quinta-feira, 30 de setembro de 2021
Santa Casa de Fernandópolis demite profissionais após negligência
Sequência de equívocos causou a morte de adolescente em UPA
Médicos cearenses pedem renúncia de toda a direção do CFM por endosso ao "tratamento precoce"
Após episódios de reacionarismo médico no estado, profissionais reagem e assumem linha de frente contra o negacionismo
Médicos cearenses de três organizações diferentes assinaram uma carta aberta, na noite da última terça-feira (28), pedindo a renúncia da direção do Conselho Federal de Medicina (CFM) por endossar o chamado "tratamento precoce" contra a covid-19.
Segundo os profissionais, a postura do Conselho em defesa da "autonomia médica" representou omissão e cumplicidade diante de medicamentos comprovadamente ineficazes durante a pandemia.
"Não resta à atual diretoria do CFM nenhum outro caminho do que a imediata renúncia, em respeito aos médicos, em respeito aos brasileiros. Caso não haja renúncia, que a sociedade encontre os caminhos legais para impedimento ou afastamento. Não há condições morais de essa diretoria continuar", diz o texto.
A carta é assinada por integrantes da Associação Brasileira de Médicas e Médicos pela Democracia no Ceará (ABMMD-CE), do Coletivo Rebento/Médicos em Defesa da Vida, da Ciência e do SUS, e da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares (RNMMP).
Reacionarismo ficou no passado?
O Ceará foi o estado que projetou Mayra Pinheiro, a "Capitã Cloroquina". Ela foi eleita presidenta do Sindicato dos Médicos do Ceará em 27 de março de 2015.
Dois anos antes, Pinheiro e dezenas de colegas hostilizaram médicos cubanos em sua chegada ao Aeroporto de Fortaleza (CE). Segundo reportagem da Folha de S. Paulo, eles foram recebidos sob os gritos de "escravos" pelos profissionais brasileiros.
Os cubanos faziam parte do programa Mais Médicos, por meio de um acordo de cooperação entre os governos dos dois países. Os profissionais da ilha caribenha eram chamados a trabalhar em municípios onde faltavam médicos. O acordo foi rompido no final de 2018, após a vitória de Jair Bolsonaro (sem partido).
Apesar dos episódios de reacionarismo médico no estado, com repercussão nacional, as organizações que assinam a carta desta semana se posicionaram ao longo de toda a pandemia contra o negacionismo de Bolsonaro. Por meio de notas oficiais, eles repudiaram a postura do presidente contra o isolamento social e criticaram suas declarações antivacina.
A carta abaixo foi escrita à luz do escândalo envolvendo a empresa Prevent Senior, que veio à tona na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia. Confira na íntegra:
"A CPI da pandemia, o caso Prevent Senior, o Governo Federal, as quase 600 mil mortes por Covid-19: pela imediata apuração judicial das responsabilidades! Pela urgente punição dos culpados! Pela renúncia ou pelo afastamento da Direção do CFM. Por mudanças concretas em defesa da vida!
As denúncias de corrupção de empresas médicas, sobretudo das prestadoras de serviços de atenção à saúde, incluindo manipulação de prontuários, atestados médicos falsos e adulterações de plataformas de dados hospitalares, além de fraudes em processos licitatórios e muitas outras ações trazidas a público nos depoimentos à CPI da Pandemia, no Senado, têm causado forte impacto em toda a sociedade. Uma realidade intensificada pelo depoimento prestado nesta terça-feira, 28/9, pela advogada Bruna Morato, representando colegas médicos que deram detalhes e provas sobre práticas estarrecedoras da empresa Prevent Senior, em diálogo direto com o Governo Federal, contra a saúde pública.
As mais recentes denúncias sobre as ações dessa empresa são absolutamente chocantes: experimentos terapêuticos em seres humanos, sem o conhecimento e a autorização dos pacientes ou de seus familiares e ignorando totalmente a legislação, os comitês científicos ou órgão fiscalizadores, elevaram esses crimes a gravidade e patamares inéditos na história médica do nosso País. Não por acaso, muitos relembraram em artigos e postagens, a propósito do tema, momentos entre os mais trágicos e perversos da história mundial.
Diversos médicos foram constrangidos e obrigados à prescrição de medicamentos desnecessários e perigosos, contra a suas convicções científicas em afronta a suas convicções e consciência. Tudo isso em nome de suposta “autonomia médica”, contraditoriamente utilizada para ameaçar ao mesmo tempo pacientes e médicos, sem que estes fossem defendidos pelas entidades a quem caberia essa responsabilidade.
Toda essa imundície resulta em inevitáveis desdobramentos na imagem da categoria médica e do sistema de saúde brasileiro, em especial a medicina privada. Há absoluta necessidade de abertura de inquéritos policiais e processos judiciais para apurar tais denúncias. Estamos diante de crimes contra toda a humanidade, que exigem punição exemplar.
Nesse contexto, no Brasil de setembro de 2021, torna-se cada vez mais grave a constatação de que o "bolsonarismo", o negacionismo e o desrespeito aos princípios mais basilares da Medicina ainda encontrem apoio na categoria médica. Apesar de tudo que testemunhamos, apesar de nosso País estar chegando à marca de quase 600 mil mortes oficialmente registradas por Covid-19 (mortes evitáveis, em sua maioria, conforme já demonstrado cientificamente).
A postura de muitos médicos e médicas, alimentada por uma radicalização irracional de caráter político-ideológico, se somou ao interesse mercantil de empresas corruptas e corruptoras, criando e dando sustentação ao “tratamento precoce” com a falaciosa defesa da autonomia médica, numa desavergonhada manipulação desse conceito.
Para vergonha e indignação nossa, o Conselho Federal de Medicina (CFM) publicou resolução em defesa desta "autonomia" aética. Assim, alimentaram e defenderam argumentos para justificar o uso de medicamentos sem eficácia, com efeitos colaterais importantes e com grande potencial de estímulo a comportamento de risco, endossado todos os dias na fala de agentes como o presidente da República e muitos de seus seguidores.
O silêncio ensurdecedor do CFM se tornou ainda mais grave e intolerável após a recente citação do Conselho pelo presidente da República, em plena abertura da 76ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas. “Desde o início da pandemia, apoiamos a autonomia do médico na busca do tratamento precoce, seguindo recomendação do nosso Conselho Federal de Medicina”, declarou Bolsonaro. Assim, o CFM foi diretamente e nominalmente envolvido na recomendação de procedimentos que deveria ter combatido com veemência.
A maioria dos médicos discorda veementemente de tal postura. Muitos, infelizmente, se sentem constrangidos em criticar a entidade que aprendemos a respeitar nos muitos momentos em que ela defendeu a prática médica e o bem-estar da população. É lamentável que a diretoria do CFM, aliada ao desgoverno bolsonarista, represente hoje uma ameaça à preservação da integridade da prática médica que deveria defender. É inaceitável que seja ela própria coadjuvante da narrativa negacionista que sustenta o discurso e as práticas do Governo Federal.
Assim, DEFENDEMOS e COBRAMOS que sejam devidamente apuradas, com urgência, as responsabilidades das entidades médicas, em especial o CFM, para esse cenário lamentável e para a insana política negacionista do desgoverno federal.
A diretoria do Conselho, uma autarquia federal, precisa ser chamada a responder por seus atos, diante da Justiça e da sociedade como um todo. A população precisa de uma resposta quanto aos responsáveis por tamanha omissão e por um parecer que foi utilizado para tantas práticas contra a saúde pública, em um País de tantas vítimas fatais da Covid-19.
Não resta à atual diretoria do CFM nenhum outro caminho do que a imediata renúncia, em respeito aos médicos, em respeito aos brasileiros. Caso não haja renúncia, que a sociedade encontre os caminhos legais para impedimento ou afastamento. Não há condições morais de essa diretoria continuar.
COBRAMOS também que essas entidades se manifestem sobre os últimos acontecimentos apurados pela CPI, como o caso Prevent Senior. E que tratem com respeito e solidariedade os médicos e as médicas, assim como todos os profissionais de saúde, que tanto têm se exposto e se sacrificado. Que tratem com dignidade a população.
Lembramos e homenageamos nesta oportunidade todos os profissionais de saúde que tiveram suas vidas ceifadas no combate à pandemia. Manifestamos também às famílias enlutadas o nosso pesar e o nosso profundo respeito pelas irreparáveis perdas sofridas. Pela imediata apuração judicial das responsabilidades! Pela urgente punição dos culpados! Pela renúncia ou pelo afastamento da Direção do CFM. Por mudanças concretas em defesa da vida!"
quarta-feira, 29 de setembro de 2021
Família diz que idosa de 72 anos morreu por negligência de hospital em Garanhuns
Polícia investiga se houve negligência médica após jovem alegar que deu à luz bebê morto há cinco dias
Segundo a família, moradora de Riversul (SP) procurou o hospital da cidade com dores e perda de líquido, mas foi enviada de volta para casa. No dia seguinte, paciente teria descoberto em outro hospital que a criança estava morta há dias e em estado de decomposição. Polícia e prefeitura apuram versão.
Enxoval comprado
“Deformou meu seio e me humilhou”, diz paciente que denunciou Marcos Harter por agressão
Professora alega estar enfrentando complicações de uma cirurgia feita com o ex-BBB, e que ele a agrediu ao ser cobrado pelo suposto erro
terça-feira, 28 de setembro de 2021
As diferenças entre erros e complicações nas cirurgias plásticas e o que você precisa saber antes de fazer
De acordo com levantamento recente da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS), o Brasil realizou 13,1% do total de procedimentos estéticos, seguido dos Estados Unidos, com 11,9%. Este é o segundo ano consecutivo em que a avaliação do ISAPS destaca a liderança brasileira.
Em 2020, a pandemia de covid-19 impôs restrições à realização de cirurgias plásticas. Mas, já no início de 2021, os sinais de recuperação foram perceptíveis, com um aumento de quase 50% na procura por procedimentos estéticos, em comparação com o mesmo período do ano passado.
Porém, antes de tomar a decisão de mudar o rosto ou o corpo, é preciso se atentar a vários fatores. “As cirurgias plásticas e os procedimentos estéticos possuem, em geral, baixo risco, desde que sejam realizados por médicos com especialização comprovada em cirurgia plástica e com título de especialista nas sociedades regulamentadas pela AMB (Associação Médica Brasileira)”, afirma o Dr. Luís Felipe Maatz, cirurgião plástico, com especialização em Cirurgia Geral e Cirurgia Plástica pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) e especialista em Reconstrução Mamária pelo Hospital Sírio-Libanês.
Segundo ele, para realizar um procedimento com segurança, além de procurar um cirurgião plástico habilitado, o paciente deve estar em bom estado de saúde. No caso de cirurgias de médio ou grande porte, há necessidade de exames complementares (como exames de sangue e cardiológicos). Além disso, deve ser realizada em local adequado e com toda infraestrutura necessária (geralmente clínicas de grande porte e hospitais).
Quem pode realizar o procedimento
Os profissionais habilitados para procedimentos estéticos são os cirurgiões plásticos e dermatologistas. “Para cirurgias plásticas, somente o próprio cirurgião plástico. Há muitos médicos ou outros profissionais (como dentistas, biomédicos, farmacêuticos, enfermeiros, fisioterapeutas) que se intitulam especialistas em estética, mas não possuem formação para realizar os procedimentos de forma adequada e segura. Para minimizar os riscos, garanta que seu médico seja realmente especialista (você pode verificar essa informação nos sites da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e na Sociedade Brasileira de Dermatologia)”, alerta Luís Felipe Maatz.
Quando há erros
Os erros, geralmente, ocorrem em procedimentos realizados por profissionais que não possuem qualificação, em ambiente impróprio e com produtos ou técnicas inadequadas. “Cerca de 90% dos casos de queixas no Conselho Regional de Medicina (CRM), por possíveis erros médicos em procedimentos estéticos, são contra profissionais que não são especialistas em cirurgia plástica ou dermatologia. Se expandirmos os números para as queixas em geral, incluindo os profissionais não-médicos que se aventuram em realizar os procedimentos estéticos, chegaremos a uma parcela maior ainda”, relata o especialista.
Como diferenciar erros de complicações
Segundo Luís Felipe Maatz, a definição de erro é a conduta profissional que pressupõe inobservância técnica capaz de produzir um dano à vida ou à saúde de um paciente, caracterizada por imperícia, imprudência ou negligência.
1- Imperícia: execução errada de um ato técnico profissional (falta de observação das normas ou despreparo do profissional). Por exemplo, realização de um procedimento estético por profissional não habilitado e sem a especialização adequada.
2- Imprudência: quando o profissional age sem o cuidado adequado (atitudes precipitadas ou sem cautela). Por exemplo, a realização de uma cirurgia sem a equipe adequada.
3 – Negligência: falta de cuidado ou de precaução ao se executar um ato profissional. Por exemplo, a realização de uma cirurgia em local inadequado ou sem os exames necessários.
“Vale lembrar que todo e qualquer procedimento estético ou cirurgia pode acarretar em complicações, que são diferentes de erros. As complicações são eventos adversos ao resultado esperado, mas que podem ocorrer em qualquer procedimento, mesmo que o profissional tenha formação adequada e tome todas as precauções necessárias”.
Luís Maatz complementa: “Há necessidade de que, durante a consulta, o médico explique as possíveis complicações e que o paciente esteja ciente de que elas possam eventualmente ocorrer, mesmo com o melhor médico, que utiliza da melhor técnica, no melhor ambiente e com o melhor produto”.