segunda-feira, 20 de junho de 2016

Vítimas de erros médicos reclamam da morosidade da Justiça

A presidente da Associação das Vítimas, Maria de Fátima, também faz parte da estatística. Seu único filho morreu por causa de negligência médica.
 
 
Para a presidente da Associação das Vítimas de Erros Médicos, Maria de Fátima, a impunidade dos profissionais geram ainda mais sofrimentos para as famílias
 

 
Cerca de 200 vítimas entraram com ação contra erros médicos em Mato Grosso. Os dados são da presidente da Associação das Vítimas de Erros Médicos (Avem), Maria de Fátima Oliveira, que argumentou que os números poderiam ser ainda mais expressivos, mas até que se chegue a conclusão dos fatos, muitos pedidos ficam no caminho por não haver constatação eficaz do erro.
 
Mária de Fátima além de presidente é a fundadora da Associação. Mas o seu papel principal é lutar pela honra de seu filho, Phelipe Bica, morto aos 15 anos, vítima de erro médico. Em depoimento emocionado, Maria de Fátima descreveu a vida curta de seu filho, que já nasceu diante da negligência de um médico de um respeitado hospital de Cuiabá.
 

A presidente da Associação disse que quando foi ter o bebê estava com dificuldades para ter o parto normal e, mesmo diante das limitações, o médico insistiu pelo procedimento. “Fiquei internada das 13h30 até às 20h, quando o médico resolveu fazer a cesária e, por causa disso, meu filho nasceu com paralisia cerebral. Mas mesmo com a saúde frágil, ele foi meu anjo”, declarou.

 
Maria apontou outros erros médicos sofridos pelo seu filho. Quando ainda era bebê, Phelipe precisou fazer uma cirurgia de gastrostomia (sonda na barriga) e também um procedimento para problemas de refluxo, contudo, a médica (também de Cuiabá) perfurou o estômago e o intestino da criança.
 
“Meu filho teve que fazer três cirurgias. Ficou 72 dias internado e nem conseguimos concluir o tratamento aqui em Cuiabá. Tive que ir para o Hospital das Clínicas, em São Paulo, onde a cirurgia para refluxo foi feita”, falou.

O terceiro erro médico que o filho de Maria de Fátima sofreu foi fatal. Em um dia de internação, o médico de um grande hospital de capital aplicou sedativo no paciente, mesmo a mãe falando que o procedimento não podia ser feito.
 
“Meu filho estava inquieto, mas isso era normal quando ele sentia dor. Mas o médico plantonista disse que era convulsão e aplicou remédio na veia com sedativo. Neste momento a pressão do meu filho caiu bastante (2/4) e de imediato o levaram para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI). O Phelipe pesava 42 kg, saiu da UTI pesando uns 100 kg. Meu filho suportou dois erros, mas no terceiro morreu”, relembra a mãe com lágrimas nos olhos. Phelipe Bica morreu no dia 4 de julho de 2004.
 
Maria de Fátima disse que seu sofrimento é duplo, pois até hoje o médico responsável pela morte de seu filho continua fazendo outras vítimas e a Justiça de Mato Grosso anulou a responsabilidade médica.
 
“Não bastasse a morosidade da Justiça, que demora uns 10 anos para julgar esses casos. O médico que eu denunciei venceu em todas as instâncias. Tive quer recorrer no Superior Tribunal de Justiça (STJ), mas ainda está em análise”.
 
A presidente da associação disse que sofreu e sofre muito, e por conta de todos os problemas que enfrentou desenvolveu a doença de Parkinson. Bastante abatida e emocionada, Maria de Fátima disse que tenta levar a vida, que depois de muitos anos, consegue entender que seu filho é um anjo.
 
Ela informou que outras famílias no Estado, que tiveram parentes vítimas de erros médicos, ainda vivem a angústia da impunidade.
 
ASSOCIAÇÃO
 
Criada em 1998, a Associação das Vítimas de Erros Médicos, tem o objetivo de lutar para a punição dos profissionais de medicina. A presidente Maria de Fátima disse que no começo os trabalhos eram difíceis de se concretizarem, já que os hospitais impediam repassar informações dos pacientes.
 
Apesar das dificuldades, as famílias não desistiram e recorrem à Justiça para ter acesso aos documentos que comprovem casos.
 
Maria de Fátima informou que qualquer pessoa que se sentir vítima pode ir na Associação e levar todos os documentos, que passará por uma análise jurídica para apontar procedência dos fatos e só depois entrar ou não com ação.
 
“As pessoas sempre vem aqui e nós informamos o que tem que ser feito. Normalmente os levantamentos dos documentos acontecem depois de uma primeira conversa. Mas nem tudo que chega até nós é possível virar processo”, frisou.
 
A Associação fica na rua Marechal Floriano Peixoto, 274, Centro. Telefone (65) 3027-7120.
 
HiperNotícias
 
 

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