanizado.
“A mulher deve ter o parto assistido por profissionais. Ela que vai falar se quer analgesia ou não, a posição que quer ficar, se quer ficar de cócoras ou não. É deixar a mulher ser protagonista do próprio parto”.
Depois da decisão, Ana foi atrás de uma equipe de parto humanizado. Nesse meio tempo participou de reuniões com outras gestantes. “Conversamos com doulas, com médicos obstetras e foi por meio desses encontros que minha mente começou a abrir, a ter contato com outra realidade, como não ver o médico como um deus, a repensar minhas escolhas e saber que eu poderia ter o controle do meu parto”.
Quando o dia do nascimento do filho chegou, ela ficou 14h em trabalho de parto. “Mas na última fase do parto, meu bebê não fez o giro dentro da barriga, então foi necessário fazer a cesariana”, conta.
Thinkstock/Getty Images
"A cultura da cesariana agendada se deve muito aos partos normais violentos,
então as mulheres preferiam agendar para não ter de sofrer"
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“Não foi agendada, mas sim por recomendação médica”, diz Ana. Ela conta que o assim que o bebê foi retirado da barriga, já foi para o seu colo. “Esperamos a placenta parar de pulsar antes de cortar, não foi colocado colírio no olho dele e não foi feita a aspiração. Foi tudo muito respeitado”, diz.
A publicitária não é contra a cesárea. “Ela salva vidas, salva mães e bebês, mas só deveria ser usada quando há uma real indicação. Não acho legal ficar agendando cesáreas, porque geralmente elas são agendadas por mulheres que estão mal informada. A informação de qualidade não chega a ela, para decidir o que quer”, critica.
"A cultura da cesariana agendada se deve muito também ao partos normais violentos, então as mulheres preferiam agendar para não ter que sofrer todo tipo de intervenção violenta como a episiotomia sem autorização", diz.
Ana diz que, se for colocar na “ponta do lápis”, ninguém agendaria uma cesariana, já que é um procedimento invasivo e, se for feito na hora errada, sem a mulher entrar em trabalho de parto, o bebê pode ter de ficar na UTI.
“Não deveria nem existir o nome ‘parto humanizado’, porque todos deveriam ser assim. Todos os partos deveriam respeitar o tempo da mulher e do bebê”, diz.
O preço total do parto, no entanto, é salgado: Ana desembolsou R$ 14 mil para ter o filho, valor que encareceu pela intervenção cesariana. “Ficaria em R$ 11 mil se não fosse a cesárea”.
Projeto Parto Adequado
Querer fazer parto normal a todo custo ou agendar cesárea sem trabalho de parto não são boas decisões para a saúde da mulher. Pensando nisso surgiu também o projeto Parto Adequado, para respeitar a necessidade da mulher em um dos momentos mais impactantes da vida dela: se tornar mãe.
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Hospitais adotam projeto de parto adequado
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A ideia do parto adequado é incentivar o parto normal que, como o próprio nome já diz, é natural. Nesse tipo de nascimento, a intervenção, como a cesárea, é feita em caso de necessidade.
O projeto conta com a parceria entre hospitais públicos e privados e visa diminuir a alta taxa de cesáreas sem razões médicas no Brasil, além de desmistificar a ideia de que o parto normal sempre é muito sofrido ou que a mãe não é forte o suficiente para passar pelo processo.
Hoje com 48 hospitais participantes, o programa do parto adequado se baseia em alguns pilares. Um deles é adequar os hospitais para receber uma sala de parto que possa ser usada pela mulher antes, durante e depois do parto.
Rita Sanchez, coordenadora da maternidade do Hospital Albert Einstein e uma das líderes do projeto Parto Adequado diz que vários hospitais já estão fazendo reformas para receber melhor as mulheres.
“Eles precisam fazer a adaptação da sala de parto mais antiga - que não tinha espaço - para o um quarto ‘PPP’, que é de pré-parto, parto e pós-parto”, conta.
Nele, diz Rita, a paciente permanecerá durante todo o trabalho de parto, poderá fazer o parto no local (se for natural), e também terá o apoio de banheira, chuveiro, disponibilidade de manter um ou mais acompanhantes, liberdade para caminhar, entre outras coisas.
Além disso, os hospitais participantes desse projeto também contam com uma enfermeira obstetra para acompanhar o trabalho de parto, bem como uma equipe médica plantonista. “Se o médico da paciente não chegar a tempo, temos o plantonista para resolver os problemas”.
Obstetras e corpo clínico desses hospitais também têm de passar por um curso de atualização de diretrizes e protocolos da prática obstétrica.
Resultados
Em nove meses de projeto lançado, as cesáreas foram reduzidas em 10%. “O projeto em si era para diminuir a cesárea no setor privado, já que 84% dos partos feitos nessa rede eram dessa forma”, conta a coordenadora.
“Para se ter ideia, houve 10% de aumento de cesárea de 2005 a 2015. Em nove meses conseguimos reduzir o que aumentou em 10 anos. Os resultados são muito bons”.
“Estamos fazendo campanhas, montando mais cursos para gestantes mais voltados ao trabalho de parto e não para só ficar falando de roupinha de bebê”, conta. “Explicamos o que ela vai enfrentar, como se comportar”.
IG - Minha Saúde
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