terça-feira, 22 de setembro de 2015

Os erros de medicação nos hospitais

Pesquisas mostram alto índice de casos nos quais os remédios são dados na hora e dose incorretas e até para o paciente errado

Rafael Teixeira
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PERIGO
Enganos acontecem em relação à quantidade de medicamentos

Uma situação preocupante começa a chamar mais a atenção dos responsáveis pelos cuidados com os pacientes dentro dos hospitais. Pesquisas estão demonstrando que, nestes estabelecimentos, é muito alto o índice de erros na hora de dar a medicação aos doentes, o que coloca a vida desses indivíduos em risco. No Brasil, o estudo mais recente foi realizado pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo, campus de Ribeirão Preto. O trabalho foi feito em cinco hospitais públicos e analisou a administração de cerca de cinco mil doses de medicação. Os cientistas detectaram erros em 30% dos casos.
 
A pesquisa mostra que 77,3% dos enganos são relativos ao horário da administração dos medicamentos – ou seja, dados pelo menos 60 minutos antes ou depois da hora certa. Embora pareça não ter gravidade, trata-se de um equívoco com consequências sérias. “Antibióticos, por exemplo, não devem ter os seus horários de administração alterados. Os efeitos podem ser mais graves do que se imagina, porque a eficácia do remédio é diminuída”, alerta o médico Antônio Carlos Moraes, coordenador clínico do hospital Copa D’Or, no Rio de Janeiro. O estudo verificou ainda que os erros de dosagem correspondem a 14,4% dos casos, seguidos de trocas na via de administração (6,1%), medicamento não autorizado (1,7%) e troca de paciente (0,5%).
 
O problema é mundial. Na Inglaterra, um levantamento em 19 hospitais apontou que uma em cada dez prescrições contém erros, 1,7% deles com grande risco de levar o paciente à morte. “Uma alteração de miligrama para micrograma, aparentemente banal, dependendo do remédio, pode colocar o doente em coma, por exemplo”, explica Ivana Siqueira, superintendente de atendimento do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.
Nos Estados Unidos, uma vítima famosa do problema foi o ator Dennis Quaid. Na verdade, um sério erro foi co­metido durante a internação de suas filhas, gêmeas, no Cedars-Sinai Hospital, em Los An­geles. As meninas ha­viam acabado de nascer e estavam internadas na unidade de terapia intensiva da instituição. Quan­do completavam 12 dias de vida, receberam uma dose altíssima de uma droga anticoagulante e por pouco não perderam a vida. O erro foi de uma enfermeira, que confundiu a embalagem do remédio para criança com a de adulto. O ator processou a companhia fabricante do medicamento e também o hospital. Além disso, iniciou uma cruzada contra enganos do mesmo gênero. Ele ajudou a dar força a um movimento que alerta os profissionais sobre erros que podem ter sido cometidos – The National Alert Net­work for Serious Medication Errors System – e acaba de produzir um documentário sobre a questão.
 
Para minimizar o problema, hospitais de todo o mundo também estão tomando providências, adequando-se a normas de vigilância que a classe médica chama de barreiras. No Copa D’Or e no Hospital Israelita Albert Einstein, este em São Paulo, nenhuma receita médica é escrita à mão – todas são digitadas, para evitar dificuldades na leitura. No Sírio-Libanês, a prescrição eletrônica é regra em áreas de maior gravidade, como unidade de terapia intensiva e oncologia. A partir daí, segue-se uma série de checagens que, no caso do Sírio-Libanês e do Albert Einstein, inclui, por exemplo, a leitura de um código de barras no recipiente da medicação. O procedimento é feito duas vezes, a última delas dentro do quarto do paciente, à vista do próprio doente. No Copa D’Or, há a conferência da medicação usando a identificação da pulseira do paciente. “Essa preocupação começou a ser levada mais em conta nos últimos anos”, diz Carla Paixão, responsável pelo projeto de controle de erro de medicação do Albert Einstein. “Mas ainda é impossível alguém afirmar que reduziu o índice de erros a zero.”
 

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