A proporção de médicos por habitante na Região de Campinas, compreendida por 42 municípios, é superior à média de países como os Estados Unidos, Canadá e Japão. O índice também está acima da média nacional, mas fica abaixo da média do Estado, como aponta a Demografia Médica Paulista, produzida pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) e pelo Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).
De acordo com o raio-X estatístico do setor, a densidade médica na área do Departamento Regional de Saúde 7 é de 2,61 profissionais a cada mil habitantes, acima dos EUA (2,5), Canadá (2,4) e Japão (2,1). Os números são considerados bons, mas a região não escapa do problema da concentração de alguns especialistas em áreas específicas.
Segundo dados do Cremesp, são 11.563 médicos para uma população de 4.433.543 habitantes das 42 cidades que compreendem o DRS 7, de Campinas. Já o Estado de São Paulo possui 123.761 médicos, o que representa uma razão de 2,79 profissionais a cada mil habitantes, superior à média nacional, de 2,1 e a terceira maior do Brasil, atrás do Distrito Federal (4,9) e do Rio de Janeiro (3,75).
A distribuição dos profissionais pelo Estado, entretanto, é desigual. A região com mais densidade de médicos é a de Ribeirão Preto, com 4.817 profissionais e razão de 3,32 médicos por mil habitantes, seguida pela Grande São Paulo, com 3,05 médicos por mil habitantes, São José do Rio Preto (2,75) e Campinas (2,61). “A média que o governo federal queria atingir era de 2 até 2,5 médicos por mil habitantes. Na nossa região já atingiu”, afirmou a médica Silvia Mateus, conselheira do Cremesp-Campinas. Na outra ponta, as regiões de Registro (Vale do Ribeira) e de São João da Boa Vista possuem as menores densidades de médicos: 0,86 e 1,37 profissionais a cada mil habitantes.
O levantamento também apontou a concentração dos médicos em algumas áreas. No Estado, 37,4% dos especialistas se concentram nas áreas de pediatria, clínica médica, cirurgia geral e ginecologia e obstetrícia. As quatro áreas com menor número de especialistas em São Paulo são medicina esportiva, radioterapia, cirurgia de mão e genética Médica. O levantamento do Cremesp aponta ainda que 59,1% dos médicos de São Paulo possuem pelo menos um título de especialista. A idade média é de 44,7 anos. “Você tem uma concentração maior nas especialidades básicas, como a clínica, a pediatria e ginecologia. Quando você vai para as especialidades cirúrgicas, a tendência é ter maior concentração naquelas que dão maior retorno financeiro, entre os médicos mais jovens”, afirmou a médica.
O levantamento apontou ainda que as mulheres são maioria em 14 das 53 especialidades no Estado. Em três delas, representam mais de 70% do total de profissionais: dermatologia, com 77%, alergia e imunologia, e pediatria, ambas com 72%. Os homens são maioria, mais de 80% na média, de 12 áreas cirúrgicas, incluindo ortopedia e traumatologia (93%) e urologia (98%). Dos 1.306 urologistas em atividade, apenas 26 são mulheres.
Qualidade em xeque
A médica afirma que os dados colocam em xeque a questão da qualidade. “A saída é discutir com a população o que ela quer: quantidade ou qualidade?”. Ela questiona a abertura indiscriminada de faculdades de medicina sem que haja estrutura, sem hospital escola ou com hospital escola de baixa complexidade. “Vamos ter no Estado cerca de 60 faculdades de medicina. É quase a mesma quantidade dos Estados Unidos inteiro. Então, não basta aumentar o número de faculdades, de cursos, e aumentar a quantidade de médicos. Temos que avaliar a qualidade da formação”, diz.
O Cremesp defende ainda a realização da prova final de curso para todos os egressos. Atualmente, já é aplicada uma prova no Estado, mas ela não impede o órgão de dar o registro. “Precisaríamos ter uma lei que nos permitisse não dar o registro para quem não passa. Defendemos isso por uma questão de proteção à sociedade.” A medida, segundo a médica, elevaria a qualidade do atendimento. “Ia aparecer menos processos no CRM e Justiça de problemas de erro médico.”
Para resolver o problema da concentração regional, a médica diz que o conselho defende que haja carreira de estado para médico, como ocorre com a carreira jurídica. “Não existe a carreira da forma como deveria. O ingresso deveria ocorrer por concurso público federal, para levar os médicos para municípios pequenos, distantes e conforme fossem progredindo na carreira, pudessem vir para os grandes centros. Essa seria uma saída para fixar médicos nessas regiões.”
Em Campinas
Em Campinas, a proporção de médicos por habitante trabalhando na rede municipal de saúde supera a quantidade de profissionais em 18 capitais brasileiras, segundo o estudo Perfil dos Municípios Brasileiros, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no final de agosto de 2015. “Os dados do IBGE mostraram que Campinas é a cidade com mais de 1 milhão de habitantes com maior relação de médicos por habitante no Brasil”, afirmou o secretário de Saúde Carmino de Souza. Ele ressalta que o município tem dois sistemas públicos de saúde, administrados pelo Estado, que é o complexo da Unicamp, e a rede municipal. “Se considerarmos os médicos do Ouro Verde e do Mais Médicos, temos mais de 2 mil médicos na rede municipal.”
Incluindo todas as redes, Campinas tem cerca de 5,5 mil, médicos o que dá uma relação de 1 a cada 200 habitantes na cidade. Ele atribui os índices ao nível de urbanização, ao grau de desenvolvimento do Estado e às universidades de medicina no município. “O Brasil tem pouco médico, mas não nas áreas desenvolvidas. Aqui temos números ideais. O desafio da interiorização está colocado mesmo no Estado. Mas não é situação de Campinas.”
O secretário falou de algumas “dificuldades pontuais” na rede nas áreas de ginecologia, pediatria e de médico generalista. “Esse profissional generalista temos problema para achar.” Carmino considerou que há certa regulação pelo mercado. “Se o profissional achar que não vai ter retorno ele não faz. O mercado regula muito isso, mas tenho a sensação de que estamos melhorando. As faculdades estão se direcionando no sentido do compromisso social, que o médico tem que ter.”
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