segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Médicos lançam campanha para evitar ‘overdose’ de exames em pacientes



Sociedades médicas do Brasil, especificamente de Cardiologia e Medicina de Família, estão implantando em nosso país uma campanha que já acontece em outros lugares do mundo e tem como intuito evitar os riscos da chamada “epidemia de diagnósticos”.
 
Iniciada nos EUA, a campanha ‘Choosing Wisely’ (escolhendo com sabedoria) se dá pelos exames em grande quantidade que são pedidos por alguns médicos, podendo causar danos em determinados pacientes. Baseado principalmente nesse fatos,  André Volschan, coordenador do Centro de Estudos do Hospital Pró-Cardíaco, no Rio de Janeiro, é um dos entusiastas.
 
“Com exames mais sofisticados, os diagnósticos e tratamentos aumentaram. Mas a mortalidade não caiu para nenhum tipo de câncer, nem para doenças cardiovasculares, segundo pesquisas. Certos procedimentos têm efeitos colaterais piores que algumas formas das doenças.” Afirmou.
 
Mas existe também quem entenda que esse não é o melhor caminho. O presidente da Sociedade Brasileira de Patologia, Clóvis Klock, acredita na importância dos diferentes exames em determinados casos.
 
“Temos que trabalhar com o máximo possível de prevenção, especialmente a do câncer. Falsos positivos são evitados com investigações posteriores mais complexas, como biópsias.” Argumentou.
 
Esclarecimentos sobre o programa
 
O principal objetivo dos idealizadores, que ganhou apoio da Fundação Oswaldo Cruz, não é a imposição, mas sim estimular os médicos pelo país a criarem suas listas de procedimentos a serem evitados.
 
“O excesso é uma forma que alguns profissionais têm de parecerem competentes. É também uma questão mercantilista. Vivemos de procedimentos realizados. Às vezes, a remuneração por exame é baixa, então muitos são pedidos, o que é uma distorção.” Opinou o cardiologista Luís Cláudio Correia, do Hospital São Rafael, em Salvador.
 
Correia, um dos responsáveis por trazer os conceitos do ‘Choosing Wisely’ para o Brasil, completou dizendo:
“Precisamos ser mais científicos, o que requer a humildade de reconhecer que não temos controle sobre o destino, mas capacidade de reduzir a probabilidade de eventos adversos.” Concluiu.
 
 

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Erros em hospitais podem matar mais gente no Brasil do que câncer

Segundo estimativa, falhas durante internações podem ter matado até 434 mil pessoas no Brasil no ano passado. Prejuízo com erros pode chegar a R$ 15 bilhões

Mulher recebendo tratamento em hospital (Thinkstock/)


São Paulo – Até 434 mil pessoas podem ter morrido em 2015 por erros de atendimento enquanto estavam hospitalizadas nos sistemas público e privado de saúde no Brasil. É o que estima um estudo inédito da Universidade Federal de Minas Gerais  (UFMG) e do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) que será divulgado nesta quarta-feira durante evento em São Paulo.
 
Para chegar a esses dados, a equipe de pesquisadores extrapolou resultados obtidos em uma pesquisa de grupo para o número de internações em todos o país.
 
A constatação: se todos os hospitais do Brasil tivessem um elevado grau de qualidade e acreditação internacional, o número de óbitos por problemas hospitalares seria de 104 mil em um ano. Em condições mais realistas, o número seria de 434 mil mortes.
 
Isso significa que a cada três minutos, dois brasileiros podem ter morrido em 2015  por problemas durante a internação, como erros na aplicação de medicamentos ou infecção hospitalar.
 
De acordo com o estudo, no primeiro cenário, essas mortes seriam a quinta causa de óbitos no Brasil. Na perspectiva mais realista, a primeira ou segunda – à frente das doenças do aparelho circulatório (que mataram 339.672 pessoas em 2013) ou câncer (que respondeu por 196.954 óbitos em 2013).
 
Nos Estados Unidos, falhas no atendimento a pacientes internados são a terceira causa de morte – atrás das doenças cardiovasculares e câncer. Das 421 milhões de internações que ocorrem no mundo, pelo menos, 42,7 milhões apresentam um evento adverso (falhas de processo durante a hospitalização que poderiam ser evitadas).
 
“A culpa por esses eventos adversos raramente é de uma só pessoa. A origem, geralmente, está na organização do trabalho”, afirma Renato Couto, professor da Faculdade de Medicina da UFMG e um dos autores do estudo. Estima-se que 60% dessas falhas poderiam ser prevenidas.
 
Transparência
 
O problema por aqui é a falta de transparência que pauta o processo. No Brasil, os hospitais não são obrigados a divulgar indicadores de qualidade, como tempo de internação ou número de mortes decorrentes de infecções hospitalares, por exemplo.
 
“Em qualquer sistema de saúde desenvolvido, essa divulgação é pública. Assim como qualquer empresa de capital aberto tem que mostrar sua demonstração financeira, é preciso ter transparência sobre os indicadores de segurança e qualidade”, afirma Luiz Augusto Carneiro, superintendente-executivo do IESS.
 
Eficácia
 
Além da falta de transparência, hospitais pouco eficientes – e com elevados índices de eventos adversos – podem ser beneficiados pelo método de pagamentos que vigora no Brasil. Hoje, segundo o estudo, o modelo de compra de serviços hospitalares na saúde suplementar remunera o procedimento realizado e não o resultado gerado. Fato que pode favorecer estabelecimentos que mantém pacientes por mais tempo internados, por exemplo.
 
Suponha que uma pessoa é internada para tratar uma pneumonia, mas acaba contraindo uma infecção hospitalar e, portanto, precisa mais passar mais tempo hospitalizado. Em vez de ser punido por não ter prevenido o quadro de infecção, o hospital ganha mais exatamente pelo tempo a mais que o paciente teve que ficar por lá. “A falta de o e esse modelo de remuneração é uma qualidade explosiva que transforma a saúde em uma caixa preta”, diz Carneiro, do IESS.
 
Um modelo de pagamento comum em outros sistemas é o pagamento por diagnóstico e por performance. Por meio dessas modalidades, cada diagnóstico e risco têm um preço definido pelas operadoras e “se o paciente tiver alguma piora até o desfecho, o prestador do serviço recebe menos”, diz o especialista.
 
Para evitar manobras para melhorar os indicadores, como dar alta para pacientes que deveriam continuar hospitalizados, esse sistema pode penalizar os hospitais em casos de novas internações em até 30 dias devido a complicações – já que isso pode denotar que o problema não teria sido resolvido em um primeiro momento. Na rede pública, segundo Carneiro, tal método poderia ser utilizado para alocar mais recursos em hospitais com maior produtividade ou com especializações mais complexas, como é feito no sistema português.
 
O estudo estima que, por ano, o sistema de saúde complementar perca  entre 5,19 bilhões e 15,57 bilhões de reais com esses problemas decorrentes de erros de processo em hospitais. “O caro em medicina é o que a gente não consegue entregar”, afirma Couto.

 

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

A cada 3 minutos, mais de 2 brasileiros morrem por falhas médicas evitáveis

 



A cada três minutos mais de dois brasileiros (2,47 exatamente) morrem em um hospital por consequência de um erro que poderia ser evitado. Essas falhas são chamadas de "eventos adversos", que representam erros como a má dosagem de medicamentos ou uso incorreto de equipamentos. Um estudo feito pela Faculdade de Medicina da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e pelo IESS (Instituto de Estudos de Saúde Suplementar), divulgado nesta quarta-feira (26), mostra que os erros podem ser uma das principais causas de morte do país.
 
Analisando artigos já publicados, os pesquisadores estimam que só no ano passado 434,11 mil óbitos foram provocados por falhas no sistema de saúde nacional (tanto público quanto privado). O número representa 1,19 mil pessoas morrendo por dia devido a erros evitáveis. Para efeito de comparação, em 2013 o Ministério da Saúde informou que as doenças cérebro vasculares foram as que mais mataram os brasileiros, registrando 100 mil óbitos.
 
Além das vidas perdidas, o estudo projeta que, em 2015, os eventos adversos consumiram de R$ 5,19 bilhões a R$ 15,57 bilhões de recursos da saúde privada brasileira. Não há valores de perdas para o SUS.

"Os eventos adversos causam mortes e desperdícios de verbas de um sistema de saúde que sofre com a falta de recursos. A transparência na divulgação dos dados e evitar as falhas ajudam os pacientes e cortam desperdícios" médico que participou do estudo Renato Couto, da UFMG
 

O erro é do médico?

 
 
Quando falamos "falhas médicas" buscamos um culpado e podemos imaginar que o erro tenha sido de um médico ou enfermeiro. Porém, Luiz Augusto Carneiro, superintendente executivo do IESS, afirma que existe uma política de não culpar o profissional de saúde.

"Errar é humano, não queremos culpar um médico e sim mostrar como o processo de segurança na saúde precisa ser melhorado para evitar mortes", afirma.
 
O superintendente explica que nos Estados Unidos, por exemplo, notaram que os eventos adversos mais prevalentes eram com medicamentos. Para diminuir as falhas, hospitais adotaram medidas preventivas como fazer com que o funcionário que distribui os medicamentos use uma camisa com os dizeres: "Não fale comigo" e ainda usa fone de ouvido para não distrair. Também colocam gavetas nos carrinhos de remédios que só abrem se o funcionário passar o código da pulseira do paciente.
 

Como diminuir as falhas?

 
Atualmente, os hospitais não informam quantas mortes ou complicações acontecem por eventos adversos, e os pacientes podem nem saber que esse tipo de falha ocorre.
 
"A escolha de um hospital se baseia na qualidade, na recomendação de um médico...Mas ninguém tem condições de garantir que tal prestador é qualificado, simplesmente porque desconhecemos seus indicadores de qualidade" afirma Luiz Augusto Carneiro do IESS.
 
Uma das propostas de solução do estudo é que os hospitais comecem a divulgar quais são as consequências dessas falhas para o paciente. Uma vez que a população tenha acesso à informação a cobrança por melhorias aumenta, e os hospitais serão pressionados a melhorar seus sistemas de trabalho para resolver as questões.
 
E essa iniciativa não precisa partir do Ministério da Saúde exatamente. Nos Estados Unidos, empresas que contratam planos de saúde fizeram um site com um enorme banco de dados avaliando condições de hospitais. O sucesso foi tamanho que hoje em dia 48% dos americanos escolhe seu hospital de acordo com os dados do site.
 
"Depois da divulgação, os hospitais precisam atuar em três frentes: nas estruturas das instalações, com bons equipamentos e boa equipe, no funcionamento integrado dos recursos, não adianta a melhor máquina se não tiver funcionários que operem bem, e por último mensurar resultados, para calcular metas e acompanhar sua evolução", explica Couto.
 
 

Mais conhecimento sobre os pacientes e evolução dos medicamentos deixaram anestesias mais seguras



Fonte: Dr. Enis Donizetti Silva, anestesista e diretor de defesa profissional da Sociedade Brasileira de Anestesiologia e da comissão de ética do Hospital Sírio-Libanês.

A anestesia é segura? Esta é uma das principais perguntas de quem vai se submeter a procedimentos com anestesia ou sedação. E a resposta é invariavelmente “sim”. Com o avanço da medicina, estão tornando-se raras as complicações em decorrência das anestesias nos grandes hospitais.
 
Em primeiro lugar, houve um enorme progresso em relação à avaliação do paciente a ser submetido à anestesia, explica o dr. Enis Donizetti Silva, anestesista no Hospital Sírio-Libanês e diretor de defesa profissional da Sociedade Brasileira de Anestesiologia. “Antes de aplicarmos a anestesia, procuramos saber com detalhes as condições física e psíquica de cada paciente”, explica.
 
Pessoas que fumam, obesos, hipertensos, sedentários, diabéticos, aqueles em uso de algum medicamento ou que já foram submetidos a outras anestesias merecem cuidados especiais, por exemplo.
 
No Hospital Sírio-Libanês, depois dessa avaliação, uma equipe multidisciplinar discute com o paciente ou seus familiares o tipo de anestesia a ser usada (geral, parcial/regional ou local/sedação), seus benefícios e riscos. Com essas informações, cria-se um plano com medicações e doses diferentes, conforme o perfil de cada paciente. Para algumas pessoas pode ser necessário realizar exames extras ou consultas com outros especialistas para compor o quadro completo da avaliação pré-anestésica.
 
Além de conhecer melhor os pacientes, os procedimentos anestésicos se tornaram mais seguros devido às modernas tecnologias de monitorização dos pacientes, ao desenvolvimento de novos medicamentos e à capacitação dos médicos.
 
Hoje, enquanto o paciente está anestesiado, equipamentos modernos fazem o controle de sua pressão arterial, seu ritmo cardíaco, sua respiração e sua temperatura, por exemplo. A necessidade de sedação pode também ser estimada ao longo da cirurgia, de modo a administrarem-se apenas as quantidades necessárias de medicamento. Além disso, alguns novos medicamentos são capazes de agir apenas nas moléculas do sistema nervoso, produzindo os efeitos desejáveis dos anestésicos, com menos riscos e efeitos colaterais; e os médicos anestesistas são profissionais cada vez mais especializados.
 
A anestesia dura o tempo necessário para que o cirurgião faça seu trabalho. Não existem pessoas que não podem tomar nenhum tipo de anestesia nem quem seja totalmente resistente a essa intervenção. Por isso, o anestesiologista faz uma avaliação e escolhe o medicamento e a dose indicada para cada paciente e procedimento.
 
Quais são os possíveis riscos da anestesia?
 
Embora os eventos adversos envolvendo o processo da anestesia estejam menos frequentes, eles podem ocorrer. Aproximadamente 60% deles se referem à própria anestesia, quando há erro na escolha do medicamento ou da dose. Mas esses problemas podem também estar mais diretamente relacionados à cirurgia ou à condição física do paciente.
 
As complicações envolvendo a anestesia geralmente são respiratórias, cardiovasculares e alérgicas. As chances de esses problemas levarem à morte variam conforme as condições do hospital, especialmente os recursos tecnológicos disponíveis e a qualidade dos profissionais envolvidos. Nos melhores centros hospitalares do País, a incidência de complicação situa-se em torno de 0,4% a 0,6%, podendo atingir entre 5% e 7% nos locais com menos recursos.
 
Saiba mais sobre as anestesias no infográfico abaixo:



 

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Papo de Domingo: ‘Sempre há algo a fazer pelo paciente’

Oncologista André Perdicaris fala sobre a comunicação verbal e não verbal como recurso terapêutico no tratamento do câncer

"Eu sou cirurgião. Tenho pleno conhecimento de que na hora em que eu coloco
um bisturi em  cima de alguém eu só estou reequilibrando forças lá dentro
A Foto: Matheus Tagé/DL


“O câncer é um erro de informação. Uma guerra civil celular”. A fala do médico cirurgião cancerologista André Perdicaris define de forma simples uma doença complexa e de difícil controle. Por se desenvolver dentro das células do corpo humano, o câncer não é um inimigo estranho: ele pode estar adormecido em nossos genes, podendo despertar a qualquer instante.
 
No mês da conscientização sobre o câncer que mais mata mulheres no mundo, o Diário do Litoral faz uma série especial de reportagens sobre a doença, os tratamentos, e os direitos dos portadores, além de reportar histórias de luta e superação.
 
Para abrir a série especial, o Diário do Litoral conversou com o médico cirurgião cancerologista André Perdicaris. Aos 73 anos, sendo 54 deles dedicamos a medicina, o profissional fala sobre a importância da comunicação verbal e não verbal como recurso terapêutico no tratamento da doença.
 
Diário do Litoral - Quais são os desafios para o tratamento do câncer?
 
André Perdicaris – O cancêr é uma doença que tem aspectos multifatoriais e esse é o problema para a prevenção. Primeiro, nós temos no Brasil um grande desafio que são os números exatos da doença. No Instituto Nacional de Câncer (Inca) José Alencar Gomes da Silva a estimativa são 596 mil novos casos de câncer em 2016. No entanto, esse número é subestimado. Os registros em base populacional, hospitalar e os que vêm dos laboratórios de anatomia patológica e dos atestados de óbitos não trazem números perfeitos. Qualquer programa de saúde eficaz necessita de números razoavelmente exatos, para que você tenha verba e orçamento para fazer frente a doença.
 
DL – Há outras barreiras?
 
André – Muitas outras. Alguns aparelhos de mamógrafos do Sistema Único de Saúde estão inoperantes. Aquela lei que preconiza que o primeiro tratamento deva ser feito até os 60 dias não é cumprida. Pegamos na faculdade pessoas que ficam rodando até conseguir entrar no sistema e quando conseguem, entram tardiamente.
 
DL – O senhor escreveu um livro sobre as novas fronteiras na comunicação médica. Nele, cita que é preciso empregar a linguagem verbal e não verbal como recurso terapêutico no tratamento da doença. Fale um pouco sobre isso.
 
André – Há um termo na medicina denominado iatrogenia por atos, que significa o erro médico por atos. Hoje é possível dizer que temos o erro médico por comunicação inadequada. A palavra, o gesto, o olhar ou o silêncio, podem ser mais cortantes que o mais afiado bisturi ou mais analgésico que o mais potente entorpecente. Sempre tem algo a fazer pelo paciente. Ninguém entra na minha sala para comprar uma passagem para Bariloche. Eles entram com medo, muitas vezes para pedir uma segunda ou terceira opinião. É preciso ter empatia e cuidado. Eu sempre digo para os meus alunos: se você conjugar o verbo medicar na primeira pessoa do singular você vai melhorar a conjugação na terceira pessoa do singular: o ele. E principalmente na primeira do plural: o nós.
 
DL – O Brasil forma médicos com essa empatia?
 
André – O ensino médico no Brasil não tem um estudo normativo sobre o câncer. Ele é dado em todas as áreas, mas não com ênfase no social, econômico, biológico e espiritual. Não sabemos muito bem qual o perfil do médico que queremos formar. Ele vai agir onde? Ele vai atender e se dedicar a atenção básica? Isso é interessante, pois o aluno entra na faculdade com a ideia de querer tratar e hoje temos o conceito de primeiramente prevenir. E para prevenir precisamos saber muito sobre saúde.
 
DL – O senhor citou que é preciso olhar outros fatores na hora do tratamento, como questões culturais e espirituais. Como o senhor classifica isso?
 
André - Eu sou cirurgião. Tenho pleno conhecimento de que na hora em que eu coloco um bisturi em cima de alguém eu só estou reequilibrando forças lá dentro. É lá dentro que está o sistema imunológico, a resposta metabólica, a vontade de viver ou não e ali está também a cicatrização. Claro que eu vou contribuir para que isso fique harmônico, mas tenho em mente principalmente que vou adentrar dentro de um organismo que vai receber a minha ação mecânica para resolver problemas que não somente a ação mecânica resolve. Muitas vezes você cura um câncer do ponto de vista físico, mas ele continua no emocional
.
DL – Tudo se resume na necessidade de humanizar e individualizar o tratamento?
 
André - A medicina é baseada em um tripé:técnica, bom senso e humanismo. O médico precisa avaliar muito bem qual é o momento de intervir em um paciente. Hoje temos a possibilidade de individualizar a terapia, pois o câncer também é individual. Temos capacidade de avaliar melhor o paciente e devemos esse avanço a medicina. O quinto artigo da constituição afirma que todos somos iguais perante a lei. Mas você vai ver que com o câncer não é assim. Muitos fatores nos diferenciam e todos eles precisam ser analisados.
 
DL – Cientificamente há uma comprovação de que, no caso de doenças como o câncer, a mente tem influência sobre o corpo?
 
André – Há um termo chamado psiconeuroimunologia, que consiste na capacidade de elaborar dentro de nós mecanismos de luta ou de fuga perante alguma agressão. Existem grandes controversas quanto a isso. Não quer dizer que uma ansiedade pode levar ao câncer, mas que ela pode servir para alterar a evolução daquele tumor. Um outro termo, chamado psico-oncologia, busca resgatar forças que você desconhece. Só um grande impacto, uma doença séria ou um amor pode produzir fundamentalmente coisas incríveis e resgatar forças que você nem sabia que existiam.
 

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Médico do DF é preso suspeito de destruir provas em 3ª fase da Mr. Hyde

Prisão é preventiva; policiais também cumprem mandados no hospital Home.
Ação desarticula esquema conhecido como 'máfia das próteses' em hospitais.


Polícia Civil cumprindo mandados de busca no hospital Home, na Asa Sul,
na primeira fase da operação Mr. Hyde (Foto: Elielton Lopes/G1)


A Polícia Civil do Distrito Federal prendeu na madrugada desta sexta-feira (21) um médico suspeito de destruir documentos em um desdobramento da operação Mr. Hyde, que apura um suposto esquema criminoso que lucrava com a colocação de órteses e próteses sem necessidade e superfaturados em pacientes. Os policiais também cumprem quatro mandados de busca e apreensão.
 
A prisão do médico Fabiano Duarte Dutra, que trabalha no hospital Home, é preventiva – sem tempo determinado. Um dos mandados de busca desta terceira fase da operação também acontece no hospital da Asa Sul, que foi alvo da primeira etapa da ação que desarticula a chamada "máfia das próteses" do DF (relembre as fases da operação mais abaixo).
 
O G1 não recebeu retorno do Home e não conseguiu contato com o médico até a publicação desta reportagem. Até então o hospital vem negando "qualquer envolvimento" no caso. O centro afirma não ter benefícios financeiros ou qualquer outro a partir do esquema, e eventuais ações indevidas ocorreram sem o conhecimento da direção.
 
As investigações são lideradas pela Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Deco) e pela Promotoria de Defesa dos Usuários dos Serviços de Saúde do MP (Pró-Vida).
 
Outras fases

 Na primeira fase da operação, iniciada no dia 1º de setembro, a polícia prendeu 13 pessoas e apreendeu mais de R$ 500 mil em cumprimento de mandados de prisão e de busca e apreensão no Home, em três clínicas e residências de médicos envolvidos com os supostos crimes.
 
Segundo a polícia, estima-se que cerca de cem pacientes tenham sido lesados pelo gurpo. De acordo com as investigações, o esquema envolvendo cirurgias desnecessárias, superfaturamento de equipamentos, troca fraudulenta de próteses e uso de material vencido em pacientes é "milionário". Na Justiça, 17 acusados de integrar a máfia já são réus.
 
O alvo da segunda fase foi o hospital Daher. Segundo a polícia e o Ministério Público, o dono do hospital, José Carlos Daher, tem participação ativa no esquema. O MP chegou a pedir a prisão temporária dele, por suspeita de destruição de provas, mas a solicitação foi negada pela Justiça. No entanto, o empresário de 71 anos chegou a ser detido por posse ilegal de uma pistola "ponto 45", de uso restrito do Exército e das polícias Federal e Militar.
 
Ao G1, o advogado do hospital Daher negou as acusações. "Não temos dúvida de que os procedimentos do hospital são todos corretos", disse Paulo Maurício Siqueira. A assessoria de imprensa do Daher informou que colabora "ativamente com as solicitações realizadas".
 
Como funcionava

 De acordo com os investigadores, o hospital lucrava ao cobrar de planos de saúde e recebia comissões por indicar um grupo de fornecedoras de próteses já determinados. Parte do lucro, que girava em torno de 15%, acabava sendo divido com os médicos. O MP informou que ainda vai calcular quanto o esquema teria movimentado. Pelo cálculo deles, era cobrado preço entre 800% e 1.000% maior do que realmente a prótese custaria no mercado.
 
Escutas telefônicas obtidas pela Polícia Civil do Distrito Federal e reveladas pelo Fantástico mostram a conversa entre um médico e um fornecedor de órteses e próteses sobre como continuar "enrolando" um paciente e faturar mais.
 
Depoimentos obtidos com exclusividade pela TV Globo apontam detalhes do suposto esquema, explicados por funcionários da empresa TM Medical. Uma das empregadas, Rosângela Souza, afirmou que o grupo criminoso colocava lacres de próteses importadas em embalagens de versões inferiores, elevando o custo aparente do produto e lesando planos de saúde e clientes.
 
Próteses e órteses

 Próteses são dispositivos usados para substituir total ou parcialmente um membro, órgão ou tecido. Órteses são utilizadas para auxiliar as funções de um membro, órgão ou tecido do corpo. De uso temporário ou permanente, as órteses evitam deformidades ou o avanço de uma deficiência médica. Um marca-passo, por exemplo, é considerado uma órtese implantada.
 

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Falta de medicamentos leva vítimas da Hipertensão Arterial Pulmonar a óbito em Pernambuco

Dois dos quatro medicamentos fornecidos, Iloprost e Ambrisentana, estão em falta desde janeiro
 
Isabela e Betuse, perderam a mãe recentemente pela falta de medicamento
Foto: Úrsula Freire/Folha de Pernambuco
 
Doenças raras não costumam ter cura. Na maior parte dos casos os pacientes passam a ter uma vida com limitações, cercada de medicamentos e ajuda. A Hipertensão Arterial Pulmonar (HAP) não foge à regra. Mas o tratamento permite aos portadores da HAP levar uma vida quase normal, autônoma. Porém, a irregularidade no fornecimento das drogas pela Secretaria Estadual de Saúde tem levado muitos à óbito.
 
Foram sete mortes este ano, seis nos últimos dois meses. Segundo a Associação de Portadores de Hipertensão Arterial Pulmonar de Pernambuco, dois dos quatro medicamentos fornecidos, Iloprost e Ambrisentana, estão em falta desde janeiro. Outro, Bosentana, há mais de quatro meses. Hoje envolvidos com o tema realizam ato em busca de ajuda em frente ao Palácio das Princesas às 8h.
 
A revisora de textos Isabela Pereira, 25, conhece de perto a situação. Sua mãe, Dalva Maria Pereira de Fraga morreu na semana passada aos 60 anos, após de ter atravessado mais de uma década no combate a HAP. Entre suas medicações diárias estavam os compostos Citrato de Cidenafila, o Bosentana e Iloprost. “Como percebemos a falta do medicamento, começamos a racionar. Passamos a usar o Iloprost três vezes ao dia em vez de três em três horas. Chegou um momento em que só tínhamos para as crises e depois não havia mais. Tentamos internação no Procape, que é referência, mas eles também estão sem o composto. E sem ele, minha mãe morreu”, conta a filha.
 
Dona Dalva recebeu o diagnóstico em 2004, já em estágio avançado, mas conseguiu manter o quadro da doença progressiva estável com ajuda dos medicamentos. Haviam previsto para ela uma sobrevida de dois anos. “É uma doença que atinge as pessoas principalmente entre 30 e 44 anos, numa fase extremamente produtiva. Porém, após o uso da medicação, os pacientes podem ter um dia quase que normal. Com restrições, mas sem depender de ninguém ou de oxigênio. Com uma sobrevida muito boa, mais de dez anos de tratamento e com quadro estável”, explica o cardiologista do Procape/UPE, referência em pesquisa e tratamento da HAP, Adriano Mendes.
 
Mendes relata ainda o aumento do número de portadores internados pela falta da medicação. “Em quinze anos, nunca teve uma falta tão grande de medicamentos. É um desrespeito para conosco e com os pacientes. O tratamento não pode ser interrompido. A medicação não pode ser encontrada em farmácias comuns e chega a R$ 2 e 3 mil”. Com o abastecimento irregular, a saída de alguns pacientes, além de racionar, é a doação dos medicamentos por parte da família daqueles que faleceram.
 
Sobrevida
 
Após o diagnóstico de uma doença sem cura, os médicos costumam estimar um tempo médio de vida chamado de sobrevida. A aposentada Poliana Oliveira, 31 anos, não tem certeza de qual é o seu, já que com os remédios, o tempo médio de dois anos e meio posse se estender indefinidamente. Ela descobriu a doença em abril de 2004, enquanto levava uma comum vida agitada, entre faculdade e estágio, quando tudo mudou. 
 
“Depois de uma crise, tive que me aposentar. O que era simples e habitual hoje é muito sacrificante. Sem os remédios, não consigo escovar os dentes ou pentear o cabelo sem ajuda. Me sinto muito fraca e passo os dias em casa. Não preciso de um cuidador, mas meu marido sempre está por perto”, conta Poliana, que faz a terapia combinada de Bosentana 125 mg e Cidenafila.
 
Por se tratar de uma doença progressiva, o aumento das doses do remédio e a necessidade de cilindros de O2 é recorrente. Poliana adquiriu um concentrador de Oxigênio, a alternativa que a família encontrou para lidar com a necessidade, visto que os cilindros são caros e pesados. A pequena maleta com rodinhas acompanha Poliana pela casa e em passeios quando ela está sem a medicação. “Com o tratamento normal eu raramente uso, mas se eu for ao protesto amanhã vou precisar levá-lo. Ansiedade, adrenalina, tudo prejudica a gente. Espero que dessa vez tenha resultado”, desabafou.
 
Resposta
 
Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde afirmou que “o Bosentana 62,5 mg está no estoque, enquanto a apresentação de 125 mg está em processo de licitação. O cildenafila está em estoque nas apresentações de 20 mg e 25 mg, enquanto o de 50 mg está aguardando entrega do fornecedor, que já foi notificado pelo atraso e para realizar a entrega imediata. O Ambrisentana, de 0,5 mg e de 10 mg, está abastecidos na Farmácia”. Mesmo tendo sido questionada sobre o medicamento Iloprost, a SES não informou nada a respeito do estoque ou do reabastecimento.
 

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Sociedade civil chama a atenção para responsabilização de empresas farmacêuticas na ONU

Grupo de organizações subsidia trabalho do Grupo Intergovernamental sobre
Direitos Humanos e Corporações Transnacionais


As organizações da Rede Latinoamericana para Acesso a Medicamentos (RedLam) e a Transnational Institute (TNI) enviaram, no último dia 4, documento (em inglês) contendo preocupações com ataques ao direito à saúde para fomentar o trabalho do Grupo Intergovernamental sobre Direitos Humanos e Corporações Transnacionais (IGWG on TNCs and Human Rights, em inglês).
 
O Grupo Intergovernamental sobre Direitos Humanos e Corporações Transnacionais recebeu submissões da sociedade civil para subsidiar as discussões em torno do tratado vinculante que responsabilize empresas transnacionais por violações de direitos humanos.
 
O Grupo Intergovernamental se reúne pela segunda vez dos dias 24 a 26 de outubro, nas Nações Unidas, em Genebra. O resultado esperado da reunião é a primeira versão do texto para o tratado.
 
No documento, RedLam e Transnational Institute chamam à atenção as violações de empresas farmacêuticas em relação à inovação e ao acesso de tecnologias de saúde, particularmente no âmbito de abusos do sistema de patentes. As organizações argumentam pela necessidade de um tratado vinculante que efetivamente responsabilize corporações transnacionais farmacêuticas por violações ao direito à saúde e, em especial, por bloqueios ao acesso a medicamentos.
 
Em relação à inovação em tecnologias de saúde, o documento demonstra que o sistema de propriedade intelectual é falho. A negligência em torno de doenças como dengue e zika exemplificam o quadro. O documento também aponta que o modelo de monopólio gerado pelas patentes retarda a disponibilidade dos tratamentos de saúde mais eficazes e menos nocivos. O caso lustrado é o do antirretroviral TAF que, apesar de ser reconhecidamente mais benéfico que seu antecessor TDF, só entrou no mercado doze anos após seu desenvolvimento, quando a patente do TDF expirou.
 
Já em relação ao acesso, o documento denuncia os obstáculos que o sistema de propriedade intelectual impõe na compra de medicamentos e, ainda, ressalta os constantes abusos por parte de empresas farmacêuticas para prolongar monopólios de forma interminável, colocando medicamentos essenciais fora de alcance de milhões de pessoas por longos períodos. A submissão evidencia que os monopólios gerados pela detenção da patente permitem que as farmacêuticas cobrem preços injustificadamente altos pelos medicamentos. O recente caso do sofosbuvir, medicamento para Hepatite C, doença que atinge 185 milhões de pessoas ao redor do mundo, demonstra como o sistema afeta globalmente as pessoas que precisam de medicamentos. Nos Estados Unidos, o laboratório Gilead lançou o tratamento de três meses com sofosbuvir por 84 mil dólares, o que equivale a 1000 dólares por comprimido.
 
Criado em 2014 no âmbito do Conselho de Direitos Humanos da ONU, o Grupo Intergovernamental é composto por representações de países e liderado pela delegação do Equador. O Brasil se absteve da resolução que criou o Grupo e tem tido uma participação pouco protagonista no processo.
 
Há uma grande expectativa de diversos movimentos sociais de várias partes do mundo para que este processo de fato gere a elaboração de um tratado vinculante. Organizações reunidas em torno da Campanha “Dismantle Coorporate Power” estarão no fim do mês na ONU acompanhando a próxima etapa das negociações. Confira abaixo o vídeo da campanha em espanhol e participe: #BindingTreaty | #SaúdeNãoÉComercio | #LargueOCaso.
 

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Direito à saúde ameaçado nos tribunais

Advogados das farmacêuticas conseguem prorrogar patentes e ampliar lucro com medicamentos
 
 
Para assinar a petição, clique em: http://migre.me/te9y7
Ou visite: redlam.org ou www.deolhonaspatentes.org
 
Grupos da sociedade civil do Brasil e da Argentina lançaram em Genebra, Suíça, no início de março, em um evento paralelo à 31ª sessão do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas (ONU), a campanha internacional “Corporações farmacêuticas: larguem o caso”. Foi apresentada uma petição pública disponível em três idiomas (português, espanhol e inglês) que reivindica que as principais entidades representantes da indústria farmacêutica sul-americana – a Interfarma, no Brasil, e a Caeme, na Argentina – suspendam as inúmeras ações judiciais em curso que visam desmontar medidas protetivas à saúde nos dois países.
 
De acordo com Marcela Vieira, uma das coordenadoras do Grupo de Trabalho em Propriedade Intelectual (GTPI) da Rede Brasileira pela Integração dos Povos (Rebrip) e da Associação Brasileira interdisciplinar de Aids (Abia), muitos dos objetivos globais de saúde promovidos pela ONU, como o fim da aids como epidemia até 2030, só poderão ser atingidos quando barreiras sistêmicas ao acesso a medicamentos forem devidamente enfrentadas. Segundo ela, vinte anos depois de a ciência provar que um tratamento poderia acabar com as mortes por aids, a Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que existam ainda 22 milhões de pessoas sem acesso a ele, das quais um milhão morre a cada ano.
 
No centro do problema estão as barreiras impostas pela indústria farmacêutica para o acesso aos medicamentos, como as leis de patentes. “O sistema de patentes está falhando com as pessoas e favorece os interesses das corporações acima dos interesses da saúde pública. O sistema se tornou uma máquina de monopólios intermináveis sobre medicamentos essenciais, uma máquina de violações do direito à saúde. O que vemos no Brasil e na Argentina é que mecanismos criados para colocar um limite em abusos de patente estão sob ataque, então o direito à saúde está ainda mais vulnerável”, denuncia ela.
 
Marcela ainda relata que, em 2014 e 2015, Interfarma e Caeme entraram com ações judiciais que visam destruir várias das medidas protetivas conquistadas nos dois países, que comungam a experiência de oferecerem sistemas públicos de saúde e programas de distribuição gratuita de medicamentos. Por isso, a expectativa é que, se os tribunais julgarem a favor das empresas, milhões de pessoas nesses países podem ficar sem acesso a medicamentos genéricos de preço baixo. “Os efeitos da ofensiva jurídica dos laboratórios nos dois países podem ser dramáticos”, afirma.
 
Insegurança jurídica
 
Para outro coordenador do GTPI e da Abia, Pedro Villardi, as estratégias usadas pela indústria farmacêutica para postergar os monopólios das patentes promovem insegurança jurídica no país e chegam, até mesmo, a afrontar a soberania nacional. “Essas empresas dizem que querem segurança jurídica para operar no Brasil, mas são elas mesmas que geram isso ao contestarem, por exemplo, a anuência prévia concedida pela Anvisa [Agência de Vigilância Sanitária], um órgão governamental, principalmente quando já existe uma série de portarias e regulamentações que dizem que a Anvisa tem de analisar os critérios de patenteabilidade”, afirma.
 
Na avaliação dele, chama atenção que laboratórios contestem os mecanismos aprovados pelo Estado justamente para conter os abusos desse próprio setor. “A prática desses laboratórios já é toda ela pautada pelo abuso. E quando o país, soberano, cria um mecanismo para se defender desse abuso, a empresa contesta o mecanismo. Parece coisa de criança mimada que ficou de castigo”, compara.
 
Marcela Vieira, uma das coordenadoras do Grupo de Trabalho em Propriedade Intelectual.
 Foto: Divulgação
 
 
Criatividade jurídica como estratégia
 
Autor do parecer que condena a conduta anticompetitiva dos grandes laboratórios, aprovado por unanimidade pelo plenário do Instituto dos Advogados do Brasil (IAB) e remetido ao Congresso Nacional e ao Ministério Público Federal (MPF), o advogado e professor da PUC-Rio Pedro Marcos Nunes Barbosa afirma que, no caso específico do Brasil, o problema da produção de propriedade intelectual na área farmacêutica é que os advogados estão cada vez mais criativos, e os engenheiros – que deveriam ser os verdadeiros inventores – estão cada vez menos. “Ganha-se cada vez mais na advocacia e menos na pesquisa e desenvolvimento”, diz ele.
 
No parecer, Barbosa esclarece que todos os países que adotam os tratados internacionais sobre propriedade intelectual preconizados pela Organização Mundial do Comércio (OMC) – como é o caso do Brasil – aderem a uma plataforma de pensamento em que a livre concorrência é a regra, e a exclusividade, exceção. Segundo o professor, portanto, as patentes são uma exceção que visam estimular a inovação das empresas, que, em troca de investirem em pesquisa, ganham um período de monopólio para explorarem os produtos resultantes.
 
Ele alerta, entretanto, que os escritórios de advocacia dos grandes laboratórios tentam subverter essa lógica a qualquer custo. “A propriedade intelectual, como proposta pela maioria dos advogados das empresas, tem como beneficiário único o titular da patente, o que causa prejuízos não só para o consumidor final, como para o próprio Estado, que, através do Sistema Único de Saúde, é responsável pela aquisição de 70% dos medicamentos comercializados no Brasil”, afirma.
 
Protesto na Câmara dos Deputados. Foto: Agência Câmara
 
 
Uma rachadura na história
 
Desembargador federal do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2), André Fontes conta que o Brasil mantém proteção às patentes desde a chegada de Dom João VI a então colônia de Portugal, em 1808. Entretanto, até meados dos anos 1990, os remédios eram a exceção à regra. A situação mudou com o avanço do neoliberalismo no país. “As patentes de remédios surgiram aqui da noite para o dia, em função da forte pressão internacional. O Brasil se comprometeu a fazer isso para não sofrer sanções econômicas, mas acabou fazendo de uma forma que prejudicou os fabricantes locais e a população que depende do acesso aos medicamentos”, conta.
 
Segundo ele, o princípio fundante da propriedade intelectual é dar um prazo – que antes era de 15 anos e agora deveria ser de 20 – para os investidores serem remunerados dos gastos que tiveram com a invenção. No caso dos remédios, para remunerar a pesquisa que redundou na invenção da droga. Entretanto, o desembargador denuncia que, no Brasil, a situação tomou contornos diferentes. “O tratado que o Brasil celebrou é para 20 anos de monopólio a partir da invenção do produto. E hoje o que se vê aqui são os laboratórios pedindo patentes com muito mais tempo, às vezes cinco, seis, sete, dez anos depois. Eles não têm limites para isso”, afirma.
 
Conforme Fontes, a palavra monopólio, que deveria ser algo bastante reprovável, acaba sendo aceita como uma possibilidade na cultura jurídica local, como se a propriedade intelectual permitisse esse tipo de coisa. “Outros países têm um mercado de genéricos forte, muita competição saudável, mas aqui muitos genéricos não conseguem entrar no mercado porque os laboratórios, de alguma forma, sempre conseguem aumentar os prazos dos monopólios, de forma que os 20 anos acabam sempre muito além do momento inaugural da invenção”, esclarece.
 
Estratégias de combate
 
De acordo com o professor Barbosa, são pelo menos duas as estratégias utilizadas pelos advogados para postergar o monopólio dos medicamentos nas mãos dos detentores da exclusividade. A primeira é a que contesta os processos de concessão de patentes, tentando prorrogar o monopólio de drogas que já estão no mercado. “A estratégia é ajuizar ações, especialmente na Justiça Federal, atraindo algum tipo de interpretação engraçada ou exótica, que tenta comprovar que a quantidade de tempo de exclusividade que os laboratórios já detêm não é suficiente”, explica.
 
Nesse sentido, a morosidade do Judiciário é um grande trunfo. “Muitas vezes, os laboratórios nem precisam vencer uma ação judicial para lucrar. Se eles causam uma confusão qualquer e conseguem uma liminar que adia o processo por um ou dois anos, são mais um ou dois anos que o concorrente não entra no mercado, que eles continuam sozinhos vendendo um remédio, porque está todo mundo sob efeito da liminar. E ficamos nós, contribuintes, pagando caro por medicamentos que costumam ficar até 20 vezes mais baratos com a entrada da concorrência”, argumenta.
 
A segunda, um pouco mais elaborada, visa tentar conseguir uma nova patente para uma mesma droga, a partir de um incremento qualquer no medicamento original. O laboratório pega, por exemplo, um medicamento para pressão arterial que já possui patente, acrescenta um diurético que também já possui patente, e tenta conseguir mais 20 anos de monopólio com a nova combinação.
 
Assim, surgem o que ele chama de “medicamentos criados por advogados”, um fenômeno que, ao invés de dinamizar a inovação, como é a proposta original da propriedade intelectual, a inibe ainda mais. “Por que um laboratório vai gastar tempo e dinheiro em pesquisa, se é muito mais fácil acrescentar uma substância qualquer em um remédio já existente e lucrar o mesmo com isso?”, questiona.
 
O foco na Anvisa
 
A mais recente estratégia dos advogados dos laboratórios multinacionais mira um ator que, até bem poucos anos atrás, ficava longe dos imbróglios judiciais. Trata-se da Anvisa, que, em conjunto com o Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (Inpi), precisa aprovar a concessão dos pedidos de patentes de medicamentos. A indústria farmacêutica, porém, alega que a análise dos pedidos pelo instituto já é mais do que suficiente.
 
Conforme o professor Barbosa, há 20 anos, logo após o país aprovar sua Lei de Patentes, o principal alvo das ações judiciais era justamente o Inpi. E como a sua sede fica no Rio de Janeiro, essas ações miravam o TRF-2, que abrange aquele Estado e o Espírito Santo. No início dos anos 2000, entretanto, o tribunal decidiu se preparar para enfrentar o grande volume de ações impetradas pelo seguimento e criou varas especializadas em propriedade intelectual.
 
De acordo com o desembargador André Fontes, a Justiça Federal carioca mantém quatro varas e duas turmas no tribunal, com três juízes cada. A experiência é única no país e, segundo Barbosa, está cercada de êxito.
 
“Com a especialização das varas, os juízes passaram a ter uma compreensão do macro e a entender as artimanhas das empresas que, em geral, tentam prorrogar suas exclusividades, sempre muito bem assistidas por advogados de ternos de milhares de dólares e mestrados nos Estados Unidos. Então, a Justiça Federal do Rio criou uma jurisprudência muito boa em relação à tutela do interesse público, acesso à saúde, respeito à concorrência, de observância da livre iniciativa”, avalia o advogado.
 
Mas como a criatividade dos escritórios não têm limites, eles mudaram o alvo e passaram a investir não mais contra o Inpi, e sim contra a Anvisa. E como a sede da Anvisa é em Brasília, as ações começaram a desaguar no TRF-1, um tribunal que não possui varas especializadas em propriedade intelectual e tem de atender uma base territorial imensa: são 13 Estados e o Distrito Federal.
 
“A indústria farmacêutica inventou uma nova roupagem para a velha estratégia: não litigar necessariamente contra o Inpi, mas contra a Anvisa, que tem sede em Brasília e fica submetida ao TRF-1. Assim, quem julga os novos processos não são juízes especializados em propriedade intelectual, mas os mesmos que estão ocupados com ações da Caixa Econômica Federal ou do INSS, sem nenhuma experiência ou jurisprudência para dar solução ao caso concreto”, denuncia Barbosa.
 
Davi contra Golias
 
O desembargador André Fontes acrescenta que, além de investir pesado em lobbies para tentar fazer com que o poder legislativo trabalhe em favor dos seus interesses privados, alterando as leis, a indústria farmacêutica também investe altas somas de dinheiro na contratação dos melhores escritórios de advocacia do país para atendê-la. “A competência dos advogados é muito grande. Os maiores advogados do Brasil acabam sendo contratados, os maiores juristas são consultados. E, com isso, os prazos acabavam na prática se ampliando, com uma grande perplexidade e dolo da própria natureza da propriedade intelectual, que deveria ser uma coisa equilibrada para remunerar o passado e dar condições de pesquisas futuras”, critica.
 
Segundo Fontes, são estes advogados cercados das melhores condições possíveis de trabalho e remuneração que duelam com os poucos procuradores do Estado designados para defender o acesso à saúde entre inúmeras outras tarefas. “O governo não tem recursos nem pessoal suficientes para cuidar dessas ações. Então, de um lado estão os melhores advogados, os mais experientes. Do outro, praticamente não há defesa. É como colocar o Pelé para chutar em um gol sem goleiro”, compara.
 
De acordo com Fontes, é uma guerra desequilibrada, desproporcional, travada publicamente em julgamentos que atraem grande público para ver a atuação dos advogados. “E nós, do judiciário, não podemos fazer nada, porque a função do tribunal não é fazer julgamentos dos órgãos públicos e nem de ninguém. Agora, reconhecer competências de um e de outros, acho que é tarefa de cada um fazer esta aferição”, esclarece.
 
O desembargador ressalta que, especialmente fora do âmbito do Rio de Janeiro, o próprio judiciário é mal preparado para lidar com questões de patente. “Em alguns Estados – pasmem – a propriedade intelectual que é pública – e é pública porque é assim que ela funciona – é tratada como segredo de justiça. Alguns Estados criaram ambiente de segredo de justiça para proteger o patenteado, sendo que, se uma coisa é patenteada, é porque ela é pública”, denuncia.
 
A fonte especialista
 
Além de atravancarem o judiciário com ações que visam manter o monopólio dos grandes laboratórios multinacionais, os advogados que atuam para o setor comprometem também o debate público travado no país sobre o tema. Sempre apresentados como fontes isentas e especialistas, defendem necessariamente os interesses daqueles que pagam suas contas. Eles estão organizados, inclusive de forma institucionalizada, na Associação Brasileira de Propriedade Intelectual (ABPI).
 
Em audiência pública promovida pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, no dia 20 de outubro de 2015, para debater as propostas de revisão da Lei de Patentes que tramitam no legislativo e visam aumentar os mecanismos de defesa dos usuários frente ao poder dos grandes laboratórios, a presidente da ABPI, Elisabeth Kasznar Fekete, defendeu com entusiasmo as patentes de segundo uso, a prorrogação dos monopólios em contextos diversos e o fim da anuência prévia da Anvisa na concessão do direito à exclusividade.
 
A presidente da ABPI, Elisabeth Kasznar Fekete, durante audiência na Câmara dos Deputados.
 Foto: Agência Câmara
 
 
Além de presidir o órgão que nada tem de isento, ela é sócia sênior do escritório de advocacia Kasznar Leonardos Propriedade Intelectual, sétimo lugar no ranking dos escritórios especializados mais admirados do país, segundo a edição de 2014 do ranking “Análise Advocacia 500”. O escritório, claro, atende prioritariamente não os usuários do SUS, mas as grandes multinacionais. A reportagem solicitou uma entrevista com a presidente da ABPI para falar sobre o tema, mas não foi atendida. A diretoria da Interfarma também não quis se pronunciar sobre o assunto.
 
A diretoria da Anvisa também não quis conceder entrevista sobre o tema, mas, em nota, esclareceu que a ação judicial impetrada pela Interfarma contra o mecanismo da anuência prévia foi proposta há mais de um ano, visando anular resolução da diretoria colegiada que dispôs sobre o fluxo de tramitação de processos relativos à anuência prévia em pedido de patente de produto ou processo farmacêutico (art. 229 – C, da Lei 9.279/96). Na nota, informa que a Interfarma pede, também, que a Anvisa não se pronuncie sobre critérios de patenteabilidade dos pedidos, que alegam ser matéria exclusiva do Inpi. “Já houve contestação e apresentação de réplica pela parte da autora [Interfarma]. Não foi proferida decisão no processo, e a agência não se encontra obrigada a qualquer conduta em função de decisão judicial”, esclareceu a Anvisa.
 
Caso a ação seja julgada a favor da Interfarma, pode ser o fim de um dos principais mecanismos instituídos no Brasil para combater abusos das empresas no sistema de patentes. “A avaliação rigorosa dos pedidos de patentes visando evitar a concessão de patentes indevidas é não só um direito dos países, mas um dever para remover obstáculos que impedem a garantia do direito humano à saúde”, avalia Marcela Vieira, do GTPI e da Abia. Por isso o grupo, além da campanha acima mencionada, também acionou mecanismos de defesa dos direitos humanos da ONU para denunciar a ação da Interfarma e demandar que o governo brasileiro tome as medidas cabíveis para defesa do direito à saúde no país.
 

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Para 91%, alunos de Medicina com nota baixa no último ano não devem receber diploma

Pesquisa de opinião foi encomendada pelo Conselho Federal de Medicina; levantamento identificou apoio da população à avaliação seriada dos cursos
 
52% dos brasileiros acreditam não haver no País a fiscalização da qualidade dos cursos de Medicina
 
  
BRASÍLIA - Alunos de Medicina que apresentarem desempenho ruim na avaliação do último ano da conclusão do curso não devem receber diploma, mostra pesquisa de opinião encomendada pelo Conselho Federal de Medicina. Do total de pessoas ouvidas, 91% disseram ser favoráveis a essa medida. Para entrevistados, alunos que receberam notas insuficientes devem ser submetidos a um curso de reforço e refazer a prova inteira, incluindo as disciplinas em que eles já foram aprovados.
 
O rigor, no entanto, não se estende para escolas em que alunos tiveram desempenho inadequado. Para 62% dos ouvidos, cursos de Medicina não devem ser penalizados.
 
O  trabalho também identificou apoio da população à avaliação seriada dos cursos. Para 86% dos entrevistados, essa é a melhor forma de se avaliar alunos e de se melhorar o curso de Medicina no País.
 
Para fazer a pesquisa, foram ouvidas 2.086 pessoas com mais de 16 anos, em todas as regiões do País. O governo pretende realizar, a partir desse ano, a Avaliação Nacional Seriada dos Estudantes, por meio de três avaliações ao longo do curso. Os ouvidos na pesquisa disseram acreditar que o sistema seriado pode ajudar a melhorar a formação do aluno e contribuir para o melhor atendimento do paciente. 
 
A pesquisa indicou ainda que 52% dos brasileiros acreditam não haver no País a fiscalização da qualidade dos cursos de Medicina. No grupo que considera haver uma avaliação, quase metade (47%) classifica o sistema usado como péssimo, ruim ou regular.
 
 
Lígia Formenti,
O Estado de S. Paulo

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

O inimigo não é a morte. É o sofrimento desnecessário.




  
Entre os membros da equipe de saúde, nós chamamos de “suportar”. Alguém diz “Ele não suporta”, ou “Acho que eles definitivamente suportam”.  É um pouco difícil de explicar, mas é uma atitude que você reconhece imediatamente quando vê. No entanto, dada a importância de “suportar” para um bom cuidado no final da vida, deixem-me tentar explicar.
 
A paciente de 92 anos está sangrando dentro de sua cabeça, mas tem coágulos de sangue em seus pulmões. Ela sofre de insuficiência cardíaca avançada e tem recebido suporte de um respirador e diálise há 3 semanas. Ela está evoluindo como uma fileira de dominós: caindo dia após dia. Chamamos de colapso dos sistemas vitais. Suas chances de sobreviver à hospitalização são de apenas 1%.
 
Apesar da morte estar à espreita, essa nonagenária é tratada com os cuidados máximos, agressivos, irrestritos. Ela não apenas receberá o “código vermelho” (ou seja, quando seu corpo parar ela receberá um choque elétrico sobre o coração para que possa ser reanimada), como também está recebendo 30 diferentes medicações, uma lista que aumenta a cada nova complicação, todos os dias.
 
O médico responsável pelo caso “não suporta”. Ele age como se ele não percebesse que todos morremos. Ele é absolutamente incapaz de oferecer um cuidado misericordioso, honesto. Ao invés disso, põe em prática um plano que maximiza o sofrimento, confunde, prioriza intervenções fúteis e garante custos financeiros incontroláveis que podem levar a família à falência. Enquanto a paciente e a família assumem as decisões-chave que envolvem a vida e a morte, o “curador” faz funcionar um sistema de saúde ridículo, antiético e inacreditavelmente comum.
 
Outros médicos estão começando a “suportar”. Esse grupo, que está em rápida expansão, forma a base para o aumento da utilização das consultas com “especialistas no final da vida”. Eles estão na metade do caminho. Eles compreendem que todo mundo morre, mas não têm certeza sobre o que fazer a respeito.
 
Ellen tem um câncer de pulmão metastático e me procurou para que eu prescrevesse maricaua (maconha) terapêutica. O câncer tinha se espalhado e, por causa da doença e da neuropatia causada pela quimioterapia, ela tinha que lidar com muita dor. Seu médico não sabia como mantê-la confortável e não tinha um plano de longo prazo.
 
Para mérito dele, ele tinha sugerido que Ellen não só viesse falar comigo como também procurasse um hospice para orientá-la em seus planos para o final da vida. Ela ainda era considerada “código vermelho”, o que significa que nada evitaria que ela recebesse um excesso de cuidados inúteis, mas seu médico tinha começado a caminhar na direção certa.
 
Outra noite eu recebi uma chamada de um paciente de um de meus colegas. Vendo seu prontuário, vi que ele era um ex-policial de 68 anos, com câncer renal metastático para os pulmões. Apesar desse tipo de câncer ser uma doença crônica e possivelmente fatal, seu prognóstico a curto prazo era bastante favorável, podendo chegar a anos.
 
O que me chamou a atenção foi uma anotação em seu prontuário que dizia: “Paciente é NR (“Não ressuscitar”) e não deseja medidas extremas de suporte à vida.” Essa é uma anotação surpreendente porque, na época, o paciente estava se sentindo muito bem. Na verdade, ele me ligou da Califórnia, durante uma viagem! Esse é um médico que “suporta”. Quando foi descoberto que o paciente tinha uma doença fatal, o oncologista teve com ele uma discussão séria e honesta.
 
 
“Suportar” significa garantir que os paciente recebam honestidade, confiança e respeito para controlar suas próprias vidas. Sem falsas esperanças, mas com a oportunidade de lidar de forma digna com uma das realidades mais difíceis da vida.
 
“É a sua vida. Como seu médico, meu trabalho é guiar você, e não dar ordens ou comandá-lo. Isso diz respeito a você, não a mim. Você é o paciente. Eu sou sua equipe de apoio.”
 
Com o aumento progressivo da complexidade, confusão e custos do cuidado médico, é mais importante do que nunca termos médicos que “suportam”. Eles precisam aceitar que o inimigo não é a morte; o inimigo é o sofrimento desnecessário. Eles têm que compreender os limites do seu papel. Eles precisam apreciar e respeitar a força do seu parceiro e os direitos de cada paciente de decidir sobre seu destino.
 
A parte final da vida diz respeito a estar vivo, não à morte. Apenas desfrutando desses momentos preciosos, decidindo sobre seus próprios fatos, nós podemos esperar qualidade, conforto e dignidade.
 
 
*texto escrito pelo médico oncologista James C. Salwitz, publicado em http://www.kevinmd.com
**James C. Salwitz é médico oncologista; publica seus textos no blog  Sunrise Rounds.
 

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Hospital Salvalus recebe denúncia de erros médicos após morte de bebê


Segundo a mãe Lidiane Fidelis Vieira, seu bebê de quatro meses foi vítima de sucessivos erros no hospital particular localizado na região do Bresser que pertence à rede GreenLine.
 
Fachada do Hospital Salvalus, em São Paulo
Crédito: Divulgação / Hospital Salvalus
  
Lidiane diz que levou o bebê ao hospital em 29 de julho com dores abdominais. Inicialmente ele tratado com gases, teve que voltar no dia seguinte após o quadro piorar.
 
Com sangue nas fezes, o bebê foi encaminhado a um ultrassom diagnosticado com invaginação intestinal, quando uma parte do intestino se junta com outra e bloqueia a passagem de gases e fezes.
 
O bebê precisou tomar soro para passar pela cirurgia. Durante a madrugada, no entanto, a equipe percebeu que a peça que liberava o soro estava obstruída, o que o desidratou. Ele ficou 40 dias internado na UTI.
 
A mãe fez um desabafo nas redes sociais e várias denúncias foram surgindo contra o hospital. Uma delas de uma advogada, contando que o pai entrou no hospital para tratar de uma fratura em 2013 e morreu 40 dias depois.
 
São cerca de cem processos contra o hospital na Justiça. A unidade responde por 18 casos de erro médico e 52 por danos morais.
 
Em nota, o Hospital Salvalus diz prezar pela prestação de serviço médico hospitalar de excelência e busca atender aos pacientes com eficiência, qualidade e segurança. 'Sobre a acusação de fornecimento de dados de pacientes para terceiros, o Hospital Salvalus considera a prática inadmissível. Nenhum colaborador do Hospital é instruído ou sequer autorizado a passar este tipo de informação', afirma o hospital em nota.
 

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Médico denunciado por erro e morte de paciente é cassado

Em 2014, Fernando foi preso depois de uma série de matérias feitas pelo DIA

 
Após reportagem com denúncias de pacientes, médico foi preso
  Reprodução


Fim da linha para as atividades profissisonais do ortopedista e traumatologista Fernando Cesar Lamy Monteiro da Silva, que responde em liberdade por suposto erro médico, que teria levado à morte um homem de 37 anos, depois de uma cirurgia na coluna. O Conselho Federal de Medicina (CFM) referendou ontem a cassação do exercício profissional de Fernando, proposta há dois anos pelo Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio (Cremerj). Pelo menos outras cinco mortes também são atribuídas a ele, acusado de ter deixado ainda várias pessoas aleijadas.

O caso que levou à cassação da profissão de Fernando, que segundo testemunhas chegou a operar pacientes supostamente bêbado, é o do analista de sistemas Marcelo Costa, 37, que morreu em 2012 na mesa de operação. Em 2014, Fernando foi preso por policiais da 26ª DP (Todos os Santos) depois de uma série de matérias feitas pelo DIA. Em uma delas, chegou a indicar cirurgia para a então repórter do jornal Hilka Telles, que se passou por paciente.



De acordo com o Cremerj, não cabe mais recurso para o agora ex-médico, que nega as acusações. A notícia foi comemorada por pessoas que se dizem vítimas de Fernando e por parentes de vítimas. “Estou feliz por saber que ele não vai mais fazer maldades com ninguém”, afirmou Suely Gomes, 57, comerciária que ficou inválida depois de ser operada há quatros anos. Ela usa fraldas até hoje.

A jornalista Fernanda Pimentel, 33, que perdeu a mãe, a bancária Ana Márcia Pimentel, 49, em 2008, desabafou. “Agora quero vê-lo preso. Ele é um assassino em série”, afirmou, lembrando que a mãe teve a coluna operada por Fernando duas vezes no mesmo dia — cervical e lombar. O prazo deveria ser de quatro meses.

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Polícia investiga se gestante morreu e perdeu bebê após erro de enfermeiros

Nicole di Silvério dos Santos, de 15 anos, estava grávida de cinco meses.
Boletim de ocorrência foi registrado na Delegacia Sede de Praia Grande.

Polícia investiga morte de Nicole após injeção em Praia Grande
(Foto: Arquivo Pessoal)

A Polícia Civil investiga o caso da jovem de 15 anos que perdeu o bebê e morreu após tomar uma injeção em um pronto socorro de Praia Grande, no litoral de São Paulo. Nicole di Silvério dos Santos, de 15 anos, estava grávida de cinco meses e existe a suspeita de que um erro de algum funcionário da enfermagem possa ter ocasionado a morte.
 
Vanessa di Silvério, mãe da adolescente, procurou o auxilio de um advogado e fez boletim de ocorrência, na tarde desta terça-feira (4), por conta da morte da filha e da neta. A ocorrência foi registrada na Delegacia Sede do município.
 
"Mesmo depois de tudo o que aconteceu, ainda não recebemos nenhum posicionamento da prefeitura. Agora fizemos um boletim de ocorrência e acionamos um advogado, porque essa história não pode ficar impune", desabafa.
 
Nicole estava internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Irmã Dulce e morreu no último sábado (1º). O atestado de óbito deve sair somente daqui 15 dias.
 
Prefeitura investiga

Os problemas começaram no dia 20 de setembro. Nicole foi até ao Pronto Socorro localizado no bairro Quietude, local onde era realizado seu pré-natal.
 
Vanessa afirma que as mortes da filha e da neta ocorreram após uma negligência da equipe que aplicou uma injeção na adolescente.
 
Segundo ela, a jovem deveria receber uma medicação diluída no soro. No entanto, a medicação foi aplicada diretamente na veia da adolescente.
 
Em nota, a Secretaria de Saúde Pública (Sesap) de Praia Grande informou que prestou todo atendimento necessário à paciente e que está dentro dos padrões estipulados pelos órgãos reguladores da saúde.
 
A administração pública ressalta que entregou cópias do prontuário aos famíliares e que abriu um processo administrativo para apurar um possível erro médico dos enfermeiros envolvidos.