Dois empresários e um enfermeiro foram detidos por vender 2.536 produtos descartáveis reutilizados
Alguns dos materiais ortopédicos utilizados - Foto: Kaique Dias |
Após dois empresários e um enfermeiro serem presos nesta terça-feira (16), suspeitos de adulterar produtos cirúrgicos para obter mais lucro, a polícia também investiga a participação de médicos e operadoras de planos de saúde e hospitais nas ações. As detenções são fruto da Operação Lama Cirúrgica, da Polícia Civil.
A situação, no entanto, foi apenas citada pelos delegados responsáveis pela investigação e pelo secretário de segurança pública, André Garcia, que disseram que esse fato ainda será objeto de futuras investigações. O secretário, no entanto, deixa claro que a ação não é isolada e há um grupo criminoso responsável pelas fraudes.
“Como se trata de uma ação que envolve a reutilização de material que é de conhecimento de profissionais da área da saúde, não está descartado. Não se trata de uma ação isolada, mas de uma questão que tem outros atores envolvidos”, disse.
O delegado chefe do Núcleo de repressão às Organizações Criminosas e à Corrupção (Nuroc), Rafael Ramos, também acredita na possibilidade de médicos e outros profissionais da saúde serem coniventes com essas situações. "Temos médicos que com certeza sabiam do que estava acontecendo, mas outros não”, afirmou, sem dar muitos detalhes para não atrapalhar as investigações.
Quatro grandes hospitais e planos de saúde são clientes da Golden Hospitalar, mas não há comprovação de que os produtos adulterados estavam nessas unidades e por isso os nomes não serão divulgados. Ramos explica que os hospitais têm responsabilidade pela fiscalização dos produtos utilizados.
“Essa fiscalização não foi feita efetivamente. Vamos verificar se houve falhas, omissão, se existe responsáveis se aproveitando disso também. Esse material é pago, a utilização é paga", disse.
A operação é comandada Nuroc e aconteceu em Vitória e na Serra. As investigações apontam que os detidos reutilizaram 2.536 vezes produtos descartáveis utilizados para procedimentos ortopédicos em hospitais particulares.
Os empresários Gustavo Deriz Chagas e Marcos Roberto Krohling Stein - proprietários da Golden Hospitalar -, e o enfermeiro, técnico da empresa, Thiago Waiyn, foram presos e são acusados de lavagem de dinheiro, formação de organização criminosa, estelionato, falsidade ideológica e adulteração de produtos medicinais.
De acordo com a polícia, os produtos eram reprocessados ilicitamente e utilizados em procedimentos cirúrgicos na área ortopédica em hospitais privados. A reutilização de produtos descartáveis é proibida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
O Nuroc chegou até os criminosos depois de receber uma denúncia anônima em um hospital particular da Serra em outubro do ano passado. Os empresários e o enfermeiro são acusados de lavagem de dinheiro, formação de organização criminosa, estelionato, falsidade ideológica e adulteração de produtos medicinais.
Em e-mails registrados pela Polícia Civil, o enfermeiro, que é responsável técnico da empresa, pede a impressão à uma gráfica de novas etiquetas, com a alteração de letras nos lotes e datas de validade, para que o produto pareça novo.
“Não diria que é uma falsificação grosseira. Ele colocou dados, substituiu letras e fez uma fraude sobre a informação. Ele reimprimiu. Ninguém vê que tem uma fraude, porque não é uma fraude física, em que algo foi apagado. Eles forjaram os dados”, explicou Rafael Ramos.
Essa foi a primeira fase da operação. A Polícia Civil quer saber também quer saber se a mesma fraude acontece em outras áreas e outras empresas, além da Golden Hospitalar.
As investigações prometem também identificar a existência de fraude em produtos reprocessados, que são vendidos como novos e originais fossem, em prejuízo de operadoras de plano de saúde e seus beneficiários. O Nuroc ainda investiga a participação de hospitais privados e distribuidoras de produtos para a saúde atuantes em Vitória, Serra, Cariacica e Vila Velha.
A Golden Hospitalar foi procurada pela reportagem da TV Gazeta na sede da empresa, mas nenhum funcionário atendeu à reportagem.
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