quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Desconfie de médico que mal te olha e já pede exames

Gustavo Lacerda/Folhapress


Médicos e hospitais ainda não se sentem confortáveis quando o paciente assume o protagonismo do seu problema de saúde e os enchem de perguntas ou questionamentos. Passei por essa experiência no último sábado, após sofrer uma queda e, em seguida, um desmaio em Recife (PE).
 
Por precaução, fui levada a uma emergência de um hospital privado. O plantonista, um cirurgião plástico, não me examinou, mal me olhou e já pediu um raio-X do joelho direito (que ficou todo ralado com a queda) e uma tomografia de crânio, mesmo após eu e meu acompanhante garantirmos que não havia batido a cabeça (já estava sentada e amparada por um amigo quando apaguei).
 
Questionei o motivo da indicação da tomografia e se os riscos (radiação acumulada aumenta a chance de câncer) não seriam maiores do que os benefícios (já que o médico mesmo reconhecia que muito provavelmente o exame daria normal porque não havia batido a cabeça). Ele insistiu com os exames e indicou medicação endovenosa para dor e para minha queixa de enjoo.
 
Insisti que não precisava de medicação na veia já que havia alternativa de medicamento oral (lembrei de uma piada entre os médicos de que medicação endovenosa, em alguns casos, é uma espécie de ‘sequestro relâmpago’ dentro dos hospitais). Muito a contragosto, ele substituiu a medicação.
 
Mas continuava incomodada com a falta de assistência. Para mim, apenas a prescrição de remédios e exames não se traduzem em cuidado adequado. Liguei então para um amigo de Recife, um médico de família, que prontamente foi até o hospital me avaliar e, como já esperava, concluiu que estava tudo bem. O cansaço, o calor, o desgaste emocional gerado por entrevistas –muitas muito tristes–, o susto com a queda (ocorrida em uma rampa malfeita) e o fato de ter acabado de almoçar justificavam o desmaio.
 
Pedi para ser liberada, não tive sucesso. O médico que escolhi para me assistir pediu a mesma coisa e não foi atendido por não fazer parte do corpo clínico do hospital. O plantonista ficou tão furioso que se recusou a falar com o meu médico.
 
Resumo da ópera: quase precisamos chamar a polícia para fazer valer o meu direito de ouvir uma segunda opinião médica e optar por ela em vez de seguir o recomendado pelo médico plantonista.
 
Isso me fez lembrar dos inúmeros tratamentos médicos desnecessários e de uma campanha, chamada de Choosing Wisely (escolhendo sabiamente, em tradução livre), que está em curso para diminui-los. Nela, os pacientes também são incentivados a fazer mais perguntas sobre os procedimentos. É uma iniciativa que deveria ser abraçada por todas as especialidades médicas. Por enquanto, só a Sociedade Brasileira de Medicina de Família e a Sociedade Brasileira de Cardiologia encamparam a ideia no Brasil.
 
A iniciativa começou em 2012, nos EUA, por meio da Abim (American Board of Internal Medicine). Hoje está consolidada em diversos países, entre eles, Canadá, Itália, Holanda e Suíça. Por aqui, a campanha está sendo facilitada pela Proqualis.
 
Choosing Wisely surgiu da percepção de que falta sabedoria quando há utilização exagerada ou inapropriada de recursos na saúde. A campanha convida as especialidades médicas a fazer uma autocrítica sobre condutas que não deveriam estar sendo adotadas por serem comprovadamente deletérias, ineficazes ou inúteis.
 
Em sua lista, a SBC, por exemplo, recomenda que não sejam colocados stents em pacientes assintomáticos. O procedimento é invasivo, obriga a pessoa a ficar usando remédios e não previne infartos, mesmo em quem tem grande placa de gordura. A campanha também considera desnecessária a tomografia computadorizada para confirmação de sinusite, ou mesmo para obter imagem cerebral após o paciente sofrer um desmaio (o que foi o meu caso). A lista é enorme e você pode vê-las aqui.
 
Que fique bem claro: não sou contra exames preventivos quando bem indicados e usados de forma racional. Mas cada vez mais desconfio de médico que mal te olha, não te examina e já sai pedindo exames.
 

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Cientistas descobrem novo efeito colateral do Tylenol

Se você costuma tomar medicamentos à base de paracetamol para absolutamente qualquer dor, uma nova pesquisa traz um bom motivo para você parar de fazer isso


Tylenol: o efeito colateral da substância dificilmente é percebido pelos pacientes
 (Getty Images)


São Paulo – Se você é uma daquelas pessoas que costumam tomar Tylenol para absolutamente qualquer tipo de dor, independentemente de sua intensidade, uma nova pesquisa traz um bom motivo para você parar de fazer isso.
 
Segundo estudo conduzido pela Universidade de Toronto, no Canadá, a ingestão de medicamentos à base de paracetamol ou acetaminofeno pode prejudicar sua capacidade de identificar erros e tomar decisões.
 
O mais preocupante, apontam os cientistas, é que o efeito colateral da substância dificilmente é percebido pelos pacientes, o que pode levar a uma falsa sensação de normalidade.
 
Vale lembrar que, apesar de este ser o primeiro estudo a apontar disfunções cognitivas decorrentes do uso do remédio, outras pesquisas já constataram que doses excessivas dele podem causar danos a seu fígado.
 

Experimento

 
Para checar os efeitos do paracetamol, os pesquisadores conduziram um experimento com 62 voluntários. Metade do grupo ingeriu 1.000 miligramas (dose normal máxima recomendada) do medicamento, enquanto o restante tomou apenas um placebo.
 
Enquanto eram monitorados por um eletroencefalograma, todos os participantes foram orientados a realizar a seguinte tarefa: apertar um botão sempre que a letra F aparecesse em uma tela. Caso o painel mostrasse a letra E, eles não deveriam pressioná-lo.
 
O resultado foi surpreendente. O grupo ao qual a substância foi ministrada não apenas apertou mais vezes o botão diante da letra E, como também deixou passar em branco uma série de letras F.
 
O estudo, publicado no Journal Social Cognitive and Affective Neuroscience, sugere que a droga tem mais efeitos do que simplesmente combater a dor e pode, portanto, ter consequências inesperadas na rotina do paciente.
 
 
1. Riscos
 
(jrperes/ Pixabay)
 
"O uso exagerado de qualquer medicamento pode levar a riscos", afirma Amouni Mourad. A cientista é assessora técnica do Conselho Regional de Farmácia de São Paulo. Em entrevista a EXAME.com, ela falou sobre alguns remédios que, embora sejam benéficos quando usados corretamente, podem fazer mal ao paciente em determinadas circunstâncias.
 
2. Antibióticos
 
"O grande problema no uso de antibióticos é a utilização não só na dose correta como no período correto", afirma Amouni. Quando isso não acontece, o antibiótico mata apenas as bactérias mais fracas. As mais resistentes sobrevivem e proliferam. O resultado é que o tratamento da infecção passa a exigir remédios mais caros, mais tóxicos e que precisam ser tomados por mais tempo.
 
3. Paracetamol
 
Tomar paracetamol diariamente por vários anos pode ter consequências ruins para a saúde. Pelo menos, é o que aponta um estudo da universidade inglesa de Leeds. De acordo com o trabalho, a ingestão exagerada do medicamento pode causar problemas cardíacos, renais e intestinais. O medicamento é um dos analgésicos mais usados no tratamento de dores e febre.
 
4. Antigripais
 
Quem toma remédios por conta de hipertensão deve ter atenção na hora de comprar medicamentos contra gripe. De acordo com Amouni, a presença de anti-inflamatórios não esteroidais na composição de antigripais pode diminuir a ação dos anti-hipertensivos.
 
5. Anticoncepcionais
 
A ingestão exagerada de pílulas anticoncepcionais pode causar trombose. A doença é caracterizada pela coagulação do sangue dentro de vasos sanguíneos, que pode ser fatal. "A condição de risco de eventos trombóticos é maior durante o primeiro ano de uso da pílula anticoncepcional", explica Amouni. Segundo ela, fatores como ser obesa ou fumante elevam o risco de ocorrência de trombose.
 
6. Dipirona
 
Usada no combate a cólicas e febres, a dipirona pode ter efeitos colaterais ruins. De acordo com Amouni, a ingestão exagerada do remédio pode causar tremores, náuseas e reações alérgicas - como a asma. Além disso, a dipirona pode causar agranulocitose, doença caracterizada por uma grande redução no sangue do número de glóbulos brancos (células responsáveis pelo combate a infecções bacterianas) e que pode ser fatal.
 
7. Dorflex
 
Um levantamento realizado em 2013 pela consultoria IMS Health apontava o Dorflex como o remédio mais vendido do Brasil. Ele é indicado para dores -- especialmente dores musculares. O medicamento contém o analgésico dipirona, o relaxante muscular orfenadrina e cafeína, que age como estimulante. Na bula, alterações do ritmo cardíaco, enjoos e reações alérgicas são alguns dos possíveis efeitos colaterais atribuídos ao remédio.
 
8. Vitamina D
 
A vitamina D é um nutriente que ajuda na formação dos ossos e no equilíbrio dos níveis de cálcio no organismo. Porém, quando ingerida em doses diárias superiores a 50 miligramas, ela se torna tóxica. "Os primeiros sintomas de intoxicação com vitamina D são perda do apetite, náuseas e vómitos, seguidos por sede excessiva, aumento da emissão de urina, fraqueza, nervosismo e hipertensão arterial", afirma Amouni.
 
9. Sibutramina
 
Indicada para tratamente da obesidade, a sibutramina é popular entre pessoas que querem perder peso. Mas seu uso indiscriminado pode ser nocivo. De acordo com a bula, a sibutramina pode causar aceleração dos batimentos cardíacos, náuseas e até delírios nas quatro primeiras semanas de uso. Dor de cabeça e tontura também são observadas em alguns casos..

 
 
 

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Pacientes de médicas mulheres têm maiores taxas de sobrevivência

Os pacientes com médicas tinham uma probabilidade significativamente menor de morrer em um período de 30 dias a partir da internação
 
 
Médicas: o estudo foi descrito como a primeira avaliação nacional deste tipo a comparar
 os resultados entre os pacientes de médicos do sexo feminino e do sexo masculino
 
Pessoas idosas que foram tratadas por médicas do sexo feminino em hospitais têm taxas de sobrevivência significativamente melhores e menos readmissões do que aquelas tratadas por médicos do sexo masculino, segundo um estudo americano publicado na segunda-feira.
 
As descobertas, reveladas na revista científica Journal of the American Medical Association (JAMA) Internal Medicine, foram baseadas na análise dos registros médicos de uma amostra de mais de um milhão de pessoas, referentes ao período de 2011 a 2014.
 
Os pacientes com médicas tinham uma probabilidade significativamente menor de morrer em um período de 30 dias a partir da internação, ou de ser readmitidos nos 30 dias após a alta.
 
Se os homens conseguissem obter a mesma taxa de sucesso que as mulheres neste campo, haveria 32.000 mortes a menos a cada ano apenas entre os pacientes do programa de assistência de saúde Medicare, um grupo que inclui pessoas com mais de 65 anos, calculam os pesquisadores.
 
Este número é aproximadamente o mesmo que o número de mortes por acidentes de carro que ocorrem em todo os Estados Unidos em um determinado ano, disse o estudo.
 
“A diferença nas taxas de mortalidade nos surpreendeu”, disse o autor principal do estudo, Yusuke Tsugawa, do Departamento de Política e Gestão de Saúde da Universidade de Harvard.
 
“O gênero do médico parece ser particularmente significativo para os pacientes mais doentes”, acrescentou.
 
O estudo foi descrito como a primeira avaliação nacional deste tipo a comparar os resultados entre os pacientes de médicos do sexo feminino e do sexo masculino.
 
A pesquisa descobriu que os pacientes tratados por uma médica do sexo feminino tinham um risco relativo 4% menor de morrer prematuramente em comparação com os pacientes tratados por um médico homem.
 
Os pacientes atendidos por médicas também tiveram um risco relativo 5% mais baixo de serem readmitidos em um hospital nos 30 dias após a alta.
 
“Esta associação foi vista em uma ampla variedade de condições clínicas e variações na gravidade da doença”, disse o relatório.
 
O estudo não se aprofundou nas razões para as diferenças observadas.
 
No entanto, pesquisas anteriores mostraram que as médicas do sexo feminino tendem a seguir as diretrizes clínicas mais rigorosamente do que os homens, e que as mulheres oferecem uma comunicação mais centrada no paciente.
 
Uma melhor compreensão das diferentes abordagens é agora mais importante do que nunca, disse o autor sênior Ashish Jha, professor de política de saúde e diretor do Instituto de Saúde Global de Harvard.
 
“Havia ampla evidência de que os médicos do sexo masculino e feminino praticam a medicina de forma diferente. Nossas descobertas sugerem que essas diferenças são importantes para a saúde do paciente”, disse Jha.
 
“Precisamos entender por que as médicas mulheres têm menores taxas de mortalidade para que todos os pacientes possam ter os melhores resultados possíveis, independentemente do sexo de seu médico”.
 
As mulheres representam hoje cerca de um terço dos médicos em atividade dos Estados Unidos, e cerca de metade de todos os médicos formados do país.

 

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Doulas estão autorizadas em hospitais municipais

Projeto de lei da vereadora Juliana Cardoso foi sancionado pelo prefeito Fernando Haddad (PT) na sexta (23)


© Nova lei permite o acompanhamento de doulas nos partos realizados em hospitais municipais
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O prefeito de São  Paulo, Fernando Haddad (PT), sancionou na última sexta, 23, o projeto da vereadora Juliana Cardoso (PT) que libera a presença de doulas em maternidades e estabelecimentos de saúde da rede municipal e em hospitais privados, desde que contratados pela prefeitura. A nova lei proíbe que tais equipamentos obriguem a gestante a escolher entre a doula e seu acompanhante na hora do parto e prevê a oferta de um curso de capacitação pela prefeitura.
 
O Renascimento do Parto: documentário abordou a importância do parto humanizado (Divulgação) Doula é o termo dado a mulheres que dão suporte físico e emocional a gestantes antes, durante e após o parto, sem a realização de procedimentos médicos. “Costumo dizer que nosso trabalho é da cintura para cima. A gente paparica, leva para o banho, dá um abraço, um carinho, um copo d’água”, explica Fermina Silva Lopes, 65.
 
Voluntária na zona leste da capital paulista, Fermina espera que a lei facilite o desempenho da função e, ao mesmo tempo, ajude a reduzir os casos de discriminação contra gestantes pobres, especialmente as mais jovens. “Ainda vamos continuar enfrentando problemas. Ainda vão tentar nos barrar, mas agora teremos a lei debaixo do braço”, diz.
 
Secretário municipal de Saúde, Alexandre Padilha diz que cerca de 25% das mulheres que dão à luz na rede pública relatam algum tipo de violência. “Nós já ampliamos de 60% para 72% o índice de partos realizados com a presença de enfermeiros e obstetrizes. A doula é uma personagem a mais para garantir que o parto seja de fato humanizado”, afirma.
 
Gestante poderá contar com o acompanhamento desde o início do trabalho de parto Válida para o período de trabalho de parto, parto e pós-parto, bem como nas consultas e exames de pré-natal, a lei deve ajudar a respaldar o serviço. É o que acredita a psicóloga e doula Ana Paula Machado, 34, que cobra de R$ 150,00 a R$ 1 500,00 por gestante. “Agora, vou ter mais chamados, acredito, e deixar de ser barrada na porta dos hospitais públicos. Hoje, faço todo o acompanhamento e na hora do parto fico de fora.”
 
 
 

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Falta de transparência move as fraudes na saúde






Nunca me esqueço da expressão de surpresa do meu marido quando me ouviu contando, pela primeira vez, sobre médicos e hospitais que fazem cirurgias desnecessárias só para embolsar dinheiro da indústria de órteses e próteses.
 
Assim como ele, todos nós tendemos a alimentar a imagem do médico como um ser incapaz de fazer, deliberadamente, o mal. Ficamos chocados quando vem a informação de que, sim, ele, como qualquer outro profissional, pode cometer crimes.
 
Em janeiro, completa dois anos em que veio à tona a denúncia sobre a “máfia das próteses”. O que antes eram apenas conversas reservadas no meio médico, sempre anônimas, virou tema de uma ampla investigação da Polícia Federal e de CPIs na Câmara dos Deputados, com muitos processos e prisões.
Um dos últimos esquemas desbaratados ocorreu no Distrito Federal em setembro último. Treze pessoas foram presas na operação, entre elas sete médicos de um hospital particular, dois empresários fornecedores de próteses, diretores do hospital e outros funcionários.
 
Ao menos 60 pacientes podem ter sido vítimas da quadrilha (sem contar os planos de saúde que pagaram essa conta fraudulenta). O esquema envolvia cirurgias desnecessárias, superfaturamento de equipamentos, e uso de material vencido.
 
Entre os crimes, há casos de cirurgias sabotadas para que os pacientes precisassem ser reoperados, gerando lucros para o esquema. A polícia investiga ainda se o grupo tentou matar uma paciente para evitar que ela os delatassem.
 
Na semana passada, o assunto sobre as fraudes envolvendo órteses e próteses foi debatido no fórum de saúde suplementar, que aconteceu no Rio de Janeiro. Para tentar se proteger contra indicações desnecessárias de cirurgias, as operadoras têm realizado várias ações.
 
Irlau Machado Filho, presidente do Grupo NotreDame Intermédica, relatou, por exemplo, que a empresa adotou uma segunda opinião médica e orientações de conselhos de classe e de serviços médicos de referência. Com isso, os processos decorrentes de liminares na Justiça caíram de 57% para 33%.
 
“Antigamente, não denunciávamos o médico, mas em defesa do paciente, que é o que mais sofre, hoje estamos partindo para a denúncia. São poucos profissionais que acabam colocando a reputação dos demais em questionamento. Temos que combater a prática”, afirmou.
 
O médico Edmond Barras, chefe do serviço de clínica e cirurgia da coluna vertebral do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo, calcula que 60% dos casos de cirurgias em coluna sejam desnecessários.

“A grande vítima é o paciente. Sempre que se realiza uma cirurgia sem necessidade, o resultado é ruim. Mas como duvidar do diagnóstico de um médico?”, questionou.
 
Um bom exemplo sobre os absurdos que acontecem nessa área é o programa de coluna do Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Com adoção de um modelo de segunda opinião, reduziu em 58% a necessidade de cirurgias para casos já diagnosticados como cirúrgicos.
 
A pergunta que não quer se calar é: por que essa iniciativa não foi replicada em todos os grandes hospitais? A resposta é simples. Porque contraria muitos interesses. A equipe do Einstein recebeu muitas pressões por parte de médicos, inclusive, foi chamada a prestar esclarecimentos ao Cremesp (conselho regional de medicina).
 
MODELO DE REMUNERAÇÃO

 No caso da “máfia das próteses”, é bom lembrar que o médico não age sozinho. Muitas vezes, o hospital também é corresponsável por esses crimes. Ou porque participa diretamente do esquema, como aconteceu no Distrito Federal, ou porque faz vistas grossas, já que o médico é o “dono do paciente”. Em outras palavras, é ele, muitas vezes, que leva “clientes” para os hospitais.
 
O atual modelo de remuneração dos hospitais (quanto mais procedimentos, maior o lucro) também é um prato cheio para as más práticas em saúde (como exames feitos sem necessidade).
 
Todos perdem. Principalmente nós, pacientes, que corremos riscos desnecessários e que, no final, vamos pagar essa conta no boleto do plano de saúde.
 
Muito tem se falado sobre “compliance” no setor da saúde, ou seja, na obrigação das empresas e todos os colaboradores em cumprir leis e regulamentos, com foco na ética. Sei que há um esforço de várias entidades nesse sentido, mas é preciso ir fundo nesse conceito e não ficar apenas na perfumaria dos manuais de ética.
 
Os hospitais, por exemplo, poderiam começar por abrir suas contas, consideradas verdadeiras caixas-pretas, e os seus indicadores de qualidade, como taxas de infecção hospitalar, de mortalidade, de eventos adversos, de reinternação, etc. Cada hospital define hoje suas diárias, não há coerência dos valores cobrados e nem especificação dos produtos utilizados.
 
Também dariam uma grande lição de ética se apoiassem, de fato, a mudança do modelo de remuneração, passando a receber pelo desfecho clínico (pagamento por performance). Ou seja, quanto mais efetiva a assistência, maior a remuneração. Entidades médicas também deveriam abraçar essa ideia. Planos de saúde, idem. Mas, para isso, precisariam fazer um “pente-fino” em seus prestadores de serviço e se engajar, de fato, na busca por melhores práticas assistenciais. E não apenas na redução de despesas e maior lucro.
 
A falta de transparência no setor da saúde pública e privada é o motor que move a “máfia das próteses” e tantas outras fraudes que presenciamos no setor. Sem tocar nisso, não há chance de sustentabilidade financeira ou assistencial.
 

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Segundo estatística o número de médicos na região é maior que nos EUA




A proporção de médicos por habitante na Região de Campinas, compreendida por 42 municípios, é superior à média de países como os Estados Unidos, Canadá e Japão. O índice também está acima da média nacional, mas fica abaixo da média do Estado, como aponta a Demografia Médica Paulista, produzida pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) e pelo Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).
 
De acordo com o raio-X estatístico do setor, a densidade médica na área do Departamento Regional de Saúde 7 é de 2,61 profissionais a cada mil habitantes, acima dos EUA (2,5), Canadá (2,4) e Japão (2,1). Os números são considerados bons, mas a região não escapa do problema da concentração de alguns especialistas em áreas específicas.
 
Segundo dados do Cremesp, são 11.563 médicos para uma população de 4.433.543 habitantes das 42 cidades que compreendem o DRS 7, de Campinas. Já o Estado de São Paulo possui 123.761 médicos, o que representa uma razão de 2,79 profissionais a cada mil habitantes, superior à média nacional, de 2,1 e a terceira maior do Brasil, atrás do Distrito Federal (4,9) e do Rio de Janeiro (3,75).
 
A distribuição dos profissionais pelo Estado, entretanto, é desigual. A região com mais densidade de médicos é a de Ribeirão Preto, com 4.817 profissionais e razão de 3,32 médicos por mil habitantes, seguida pela Grande São Paulo, com 3,05 médicos por mil habitantes, São José do Rio Preto (2,75) e Campinas (2,61). “A média que o governo federal queria atingir era de 2 até 2,5 médicos por mil habitantes. Na nossa região já atingiu”, afirmou a médica Silvia Mateus, conselheira do Cremesp-Campinas. Na outra ponta, as regiões de Registro (Vale do Ribeira) e de São João da Boa Vista possuem as menores densidades de médicos: 0,86 e 1,37 profissionais a cada mil habitantes.
 
O levantamento também apontou a concentração dos médicos em algumas áreas. No Estado, 37,4% dos especialistas se concentram nas áreas de pediatria, clínica médica, cirurgia geral e ginecologia e obstetrícia. As quatro áreas com menor número de especialistas em São Paulo são medicina esportiva, radioterapia, cirurgia de mão e genética Médica. O levantamento do Cremesp aponta ainda que 59,1% dos médicos de São Paulo possuem pelo menos um título de especialista. A idade média é de 44,7 anos. “Você tem uma concentração maior nas especialidades básicas, como a clínica, a pediatria e ginecologia. Quando você vai para as especialidades cirúrgicas, a tendência é ter maior concentração naquelas que dão maior retorno financeiro, entre os médicos mais jovens”, afirmou a médica.
 
O levantamento apontou ainda que as mulheres são maioria em 14 das 53 especialidades no Estado. Em três delas, representam mais de 70% do total de profissionais: dermatologia, com 77%, alergia e imunologia, e pediatria, ambas com 72%. Os homens são maioria, mais de 80% na média, de 12 áreas cirúrgicas, incluindo ortopedia e traumatologia (93%) e urologia (98%). Dos 1.306 urologistas em atividade, apenas 26 são mulheres.
 
Qualidade em xeque
 
A médica afirma que os dados colocam em xeque a questão da qualidade. “A saída é discutir com a população o que ela quer: quantidade ou qualidade?”. Ela questiona a abertura indiscriminada de faculdades de medicina sem que haja estrutura, sem hospital escola ou com hospital escola de baixa complexidade. “Vamos ter no Estado cerca de 60 faculdades de medicina. É quase a mesma quantidade dos Estados Unidos inteiro. Então, não basta aumentar o número de faculdades, de cursos, e aumentar a quantidade de médicos. Temos que avaliar a qualidade da formação”, diz.
 
O Cremesp defende ainda a realização da prova final de curso para todos os egressos. Atualmente, já é aplicada uma prova no Estado, mas ela não impede o órgão de dar o registro. “Precisaríamos ter uma lei que nos permitisse não dar o registro para quem não passa. Defendemos isso por uma questão de proteção à sociedade.” A medida, segundo a médica, elevaria a qualidade do atendimento. “Ia aparecer menos processos no CRM e Justiça de problemas de erro médico.”
 
Para resolver o problema da concentração regional, a médica diz que o conselho defende que haja carreira de estado para médico, como ocorre com a carreira jurídica. “Não existe a carreira da forma como deveria. O ingresso deveria ocorrer por concurso público federal, para levar os médicos para municípios pequenos, distantes e conforme fossem progredindo na carreira, pudessem vir para os grandes centros. Essa seria uma saída para fixar médicos nessas regiões.”
 
Em Campinas
 
Em Campinas, a proporção de médicos por habitante trabalhando na rede municipal de saúde supera a quantidade de profissionais em 18 capitais brasileiras, segundo o estudo Perfil dos Municípios Brasileiros, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no final de agosto de 2015. “Os dados do IBGE mostraram que Campinas é a cidade com mais de 1 milhão de habitantes com maior relação de médicos por habitante no Brasil”, afirmou o secretário de Saúde Carmino de Souza. Ele ressalta que o município tem dois sistemas públicos de saúde, administrados pelo Estado, que é o complexo da Unicamp, e a rede municipal. “Se considerarmos os médicos do Ouro Verde e do Mais Médicos, temos mais de 2 mil médicos na rede municipal.”
 
Incluindo todas as redes, Campinas tem cerca de 5,5 mil, médicos o que dá uma relação de 1 a cada 200 habitantes na cidade. Ele atribui os índices ao nível de urbanização, ao grau de desenvolvimento do Estado e às universidades de medicina no município. “O Brasil tem pouco médico, mas não nas áreas desenvolvidas. Aqui temos números ideais. O desafio da interiorização está colocado mesmo no Estado. Mas não é situação de Campinas.”
 
O secretário falou de algumas “dificuldades pontuais” na rede nas áreas de ginecologia, pediatria e de médico generalista. “Esse profissional generalista temos problema para achar.” Carmino considerou que há certa regulação pelo mercado. “Se o profissional achar que não vai ter retorno ele não faz. O mercado regula muito isso, mas tenho a sensação de que estamos melhorando. As faculdades estão se direcionando no sentido do compromisso social, que o médico tem que ter.”

 

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Diariamente, 4 mulheres morrem nos hospitais por complicações do aborto


Getty Images/iStockphoto



O Brasil registra uma média de quatro mortes por dia de mulheres que buscam socorro nos hospitais por complicações do aborto. Até setembro, foram 1.215 casos. Os registros de 2015 têm padrão semelhante: de janeiro a dezembro, houve 1.664 relatos de mulheres que morreram depois de dar entrada em hospitais por complicações relacionadas à interrupção da gravidez.
 
Os números do Ministério da Saúde obtidos pelo jornal O Estado de S.Paulo apontam que o impacto da proibição do aborto para saúde das brasileiras vai muito além do que está no Sistema de Notificação de Mortalidade (SIM). O banco de dados, usado como fonte oficial, indica 54 mortes comprovadas de mulheres em decorrência da interrupção da gravidez em 2014 - último ano com estatísticas divulgadas. Pelas informações do SIM, o aborto teria sido responsável por 3,3% das mortes ligadas ao período da gravidez ou ao parto. Bem menos do que hipertensão, hemorragias ou infecções.
 
Os dados obtidos consideram mortes de pacientes nos hospitais com complicações do aborto. Mas o ministério alerta não ser possível afirmar que todos os óbitos podem ser atribuídos ao procedimento provocado, feito na maioria das vezes de forma clandestina. Técnicos justificam que as mortes poderiam ter sido causadas, por exemplo, por outros problemas que não tinham relação com a interrupção da gravidez. Ou até mesmo que o aborto tenha sido resultado de problema de saúde apresentado pela paciente.
 
"A morte por aborto é sempre subestimada em países que proíbem a prática. Seja pela clandestinidade, seja por falhas apresentadas no registro", afirmou o médico Cristião Rosa, integrante da associação Grupo Médico pelo Direito de Decidir (Global Doctors for Choice).
 
Há ainda os números envolvendo apenas as internações por complicações de aborto. Entre 2010 e 2014, os registros se aproximavam de uma média de 200 mil por ano. Os números preliminares de 2016 chegam a 123.312.
 
Pelas até então estatísticas oficiais, haveria uma morte de mulher por aborto a cada dois dias. Bem menos do que os números obtidos pelo Estado. "Um caso a cada dois dias já é uma matança. Uma tragédia que poderia ser perfeitamente evitável", diz Rosa. Ele afirma que a interrupção da gravidez quando feita com a assistência adequada é um procedimento seguro. Em casos raríssimos leva à morte. "As taxas de morte são menores, por exemplo, do que as do parto normal."
 
O médico afirma ocorrer 0,5 morte a cada 100 mil abortos legais e seguros. O indicador chega a quase zero quando a interrupção é feita até a 10ª semana de gravidez. Conforme dados obtidos pela reportagem, foram autorizados 768 abortos no País de janeiro a junho deste ano - no mesmo período do ano passado, houve 738.
 
 
Para o médico, esse dado, por si só, já seria razão suficiente para mudar as regras brasileiras e liberar a interrupção da gravidez no país. "Quantas vidas poderiam ter sido poupadas?", questiona. "Porque uma coisa é certa: criminalizar o aborto não diminui a prática. Aborto existe desde que a humanidade existe. E vai continuar existindo."
 
 
Rosa avalia que, além de não resolver o problema dos altos índices de aborto, a criminalização traz outro problema."Você joga a mulher na clandestinidade. Nessa situação, ela se coloca em risco reprodutivo e de vida."
 
 
Grupos contrários à mudança dizem temer que, com a liberação, as estatísticas de aborto aumentem de forma expressiva. Rosa reconhece haver um aumento, normalmente nos primeiros anos seguintes à mudança da regra.
 
Mas ele atribui o fenômeno à melhor informação, não a um aumento real. "As estatísticas aumentam porque o procedimento sai da clandestinidade e mais casos chegam aos serviços de saúde. "Com a liberação, os países, a sociedade, os sistemas de saúde adquirem outro nível de responsabilidade com a saúde reprodutiva. As estratégias para lidar com a gravidez indesejada são intensificadas", avalia.
 
 

Ações de governo

 
 
É justamente nessas estratégias que o governo deveria intensificar suas ações, diz ele. A primeira delas, é ampliar o acesso à educação sexual. O segundo ponto essencial, completa, é garantir métodos contraceptivos de longa duração, como DIU e implantes hormonais. "A pílula anticoncepcional tradicional em muitos casos não resolve, principalmente com adolescentes. Falta no posto de distribuição, a unidade de saúde fecha no fim de semana, ela esquece de tomar..." No Brasil, implantes hormonais não são distribuídos no Sistema Único de Saúde. "Há uma discussão eterna, mas o tema não segue adiante. Sofrem com isso sobretudo as jovens." Uma das estratégias elogiadas é a ampliação da oferta de métodos de contracepção de emergência: a pílula do dia seguinte. "O recurso é essencial. Ele evita abortos clandestinos." (As informações são do jornal O Estado de S. Paulo)
 
 
 
 

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

REDE IMIP-HOSPITALAR DA REGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE INVESTIGADA PELO MPF POR SUSPEITA DE DESVIO DE VERBAS FEDERAIS





O Ministério Público Federal, em Pernambuco, por meio da Portaria nº 56/2016, da 4º OCC/PRPE, determinou a Instauração de um Inquérito Civil Público para investigar denúncia anônima de "possíveis irregularidades, COM POSSÍVEL DESVIO DE RECURSOS FEDERAIS, em todos os  Hospitais da Rede IMIP-Hospitalar da Região Metropolitana do Recife: HOSPITAL METROPOLITANO SUL - DOM HÉLDER CÂMARA, HOSPITAL METROPOLITANO NORTE - MIGUEL ARRAES, HOSPITAL METROPOLITANO OESTE - PELÓPIDAS DA SILVEIRA".

A decisão por instaurar o Inquérito se deu no último dia 05 de dezembro e ocorreu após expedição de ofícios à Direção dos Hospitais denunciados e à Chefia de Auditoria do DENASUS, em Pernambuco, para que se manifestassem sobre as denúncias e sobre a realização de auditorias nas unidades hospitalares.

Leiam a Portaria e os Ofícios:
 



 
 

 
 
 

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Enfermeira corta dedo de bebê em Hospital de Curitiba

Criança está internada em uma ala particular do Hospital Pequeno Príncipe; colaborador foi afastado

A mãe da criança relatou o caso em sua página do Facebook

A publicação na rede social demonstra a indignação de uma mãe. Ela estava com o filho de quase um ano internado no Hospital Pequeno Príncipe em Curitiba e quando ele recebeu alta teve o dedo mindinho da mão esquerda cortado com uma tesoura por uma enfermeira.

De acordo com a mãe, quando a profissional retirava o cateter da mão da criança com uma tesoura, cortou o dedo do menino acidentalmente. A mãe revoltada escreveu que a enfermeira deveria ter retirado a fita com a mão. Veja a publicação da mãe no Facebook:

"Vejam o ponto que chegou a nossa saúde, meu menino veio consultar no hospital pequeno príncipe e se interno ,aí a enfermeira veio tirar o acesso do cateter do "braço",ficou com preguiça de tirar com a mão a fita q estava isolando e corto com a tesoura arrancando seu dedinho :(aí eu pergunto oq resolve processo psicólogo c o trauma meu filho nunca vai recuperar ficar sem o dedo com menos de 1ano de idade vou querer indenização é afastamento da enfermeira já me trouxeram para um quarto particular e meu filho está na sala de reconstrução ,isso é saúde brasileira. Alguém vai pagar a dor do meu filhoo?????"

O menino foi medicado e está internado em uma ala particular. O Hospital Pequeno Príncipe informou que o trabalhador, envolvido no caso já foi afastado e que foi formalizada uma investigação. O hospital ainda ressalta que está garantindo a assistência a família.

Confira a nota do Hospital Pequeno Príncipe na íntegra:

"O Hospital Pequeno Príncipe, principal referência em atendimento a crianças e adolescentes no Paraná, vem se manifestar diante de incidente ocorrido no dia 12 de dezembro de 2016 na admissão de paciente.

A criança, transferida de outro município, durante o procedimento de retirada de acesso venoso feito no hospital de origem, sofreu lesão em extremidade do dedo mínimo esquerdo. O Hospital Pequeno Príncipe esclarece que a retirada de acesso é medida protocolar de assistência ao paciente quando de sua chegada.

A instituição formalizou investigação e está apurando os fatos. O colaborador foi afastado. Todas as medidas possíveis estão sendo tomadas para amparar a criança e a família, e equipe multidisciplinar foi designada para acompanhamento integral do paciente.
O Hospital Pequeno Príncipe lamenta profundamente o ocorrido e reafirma seu compromisso na busca contínua de melhorias e qualidade em todas as dimensões do cuidar."
 
 
 

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Fundação para Segurança do Paciente



Criada em dezembro de 2015, a Fundação para Segurança do Paciente tem por objetivo promover a redução de danos e mortes evitáveis no cuidado à saúde, por meio da participação ativa de pacientes, profissionais da área da saúde e sociedade civil.

 
 
 
Segundo estimativa da Organização Mundial da Saúde, em todo o mundo dezenas de milhares de pessoas sofrem danos em decorrência de erros associados à assistência à saúde. Nos Estados Unidos, os eventos adversos evitáveis são a 3ª causa de morte na área da saúde, atrás somente de câncer e doenças cardiovasculares.
 
Na América Latina, o Estudo Ibero Americano de Eventos Adversos na Atenção (IBAEAS), realizado em cinco países entre 2007 e 2009, mostrou que 10,5% dos pacientes hospitalizados sofrem algum tipo de evento adverso. Destes, 58,9% poderiam ter sido evitados.
 
Nossa grande missão é desenvolver o conhecimento e o entendimento dos eventos adversos responsáveis por mortes ou lesões permanentes no cuidado à saúde. Isso será feito por meio de uma agenda de pesquisa, métodos de avaliação e identificação, disseminação e comunicação voltadas à segurança do paciente. Para isso, contamos com o envolvimento de pacientes, familiares, organizações, compradores, pesquisadores e sociedade civil como um todo.
 
A segurança do paciente na área da saúde é um pilar essencial e, portanto, se faz necessário uma forte liderança, definição de objetivos, conhecimento e projetos estruturantes que ajudem a garantir este direito.
 
Acreditamos que a atuação conjunta de instituições de saúde e pacientes seja a forma mais eficiente de enfrentar os desafios relacionados à qualidade e segurança, e com isso conseguiremos alcançar as metas estabelecidas, oferecendo mais segurança e transparência a todos.
 

Missão

 
Promover a redução do dano e mortes evitáveis no cuidado à saúde por meio da participação ativa do paciente, dos profissionais de saúde e sociedade civil.
 

Valores

  • Transparência;
  • Reconhecimento de Responsabilidade;
  • Ética;
  • Respeito;
  • Altruísmo/ solidariedade;
  • Empatia;
  • Inovação;
  • Transformação. 
 
 

domingo, 11 de dezembro de 2016

Morre Laurinha, bebê que inspirou a campanha #AcordaLaurinha




Morreu na tarde deste sábado, 10, a menina Laura Praciano Cruz, a Laurinha, que inspirou a campanha #AcordaLaurinha. Ela estava desde o nascimento, em 6 de fevereiro de 2014, em coma. O quadro foi gerado após um choque anafilático que a mãe dela, Paula Teixeira Praciano, teve durante o parto após ser medicada com o bactericida kefazol. Ambas ficaram sem oxigênio por minutos; a mãe morreu no procedimento.

Laurinha estava internada em um hospital em estado grave desde 14 de novembro, por causa de uma pneumonia. Ela ainda teve um problema renal devido a medicação, precisando fazer tratamento de hemodiálise, como contaram familiares ao O POVO Online nessa quarta-feira, 7.
 

"Estamos angustiados e aflitos, mas confiantes de que Deus nos dará forças e que agora o nosso grupo ore por Laurinha e sua mãezinha que já não fazem mais parte desse mundo", desabafou o primo Matheus Teixeira, em postagem no grupo oficial da campanha.
 
 
Relembre o caso
 
A família da menina denuncia negligência médica durante o parto. “A medicação foi administrada por uma técnica de enfermagem, por ordem do médico, que autorizou por telefone, pois ainda não estava no hospital. Ela passou mal e foi atendida por um otorrinolaringologista, que era o plantonista, e não percebeu a reação alérgica", contou o pai de Laurinha, Ádamo Cruz, em entrevista ao O POVO em dezembro de 2015.
 
Após receber alta do hospital, a família de Laurinha manteve uma UTI na casa em que moram. A menina tinha atividade cerebral, mantinha os olhos abertos, mas a visão era estática. Laurinha dependia de aparelhos para respirar e se alimentava por meio de uma sonda.
 
Criada por familiares, a campanha #AcordaLaurinha ultrapassou 115 mil membros em um grupo criado no site de relacionamentos Facebook. Além disso, adesivos e outdoors foram espalhados pela cidade com os dizeres da campanha.
 
 

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Promotoria investiga morte de 50 pacientes em Uberlândia

A família de Luciana Barbosa precisou juntar R$ 20 mil para pagar a cirurgia da avó
 dela de 68 anos em um hospital particular (Foto: Celso Ribeiro)

A Promotoria Especializada de Saúde de Uberlândia investiga a morte de aproximadamente 50 pacientes na cidade nos últimos oito meses, após terem tratamento, como cirurgia ou transferência de leitos, negados no Sistema Único de Saúde (SUS), mesmo após liminar judicial que determinava a internação. O órgão ainda estuda quais serão as providências tomadas em relação aos casos. A responsabilidade de gestão da saúde é do Município.
 
Uma das mortes investigadas aconteceu no mês passado. No dia 6 de outubro, Clarice Martins Tavares, de 77 anos, foi internada pelo filho Hélio França na UAI Planalto, na zona oeste da cidade, após sofrer um aneurisma cerebral. Segundo França, depois da internação, a mãe dele ficou vários dias na unidade, necessitando fazer uma tomografia, mas não tinha equipamentos. “Aí juntei dinheiro e pedi autorização com o médico para levá-la a um hospital particular para fazer os exames. O médico respondeu que não tinha problema e que até ajudaria a UAI se eu fizesse isso”, afirmou França.
 
exame apontou a necessidade de cirurgia imediata. “Ela continuou internada e começou a piorar. Fui no Ministério Público e conseguimos a liminar de um dia para o outro”, afirmou França. A decisão obrigava o Município a realizar a transferência para um hospital conveniado em até 24h. “Depois de mais de uma semana da liminar descumprida, ela desmaiou e, do quarto, ela foi levada para a emergência. Lá ela ficou internada por quase duas semanas”, disse. Sem conseguir a transferência, a paciente faleceu no dia 1º de novembro. “Não gosto de tocar no assunto. Fiz o que pude, mas não teve jeito”, afirmou.
 
A reportagem do CORREIO também entrou em contato com a filha de uma senhora vítima de um Acidente Vascular Cerebral (AVC), que faleceu após 32 dias internada na UAI Roosevelt, com uma liminar que obrigava a cirurgia, mas a filha disse que preferia não se manifestar.
 
A liminar também não foi suficiente para garantir a cirurgia de Ilídia Martins Freitas Barbosa, de 68 anos. De acordo com a neta dela, Luciana Costa Barbosa, a idosa se internou na UAI Tibery, na zona leste, no dia 20 de novembro, com sintomas de pancreatite. “Começaram a aplicar um antibiótico errado na veia, o que agravou o caso. Foi só piorando e ela começou a ter pneumonia e até arritmia. A gente pedia a transferência para um leito de UTI, mas a médica dizia que ela não tinha dado necrose no pâncreas e, por isso, não havia necessidade”. Cópias do relatório de laudos mostram que os médicos iam ao quarto em intervalos superiores a 24 h.
 
Dois dias após a internação, a neta fez a denúncia de negligência ao MPE, que obteve a liminar obrigando a transferência para um hospital com UTI. “Eles tinham 24h para cumprir, mas não fizeram porque não existia vaga no HC nem no Municipal. Nenhum particular aceitou porque alegaram dívidas da Prefeitura”, disse. Depois de quatro dias na UAI, após a idosa precisar ser entubada, a família da paciente reuniu R$ 20 mil e deu entrada em um hospital particular, onde a paciente permanece. “Se não tivéssemos feito isso, ela teria morrido”, afirmou.

Casos
 
A maioria das liminares obtidas para procedimentos médicos de urgência em aproximadamente 50 pacientes foram ingressadas pelo Ministério Público Estadual (MPE), mas alguns processos também são de competência do Ministério Público Federal (MPF). Os dois órgãos, em conjunto, estão reunindo os casos para decidir quais providências serão tomadas e quais pessoas poderão ser rés em ações de negligência.
 
Para o promotor de Saúde do MPE, Lúcio Flávio de Faria e Silva, não é possível afirmar que todos os óbitos seriam evitados se as liminares tivessem sido cumpridas. “Mas também não podemos dizer o contrário”, afirmou.

Lúcio Flávio Silva disse ser difícil obter resposta do Município (Foto: Celso Ribeiro)

Atualmente, a Promotoria de Saúde tem 1.450 ações em trâmite na Justiça, que pedem intervenções em pacientes internados na rede pública. Para o promotor, esse número é um reflexo da gravidade que a saúde se encontra em Uberlândia. “Sempre tentamos a medida administrativa antes da justiça, mas estamos encontrando dificuldade na obtenção de respostas por parte da gestão municipal”, disse o promotor.
 
O número de ações judiciais nos últimos anos cresceu em ritmo exponencial na cidade. Em 2010, por exemplo, foram instaurados 671 procedimentos administrativos por parte da Promotoria. Desses, apenas cinco não foram resolvidos administrativamente e se tornaram ações. Já em 2015, 1.698 procedimentos foram instaurados, nos quais 688 transformaram-se em processos judiciais. “Em 2016, estamos instaurando, em média, dez novas ações por dia”, afirmou.
 
Município
 
A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) disse, por meio de nota, que, em relação à quantidade de pedidos de transferências por meio de ordens judiciais, busca vagas diariamente em hospitais públicos e privados do Município, por meio da Central de Regulação, e em hospitais públicos fora do Município por meio da Central Estadual.
 
Ainda segundo o órgão, a crise no HC está afetando diretamente as unidades de saúde de Uberlândia e região. “Com a não transferência dos pacientes, principalmente para o HC, o uso de material hospitalar, de insumos e a dedicação dos funcionários são exigidos além do limite nas UAIs”, afirmou a nota. A secretaria afirmou também que o fluxo diário de pacientes nas seis unidades administradas pela Fundasus, apenas no pronto-socorro, é de 2800 pacientes por dia.

Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, não é possível transferir todos pacientes para o HC
 (Foto: Cleiton Borges)
 
O promotor de Saúde Lúcio Flávio de Faria e Silva informou que médicos representantes de todas as UAIs se reuniram com ele, recentemente, para apontar falhas na estrutura de condições de atendimento das unidades, como falta de seringas e medicamentos. A reportagem do CORREIO de Uberlândia percorreu, nesta semana, todas as UAIs e colheu dezenas de relatos que apontam suposta falta de eficiência no atendimento, como defasagem de profissionais, superlotação, equipamentos danificados, demora no pronto-atendimento e ausência de medicamentos e insumos.

Correio de Uberlândia

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Médico e hospital condenados a pagar R$ 140 mil por negligência

Gestante de alto risco precisou esperar 24h por cirurgia e teve infecção generalizada


Hospital pode recorrer da decisão
Foto: Google street view/Divulgação


Um médico e o Hospital Memorial de Paulista foram condenados a indenizar uma paciente grávida, com R$ 140 mil, por danos morais.A gestante de alto risco perdeu o bebê e precisou esperar 24 horas pela cirurgia de retirada do feto. A espera resultou em uma infecção generalizada e por isso foi necessária a retirada das trompas da paciente, deixando-a infértil.

A paciente diabética e com risco de parto prematuro com 39 semanas foi até o hospital se queixou de dores e informou que o feto não estava se mexendo. Contudo o médico só realizou a ultrassonografia e constatou a morte fetal no outro dia. De acordo com o Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), a decisão da juíza, Andréa Duarte Gomes, destaca a falta de atenção do médico: "o médico réu simplesmente preferiu adotar uma conduta de mera expectação, deixando de considerar as queixas da paciente, as quais deveriam ter sido observadas com maiores cautelas a partir do primeiro momento em que ela deu entrada no hospital queixando-se de dores".

Além disso, ao saber da morte fetal o médico não realizou a cirurgia imediatamente, colocando a saúde reprodutiva da paciente em risco: "mesmo após a confirmação do óbito fetal, deixou o médico de realizar, de imediato, o procedimento cirúrgico (cesariana) para a retirada do natimorto, tendo medicado a autora com a finalidade de ter ela um parto normal, situação que perdurou durante horas, pondo em risco a vida da autora diante de possível infecção, mesmo diante da suspeita de óbito fetal ocorrido há mais de 24 horas".

O Hospital foi penalizado por causa da responsabilidade solidária levando em consideração que a prestação dos serviços contratados é obrigação a ser imposta ao hospital, assim como se responsabilizar pelo mau atendimento do médico.

Além disso, o hospital e o médico precisarão pagar R$1,5 mil em danos materiais. Os réus ainda podem entrar com recurso de apelação no Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE).
 
 

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Glicosímetros distribuídos pelo governo não são precisos, denunciam pacientes

Aparelhos que medem o açúcar no sangue de pessoas com diabetes são essenciais para o tratamento, e a falta de precisão do sistema pode causar complicações graves no organismo e até mesmo levar o diabético à morte
 
Marcos Santos/USP Imagens
Glicosímetros são usados para medir nível de açúcar no sangue, informação importante na hora de aplicar insulina
 
 
“Esse glicosímetro mede sempre a mais que os outros”, “Eu usei com meu filho e não gostei. Não dá resultados precisos”, “Não é confiável”, “Péssimo”, “Como é que colocam à disposição da população um equipamento de péssima qualidade?”.
 
Esta é opinião de inúmeros diabéticos que precisam utilizar um dos glicosímetros distribuídos pelo sistema único de saúde e pelos Estados, nas ações judiciais, o Injex Sens. O principal problema é que muitos pacientes estão verificando que o resultado que aparece no aparelho para medir a glicemia é muito diferente do que aparece em outros.
 
Por lei, e seguindo as orientações da American Diabetes Association (ADA), a diferença não pode variar mais do que 15% – já que nenhum aparelho é 100% preciso –, mas a diferença verificada por um estudo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) estava bem acima disso. O aparelho foi, então, reprovado pela análise do Departamento de Patologia Clínica.
 
A jornalista Bianca Fiori, de 39 anos, descobriu ter diabetes tipo 1 há 22 anos. Atualmente, ela faz tratamento com bomba de insulina e precisa frequentemente calibrar o aparelho com os valores de glicemia que verifica pelo glicosímetro.
 
Bianca estava usando os valores do Injex Sens, quando a bomba pifou por causa de uma diferença dos níveis de glicemia. A jornalista registrava um nível, mas o aparelho verificava outro no organismo. “Parei de usá-lo há três meses. Agora passei a comprar as fitinhas, que são caras, para usar outro glicosímetro”, contou.
 
Além de prejudicar o funcionamento da bomba, a falta de precisão pode gerar graves problemas à saúde. Muitos diabéticos calculam a quantidade de insulina que devem aplicar de acordo com o nível de glicose verificado no aparelho. Caso a pessoa aplique muito mais do que deveria, pode entrar em um quadro de hipoglicemia, que pode levar à morte. Já se aplica uma quantidade menor por um tempo prolongado, o nível alto de açúcar no sangue pode provocar complicações como problemas no coração, nos rins e cegueira.
 

Solução

 
Depois de receber diversas reclamações de pacientes e de sociedades de diabetes, a Associação de Diabetes Juvenil (ADJ), que é filiada à Federação Internacional de Diabetes, passou a ir atrás de uma solução para o problema.
Apesar de os pacientes não aprovarem o uso do glicosímetro, o aparelho é liberado pela Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa). O problema verificado pela ADJ é que o registro foi concedido a partir de análise de documentos criados pelo próprio fabricante, sem ser feita uma real comprovação da precisão.
Já existe uma norma técnica que especifica o desempenho dos sistemas de monitoramento de glicose, porém o prazo para os fabricantes se adequarem ainda não se encerrou no Brasil.
 
Assembleia Legislativa de São Paulo/ Divulgação/ 17/11/2016
Especialistas debateram a falta de precisão de glicosímetros portáteis durante Audiência Pública em São Paulo
 
Em relação ao Injex Sens, a Anvisa informou que “o referido produto é registrado junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária, com prazo de vencimento do registro em 15/6/2019”. A agência orienta que problemas relacionados ao produto sejam relatados por meio do serviço de atendimento ao cidadão pelo telefone 0800 642 9782.
 
Já o Ministério da Saúde informou, em nota, que “a distribuição e dispensação dos insumos complementares destinados aos usuários insulino-dependente – como glicosímetros, tiras reagentes de medida de glicemia capilar, lancetas para punção digital e seringas com agulha acoplada para aplicação de insulina – são de responsabilidades dos Estados, municípios e Distrito Federal”.  “Eles também são responsáveis pelo financiamento, seleção, aquisição, armazenamento, controle de estoque e prazos de validades destes insumos.”
 

Audiência Pública

 
Na última quinta-feira (17), a Assembleia Legislativa de São Paulo sediou uma audiência pública para debater a falta de precisão dos glicosímetros comercializados no País. Na ocasião, o gerente de produtos para diagnósticos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Augusto Becke Geyer, afirmou que estes aparelhos são um tema recorrente na Anvisa há seis anos.
 
"Recentemente, recebemos muitas queixas que geraram discussões sobre restrições de uso, mas retirar um produto do mercado não é algo que se possa fazer em uma semana: requer a inspeção de técnicos e um rigor fiscal", afirmou. 
 
De acordo com Geyer, o registro de um produto é válido por cinco anos. "Deve-se atender aos requisitos de sensibilidade, acurácia e usabilidade, que constam da Certificação das Boas Práticas de Fabricação", finaliza. 

IG - Saúde

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

7 mitos e verdades sobre datas de validade de remédios e cosméticos

Especialistas dizem se você deve ou não se desfazer daquele produto vencido

Shuttersock
Quando um remédio chega ao mercado, isso é o resultado de uma série de estudos que determinam sua eficácia


Jogar fora medicamentos e cosméticos com prazo de validade vencido, especialmente os mais caros, nunca é uma tarefa fácil. Mas quais são os mitos e verdades sobre o assunto? Confira:
 

1) O prazo de validade é uma estratégia comercial de laboratórios para que compremos mais

 
A legislação de todos os países exigem que remédios comercializados tenham prazo de validade. O cálculo é feito após estudos científicos exaustivos. Nos Estados Unidos, por exemplo, o procedimento existe desde 1979.
 
"Há alguns anos, a Organização Mundial da Saúde decidiu que os prazos de validade não deveriam superar cinco anos", explica à BBC Mundo (o serviço em espanhol da BBC) José Ramón Azanza, diretor de farmacologia da Clínica Universidad de Navarra, na Espanha.
 
Segundo ele, o mais comum é a data de vencimento de dois anos. A médica Inmaculada Posadas, professora de Farmacologia da universidade espanhola de Castilla-La Mancha (España), afirma que a lei se aplica mesmo se o laboratório produzir fórmulas que resistam mais tempo.
 
"Podem existir medicamentos que continuem funcionando após a data de validade, mas a legislação os impede de dizer isso", afirma.
 

2) Se tomo um remédio vencido, posso passar mal

 
O que acontece a um remédio vencido? "Normalmente nada", diz Azanza. "Se alguém toma um remédio depois do vencimento, nada vai acontecer. São raríssimos os remédios que podem produzir efeitos tóxicos em pacientes após a data de validade expirar".
 
Mas tampouco o remédio poderá surtir efeito – é uma questão muito mais de eficácia de que tolerância. Azanza alerta, contudo, que nunca se pode ter certeza absoluta de que medicamentos vencidos sejam inofensivos.
 
A razão é simples: os organismo nacionais e internacionais que regulamentam a produção e comercialização de remédios não realizam estudos sobre os efeitos pós-vencimento, mas em sua eficácia durante sua vida útil. "Na farmacologia, a incerteza não é aceita porque afeta a segurança das pessoas", diz Azanza.
 
Outra razão para respeitar a data de validade é no caso de medicamentos de uso sistemático, em especial os que mantém a qualidade de vida de um paciente.
 
"Se nesses casos não respeitarmos a data de validade, o efeito negativo sobre o paciente pode ser muito grave. Por isso, é melhor termos uma data-limite e estarmos seguros de que o medicamento será eficaz no tratamento de condições mais graves", adverte Inmaculada. 
 
No artigo "Não caia na tentação de usar medicamentos vencidos", o FDA, a agência de vigilância sanitária dos Estados Unidos, indica que "certos medicamentos vencidos correm o risco de estimular a produção de bactérias e antibióticos com potência reduzida podem não atacar as infecções, desencadeando doenças mais graves e aumentando a resistência ao remédio".
 

3) Aspirinas vencidas não representam risco algum

 
Um dia não é a mesma coisa que seis meses. Mas de acordo com Inmaculada, a aspirina não deve ser utilizada muito tempo depois da data de validade porque a degradação do princípio ativo da aspirina, o ácido acetilsalicílico, forma outra substância, o salicilato, que é abrasivo e não deve ser consumido por via oral.
 
"Não há problema em consumir uma aspirina poucos dias depois da validade, mas em seis meses a quantidade de salicilato contida no comprimido é suficientemente alta para ser tóxica", explica ela.
  

4) Um medicamento pode perder sua eficácia antes da data de validade

 
"Remédios contêm substâncias químicas estáveis e instáveis, dependendo de sua composição, e do meio em que se encontram", diz Azanza.
 
Fatores como umidade, temperatura e a incidência de luz solar podem reagir com essas substâncias e modificar suas estruturas químicas. Os laboratórios garantem que um medicamento funcionará durante um determinado período de tempo, mas com um importante alerta: que seja armazenado nas devidas condições.
 
"Se o medicamento está em um entorno com mais umidade e calor que os testados em laboratório, por exemplo, ou que tenha sido exposto à luz, nada pode assegurar que a data de validade estará valendo", diz o farmacologista.
 
É importante, então, ler cuidadosamente a bula para saber como se devem guardar os medicamentos.
 

5) Vitaminas não precisam dos mesmos cuidados

 
Precisam, sim. O princípio é o mesmo. "Quando o laboratório vende um composto vitamínico, ele assegura que as vitaminas funcionarão como esperado: desde o primeiro dia ao último", assinala Inmaculada. Depois do prazo, pode haver alterações na fórmula e perda de efeito.
 

6) Um creme que não seja aberto funcionará depois da data de validade

 
"Um creme faz parte da legislação sobre produtos sanitários e tem uma data de vencimento que nos diz que, até aquele momento, terá suas propriedades adequadas", enfatiza Inmaculada.
 
"Mesmo que não seja aberto, o creme tem ingredientes que também contam com um prazo de validade médio", explica a médica.
 
E como explicar a situação na qual, depois de muito tempo sem ser usado, um tubo de creme expele uma espécie de óleo amarelado quando o abrimos?
 
"É um sinal de que o creme ficou tanto tempo sem ser usado que sua base ficou de um lado e o medicamento de outro. Pode ser usado? Talvez não vá causar danos, mas sua eficácia poderá não ser a mesma", diz Azanza.
 

7) Colírios devem ser jogados fora mesmo ainda na data de validade

 
Muitos colírios não contém conservantes para evitar problemas de irritação ocular, explica Azanza. Isso significa que, quando seus frascos são abertos, devem ser usados conforme orientação médica e jogados fora depois do tratamento, ainda que estejam dentro do prazo de validade.
 
De acordo com Azanza, o mesmo colírio não serve para o mesmo paciente, inclusive nos casos em que o problema original volte a se manifestar, pois a solução pode estar contaminda com bactérias e mesmo fungos por causa do contato com o ar.
 
Organizações de saúde recomendam que medicamentos vencidos sejam levados a locais autorizados para serem destruídos.
 
E que embora tomar um analgésico expirado em uma emergência não seja um grande problema, isso nunca deve se tornar uma prática sistemática. Além disso, os armários de remédios têm que ser limpos e renovados com regularidade.

Por BBC - IG Saúde