Órgão apresenta mensagens de funcionários do Hospital das Clínicas sobre falhas em equipamento; Prefeitura questiona informações
Entrada da UTI do hospital público de São Sebastião; MP destaca novos índices de supostas falhas
O MP-SP (Ministério Público do Estado de São Paulo) apresentou à Justiça, na última quarta-feira (24), novos indícios de que supostas falhas no sistema de fornecimento de oxigênio no Hospital das Clínicas de São Sebastião causaram as mortes de dois pacientes diagnosticados com Covid-19. No material, encaminhado ao órgão, constam supostas trocas de mensagens entre funcionários da unidade relatando o problema.
No início de janeiro, o MP-SP recebeu uma denúncia de moradores da cidade litorânea alertando que falhas no funcionamento do sistema de usinas de oxigênio medicinal do hospital resultaram nas mortes de dois idosos, de 63 e 66 anos, nos dias 10 e 11 de dezembro de 2020. Os pacientes estavam internados em leitos de UTI (Unidade de Tratamento Intensivo).
Já no início de fevereiro, o MP-SP e a Defensoria Pública do Estado de São Paulo ingressaram com uma ação na Justiça cobrando que a Prefeitura de São Sebastião, responsável pela gestão do hospital, reforçasse a estrutura da unidade, garantindo que os pacientes tivessem acesso ao oxigênio medicinal. No documento, constava também informações que áudios atribuídos a funcionários do hospital confirmavam que as mortes dos idosos ocorreram devido à falha e falta de capacidade do sistema de geração de oxigênio medicinal.
Em um dos áudios, um funcionário, cobrado por um médico, afirmava que não conseguiria restabelecer imediatamente o funcionamento do sistema, pois ele teve um problema nas usinas causado pela falta de óleo adequado no aparelho.
Além de comunicar o caso à Justiça, o MP-SP solicitou no início de fevereiro que a Polícia Civil investigasse o caso. A corporação realizou, no dia 8 fevereiro, uma perícia no local. O trabalho dos peritos ainda não teve seu resultado divulgado.
Já na nova denúncia encaminhada na última quarta-feira à Justiça, o MP-SP anexou cópias de mensagens trocadas pelo aplicativo Whatsapp entre uma médica e funcionários do hospital em 10 de dezembro.
Publicado pelo jornal OVale, um trecho do diálogo entre os profissionais destaca a médica desabafando. “… hoje perdemos um paciente por incapacidade da rede de oxigênio. Antes, trocávamos por torpedos, porém os torpedos estão sendo abastecidos com o gás da usina do hospital, e pelo que parece esse torpedo também não está suprindo a necessidade. Enfim, hoje, com muito pesar, perdemos um paciente por esse motivo. Espero que não aconteça novamente. A equipe lutou muito pelo paciente e fomos vencidos por uma falha estrutural que já deveria ter sido corrigida”.
Já em outra mensagem, um funcionário do hospital, que não teve sua função divulgada, afirma. “… a rede caiu, todos os pacientes estão no cilindro, sem exceção e evoluindo mal da parte respiratória. O que fazer? A manutenção não tem mais cilindro, só chega amanhã. E agora?”.
As novas informações serão inseridas pela Justiça no processo que analisa as acusações.
Outro lado – Procurada pela reportagem do Jornal Atos, a Prefeitura de São Sebastião informou em nota oficial que ainda não foi comunicada oficialmente sobre uma nova intimação na ação civil a respeito da oferta do oxigênio em São Sebastião.
O Executivo questionou o conteúdo apresentado pelo MP-SP ressaltando que é de causar “estranheza ao Governo Municipal a falta de cronologia em gravações realizadas sem conhecimento de seus personagens dentro de uma unidade hospitalar e compartilhadas por pessoas que já foram responsáveis e desenvolviam seus trabalhos na UTI, e que ambos, em nenhum momento, registraram oficialmente qualquer irregularidade à direção do Hospital (trecho da nota)”.
Em relação à estrutura do hospital, a Prefeitura afirmou que o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo vistoriou a unidade e elaborou relatório com avaliação positiva de sua infraestrutura.
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