“Mesmo após ter dado a luz, os médicos tiveram que reabrir minha mulher para ver se esqueceram uma compressa dentro dela. Mas quando terminaram a cirurgia, não havia nada.” Com a intervenção realizada sem necessidade, o marido da gestante, Luiz de Oliveira Fraga, 38 anos, relata que o medo e a falta de informação invadiram sua mente e de sua esposa, naquele que poderia ser o dia mais feliz de suas vidas.
Tudo começou após Sheila dar entrada no hospital municipal para se preparar para o trabalho de parto de sua filha na manhã do dia 4 de abril. Foi após o fim do procedimento que as coisas começaram a ficar estranhas, segundo Fraga. “Notamos uma movimentação diferente entre médicos e enfermeiras, mas ninguém nos falava nada.” Fraga se refere ao momento em que o corpo médico que realizara o parto da mulher começou a suspeitar de que poderiam ter esquecido algum corpo estranho ao realizar a sutura na barriga da mulher após a cesariana. “Na verdade os médicos e enfermeiros esconderam a informação de mim e de minha mulher. Só ficamos sabendo o que aconteceu no dia seguinte”, disse Fraga.
A dúvida dos médicos começou quando, ao contarem os instrumentos realizados na cirurgia, deram falta de uma das compressas utilizadas na intervenção. No início da cesariana, o número de compressas era de dez unidades. No término, essa quantidade era de apenas nove, o que preocupou os médicos.
A equipe, então, decidiu realizar investigação para tentar detectar se realmente a gestante tinha sido alvo de algum tipo de erro médico. A mulher passou por dois exames de ultrassonografias e um de raios-x, que não apontaram nada de suspeito. Já na análise de tomografia ficou constatada a suspeita de corpo estranho, como aponta o laudo do próprio hospital.
No dia 6 de abril a mulher teve que voltar à mesa de cirurgia e, para o espanto de todos, não havia nenhum corpo estranho dentro dela. Isso seria uma boa notícia, se a mulher não estivesse se recuperando de uma cesariana, cirurgia que exige descanso da paciente. “Tive muito medo de que poderia acontecer algo com minha mulher”, disse Fraga.
Preocupado, o marido resolveu buscar informações com a diretoria do hospital, que não soube explicar o que aconteceu ao certo. “Chegaram a dizer que poderiam ter realizado uma contagem errada dos instrumentos utilizados no parto”, explicou. Por fim, disseram que o tal corpo estranho que apareceu em um dos exames era apenas sangue.
Em nota, a Prefeitura de Mauá explicou que no momento de fechamento do peritônio da paciente foi elencada a possibilidade da ausência de uma compressa durante a contagem padrão. O hospital decidiu realizar procedimentos de segurança com a intenção de revisão da cavidade abdominal, o que não apontou nenhuma anormalidade. Ainda segundo a nota, a paciente teria sido informada sobre a suspeita e outros exames foram realizados.
Um exame de tomografia inconclusivo fez com que a equipe médica conversasse com a mulher e com o marido para realizar a reoperação preventiva. O casal teria aprovado a intervenção, que mostrou que não havia nenhuma compressa dentro da paciente.
Jovem aguarda quase 10 horas para dar a luz no hospital
Com agendamento para cesariana marcada para o dia 6 de abril às 7h30, também no hospital Nardini, Monaliza de Lima Feitosa, 22, só começou a ser atendida para realizar o parto às 16h, quase 10 horas depois do que foi determinado pela clínica. Um agravante é que Monaliza era uma gestante de risco e há quatro anos já tinha perdido uma criança enquanto tentava dar a luz.
“Cada hora falavam uma coisa sobre o parto”, contou Luzia de Lima Feitosa, 41, mãe da gestante. Enquanto acompanhava a filha, as dúvidas sobre o horário da cirurgia e onde a intervenção seria realizada começaram a surgir. “Foram protelando os horários, até que começaram a dizer que minha filha seria transferida para o Hospital Estadual Serraria, em Diadema”, relatou a mãe.
Segundo Luzia, o motivo de tanto atraso foi a falta de equipamento adequado para realizarem o parto da jovem mãe. “A angústia aumentava a cada momento de indecisão. Ficamos angustiados com a possibilidade de perdermos duas vida.”
O pai de Monaliza, em um impulso de tentar ajudar a filha e o neto que estava prestes a nascer, passou a discutir com os médicos e acabou chamando uma viatura da Polícia Militar para que a transferissem o quanto antes. “Ele estava desesperado. Ele só queria salvar sua filha”, explicou Luzia.
Fato é que somente às 16h do mesmo dia, quase dez horas após o horário agendado para a cesariana, Monaliza entrou na sala de cirurgia para dar a luz. “Parece que de repente o equipamento apareceu e os médicos puderam fazer o parto de minha filha”, concluiu.
Daniel Tossato
Do Diário OnLine
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