Segundo a denúncia, o médico plantonista não deu atendimento à paciente quando foi chamado pelas enfermeiras
Uma servidora do Hospital Regional de Sorriso (420km ao norte de Cuiabá-MT) afirmou que a idosa picada por uma cobra foi vítima de negligência médica ao chegar unidade de saúde. A acusação foi feita ao programa Cidade Alerta da TV Sorriso. Marilene Freitas Cervantes, de 62 anos, morreu nesta segunda-feira (23). Segundo a denúncia, o médico ficou até o fim do plantão no hospital, mas não voltou para olhar a paciente que estava na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), mesmo sendo chamado algumas vezes pelos enfermeiros.
Marilene deu entrada na UPA 24h em Sinop (500km ao norte da Capital), na noite da quinta-feira (19), por picada de cobra e recebeu os atendimentos iniciais necessários, de acordo com nota da assessoria de imprensa da prefeitura. Por falta de soro antiofídico na unidade de Sinop, ela foi encaminhada para o Hospital Regional de Sorriso. No dia do falecimento, a prefeitura de Sinop informou que Marilene teve “choque neurogênico, hemorragia cerebral difusa e acidente botrópico e hipertensão arterial severa”.
A servidora disse que Marilene recebeu medicamento ao chegar no HRS e fez novos exames. “Ela não tinha anticoagulante e a pressão dela subiu muito. A enfermeira do plantão chamou por várias vezes o médico, que não deu atenção. A pressão subiu muito e ela teve uma hemorragia cerebral”, relatou.
Segundo a servidora, a paciente ficou no box de pronto atendimento sem receber a visita do médico até a troca de plantão, quando uma médica a encaminhou para a UTI com o estado de saúde agravado. “Ela foi entubada e levada para a UTI depois da troca de plantão. Daí foi diagnosticado que faltou ter feito mais anticoagulante, o antídoto do remédio de cobra, que foi feito só quatro ampolas. Ele [o médico] deveria ter atendido, mas não atendeu”, disse à reportagem da TV que tudo foi prescrito no prontuário de Marilene.
“Eu acho que foi um descaso médico. Porque se o médico sabia que estava tendo o anticoagulante, tinha o remédio no hospital e ele não foi atender, deixou a paciente em estado grave, eu acho que a família tem que recorrer”, declarou a servidora ao relatou que o médico foi atrás do prontuário e tentou rasgar o documento feito pela enfermeira, onde é relatado todo o histórico do paciente.
Em nota a Secretaria de Estado de Saúde (SES) disse que “a direção do Hospital Regional de Sorriso assegura que foi ofertado à paciente Marilene Freitas todo o atendimento necessário com aplicação de soro antiofídico e internação na UTI adulta do hospital. Sobre a denúncia de negligencia no atendimento à paciente, a SES informa que irá apurar a veracidade por meio de um processo administrativo. Caso as falhas se comprovem, o caso será encaminhado para o Conselho da classe para providências cabíveis”.
Também por nota foi informado que a produção do soro é repassada pelo Governo Federal e a distribuição aos municípios é feita pela Secretaria Estadual de Saúde. Mas, desde o primeiro semestre do ano passado, ocorreram mudanças nessa distribuição aos municípios.
Alguns profissionais de saúde do Hospital Regional de Sorriso enviaram um parecer quanto ao atendimento de Marilene. “A paciente estava hipertensa e é bem possível que tenha evoluído com AVC. O exame de coagulograma mostrou que estava incoagulável, o que poderia ter causado hemorragia. Mas, o efeito ou a dose administrada de antiofídico na paciente não mudaria o quadro evolutivo”, diz trecho.
Quanto à “negligência ou não” do atendimento, foi informado que a direção vai solicitar à Comissão de Ética para apurar o caso. Ressaltaram quanto à falta de soro antiofídico no país também deva ser notificado.
“Vale ressaltar que a falha se encontra na falta de soro antiofídicos em todo o Brasil. Portanto, não podem crucificar um médico, sem antes apurar os fatos, haja vista que o profissional não se ausentou do plantão em nenhum momento. Isso já é fato comprovado, pois existem câmeras de vigilância no Hospital Regional de Sorriso. O médico ainda viu e prescreveu as medicações para a paciente na madrugada. Notifiquem bem quanto ao problema da falta de soro, pois, talvez, se a paciente recebesse as primeiras doses na UPA de Sinop poderia ter sido evitada a morte dela”.
A equipe da reportagem tentou contato com a direção do Hospital Regional para falar sobre o caso, mas não houve retorno. Já o médico denunciado pela servidora também foi procurado, mas não foi localizado.
Veja a reportagem da TV Cidade Alerta de Sorriso.
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