quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Médicos são indiciados por morte de jovem atendida 5 vezes em Ribeirão

Novo inquérito da polícia concluiu que Gabriela Zafra morreu por negligência.
Caso foi arquivado pelo Cremesp e será apurado por Conselho Federal.
 
A Justiça de Ribeirão Preto (SP) determinou o indiciamento criminal dos médicos responsáveis pelo atendimento à estudante Gabriela Zafra, que morreu após passar por três unidades de saúde da cidade e receber quatro diagnósticos diferentes, em maio de 2014.

A adolescente de 16 anos morreu em decorrência de uma meningoccemia – infecção generalizada causada pela mesma bactéria da meningite. Sindicância realizada pela própria Prefeitura de Ribeirão indicou que a jovem morreu por “falta de zelo” dos médicos.

Segundo o juiz Guaracy Sibille Leite, da 1ª Vara Criminal, os médicos da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Marcel Yamada Ushima e Ariane Cantarella poderão responder por homicídio culposo. Ainda de acordo com a sentença, Ushima também será indiciado por falsidade ideológica, por adulterar o prontuário.

Procurados pela reportagem, os advogados dos médicos denunciados informaram que vão aguardar o Ministério Público se pronunciar sobre o caso para se manifestar posteriormente.
 
Gabriela Zafra, de 16 anos, morreu após ser atendida cinco vezes em unidades de saúde de Ribeirão Preto (Foto: Reprodução/Facebook)
Gabriela Zafra, de 16 anos, morreu após ser
atendida cinco vezes (Foto: Reprodução/Facebook)

Indiciamento

 A decisão da Justiça foi tomada depois que o inquérito que investigava a morte da jovem foi reaberto pela Delegacia Seccional de Ribeirão Preto, a pedido do Ministério Público.
A primeira investigação, conduzida pelo delegado José Gonçalves Neto, do 8º Distrito Policial, foi concluída sem apontar culpados.

O delegado Gustavo Alves reuniu mais provas sobre o caso e concluiu envolvimento dos médicos suspeitos. Segundo a polícia, há indícios de negligência e imperícia no atendimento prestado por eles.
 
“Considerando que a patologia que acometeu Gabriela é gravíssima, mas não é fatal em 100% dos casos, havendo possibilidade de sobrevivência e que quanto mais precoce o diagnóstico e início do tratamento, maior a probabilidade de sobrevivência”, afirmou o delegado no inquérito encaminhado à promotoria.

Antes de morrer, a estudante procurou duas unidades básicas de saúde, nos bairros Quintino 2 e Ribeirão Verde, e foi encaminhada posteriormente à UPA, onde buscou atendimento duas vezes.
 
'Deboche'

 Segundo a mãe de Gabriela, Fabiana Zafra, houve descaso por parte dos médicos. “Uma das médicas debochou da Gabriela, olhou para minha filha que estava com um celular na mão e disse que ela estava ali só querendo um atestado médico, foi assim que foi o deboche da parte dela”, comentou. “Uma médica profissional jamais iria debochar de um paciente”.

Além do descaso relatado pela mãe, o advogado da família, Daniel Rondi, afirma que o médico que atendeu Gabriela posteriormente tentou dificultar as investigações. “O delegado entendeu que o médico Marcel fez alteração deliberada de documentos posteriores à morte de Gabriela, no intuito de esconder a verdade do caso”, disse.

Após o indiciamento dos suspeitos, o caso será encaminhado por Rondi ao Conselho Federal de Medicina, que também vai apurar as denúncias oferecidas pela polícia ao Ministério Público. A medida é um recurso contra decisão do Conselho Regional de Medicina, que arquivou o caso.

O advogado da médica Ariane Cantarella, Heráclito Mossim, afirmou que vai aguardar o Ministério Público se pronunciar para depois se manifestar sobre o assunto. Já a dvogada Cláudia Seixas, que responde pelo médico Marcel Yamada Ushima, informou que vai aguardar o término das investigações para comentar o assunto, mas entende que não houve erro médico.

O advogado do delegado José Gonçalves Neto, Rafael Rosário Ponde, informou que ele não determinou o arquivamento do caso, mas encaminhou o inquérito ao MP e solicitou parecer técnico que pudesse justificar o indiciamento dos médicos.
 

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