Não é de hoje que os campistas que usufruem dos serviços públicos de saúde em Campos dos Goytacazes reclamam da falta de estrutura nas unidades hospitalares da cidade. No início de 2017, a nova administração municipal garantiu que esse setor seria priorizado, mas problemas econômicos surgiram e aqueles, antigos, relacionados aos atendimentos médicos, não cessaram. Nos primeiros dias de 2018, o mecânico Jones Martins, conhecido como Faustão, de 71 anos, morreu no Hospital Geral de Guarus (HGG) e o filho dele, o fotógrafo e representante comercial, Márcio Martins, garante que a principal causa da morte foi “negligência médica”. Ele levou o caso à 146ª Delegacia da Polícia Civil de Guarus, que intimou a administração do HGG a prestar depoimento sobre o assunto.
Márcio contou que o seu pai, Jones, sentia fortes dores abdominais em decorrência de pedras na vesícula. Ele foi encaminhado ao HGG, onde permaneceu internado por 46 dias aguardando o procedimento cirúrgico, até vir a óbito na última quarta-feira (3 de janeiro de 2018). Segundo Márcio, Jones precisaria passar por uma cirurgia para a extração das pedras, mas devido às altas taxas de glicose e pressão arterial, a cirurgia foi adiada. Ele, então, foi internado a fim de ter o quadro de saúde estabilizado, mas complicações o levaram à Unidade de Terapia Intensiva (UTI), onde permaneceu respirando com a ajuda de aparelhos até a segunda quinzena do mês de dezembro.
Durante este período de internação, Márcio pôde observar uma série de irregularidades no HGG, como sujeiras que poderiam contribuir para a proliferação de bactérias, invasão de insetos no período da noite, entre outros problemas.
“Os profissionais que trabalham no HGG não têm as mínimas condições de prestarem um atendimento com o mínimo de qualidade, falta tudo! E não adianta dizerem que a Secretaria de Saúde não tem dinheiro, pois não existe nem o básico nessa unidade hospitalar. Falta de material de limpeza, de higiene… Os matos atrás da unidade estão chegando nas janelas das clínicas, o que faz surgir insetos, moscas varejeiras, e a noite as enfermeiras têm que desligar as luzes, pois são tantos insetos noturnos que podem entrar pela traqueostomia dos pacientes. E sem contar no cúmulo do absurdo: estão reciclando até os sacos de lixos com materiais infectados”, contou Márcio.
Entre o Natal e o Réveillon, Jones foi removido da UTI e levado para a Clínica Médica, mesmo com o quadro de saúde instável. Por cinco dias, Márcio fez uma série de solicitações a fim de retornarem o seu pai à Unidade de Terapia Intensiva. Para isso, ele precisou provar de diversas formas que Jones estava, de fato, em estado gravíssimo e que precisaria de atendimento especializado. Segundo o fotógrafo, Jones foi diagnosticado com pancreatite aguda grave, colecistite aguda e septisemia.
Somente após cinco dias de luta, Márcio conseguiu que o seu pai retornasse à UTI. “Para isso tive que ‘brigar’ e ir diretamente ao diretor clínico do HGG, Dr. Leonardo Couto, para que o próprio fizesse uma avaliação e imediatamente diagnosticado. Segundo as suas próprias palavras do médico, meu pai estava ‘em gravíssimo e não poderia estar ali [na Clínica Médica]’”, contou. Ele reclamou ainda que procurou ajuda na Ouvidoria do hospital, mas nada foi feito.
Após toda essa via crucis, que foi compartilhada nas redes sociais de Márcio, no dia 2 de janeiro, Jones veio à óbito. “Mataram meu pai!!! Alguém irá responder na polícia esse crime de negligência médica. Quantos Jones Martins terão que morrer para melhorarem a situação no atendimento dos pacientes neste hospital?”, denunciou.
No dia seguinte, Márcio registrou a ocorrência nos órgãos competentes. “A culpa não é dos funcionários; nem eles conhecem a secretária de Saúde. Existem bons profissionais ali, mas não há o mínimo de estrutura. Eles não podem fazer milagre”, declarou.
Há 46 anos, Jones Martins era proprietário de uma oficina mecânica situada próximo ao Estádio do Goytacaz Futebol Clube, na área central de Campos.
RESPOSTA DA PREFEITURA DE CAMPOS
A direção do Hospital Geral de Guarus (HGG) explicou que o paciente em questão passou por avaliação do corpo médico e foi encaminhado para a Unidade para Pacientes Graves (UPG) assim que necessário ao seu quadro. O paciente, idoso, possuía quadro estável enquanto internado na enfermaria da clínica médica, recebendo cuidados constantes, inclusive com tratamentos pontuais, relativos ao caso.
A direção informa, ainda, que quaisquer esclarecimentos sobre o atendimento prestado ao paciente em questão, através do HGG, serão apresentados às autoridades competentes, caso se faça necessário.
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