A idosa Josefa rodou por três serviços para conseguir tratar fratura no braço Foto de Bobby Fabisak/ JC Imagem |
Usuário, trabalhador e gestor do SUS não têm dúvidas: 2015 foi um ano difícil e cheio de retrocessos na saúde pública, em qualquer esfera de governo. A crise já constante do sistema, que trabalha com recursos insuficientes e nem sempre bem aplicados, mostrou-se bem mais grave, com atrasos de repasses, demissões, fechamento de leitos. Em Pernambuco, que teve sua rede estadual mais que triplicada nos cinco anos anteriores, com abertura de UPAs, UPAEs e hospitais metropolitanos, o cobertor ficou curto demais. Além dos problemas já citados, amarga-se uma lista de obras não concluídas, herdadas do governo anterior, do mesmo partido político (PSB), entre elas reformas e construção de maternidades municipais, readequação da emergência do Hospital Getúlio Vargas e a ampliação do Hospital Agamenon Magalhães, assim como a abertura de novas UPAEs. No Recife, o Hospital da Mulher também ficou para 2016.
A única certeza é que o novo ano vai exigir muita luta e negociação para obter prioridade junto ao governo federal, do Estado e dos municípios. Na rede estadual, o ano começa com orçamento apertado, de R$ 4,2 bilhões, e o foco é reabrir serviços fechados nos últimos seis meses, adianta o secretário estadual de Saúde Iran Costa. Já neste início de janeiro ele terá que apresentar à Promotoria da Saúde do Ministério Público Estadual um cronograma de reabertura de leitos de UTI. Falta regularizar totalmente a distribuição de medicamentos, liquidar a dívida com fornecedores e organizar melhor os encaminhamentos entre unidades do SUS, justamente num momento em que a demanda aumenta em razão das epidemias de dengue, chicungunha e de zika vírus, esta última acompanhada da microcefalia que afeta bebês.
“Minha mãe caiu em casa, quebrou o pulso direito e ficou sendo empurrada de um serviço a outro”, diz Tereza Venâncio de Lima. A idosa Josefa Ferreira, 72 , foi atendida inicialmente na UPA do Curado II, em Jaboatão, onde o médico entendeu que ela precisava de cirurgia. Encaminhou o caso ao Hospital Dom Helder, que devolveu a paciente. A unidade, então, transferiu Josefa ao Hospital da Restauração. Depois de passar uma noite no corredor, ela conseguiu o tratamento para a fratura. “Quando teve alta, precisamos comprar todos os remédios”, completa Tereza. Júlio César Bezerra, conselheiro de saúde, denunciou, nos últimos dias de 2015, que um homem infartado esperava há uma semana, numa UPA do Recife, vaga em UTI coronariana. O paciente acabou falecendo, segundo a Aduseps.
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