segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Erros: evitar o evitável

Foto: Thinkstock Photos

Erros com medicamentos são mundialmente freqüentes, acarretando potencial de risco aos pacientes, e ocorrem devido a múltiplos fatores (características dos pacientes, despreparo dos profissionais de saúde, falhas nos sistemas de atendimento à saúde, insuficiente formação graduada e educação continuada dos diferentes profissionais, polifarmácia, uso de preparações injetáveis, automedicação e outros).

No sentido de prevenir ou minimizar sua ocorrência e as possíveis conseqüências aos pacientes, enfatizam-se posturas e estratégias, mais coletivas que individuais.

Em instigante suplemento, La Revue Prescrire assinala que a priori todos os erros são evitáveis, pelo que é importante interessar-se por eles. Acessando a Medline durante o ano de 2005, encontram-se 405 referências sobre erros de medicação. Esse assunto parece extremamente pertinente para quem promove e se move segundo os preceitos do uso racional de medicamentos. Um dos requisitos desse uso é trabalhar os erros para poder evitá-los ou, como no suplemento citado se escreve, “tirar partido dos erros para melhor curar”.

Esse assunto tem mobilizado a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que disponibilizou um formulário denominado ’Erro de Medicação’ que se encontra em fase de teste. Críticas, sugestões e dúvidas que possam ocorrer no preenchimento do formulário podem ser enviadas para o endereço eletrônico farmacovigilancia@anvisa.gov.br.

Em editorial da Revue Prescrire, apresenta-se quase um decálogo sobre a forma de conduzir a questão, como se vê a seguir.

  1. Evitar calar sobre os erros.
  2. Reconhecer e analisar os erros como prevenção de sua repetição.
  3. Cercar sistematicamente os erros e os fatores de não-qualidade.
  4. Despersonalizar os erros, pois só a análise coletiva é produtiva.
  5. Aproveitar os erros como fonte de ensinamentos.
  6. Identificar erros para pôr em ação medidas corretivas ou preventivas.
  7.  Avaliar a eficácia dessas medidas e difundí-las, se pertinentes.
  8. A partir dos erros, progredir no sentido da qualidade.
Falar do erro

Calar sobre os erros é por si só um erro que é preciso evitar. Freqüentemente isso é feito por ser mais fácil esquecer e negar do que assumir a culpa. No entanto, reconhecer os erros é a melhor forma de melhorar a qualidade e a segurança das atividades ligadas ao cuidado com a saúde dos indivíduos. Aprender a olhar o erro de frente e falar sobre ele sem medo faz cessar a crítica estéril sobre quem o cometeu e faz dele fonte de análise sistemática e de ensinamento em situações futuras.

Compreender o erro

Compreender o erro e analisá-lo atentamente de forma multidisciplinar é a primeira maneira de aproveitá-lo para corrigir a prática. Faz-se uma verdadeira pedagogia do erro. Nessa perspectiva, a preocupação com a segurança dos pacientes consiste em tirar o melhor partido de cada erro, a partir da compreensão das conseqüências nocivas que provocaram.

Não confundir erro com falta

Erro, diferentemente de falta ou negligência, pode não ser deliberado. Pode resultar de ausência e conhecimento ou má interpretação de um fato. No entanto, freqüentemente é considerado como falta, passível de críticas e sanções a seu autor. Só mediante a explicitação dos erros cometidos, todos os atores envolvidos em cuidados de saúde poderão tirar conclusões para não repetí-los em seguida. O interesse individual do profissional da saúde deve ser suplantado pelo interesse coletivo de proteger os pacientes, do qual faz parte a informação honesta sobre todas as circunstâncias que envolvem seus tratamentos.

Aproveitar o erro

Para alguns autores, os erros constituem aprendizado mais fecundo que os sucessos. Por meio de farmacovigilância criteriosa, torna-se possível avaliar sistematicamente os riscos provenientes de incorreção em indicação, seleção, prescrição, administração e comercialização de medicamentos.

A falta de informação correta e completa aos pacientes também condiciona erros de emprego, submetendo os usuários a riscos potenciais.

Fatores que influenciam os erros com medicamentos

Os erros com medicamentos associam-se a fatores relacionados a: pacientes, profissionais da saúde, sistemas de saúde, formação graduada e educação continuada dos profissionais envolvidos, polifarmácia, uso de preparações injetáveis, automedicação e outros.

Alguns erros ocorrem mais freqüentemente com determinados fármacos administrados a pacientes de alto risco (na dependência de gênero, idade, peso, função renal, co-morbidades) que devem ser mais estritamente monitorizados.

Algumas recomendações concernentes à correção ou prevenção de erros com medicamentos são vistas no quadro a seguir:

1. Aprendizagem a partir de relatos não punitivos dos erros;
2. Estímulo a uma atitude questionadora;
3. Avaliação sistemática das possíveis causas de erros;
4. Eliminação de fatores que aumentam o risco de erro;
5. Reconhecimento da falibilidade humana;
6. Admissão da ocorrência de erros em sistemas perfeitamente organizados;
7. Minimização das conseqüências dos erros ocorridos;
8. Desenvolvimento de estratégias para prevenção dos erros.

Fonte: ANVISA - Serviço saúde

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