quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Justiça rondoniense determina que médico responda solidariamente com o Estado por danos a paciente





Em sessão de julgamento realizada dia 23 deste mês, a 2ª Câmara Especial do Tribunal de Justiça de Rondônia manteve o nome de um médico, e incluiu uma seguradora, para responder solidariamente com o Estado de Rondônia uma ação de indenização por danos materiais, morais e estéticos, em decorrência de erro médico feito numa paciente. “À vitima é facultado propor a demanda (ação judicial) com a formação de litisconsórcio passivo (vários requeridos ou réus) entre Administração Pública e seu agente, segundo precedentes desta Corte (TJRO) e STJ”. A ação de indenização corre na 2ª Vara da Fazenda Pública da Comarca de Porto Velho.

Consta no pedido inicial da ação de indenização, que a paciente, no dia 1º de março de 2014, submeteu-se a uma cirurgia para retirar o útero (histerectomia) devido a um mioma (tumor). Dessa cirurgia, foram realizadas outras também com erros, como a posição do implante de ureter na bexiga. As consequências foram várias, entre as quais dores e infecção hospitalar causadas pelas supostas negligência médica.
Diante do quadro, a vítima ingressou com o pedido de indenização contra o médico e o Estado, o que foi aceito pelo juízo de 1º grau, porém a defesa do médico recorreu para o Tribunal de Justiça solicitando a retirada do nome dele da suposta responsabilização, sob o argumento de que a responsabilidade, em caso de condenação, será do Estado para quem o médico presta seu serviço. A defesa pediu também que fosse denunciado na ação uma seguradora, com a qual o médico mantém contrato para acobertar danos profissionais, caso aconteça.

De acordo com o voto do relator, desembargador Roosevelt Queiroz Costa, a Constituição Federal prevê o direito de a pessoa jurídica, em caso de sua condenação por atos de seus subordinados, ingressar com a ação denominada de regresso contra o servidor responsável pelo dano, porém não impede que a vítima ingresse contra o Estado de Rondônia e seu agente.

Dessa forma, por unanimidade de votos (decisão colegiada), foi mantido o nome do médico para responder solidariamente à ação de indenização proposta pela paciente na 2ª Vara da Fazenda, incluindo o nome da seguradora, por haver no contrato previsão de coberturas por danos corporais, morais e materiais decorrentes de ações e omissões do médico no exercício de sua profissão.

Além do médico que pediu para seu nome ser retirado da demanda, há ainda mais dois que ingressaram com pedidos no mesmo sentido, e o resultado foi de que continuarão respondendo o caso solidariamente com os demais agentes, agora, a seguradora e o Estado. Os dois médicos tiveram seus pedidos negados nos processos n. 0800762-38.2016.8.22.0000 e 0801023-03.2016.8.22.000.

O Agravo de Instrumento n. 0800761-53.2016.8.22.0000, apreciado pela 2ª Câmara Especial, foi julgado nessa terça-feira, 23.
 

MG tem 1.600 processos judiciários registrados por erro médico




Nesta semana, um bebê de 11 meses morreu, por não resistir a fortes sintomas de vômito e diarreia. Ele veio a óbito no Pronto Atendimento Infantil (PAI) após ter sido atendido e liberado por um profissional do Departamento de Saúde da Criança e do Adolescente, em Juiz de Fora. A família do menino registrou denúncia sobre o atendimento à Polícia Militar (PM) e depois ao Conselho Regional de Medicina (CRM), e o caso, encaminhado à Polícia Civil (PC), já está sendo investigado. Junto ao CRM, foi encaminhado um pedido de abertura de processo administrativo para discutir a conduta ética do médico responsável pelo atendimento.
 
Com esse caso vindo à tona, a preocupação da população com o tipo de atendimento oferecido pelos médicos se aflora. Nossa equipe conversou com dois leitores que já passaram por situações de falta de atenção adequada durante consultas em hospitais da cidade.
 
No primeiro caso, que ocorreu no início deste ano, o leitor conta que precisou levar o pai, que à época tinha 84 anos, ao hospital durante uma crise aparentemente alérgica. “Demoraram muito a atendê-lo, alegando que priorizavam os casos de urgência e emergência. Eu precisei discutir para que meu pai fosse atendido. Foi receitado um xarope e ele foi liberado”, conta. Como não confiou no atendimento, ele levou o pai a outro hospital, onde foram pedidos vários exames para comprovação do caso. “Ele ainda está tomando remédios e realiza exames até hoje”, afirma o homem, cujo pai sofre de arritmia cardíaca e, segundo ele, tem várias crises.
 
Outra leitora, de 34 anos, que não quis se identificar, contou ao Diário Regional que a tia faleceu em um hospital de Juiz de Fora após cinco dias de internação e um diagnóstico equivocado. “Ela deu entrada no hospital com infecção urinária, depois foi diagnosticada com constipação intestinal. Realizaram uma lavagem intestinal que não funcionou e isso causou obstrução no intestino, por conta de uma perfuração”. A tia da mulher, que tinha 49 anos, sentia muita dor e, como os profissionais demoraram a perceber a obstrução, não houve tempo de fazer uma nova cirurgia e ela não resistiu. A família acredita que a demora no diagnóstico correto tenha contribuído para o óbito da mulher, mas não chegou a registrar nenhuma denúncia a respeito.
 
Casos de erros médicos e negligência, atualmente, são motivo de 30 mil processos judiciais indenizatórios em todo o país, de acordo com pesquisa realizada pelo advogado Raul Canal, presidente da Anadem (Sociedade Brasileira de Direito Médico e Bioética). Os dados foram observados de 2000 a 2015 e são divulgados no livro “O pensamento Jurisprudencial Brasileiro no Terceiro Milênio sobre Erro Médico”.
 
A pesquisa mostra que Minas Gerais tem 1.600 processos indenizatórios por erros médicos que estão em tramitação ou já foram julgados no período. O índice é um dos maiores do país, onde 7% dos médicos estão sendo ou já foram julgados. O Rio Grande do Sul lidera o ranking, com o dobro do número: 14% dos profissionais estão envolvidos em processos.
 
Os dados também apontam que a Ginecologia e Obstetrícia é a especialidade com maior carga processual em Minas. São cerca de 28% dos processos no Estado e 42% no Brasil. “A maior parte das negligências ocorre nos partos. Há muitos casos em que o obstetra retarda o procedimento, forçando o parto normal e, isto acaba virando um parto de emergência, que pode trazer consequências. Pode haver anóxia cerebral, onde falta oxigênio e o bebê sofre paralisia cerebral, podendo nascer paraplégico, tetraplégico, com deficiências neurológicas, surdo, mudo ou cego. Em algumas vezes, há casos até mesmo de morte”, explica Raul Canal. Outro ramo com muitas denúncias é o de cirurgia plástica. O especialista esclarece que o que ocorre nas plásticas, é que mais especialistas respondem pelos processos, mas o número de casos é inferior aos partos.
 
A pesquisa também mostra que a maioria das vítimas são mulheres (60% a 80%), enquanto os réus, aparecem, em maior número, entre os homens (70% dos médicos cometeram algum tipo de erro ou negligência). “Os médicos erram mais que as médicas. Negligenciam mais algumas regras de segurança”, esclarece Canal.
 
De acordo com o especialista, entre os danos que podem ser causados pelo erro médico, estão desde cicatrizes e pequenas lesões até sequelas graves, que podem resultar em quadros irreversíveis. “Por exemplo, a perda de um órgão, de uma função, cegueira, surdez, paraplegia, até o óbito. Uma gaze esquecida na cavidade do abdômen, por exemplo, mas pode causar uma infecção e levar a morte”, explica.

Como denunciar?

O advogado e presidente da Anadem aconselha aos pacientes vítimas de erros médicos que, primeiramente, encaminhem suas denúncias ao CRM. “Ele vai apurar se houve ou não negligência. Se houver, o Conselho irá ouvir o médico. Se ele for condenado no CRM, o paciente tem uma prova pré instituída para ir ao Judiciário”, esclarece, reforçando que a medida é simples e mais rápida do que levar o caso diretamente à Justiça.
 
Sobre a demora na resolução dos processos, Canal afirma que, nas esferas estaduais, eles costumam durar de cinco a oito anos. Nos casos em que é necessário o encaminhamento ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), o tempo varia de 10 a 12 anos. “98,7% dos casos são resolvidos dentro do próprio estado”, pondera.
 
Segundo Canal, os médicos condenados em processos judiciais estão sujeitos a multa e reclusão. Nos casos de indenização, eles estão sujeitos a pagar de R$5 mil até R$2 milhões ao paciente. E, perante o julgamento do CRM, que avalia a conduta ética e profissional, o médico negligente pode levar desde uma advertência em aviso reservado até a cassação do direito de exercício da Medicina.

Atenção dos médicos

Canal defende que os profissionais estejam mais atentos aos pacientes e realizem seu trabalho de forma humanizada. “É preciso olhar para o doente, e não só para a doença”, aconselha.
 
Ele acredita que a população está mais informada e quer participar do diagnóstico. Para ele, é preciso que os médicos considerem isto no momento do atendimento. “O paciente quer participar dinamicamente na compreensão de seus sintomas, no diagnóstico de sua doença, quer escolher as condutas terapêuticas baseadas nos custos, benefícios e riscos, em parceria com o médico. O médico tem que estar preparado para isso”, finaliza o advogado.(Fonte: Diário Regional)
  
 

terça-feira, 30 de agosto de 2016

Médico perito da Polícia Civil é preso suspeito de abusar de paciente na Baixada

Crime ocorreu durante uma consulta no Posto de Atendimento Médico em São João de Meriti



Rio - Um médico foi preso em flagrante por policiais civis da Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam) de São João de Meriti, acusado de molestar uma paciente de 62 anos no Posto de Atendimento Médico (PAM) da Vila União, naquele município da Baixada Fluminense, na tarde desta sexta-feira. De acordo com os agentes, a vítima contou que, durante o atendimento, Lizeu Sales Vilardo, 67, encostou o pênis ereto nas costas dela. A idosa ainda revelou que o profissional colocou a mão dela no orgão genital dele.
 
"Isso é absurdo. Vim aqui para me consultar e o senhor está faltando respeito comigo", disse a vítima em depoimento na delegacia. Ela disse aos investigadores que deixou a sala correndo e que o suspeito ainda tentou conversar. Mas a idosa revelou o abuso ao marido, que procurou a polícia. Lizeu, que também é médico perito da Polícia Civil e trabalha no posto de Nova Iguaçu, foi conduzido para a especializada. Ele nega o crime.
 
No entanto, segundo a delegada Sandra Ornellas, titular da Deam de São João de Meriti, o fato fica comprovado após depoimento das testemunhas. Inclusive, uma médica que também trabalha no PAM da Vila União contou que recebeu diversas denúncias sobre o funcionário e orientava as pessoas a procurar a polícia. 
 
Lizeu foi autuado em flagrante no artigo 215 do Código Penal (ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém, mediante fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima). O crime não cabe fiança e ele pode ficar na cadeia até seis anos, pena máxima. Ele vai responder a processo interno na corregedoria da Polícia Civil. No site do Conselho Regional de Medicina do Rio (Cremerj) o registro dele está ativo. 
 
De acordo com o Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) abrirá sindicância para apurar o caso. "A sindicância é a fase de apuração e precede o processo ético profissional. Em caso de condenação, as punições vão desde advertência confidencial até a cassação do exercício da medicina", explicou, em nota.
 
A reportagem ainda aguarda a resposta da Prefeitura de São João de Meriti.
 

Nos últimos 5 anos, 49 médicos foram processados por erro no Ceará

No ano passado, em média, foram registrados um processo por mês por pacientes vítimas da má conduta de profissionais de saúde



Nos últimos cinco anos, pelo menos 49 médicos foram processados no Ceará por erro médico. De acordo com o Conselho Regional de Medicina do Estado, só em 2015, em média, um processo por mês foi registrado por pacientes vítimas da má conduta de profissionais de saúde.

Em 2014, a vida da pequena Laurinha nunca mais foi a mesma desde que nasceu. Após a mãe, Paula Teixeira, sofrer um choque anafilático ao ser medicada antes do parto, Laura Cruz ficou sem oxigênio, teve paralisia cerebral e passou seis meses em coma, aparentemente sem vida. Hoje a menina respira com a ajuda de aparelhos e se alimenta por sonda em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) montada em casa.

Segundo o pai, Ádamo Cruz, a filha é sobrevivente de um erro médico. “Foi marcado o dia do parto, ele prescreveu um antibiótico profilático para quando ela fosse internada antes mesmo da cirurgia. Logo depois, vi o corpo da minha mulher todo marcado, eu acredito que tenham feito de tudo para reanimá-la, já que ela teve várias paradas cardíacas. A minha filha nasceu morta e foi reanimada na UTI. E seguiu-se o socorro para a minha mulher que não resistiu”, contou o pai à Tribuna Bandnews FM.
 
A família entrou com um processo na Justiça contra os profissionais que podem ter feito os procedimentos errados e contra um hospital particular de Fortaleza, onde a criança nasceu.

O caso da Laurinha – emblemático no estado – é um dos quase 40 processos ético-profissionais instaurados no Ceará pelo Conselho Regional de Medicina do Estado (Cremec). Em 2015, 12 médicos foram processados, sendo que seis foram julgados por agirem com imperícia, imprudência ou negligência, o que caracteriza erro médico.

O corregedor do Cremec, Albertino Souza, disse que a maioria dos procedimentos ocorre em Fortaleza. “O processo não quer dizer que houve a culpa. Porque ocorre toda a tramitação do processo, com direito à defesa, e no final tem o julgamento, e uma das partes ainda tem como recorrer”, explicou.

Para a presidente do Sindicato dos Médicos do Ceará, Mayra Pinheiro, problemas estruturais como falta de mão de obra e longas jornadas de trabalho nas unidades de saúde pública são fatores que podem contribuir para falhas no atendimento médico. “Todos os profissionais estão trabalhando com uma carga de estresse físico e emocional além da nossa capacidade. Isso põe em risco a vida das pessoas. O horário de medicação que atrasa, porque tem poucos profissionais, os improvisos que têm sido feitos hoje, tudo isso leva a erro médico”, destacou.

O número de processos movidos por erro médico que chegaram ao Superior Tribunal de Justiça cresceu 140% no país, entre 2010 e 2014, de acordo com o órgão.

Tribuna do Ceará
 

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

O INÍCIO DO FIM





Hoje, 29/08/2016, completa três anos que a nossa irmã, engenheira da CHESF, URBÂNIA POSSIDÔNIO DE BARROS CARVALHO teve sua morte selada por um ato criminoso, quando submetida à cirurgia programada, para retirada de um mioma. 

Um crime covarde, sem a mínima chance de defesa por parte da vítima, que entregou sua vida nas mãos do médico ginecologista e obstetra.

Sabemos que o erro é comum em qualquer profissão, na medicina não seria diferente. Porém o diferencial é atentar as queixas da paciente e o tempo de resposta por parte do profissional de saúde.

Urbania, em vão, reclamou, pediu, solicitou e até implorou por socorro, mas, além de não ser ouvida em suas queixas, sequer tomou conhecimento da lesão que havia sofrido em seu intestino.

O profissional que insistia em tratar o caso como gases só percebeu seu erro quando um médico plantonista, por iniciativa própria, chamou sua atenção após o resultado de uma TAC de abdomen, depois de quase 48h. Já era tarde!!!

Urbania ainda conseguiu ter uma sobrevida, dentro de uma UTI, durante um pouco mais de 30 dias e vindo a falecer no dia 08/10/2013.

Narrarei, abaixo, um pequeno resumo dos 3 primeiros dias letais para a vida de Urbania juntamente com alguns trechos do seu prontuário médico.
 
 

Em 29/08/2013 a engenheira da CHESF Urbania Possidonio de Barros Carvalho, 47 anos, casada e mãe de dois filhos, internou-se em hospital particular para se submeter a uma cirurgia programada de histerectomia recomendada pelo ginecologista obstetra, devido a um mioma que lhe causava grande fluxo menstrual.

Ao término da cirurgia foi encaminhada ao apartamento sem saber da lesão sofrida na alça intestinal e liberada à dieta livre e laxante.





No mesmo dia queixou-se de dores insuportáveis, tendo o profissional afirmado tratar-se de gases e recomendado que continuasse a alimentação e breves caminhadas.
 



No dia seguinte, com o quadro bastante agravado - vomitando secreção escura, abdome extremamente distendido e dolorido; falta de ar, sudorese - recebeu a visita do médico acusado que continuou insistindo no diagnóstico de gases e prescrevendo analgésico e antigases.
 



Por iniciativa do médico plantonista, após dois dias de sofrimento da paciente, foi solicitada a Tomografia Computadorizada do Abdome em que detectou-se quantidade de líquido e gases livre na cavidade abdominal e por telefone foi suspensa a dieta.

 
 

 
Informado do quadro grave o acusado submete à vítima a outra cirurgia com cirurgião geral, onde ocorreu bronco aspiração de fezes, precisando ser traqueostomizada para então suturar a lesão do intestino.

Remetida a UTI em estado gravíssimo a engenheira permaneceu e submeteu-se a outros 08 procedimentos cirúrgicos até o óbito em 08/10/13.

 
 

domingo, 28 de agosto de 2016

Médico enfaixa perna quebrada sobre a roupa de paciente


Idosa com perna engessada sobre a roupa em Bariri
 (Foto: Reprodução/Francisco Fernando Leme/Arquivo Pessoal/G1)
 

Uma mulher de 70 anos que fraturou a perna em uma queda, em Bariri, interior de São Paulo, teve o membro enfaixado sobre a calça e o tênis que usava ao receber atendimento médico na Santa Casa local. Dispensada após o procedimento, ela ficou dois dias sem poder tomar banho, trocar de roupa e foi obrigada a dormir de tênis.
 
O caso foi parar nas redes sociais e repercutiu na cidade. O hospital reconheceu que houve erro e afastou o médico temporariamente. 
A dona de casa Maria Ivone Rodrigues Leme contou ter sofrido uma queda ao se levantar durante a noite e começou a sentir dores no joelho. Ela foi quatro vezes ao hospital até conseguir o atendimento. As radiografias mostraram uma fratura leve na perna, mas não havia ortopedista e Maria Ivone voltou para casa.
 
Como sentia muita dor, os familiares conseguiram ambulância para que fosse levada de volta ao hospital. Foi quando o médico plantonista decidiu enfaixar a perna sobre a roupa. "Na terça-feira vi que precisava de atendimento e passaram de médico para médico, até que um deles falou que eu precisava engessar porque a perna estava quebrada mesmo. Eu fui de ambulância para a Santa Casa, então o médico enfaixou minha perna, mas ele enfaixou tudo. Eu estava de calça comprida por causa desse frio que está fazendo e ficou tudo ‘empelotado’. Foi calça comprida, foi meia e pegou até o tênis”, contou, em entrevista à TV Globo.
 
Ao visitar a mãe, Francisco Fernando Leme, filho da idosa, achou que aquilo era um descaso, fez fotos e postou em redes sociais. A repercussão foi imediata e muitas pessoas criticaram a atitude do médico. No mesmo dia, um enfermeiro da Santa Casa foi à residência e conduziu a mulher de volta ao hospital. Desta vez, o gesso foi aplicado corretamente.
 

Médicos têm menor probabilidade de morrer em hospitais do que outros pacientes

As disparidades nos cuidados de fim de vida entre médicos e a população de pacientes em geral sugerem uma diferença entre o que os médicos escolhem para si e os cuidados dispensados ​​à maioria dos pacientes. Uma nova pesquisa publicada na revista JAMA analisou a intensidade dos cuidados de fim de vida e os locais de morte para os médicos e não médicos, e indicou que os médicos recebem cuidados menos agressivos antes da morte. Eles também são menos propensos a morrer no hospital e são mais propensos a receber cuidados paliativos do que os pacientes não-médicos similares.
 
 
 
 
As descobertas, publicadas em 19 de janeiro no JAMA, podem adicionar credibilidade à opinião expressa por alguns especialistas de que os médicos morrem de uma forma que é mais consistente com as suas preferências em fim de vida do que a população geral. Os pesquisadores analisaram o uso de recursos na fase de final de vida entre os beneficiários do Medicare (EUA) em quatro estados, que morreram entre 2004 e 2011. Olhando especificamente para medidas de cirurgia, cuidados paliativos, unidade de cuidados intensivos admissão, óbito hospitalar, e as despesas durante os últimos 6 meses da vida, eles compararam os resultados entre os médicos (2396), advogados (2081), e a população em geral (665.579).

 Na análise ajustada, os médicos eram significativamente menos propensos a morrer em um hospital em comparação com a população em geral (27,9% vs 32,0%, P <.001). Eles também foram significativamente menos propensos a sofrer uma cirurgia (25,1% vs 27,4%, P = 0,01) e menos propensos a ser admitidos na unidade de terapia intensiva (25,8% vs 27,6%, P = 0,04). Em comparação com os advogados, que são considerados socioeconomicamente e educacionalmente semelhantes, os médicos eram significativamente menos propensos a morrer em um hospital (27,9% vs 32,7%, P <.001). Médicos e advogados não diferem, no entanto, sobre outras medidas de cuidados.
Embora moderadas, as diferenças para três das cinco medidas de intensidade de cuidados de fim de vida “sugerem cuidados menos agressivos para os médicos”, escrevem os autores. Apenas uma medida diferia entre médicos e advogados (a probabilidade de morte intra-hospitalar), o que sugere que “a experiência real com óbitos hospitalares podem diferencialmente motivar médicos para evitar isso”, os autores sugerem. As descobertas podem informar como os profissionais de saúde se comunicam com os pacientes sobre escolhas de cuidados de fim de vida, escrevem os autores.

 No segundo estudo, foram examinados registros de cerca de 500.000 pessoas que morreram de 1979 a 2011, com base em dados do Estudo de Mortalidade National Longitudinal, comparando o local da morte para médicos (815) com a de outros profissionais assistenciais (2635), outros profissionais (15.308) com níveis de educação semelhantes, e a população em geral (452.485).

 Na população total do estudo, 40,3% dos pacientes morreram internados em um hospital e 72,1% morreram em qualquer instalação. Em comparação com os médicos, os pacientes da população geral foram significativamente mais propensos a morrer em um hospital (40,4% vs 38,3%). Além disso, outros profissionais de saúde e outros pacientes altamente qualificados também foram mais propensos a morrer em qualquer instalação em comparação com os médicos. Não houve diferença significativa entre estes grupos e os médicos em termos de probabilidade de óbito hospitalar, no entanto.

 Os resultados sugerem que a familiaridade com os cuidados de saúde e o nível de escolaridade podem ter uma pequena associação com a experiência da morte, escrevem os autores. Estes resultados também podem estar relacionados com diferenças socioeconômicas, além de educação, que não foi possível medir, ou mesmo um tratamento diferenciado por médicos.
 
 

sábado, 27 de agosto de 2016

O médico super sincero

O cirurgião Atul Gawande revela como milhões de americanos são submetidos a exames, cirurgias e tratamentos que não trazem nenhum benefício. Alguma semelhança com o Brasil?


O médico e escritor Atul Gawande (Foto: Tim Llewellyn/divulgação)




Sou fã de carteirinha da categoria dos médicos escritores. Aqueles que não só têm a coragem de apontar as distorções da medicina e do mercado da saúde como ainda demonstram o talento dos grandes contadores de história. No Brasil, eles são raros. Drauzio Varella é o mais produtivo, mas o país carece de muitos outros. Quando teremos uma safra variada como a americana?
 
Só a revista The New Yorker conta com dois autores de primeira: o cirurgião Atul Gawande e o clínico geral Jerome Groopman. O oncologista Siddhartha Mukherjee ganhou o Prêmio Pulitzer com o monumental O imperador de todos os males – uma biografia do câncer. O cirurgião Martin Makary comprou briga ao desvendar aquilo que os hospitais não contam.
 
decisão de abraçar a carreira paralela (seja o jornalismo ou a literatura) não é indolor. Quase sempre envolve enfrentar o corporativismo médico e as maledicências que o mercado trata de espalhar assim que eles começam a fazer sucesso. “Fulano não é um médico tão bom assim”; “Se preocupa mais em escrever do que em estudar” e outros venenos que, felizmente, não colam.
 
O público agradece a existência deles e pede mais. Livros assinados por médicos brasileiros (em geral, inteiramente produzidos por ghost writers) existem aos montes. Servem para dar prestígio e certo verniz intelectual aos “autores”. Não têm nada a ver com a categoria a qual me refiro.
 
Quero ler mais textos produzidos por profissionais que vivam o cotidiano da medicina brasileira e sejam capazes de relatá-lo com autocrítica madura, sinceridade, clareza e – se não for pedir muito – qualidade jornalística ou literária.
 
Se eles existem no Exterior, se existe Drauzio Varella no Brasil, por que não podem surgir outros? Quem sabe algum talento adormecido possa se inspirar no exemplo do cirurgião Atul Gawande. Filho de imigrantes indianos, nascido em Nova York e criado numa cidadezinha do interior do Estado de Ohio, ele se tornou conhecido por falar abertamente sobre erros médicos – tema ainda obscuro no Brasil.
 
O último livro de Gawande (Being Mortal) alcançou o primeiro lugar na lista dos mais vendidos do jornal The New York Times. É um relato honesto sobre a forma como os médicos e as famílias tendem a alimentar falsas esperanças e a adotar tratamentos inúteis diante de mortes inevitáveis. Atitudes que podem encurtar a vida em vez de trazer conforto. Na próxima semana, o livro será lançado no Brasil, com o título Mortais (264 páginas, Editora Objetiva).
 
O desperdício de recursos sem melhoria da qualidade de vida é outro de seus temas prediletos. No artigo mais recente, publicado há algumas semanas na The New Yorker, ele trata da epidemia de tratamentos desnecessários – uma realidade comum também na medicina privada brasileira. Gawande demonstra como milhões de pessoas são submetidas anualmente a exames, cirurgias e tratamentos que não trazem nenhum benefício – apesar de custarem bilhões de dólares.
 
O fenômeno é causado por uma sucessão de distorções. A insegurança ou o interesse financeiro dos médicos produz pedidos de exames em excesso (o chamado overtesting, em inglês). Os testes revelam uma enormidade de características que fogem do padrão (overdiagnosis), mas que não necessariamente produziriam riscos se permanecessem ignoradas. Mesmo sem representar riscos, pelo sim, pelo não, as diferenças são tratadas (overtreatment). O dano ocorre quando o risco da intervenção supera algum possível benefício.

  Um dos exemplos citados pelo autor, especialista em cirurgia de tireoide, é o da mulher de 50 anos que descobriu um nódulo nessa glândula, logo removido por outro médico. Embora a biópsia tenha revelado que o nódulo era benigno, o patologista encontrou um “microcarcinoma” de cinco milímitros próximo a ele.
 
Ao ouvir a palavra (sinônimo de câncer), a paciente ficou apavorada. Quem não ficaria? Gawande esclarece que mais de um terço da população tem esses tumores minúsculos na glândula tireoide. É muita gente! No entanto, menos de uma pessoa a cada centenas de milhares morrem disso a cada ano.
 
Raros tumores como o daquela paciente desenvolvem a capacidade de se comportar como um câncer perigoso e invasivo. “As diretrizes médicas recomendam que não haja tratamento adicional quando eles são descobertos”, afirma.
 
O médico que atendeu a paciente antes de Gawande decidiu submetê-la a uma série de ultrassonografias ao longo de meses para monitorar o que havia restado da tireoide. Quando uma das imagens revelou o nódulo de cinco milímetros, ele recomendou que a glândula fosse extirpada.
 
No dia da operação, o médico teve um imprevisto. A paciente procurou Gawande para que ele o substituísse. Queria voltar para casa sem a tireoide e com o problema resolvido.O que fez o autor? Recusou-se a operá-la e explicou que os riscos do procedimento superavam qualquer benefício.
 
A mulher poderia sofrer paralisia das cordas vocais ou sangramento grave. Sem a glândula, precisaria tomar pílulas de reposição hormonal para o resto da vida. Gawande recomendou que o tamanho do nódulo fosse acompanhado uma vez ao ano e que a cirurgia fosse feita apenas se houvesse um crescimento significativo.
 
Quais as razões de histórias impressionantes e corriqueiras como essa? A relação entre os médicos e os pacientes é marcada por um jogo de forças desigual. O conhecimento confere poder aos médicos.  Os pacientes confiam nas indicações que recebem, mas a realidade demonstra que eles não deveriam fazer isso de forma passiva. Precisam se informar cada vez mais, discutir as opções com os médicos e entender que todo e qualquer procedimento envolve riscos.
 
A sinceridade é uma das maiores qualidades de Gawande. “Nós, os médicos, podemos recomendar tratamentos de pouco ou nenhum valor porque isso aumenta os nossos ganhos. Ou porque esse é o nosso hábito. Ou porque nós, genuinamente, mas incorretamente acreditamos nas nossas recomendações”.
 
Autores como ele são essenciais porque examinam feridas, informam, transformam confusão em clareza e conduzem o leitor com competência – a mesma missão do bom jornalismo de saúde.
 
 
 

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Hospital da Criança é modelo de OSs, mas para o pequeno Ghael, não




25 de julho seria mais um dia mágico na vida de Alexandro Santos de Andrade Pereira, auxiliar administrativo, 28 anos, e da designer de interiores, Adriana Correia da Cunha, 34 anos, com o nascimento do pequeno Ghael Davi, segundo filho do casal, nascido no Hospital Regional de Santa Maria (HRSM). Isso se o bebê não tivesse nascido com sequelas, a exemplo de insuficiência respiratória, por negligência médica, de acordo com a mãe.
Politica Distrital entrou em contato com os pais do pequeno Ghael, após ser procurado por uma amiga da família, que pede para não ser identificada. Ao blog Adriana Correia explicou que fez todo o pré-natal, sem o bebê apresentar nenhum problema e falou da dificuldade para conseguir atendimento para a realização do parto no HRSM, o que acredita ser a causa da sequela do filho.
“Eu tive uma gravidez tranquila, fiz todo o pré-natal direitinho, ele nasceu em uma quarta, e no domingo anterior eu fiz um eletro e deu tudo certo.  No dia anterior eu fiz exame e também estava tudo certo. Mas no dia que ele nasceu, eu estava na casa da minha sogra em Santa Maria não quiseram me atender. A bolsa estourou às 23h, eu fui para o hospital de Santa Maria e me mandaram voltar para casa. Passei a madrugada tentando ser atendida  e como eu não tinha dilatação, me mandaram andar por duas horas. E quando o bebê nasceu, ele estava sem batimento cardíaco e sem respirar. Depois conseguiram reanimar ele, teve convulsões, precisou ser amarrado no berço por causa das convulsões seguidas. Foi entubado, entrou em coma. Fiquei 20 dias no hospital . Graças a Deus ele teve uma recuperação rápida, mas eu preciso desse acompanhamento para fazer exames devido a situação dele.”, disse.
Adriana Correia explica que Ghael recebe medicação regular de Gardenal, medicamento que tem que comprar. O bebê está com o desenvolvimento incompatível para a idade e precisa tomar leite especial pois chegou a pesar menos do que quando nasceu, 2.795 gramas.
“Ele [Ghael] toma Gardenal, a cada 12 horas, mas está com refluxo, vomita muito, tem dificuldade de mamar e quase não dorme, o olhar não é fixo.”, explicou.






Hospital da Criança

Adriana recebeu encaminhamento para que Ghael pudesse ser atendido por uma neuropediatra no Hospital da Criança de Brasília José de Alencar (HCB). Porém, após quase dois meses, até o momento, a família do bebê não foi contatada para avisar quando será agendada a consulta.
 
Mesmo com cadastro nº 171306087 no Sistema de Regulação (SISREG) por estar em classificação de risco, indicação vermelha, que identifica casos graves, a família de Ghael aguarda pacientemente a confirmação da consulta do bebê com um neuropediatra no HCB. 
 
 
 
 
Secretaria

Política Distrital entrou em contato com a Secretaria de Estado de Saúde do DF (SES-DF)(16/Jul) para obter mais informações sobre o caso. Por meio da Assessoria de Comunicação (Ascom), a SES-DF informou que o pequeno Ghael pode receber a consulta em qualquer unidade da rede pública, não necessariamente no HCB. Porém, mesmo com prioridade no atendimento, o bebê terá que aguardar uma vaga.
“A Secretaria de Saúde informa que o paciente G.D.C.A. está regulado para consulta em neuropediatra. A consulta poderá ser em qualquer unidade da rede pública de saúde e não necessariamente no Hospital da Criança. A pasta esclarece que os pacientes são regulados conforme a classificação de risco, G.D.C.A está classificado como vermelho, ou seja, tem prioridade no atendimento, que será realizado assim que surgir a vaga.”
Com a regulação do HCB, gerido por uma Organização Social (OSs), a família aguarda a mercê da própria sorte e da solidariedade de amigos, a exemplo da amiga de Adriana Correia que procurou Política Distrital para falar do caso do Ghael. Isso porque, supostamente, não há neuropediatra na rede que possa garantir o atendimento da criança.
 
Supostamente, pois denúncias publicadas por Política Distrital e questionamentos de políticos, a exemplo do deputado distrital, Rafael Prudente (PMDB), questionam a ausência de especialistas que poderiam atuar na atividade fim mas estão vinculados a cargos administrativos.
 
O que fazer para ser atendido no Hospital da Criança
 
Em 5 de julho, Política Distrital questionou à SES-DF sobre o processo de funcionamento para marcação de consultas. Isso porque muitos usuários acreditam que, em uma emergência ou marcação de consulta ambulatorial, basta ir até o hospital, agendar a consulta e conseguir o sonho de atendimento em um ambiente preparado para acolher os usuários com dignidade. com direito  teatro, tv, e até apresentações musicais. Porém, ninguém se deu ao trabalho de explicar como funciona para se conseguir receber atendimento no HCB. Mas o blog, que foi convidado pela direção da OSs que gere o HCB, em fevereiro, para conhecer o Hospital, questionou à SES sobre os procedimentos para se agendar uma consulta no Hospital da Criança.
 
Confira a resposta da SES-DF:
“As consultas no HCB são reguladas pela Secretaria da Saúde do DF (SES-DF) através da Central de Regulação, ou seja, o Hospital não tem permissão para agendar a primeira consulta do paciente. Para ter a primeira consulta com os especialistas disponíveis no HCB é preciso: Ser atendido por um médico/pediatra de qualquer uma das Unidades de Saúde da Rede da SES-DF (Hospitais e Centros de Saúde); Ter um encaminhamento, realizado por este médico, justificando o motivo da solicitação (formulário próprio da SES-DF); Ter registrada esta solicitação no sistema da Central de Regulação SES-DF – na própria Unidade de Saúde solicitante. Todas as Unidades de Saúde da Secretaria de Saúde do Distrito Federal dispõem de pessoal treinado e com acesso ao SISREG por meio do endereço eletrônico http://sisregiii.saude.gov.br; Aguardar o contato da Central de Regulação, que informará a data e horário previsto para comparecimento do paciente a Unidade de Saúde para a qual o paciente foi regulado (no HCB ou em qualquer outra da Rede que disponibilizar o serviço solicitado).”.
HCB é referência pois as vagas são limitadas.

O governador do DF, Rodrigo Rollemberg (PSB) sugere que o HCB é um modelo de hospital gerido por OSs. No entanto não explica, que essa excelência e qualidade no atendimento aos paciente do SUS do DF e de outros estados está condicionado a disponibilidade de vagas. Rollemberg deturpa uma  iniciativa de cunho social, da presidente da Abrace, Ilda Ribeiro Peliz, para atender uma demanda específica, a pediatria infantil, ao sugerir que a população do DF, terá a mesma qualidade de atendimento.
 
De forma inconsequente o governador ‘vende’ a essa população, estimada de 3 milhões de pessoas, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sem considerar as pessoas do entorno que recorrem à saúde do DF, que as instituições de OSs representam no DF será sinônimo do padrão do HCB.
 
Mas por quê?

Para entender melhor, a deturpação de Rollemberg, talvez alguns questionamentos de uma pediatra que trabalha no 7º andar do Hospital de Base do DF (HBDF), onde funciona a pediatria e pede para não ser identificada, ajudem a entender a questão.
 
“Como pode o 7° andar do hospital de Base estar lotado de crianças internadas, se tem o Hospital da Criança cotado para atendê-los? Será que estão ganhando até pelos meninos que estão internado aqui? Já que é tão bom a assistência promovida pelas Organizações Sociais, por que os hospitais públicos estão lotados de crianças sendo atendidas ou precisando de atendimento? Aqui no Base usam a mão de obra nossa e insumos como medicamentos nossos. Só vai para o Hospital da Criança o ‘filé’? Dá para desconfiar disso. Os pediatras concursados para SES estão cumprindo sua carga horaria no Hospital da Criança. Será que o GDF esta pagando duas vezes pelo serviço deles? Porque as OS cobram um total pelo serviço prestado. E não por médico contratado? Se nossos pediatras vao cumprir carga horária lá. Eles não devem receber por médicos pediatras porque o salario deles é a SESDF quem paga e não o hospital da criança?”, questiona.
 
 

Marido denuncia que grávida teve o intestino perfurado em maternidade

MPE apura o caso que teria acontecido no Hospital Dona Regina. Paciente está internada na UTI do Hospital Geral de Palmas
 
 
 
 
 
O Ministério Público Estadual (MPE) realizou uma vistoria no Hospital e Maternidade Dona Regina, nesta quarta-feira (29), para apurar uma denúncia de negligência médica. De acordo com a promotora de justiça Maria Roseli de Almeida Pery, o marido de uma das grávidas atendida na unidade afirmou que a esposa teve o intestino perfurado após uma cirurgia cesariana.
 
A paciente, que não teve o nome divulgado, está internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Geral de Palmas (HGP). O marido disse ao MPE que o caso aconteceu este mês e que ele chegou a registrar um boletim de ocorrência na Polícia Civil.
 
A promotora afirmou que no prontuário médico da paciente não consta que ela tenha sofrido perfuração no intestino. Uma das coordenadoras do hospital disse, durante a vistoria, que o que teria ocorrido seria a formação de cicatrizes internas no intestino. Por isso ela teria passado por outra cirurgia e teve necrose na parede abdominal. Quadro que pode ter sido resultado de uma infecção hospitalar.
 
De acordo com o MPE, o marido da gestante também registrou reclamação junto à Secretaria Estadual da Saúde (Sesau), para que seja instaurada uma sindicância administrativa. Além disso, comunicou o Conselho Regional de Medicina (CRM), para que apure se houve falha ética.
 
Outro caso

 Durante a vistoria, a promotora também ficou sabendo de uma segunda gestante que teve o intestino perfurado depois de uma cesariana na maternidade. Este caso teria acontecido há 58 dias.
A paciente teve alta hospitalar 48 horas depois da cirurgia, mas foi internada novamente 15 dias depois, com quadro infeccioso, foi medicada com antibióticos e, em seguida, recebido alta novamente. Dias depois, retornou em estado grave, tendo que passar por uma segunda cirurgia.
O hospital informou à promotora que casos como estes podem ser causados por negligência médica ou por consequência do próprio procedimento cirúrgico.
 
 

terça-feira, 23 de agosto de 2016

Quais exames inúteis seu médico está solicitando?




Às vezes, os médicos são os principais responsáveis por pedir exames ou sugerir tratamentos desnecessários. Para economizar tempo e dinheiro, nove grandes grupos médicos, cada qual de uma especialidade, elaboraram uma lista.
 
Nela constam cinco exames e/ou tratamentos que poderiam ser evitados, sem retirar qualquer benefício médico dos pacientes. A iniciativa foi uma ideia de Howard Brody.
 
Depois de meses de análises por parte de comitês de especialistas, as nove primeiras especialidades a terem suas listas estabelecidas foram cardiologia, cardiologia nuclear, oncologia, radiologia, nefrologia, gastroenterologia, medicina de família, medicina geral e alergologia.
 
A importância dessas listas reside no fato de que tratamentos desnecessários podem acarretar péssimas consequências para a saúde do paciente, que, por exemplo, é exposto em excesso à radiação ou toma remédios além da conta.
 
Confira as listas!

Alergologia
  • Exames de imunoglobulina G (IgG) e uma bateria indiscriminada de testes de imunoglobulina E (IgE) devem ser evitados.
  • Não peça tomografia computadorizada da cavidade nasal e não prescreva antibióticos para rinossinusite aguda sem complicações.
  • Não faça testes diários de diagnóstico em pacientes com urticária crônica.
  • Em casos de infecção, não recomende a reposição de imunoglobulina, a menos que haja resposta dos anticorpos às vacinas terapêuticas.
  • Não diagnostique asma sem fazer espirometria.
Medicina de família
  • Caso sinta dores nas costas, não faça raio-X da região nas primeiras seis semanas, a menos que existam fatores de risco.
  • Não prescreva antibióticos para sinusite fraca ou moderada, a não ser que os sintomas durem sete dias ou mais, ou a menos que os sintomas piorem depois de uma pequena melhora clínica.
  • Não faça absorciometria de raios-X de dupla energia para casos de osteoporose em mulheres abaixo de 65 anos ou em homens abaixo de 70, sem fatores de risco.
  • Não peça eletrocardiogramas anualmente ou qualquer outro exame cardíaco para pacientes com baixo risco e sem sintomas.
  • Não faça o teste de Papanicolau em mulheres que tenham menos de 21 anos ou em mulheres que fizeram histerectomia por doenças não relacionadas a cânceres.
Cardiologia
  • Não faça exames cardíacos que possam ser estressantes ou não invasivos na avaliação inicial de pacientes sem sintomas cardíacos, a não ser que existam fatores de alto risco.
  • Não realize exames cardíacos que possam ser estressantes ou não invasivos em pacientes assintomáticos.
  • Não faça exames cardíacos que possam ser estressantes ou não invasivos, como uma avaliação de pré-operatório, em pacientes programados para passar por cirurgias não cardíacas de baixo risco.
  • Não faça ecocardiogramas como se fosse um exame de rotina para doenças assintomáticas de válvula nativa em pacientes adultos com nenhuma mudança dos sintomas.
  • Não faça colocação de stent de lesões não culprit durante angioplastia coronária para enfartos estáveis e sem complicações do tipo STEMI.
Medicina geral
  • Não realize eletrocardiograma em indivíduos assintomáticos e com baixo risco para doenças coronárias.
  • Não faça exames de imagens em pacientes com dores lombares não específicas.
  • Na avaliação de síncope simples (desmaio) e na avaliação neurológica normal, não realize tomografias computadorizadas ou ressonância magnética.
  • Em pacientes com baixa probabilidade de tromboembolismo venoso, obtenha a medida de D-dímero como um teste de diagnóstico inicial; não faça imagens computadorizadas como parte desse diagnóstico inicial.
  • Não realize radiografias pré-operatórias do peito na ausência de suspeita clínica de patologia intratoráxica.
Radiologia
  • Não faça exames computadorizados para dores de cabeça simples.
  • Não realize exames computadorizados para suspeita de embolia pulmonar sem probabilidade moderada ou alta (pré testada).
  • Evite raios-X do peito para pré-operatórios para pacientes ambulatoriais com histórico clínico e exames físicos normais.
  • Não faça tomografia computadorizada para avaliar suspeitas de apendicite em crianças até que o ultrassom seja considerado uma opção.
  • Não recomende exames computadorizados para cistos anexiais sem maiores perigos clínicos.
Gastroenterologia
  • Para tratamento farmacológico de pacientes com refluxo gastroesofágico, a terapia de supressão ácida deveria ser administrada na menor dose necessária, para atingir os objetivos terapêuticos.
  • Não repita imageamento para câncer colorretal (seja qual for o método) por 10 anos, depois de uma colonoscopia de alta qualidade ter dado negativo em indivíduos que tenham o fator de risco da idade.
  • Não repita colonoscopia por pelo menos cinco anos para pacientes que tenham um ou dois pólipos adenomatosos pequenos (menor que 1 centímetro), sem displasia.
  • Para o paciente que é diagnosticado com o esôfago de Barrett e que já fez duas endoscopias, que confirmam a ausência de displasia na biópsia, um exame de vigilância posterior não precisa ser feito em um período menor que três anos.
  • Para um paciente com síndrome da dor abdominal funcional, a tomografia computadorizada não deve ser repetida, a menos que haja mudança no quadro clínico.
Oncologia clínica
  • Não utilize terapias direcionadas ao câncer para pacientes com tumores sólidos e com as seguintes características: status de desempenho baixo (3 ou 4), nenhuma melhora de intervenções anteriores, não elegíveis para interferência cirúrgica e sem evidências clínicas de que tratamentos contra a doença poderão funcionar.
  • Não faça tomografia computadorizada, tomografia emissora de pósitron ou scan de radionuclídeo dos ossos, em níveis iniciais de câncer de próstata, com baixo risco de metástase.
  • Não faça tomografia computadorizada, tomografia emissora de pósitron ou scan de radionuclídeo dos ossos, em níveis iniciais de câncer de mama, com baixo risco de metástase.
  • Não realize testes com biomarcadores ou imageamentos para indivíduos assintomáticos, que trataram câncer de mama com terapia curativa.
  • Não use estimuladores das células brancas para prevenção primária ou neutropenia febril para pacientes com menos de 20% de risco de complicações.
Nefrologia
  • Não realize imageamentos rotineiros para detectar câncer em pacientes dialisados, que tem expectativas de vida limitadas sem qualquer sinal ou sintoma.
  • Não administre agentes estimulantes de eritropoiesis em pacientes com doença renal crônica, em que os níveis de hemoglobina sejam maiores ou iguais a 10g/L e que não tenham sintomas de anemia.
  • Evite drogas anti-inflamatórias não esteroidais em indivíduos com hipertensão e outras doenças cardíacas.
  • Não coloque cateteres centrais de inserção periférica em pacientes com doença renal crônica (do estágio III ao V), sem consultar um nefrologista.
  • Não inicie diálise crônica sem se assegurar que a decisão foi tomada em conjunto pelo paciente, sua família e seus médicos.
Cardiologia nuclear
  • Não faça imageamentos cardíacos ou angioplastia coronária em pacientes sem sintomas cardíacos, a não ser que tenham fatores de alto risco.
  • Não faça imageamentos cardíacos para pacientes com baixo risco.
  • Não realize imageamentos de radionuclídeos como parte de exames de rotina em pacientes assintomáticos.
  • Não faça imageamentos cardíacos, como avaliação pré-operatória, em pacientes que passarão por cirurgias não cardíacas de risco baixo ou intermediário.
  • Use métodos para reduzir a exposição à radiação em imageamentos cardíacos sempre que possível. [TheNewYorkTimes]

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

O Médico de Família, Hoje





Medicina de família, médico de família. Uma moda que volta? Um retrocesso saudosista que abre mão dos progressos da ciência e da medicina? Ou talvez um oportunismo no vácuo de um programa do Governo –Programa de Saúde da Família- que chega com ares messiânicos como solução de todos os problemas de saúde do cidadão comum? Afinal, o que é medicina de família, onde estão os tais médicos de família?
 
Duas historias para esclarecer os termos. Em certa ocasião, já faz alguns anos, atendi um chamado médico na casa de uma família que me procurou, por indicação, sem conhecer-me. Apresentei-me na porta, atendi o paciente, expliquei para a família o que estava acontecendo, fiz as prescrições necessárias, assim como as recomendações para cuidar do enfermo, e aceitei, de bom grado, o cafezinho que me ofereceram. Neste momento de descontração, cumprido o dever profissional, a filha do paciente confessou:
 
-                     Posso lhe dizer uma coisa. Doutor?
 
Assenti com um sorriso.
 
-                     A amiga que me recomendou o Sr, disse-me que era médico de família. Eu, para ser franca, esperava ver entrar pela porta um velhinho com aquelas malas antigas, vestindo um terno com colete e....
 
-                     Ficou decepcionada? –perguntei.
 
-                     Não, de modo algum. Mas é que hoje em dia não se vem médicos de família por ai. Eu lembro quando era criança que o médico da cidade do interior onde a gente morava, sempre ia em casa, e mal entrava já sabia o que nós tínhamos... Morreu faz tempo, nós mudamos e nunca mais tivemos um médico assim. Hoje é tudo muito complicado, exames, hospitais, e a gente não sabe o que acontece com a gente.....
 
-                     Mas, a senhora pergunta para os médicos?
 
-                     Eles não explicam nada, falam entre eles numa linguagem que a gente não entende. Hoje o médico nem te examina, pede exames, não olha para você. Uma pena isso de não ter mais médicos de família, aquilo sim que era bom
 
-                     Mas, minha senhora está falando com um deles...
 
-                     Será que isso vai voltar, doutor?
 
A minha interlocutora não estava muito convencida de que o médico de família é uma realidade, que estava na frente de um “elemento” da espécie que ela considerava extinta. A lembrança do velhinho simpático da cidade do interior que conheceu quando menina, monopolizava todas suas lembranças e saudades, como se fosse Papai Noel. A gente, quando adulto, continua ganhando presentes no Natal, mas o encanto do Papai Noel esse já foi-se embora para sempre.
 
A história encerra ensinamentos e torna clara a questão em pauta. O médico de família, logo sabia o que estava acontecendo, acertava o diagnóstico do mal que acometia o paciente, e resolvia com facilidade, de modo prático. Acabei a minha segunda xícara de café e, após despedir-me entrei no carro, dei partida, e mal engatei a primeira vieram à minha mente as palavras que com freqüencia utilizo nas minhas aulas para explicar o que os médicos de família fazemos. Algo que a filha do meu paciente acabava de dizer ao seu modo. “Tão importante como conhecer a doença e conhecer a pessoa que tem a doença”. Ou também: “Não existem doenças, mas doentes”. Sem esquecer de William Osler, um grande médico, que com audácia afirmava: “ Mais importante do que o médico faz, é o que o paciente pensa que o médico está fazendo”. Toda essa sabedoria, sem dúvida, estava incarnada na saudosa figura do velhinho, do médico de família versão Papai Noel lembrado por nossa nova amiga.
 
A segunda história vêm não de um paciente, mas de um velho médico e professor, com quem conversei diversas vezes sobre as questões de medicina de família. 
      
Olhe –dizia- eu costumo dizer aos meus doentes que sou o médico de “passando mal”.
-  Como assim, professor? –perguntei surpreso, ciente da quantidade de títulos acadêmicos que constam no seu curriculum.
 
-  Veja, Pablo, quando as pessoas tem dor de cabeça, procuram o neurologista. Quando tem dor nas costas, vão atrás do ortopedista e alguns do reumatologista. Quando o assunto é dor no peito, pontadas, batedeiras, toca procurar o Cardiologista, quem sabe até pneumologista. Agora quando as pessoas “passam mal” acabam me procurando diretamente. Acho que sou o médico de passar mal.
 
Por associação de idéias lembrei nesses momentos do Geraldo, o mecânico do meu carro, em quem deposito toda minha confiança. Como não entendo nada de automóveis, sempre que surge algum problema, levo-o para o Geraldo dar uma olhada. Já lhe disse muitas vezes:
 
-  Geraldo, nós temos profissões parecidas. Quando o carro dá problema eu não trato de adivinhar se é carburador, câmbio, diferencial, ou motor desregulado. Trago aqui e você providencia o que for necessário. Medicina de família é a mesma coisa: as pessoas tem um problema e, ao invés de tentar adivinhar o que tem, e acertar o especialista adequado –coisa que raramente acontece- nos procuram e nós dignosticamos, resolvemos, ordenamos a confusão que a doença causa e até podemos chamar um especialista quando for o caso.
 
Mas, doutor – me diz o Geraldo concordando - não é fácil hoje encontrar esse médico. A gente vai de um especialista a outro, que nem bolinha de ping-pong, faz um monte de exame, e no final nem sempre resolve.
 
-   É claro, Geraldo. Acertar é problema do médico, não do paciente. Ao invés de enfrentar uma via sacra de médicos, para tentar achar o especialista para o seu problema –bingo!- melhor seria que procurasse o medico de família. 
      
As histórias que um médico de família tem a oportunidade de viver diariamente, são muitas e constituem a melhor explicação para a sua profissão. Os pacientes logo entendem o que é Medicina de Família e quando ela existe e funciona a procuram sem hesitar. Mas a cultura de especialidades que se encontra instalada na assistência á saúde –pública e privada- atinge o próprio paciente que desconfia de uma novidade que lhe lembra tempos antigos, de velhinhos de colete, com cara de Papai Noel. Será que isso está voltando? Não sei, não.
 
Quando o paciente nos procura, sem saber que somos médicos de família, e perguntamos “O que mais o senhor sente”, já ouvi diversas vezes: “Doutor, da sua parte é só isso”. E quando nos apresentamos num serviço como médicos de família, o paciente vislumbra que podemos ajudar nos seus problemas de saúde, ainda pergunta para certificar-se : “Doutor, que sintoma devo ter para poder passar em consulta com o senhor”. Claro é, que a resposta vem das conversas com o velho professor: “Minha senhora, eu cuido de gente, de pessoas. Quando a senhora estiver passando mal, pode me procurar”. Igualzinho que eu procuro o Geraldo –penso com os meus botões.
 
É preciso reinstalar a cultura do Médico de Família, com credibilidade. Não é difícil, mas requer competência, dedicação, compromisso com um ideal que se resume em “saber cuidar, querer cuidar” dos outros. Estar do lado de quem sofre, esforçar-se por entendé-lo, dar respostas ás dúvidas do paciente, ampará-lo nos seus medos. “Quando a gente está doente –diz outro professor de medicina de família- o primeiro que quer do lado é a própria mãe; depois, um médico que nos cuide”. Esse médico que cuida é o médico de família. E cuida sempre, sem importar-se com a doença que afeta ao paciente. Cuida porque conhece o paciente, e é conhecido dele. Cuida a todo momento, está junto do paciente onde quer que o paciente estiver: no seu consultório, na casa do enfermo, no hospital onde por ventura o doente tem de ser internado. E está do lado com consciência de missão, procurando resolver, atento ás expectativas do paciente e da família. “ Quem tem muitos médicos acaba não tendo nenhum” –diz um ditado popular. E é verdade. “Quanto mais médico, pior –dizia outra paciente, velha conhecida- a gente não sabe o que acontece, e acaba tomando um monte de remédio, fazendo muito exame. Olha, doutor, muito médico com o paciente é como muita mulher numa cozinha: só dá confusão e nunca sai o almoço”.
 
A Medicina de Família, especialidade reconhecida em muitos países, luta por abrir-se caminho no nosso Brasil. Um caminho que implica atender as necessidades da população e, ao mesmo tempo, instalar-se na Universidade, nas faculdades de medicina –que é onde se fabricam os médicos- para fazer deles profissionais competentes. A sabedoria do nosso velhinho com colete e sorriso do papai Noel, mas com ciência moderna, com tecnologia, com informação, para poder oferecer ao paciente o que de melhor se produz no mundo científico. O médico de família não pode ser um profissional anacrônico, do passado, desatualizado. Deve ser alguém que incorpore os progressos da ciência e os faça chegar ao paciente numa linguagem compreensível.
 
A Medicina vive tempos de vertiginoso progresso técnico. Paralelamente, nunca se chegou a semelhante nível de despersonalização –de desumanização, por usar uma linguagem na moda- na hora de tratar o paciente. Parece até que o médico está tão preocupado com a doença., que esquece do paciente que é o portador dessa doença. Não é culpa de ninguém, mas sim uma situação que requer um posicionamento novo, para recuperar o aspecto humano da medicina, isto é, para colocar o paciente em primeiro lugar. No cenário da medicina o paciente sempre é o protagonista, o ator principal; o máximo que o médico deve ser é um bom coadjuvante. O médico de família surge assim como a figura integradora, como um referencial de confiança para que o paciente possa consultá-lo nas questões ordinárias de saúde. Saberá este nosso médico de família –que tem a sabedoria do velhinho, mas com roupa nova, sem colete do século XIX- estudar o paciente como um todo, numa abordagem geral, completa. Saberá ouvir o paciente, saberá ajudar, cuidar. Saber-se cuidado é aspecto fundamental na luta do paciente contra a doença. Um médico que é técnico, moderno, atualizado; e que é ao mesmo tempo humano, compreensivo, cuidador. 
      
Medicina de Família, Medicina centrada na pessoa, Medicina Integral são variações sobre o mesmo tema que representam o que em outras épocas chamava-se médico de cabeceira, aquele que como o livro de cabeceira se consulta para tudo, que vai com a gente, a toda hora. Um verdadeiro vade-mecum. É o médico que cuida de você e lhe ajuda a superar os problemas, que você pode consultar sem ter que se preocupar de acertar diagnósticos ou de padecer determinados sintomas. O médico de família não é o médico do seu coração, nem do seu rim, nem da sua artrose, nem da sua depressão. Ele é, simplesmente, o seu médico. Você já tem um?
 
Prof. Dr. Pablo González BlascoDiretor Científico da SOBRAMFA- Soc. Bras. de Medicina de Família
pablogb@sobramfa.com.br
 
 
 

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Tarja Preta: os segredos que os médicos não contam

Eles vendem remédio como quem vende parafuso. Conheça um pouco dos indigestos bastidores da indústria farmacêutica neste trecho do novo livro da SUPER.
 
 
 
 
"Nós não podemos esperar que os médicos perguntem, temos de chegar lá e dizer na frente deles. Jantares, programas de educação médica continuada, consultoria- tudo isso funciona muito bem, mas não se esqueçam do cara a cara. É aí que precisamos estar, segurando a mão deles e sussurrando em seus ouvidos."
 
"Nada deixa um médico mais interessado num remédio do que um estudo. Use o poder do estudo para abrir portas, mas não perca muito tempo com isso e não diga que você pode conseguir um estudo para ele. Nós não temos muito dinheiro sobrando."
 
"Se algum deles perguntar por dados adicionais, diga que estamos reunindo tudo, depois sugira que o médico coloque alguns pacientes em tratamento com a droga."
 
Os diálogos que você acabou de ler estão no depoimento  que o cientista David P. Franklin deu à Justiça americana sobre como os promotores de venda e consultores médicos da farmacêutica Parke-Davis, comprada depois pela Pfizer, eram orientados a falar com os profissionais da saúde.
 
Franklin entrou na empresa em abril de 1996 e pediu demissão menos de três meses depois, principalmente por não concordar com práticas de promoção do remédio Neurontin. Ele gravou e registrou várias conversas e e-mails para comprovar as denúncias.
 
O Neurontin foi lançado em 1994 como medicamento coadjuvante contra crises de convulsão em pacientes epiléticos que não respondiam bem a outros tratamentos. Era um mercado relativamente pequeno. Acontece que as vendas anuais do medicamento passaram de 97,5 milhões de dólares em 1995 para 2,7 bilhões de dólares em 2003- um crescimento de 2.700%. E não foi exatamente porque tivesse aumentado o número de doentes com esse quadro tão específico.
 
Segundo Franklin, a companhia contratava consultores médicos para atuar exclusivamente como representantes de venda e oferecer dinheiro a quem receitasse o medicamento e conseguisse influenciar o maior número de colegas a fazer o mesmo. Os consultores eram orientados também a dizer que estavam "envolvidos em pesquisas", para passar maior credibilidade, quando na verdade só estavam envolvidos mesmo em engordar suas contas bancárias. Não havia estudos relevantes nem dados comprovados para divulgar.
 
No mundo ideal, consultores médicos trabalham em funções médicas, científicas, sem nenhum vínculo com departamentos de vendas. No mundo ideal, eles são treinados para oferecer informações técnicas (e verdadeiras) sobre os produtos da empresa para onde trabalham, de modo a ajudar os médicos nos consultórios.
 
Mas o mundo real pode ser diferente. De acordo com o depoimento, a farmacêutica fornecia informações falsas sobre o medicamento, plantava pessoas na plateia de congressos para fazer perguntas sobre os benefícios do remédio, promovia medicamentos para usos não aprovados, dava dinheiro para que médicos permitissem a presença de representantes do laboratório nas consultas e ainda distribuía uns trocados para aqueles que fornecessem gravações de conversas com pacientes que estavam em tratamento com a droga. Eram US$ 50 por cabeça mais pagamentos de despesas gerais. Teve médico que mandou mais de 300 áudios, diz Franklin, embolsando US$ 15 mil na brincadeira. Segundo ele, essas gravações não serviram, na época, para compor nenhum estudo clínico. O negócio ali era incentivar os participantes a colocar mais pacientes em tratamento contínuo com o remédio. A conclusão da Justiça é que essas práticas tiveram potencial de induzir erro ou abuso nas prescrições.
 
Quando um remédio consegue registro no órgão regulador (Anvisa, no Brasil; FDA, nos EUA), o fabricante só tem permissão para promover a medicação para o tratamento indicado na bula. Mas o médico pode prescrever, por conta e risco, para uso off-label (fora da bula, em tradução livre), para qualquer condição, se analisar as evidências disponíveis e julgar adequado.
 
É que uma substância química costuma ter várias ações no organismo, boas e ruins. De repente, uma droga contra um tipo de câncer funciona para outro, um antidepressivo pode curar ejaculação precoce, um comprimido para tratar epilepsia se mostra eficiente para ataques de pânico.
 
Acontece com a bupropiona, o princípio ativo de antidepressivos que promovem a circulação de dopamina no cérebro. Ela é receitada para combater a perda de libido causada por outra classe de antidepressivos, a dos serotoninérgicos, que bombam a serotonina. Estes últimos são os mais populares, tendo o Prozac (fluoxetina) e o Lexapro (escitalopram) na família. Já os próprios serotoninérgicos são muitas vezes receitados contra ejaculação precoce. O efeito deles na redução da libido pode ser benéfico para quem se afoba demais na cama, promovendo relações sexuais mais duradouras, desde que administrados na dose exata para evitar broxadas.
 
O caso mais famoso de remédio em que o efeito colateral passou a ser visto como o principal é o do Viagra. Os pesquisadores faziam testes com o princípio ativo da droga, a sildenafila, para tratar uma doença cardiovascular e perceberam que os voluntários relatavam ereções frequentes e duradouras, mesmo aqueles com impotência sexual crônica. Então os estudos caminharam nessa direção e a companhia entrou com pedido de aprovação no FDA para o tratamento de disfunção erétil.
 
Nos casos em que a droga já está no mercado, aprovada para outro fim, o laboratório precisa voltar uma casa e fazer testes específicos de eficácia e segurança das novas utilizações se quiser tirar proveito comercial delas. O processo leva tempo, custa dinheiro e nem sempre termina bem. Acontece, por exemplo, de os estudos mostrarem que o remédio não faz efeito para outros males ou, pior, que aumenta o risco de morte em determinados grupos de pacientes. Pode ser também que o trâmite da aprovação demore e saia quando a patente do produto estiver para expirar.
 
Por conta disso, a indústria às vezes tenta pegar atalhos e aumentar, ela própria, o número de consumidores de seus comprimidos vendendo-os pelo efeito colateral. Escondida.
 
Receitar essas alquimias não tem nada de ilegal, como já dissemos. É parte da função de um médico. Esse poder que os doutores têm, por outro lado, atiça os laboratórios a dar-lhes mais agrados, começando o círculo vicioso.