Não chegamos ao fundo do poço ainda. Trago mais e más notícias. E urgentes. A discussão é séria e extremamente grave.
Peço que leiam com atenção e comentem o que pensam sobre isso. Sempre é muito pior do que imaginamos. Mas, também, sempre dá para melhorar, assim penso.
Hélio Angotti Neto, “professor de Medicina e Coordenador do Curso de Medicina do Centro Universitário do Espírito Santo. Médico formado pela UFES com residência em Oftalmologia e Doutorado em Ciências pela USP. Membro do Comitê de Ética em Pesquisa do UNESC, Diretor da Mirabilia Medicinae, revista especializada em Humanidades Médicas e criador do Seminário de Filosofia Aplicada à Medicina.”
Enfim, Hélio membro do Comitê de ~Ética~, vale frisar, escreveu um artigo cujo título é:
A REVOLTA CONTRA O QUE POUCO IMPORTA
Nesse texto ele disserta sobre o tema de “um grupo de jovens formandos de medicina, de uma universidade do Espírito Santo que posou sem calças e divulgou a imagem. Uma brincadeira típica daquelas de adolescentes .”
Aff. “Brincadeira”, pela milionésima vez, é quando todos os lados envolvidos se divertem. Se somente um lado ri isso tem outro nome.
Mas vai piorar. E muito. Hélio faz o artigo direcionado principalmente para os médicos que se posicionaram contra a postura dos meninos que tiraram foto com calça arriada, de jaleco, fazendo um gesto que imita uma vagina e postaram essa foto na rede social com a hashtag #pintonervoso.
Segundo o Coordenador do Curso de Medicina do Centro Universitário do Espírito Santo, os colegas médicos não deveriam se manifestar em redes sociais porque ferem a Ética Médica.
“O compartilhamento exagerado em redes sociais não teve nada de discrição. Se algo nos fere em termos éticos, a recomendação é que busquemos fundamentar uma denúncia que deve ser feita discretamente junto ao Conselho Regional de Medicina, não junto ao “conselho” dos grupos de mídia social, potencializando ainda mais o possível escândalo.””
Controverso esse ponto diante tantos relatos de abusos, assédios e estupros cometidos dentro de consultórios, depois que essa foto começou a circular. Podemos interpretar esse pedido como um corporativismo exagerado e covarde. Quiçá criminoso.
Médicos que vieram a público dizer que não concordam com esse tipo de postura e que iam lutar para que esse comportamento não mais se repetisse abraçaram a nossa revolta e a nossa dor. É isso que, de fato, como pacientes, queremos e precisamos.
Hélio reconhece que houve um erro dos meninos, mas observem como ele aponta isso:
“Do ponto de vista histórico e cultural, eles erraram? Vejamos o que nossos antepassados disseram sobre o excesso nos modos:
10. Para ganhar o paciente você deve evitar adereços exagerados de cabeça e perfumes exóticos. Excesso de estranheza garantirá má reputação, embora uma pequena dose não desqualifique o bom gosto. Assim é com a dor, irrisória quando numa pequena parte, grave quando presente em todo o corpo. No entanto, não desaprovo a tentativa de agradar o paciente, algo que não desmerece a dignidade médica.
Excesso de estranheza garantirá má reputação. Desde Hipócrates já se alertava sobre a manutenção da respeitabilidade e da honra profissional, prescrevendo uma postura de moderação nos costumes.”
Hélio não sabe ou finge não saber que para “ganhar o paciente” basta o médico nos tratar com respeito, olhar nos nossos olhos, mostrar-se preocupado com o ser humano que somos. A roupa e os adereços não são os quesitos mais importantes. Aliás, para muitos, é o que menos importa.
“De tudo, o que posso concluir? Fizeram uma brincadeira típica de adolescentes que seria mal vista até mesmo em tempos antigos. Adolescentes são craques em fazer tais coisas, ou você não se lembra de ter sido um adolescente?”
De novo, o termo ‘brincadeira’. Mas agora ele insiste que os adultos que estão prestes a se formar são adolescentes. Se fossem negros que tivessem fazendo algo tão violento quanto esses formandos, será que Hélio partiria também para defendê-los ou falaria que um moleque de dezesseis anos sabe já muito bem o que está fazendo? Peguei-me perguntando sobre isso…
E ele segue o artigo criticando os médicos que se manifestaram chamando-os de histéricos:
“A histeria causada entre muitos médicos, de todas as idades, frente ao ocorrido me preocupa.”
Vejam bem, o fato de formandos fazerem apologia ao estupro passou para Hélio como uma brincadeira de adolescentes e, para ele, isso sequer era motivo de tanta revolta. Já o mal estar de outros médicos perante este caso fz soar um alarme no Diretor da revista especializada em ~Humanidades~ Médicas.
“Mas o que chama a atenção é a tendência repetida da sociedade brasileira em prestar muita atenção às coisas pequenas e menosprezar fatos e ideias de suma importância.”
Observem como ele prossegue:
“Morrem sete dezenas de milhares de pessoas de forma violenta e intencional por ano. Mais de 70.000 assassinatos! O que as mídias sociais comentam? A morte de um gorila num zoológico estrangeiro ou um bando de rapazolas de calças arriadas.”
A mídia todo dia noticia a morte de mulheres, casos de estupros, a luta das feministas em melhorar a auto estima de quem ouviu a vida toda que a mulher não pode isso não pode aquilo. Mas o professor que forma outros médicos, pareceu cego para essas manchetes ou então as considerou como “coisas pequenas”.
Para chamar a atenção dos médicos que se posicionaram contra o comportamento dos meninos da foto ele, pasmem, nos conta que:
“Nas escolas ocorre uma lavagem cerebral tosca e uma censura velada à discordância ideológica, comprometendo a inteligência e a liberdade de nossas crianças e nossas famílias.”
Apoiador de Escola com Mordaça detected!
E o que isso te a ver com a discussão? Ele diz que os médicos deveriam estar muito mais preocupados com, só faltou falar, os petistas e esquerdopatas.
“O que atormenta nossos compatriotas? O médico bobo e desrespeitoso que fez uma brincadeira criticando o paciente que fala errado a palavra pneumonia.”, lamenta.
Aff. De novo a palavra “brincadeira”. Aquilo foi bullying da pior espécie demonstrando um preconceito horroroso de classe vindo de um médico! E isso para ele não tem a menor importância. Não é estranho?
“Estudantes ligados ao movimento estudantil defendem posturas que atentam contra a dignidade da vida humana como eutanásia, abortamento e suicídio assistido, priorizando uma ideologia potencialmente genocida ao invés de respeitarem os valores clássicos da boa medicina.”
O que seria os “valores clássicos da boa medicina”? Ele vai nos dar uma pista:
“Qual o foco do burburinho escandalizado das frágeis e sensíveis almas que circulam nas redes sociais? Calças arriadas.”
(…)
“Numa sociedade em que a ideologia de gênero distribui material pornográfico para crianças na educação infantil, em que adolescentes no ensino médio são instrumentalizados como bucha de canhão para a revolução que atenta contra toda e qualquer forma de pudor e em que todos são expostos ao material semipornográfico de suspeitíssima qualidade veiculado pelos meios de comunicação em horário nobre, só posso concluir uma coisa: os jovens egressos do curso de medicina fizeram foi pouco!”
Oi? Oi?!!! Onde há esse material pornográfico? Esse discurso eu já ouvi de quem vota em político que tem uma postura fascista quando não do próprio fascista que mentiu sobre esse conteúdo!
“Alguém já viu algumas das manifestações artísticas, políticas e culturais que abundam em nossos cursos superiores de humanas?”
Percebem onde isso vai parar? Percebem como tudo é política? Percebem tudo o que está acontecendo? Afinal, quem faz “doutrinação” são os professores, os poetas e os artistas?!
Vai piorar!
“Repito, os rapazolas da medicina foram até muito comedidos, quase carolas.”
Difícil acreditar que estamos lendo isso de uma pessoas que leciona sobre Ética…
“O brasileiro, de regra acusa de moralista qualquer um que queira impedir que mães saiam por aí matando seus filhos em seus ventres, mas na prática são de um moralismo insuportável ao perder enorme tempo em picuinhas sobre maus costumes e pequenos desvios de conduta que pouco dano concreto fazem a qualquer um.”
Hélio despreza o que as mulheres passam. Desconsidera o feminicídio, a quantidade de mulheres que morrem em clínicas de aborto, o número de estupros,… tudo isso não é considerado por esse doutor como um dano real. Faltou ele dizer “mimimi” e “vitimismo”. Ou não. Para mim, foi de uma forma explícita, falado.
“O mínimo que devo esperar de alguém que se revolta contra essa brincadeira imatura é uma revolta muitíssimo maior contra coisas extremamente mais urgentes e graves.”
O que para ele é urgente e grave é o projeto Escola com Mordaça, é calar as feministas, é apoiar a LGBTfobia…
“Você quer defender a classe médica de verdade? É como um zelote dos bons costumes que você realmente pode fazer algo importante e construtivo? Será que fiscalizar brincadeiras bobas de formatura é a melhor forma de zelar pela dignidade da profissão médica?”
E termina de forma extremamente prepotente se dirigindo aos médicos:
“Quer lutar pela honra e dignidade da classe médica? Já estudou o Código de Ética Médica e já se aprofundou na cultura milenar da medicina e em como ela pode ajudar a restaurar nossa confiabilidade e nossa honra? Já estudou política e filosofia a ponto de compreender como se trabalha a imagem profissional em sociedade?”
Ou seja, se não estudaram ou leram os mesmos livros que ele, calem-se, jumentos! E obedeçam Hélio Angotti Neto! Acho que isso que ele quis dizer.
E, assim, com chave de ouro, finaliza de vez:
“Agora, que todos joguem suas pedras… No alvo certo!”
Quais seriam esse alvos? Feministas? Petistas? Pessoas que são contra políticos que fazem discursos fascistas? Professores que estimulam o debate em sala de aula? Pessoas que lutam para que todos os seres humanos sejam respeitados independente de sua classe social, cor, religião e gênero?
Triste ver uma pessoa tão influente no meio escrever tudo isso. Piorou muito o quadro do “paciente” que somos todos nós.
Mas o lado bom é que a doença foi descoberta. Resta-nos saber como nos livramos não somente dos sintomas mas da causa.
Um caminho é a reflexão e o debate, acredito eu.
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