quinta-feira, 23 de setembro de 2021

Criança de 5 anos morre após 12 dias de calvário. Família acusa erro médico: 'Nada vai trazer minha filha de volta', diz a mãe

 Os pais buscam explicações sobre como uma menina saudável faz uma cirurgia de apendicite, passa 12 dias em atendimentos médicos e não resiste. Para eles, que acompanharam todo o processo, um erro médico pode ter causado a morte da filha.


A pequena Maria Eduarda, de 5 anos: “Minha filha não tinha nenhum problema de saúde”, diz a mãe da criança

“Minha pequena Maria Eduarda sangrou até morrer.” A perda de um filho é um sentimento irreparável na vida de um pai. Sentimento que Sirlene Aparecida Domingues e Maykon Edimilson Silva carregam há quase quatro meses, quando a pequena Maria Eduarda Domingues Silva, de 5 anos, morreu no Hospital Regional/São Francisco. 

“No dia 23 (de maio), domingo, às 6h da manhã, eu perdi minha filha. A minha pequena Maria Eduarda sangrou até morrer. Era a primeira filha do meu marido e estamos sem chão”, lamenta a mãe.

Quatro meses depois, os pais buscam explicações sobre como uma menina saudável pode ficar internada com uma apendicite e não resistir, dias depois. Para eles, que acompanharam todo o processo, um erro médico pode ter levado a filha ao óbito.  “Minha filha não tinha nenhum problema de saúde. Nem resfriado ela tinha. Fazia dois anos que nem levava ela ao médico.”

Todo o desespero teve início no dia 10 de maio de 2021. Maria Eduarda sentia dores na barriga e vomitava, quando os pais a levaram ao hospital. Após exame clínico, o médico plantonista prescreveu uma receita para a menina e a liberou. Por volta das 17h30, a família retornou ao Regional, onde exames foram solicitados e apontaram uma apendicite. 

Com o quadro, uma cirurgia foi marcada para o dia seguinte. O procedimento, que aconteceu no dia 11 de maio, teve início às 14h e terminou às 15h40. Segundo os pais, a médica cirurgiã informou sobre o sucesso do procedimento, mas explicou que a menina precisaria ficar internada de cinco a sete dias, porque a apendicite estava num estágio considerado grave. Maria Eduarda reclamou de dores desde o pós-operatório. 

“Minha filha não parava de se queixar de dor. Ela dizia que a barriga estava doendo e pedia para fazer massagem. Chamava a médica e ela falava que era assim, por conta da cirurgia. Minha filha não comia, vomitava, deu diarreia e a médica falava que era tudo por conta da cirurgia”, contou a mãe.

Segundo os pais, eles informavam diariamente a condição da filha à equipe médica. Apenas no dia 15 de maio, a menina apresentou melhora e conseguiu se alimentar. Após um exame, Maria Eduarda recebeu alta no dia 16. A médica cirurgiã, que acompanhava o caso, colocou-se à disposição da família em caso de intercorrências. 

“Quando foi no domingo, a médica passou perguntando se ela não tinha vomitado. Disse que ela comeu, jantou, que hoje tomou leite. Aí a médica falou de dar alta e eu perguntei se ela tinha certeza. Ela falou que sim, que seria melhor por conta da situação da covid-19, e deu alta.”

Mesmo com a pequena melhora e alta médica, o quadro da pequena Maria Eduarda ainda não era bom, segundo seus pais. Foi só chegar em casa, beber um copo de leite e voltar a vomitar. Dois dias depois, em 18 de maio, os pais informaram sobre o estado da filha e a médica cirurgiã recomendou que retornassem ao hospital. 

Lá, foram diagnosticados gases. No dia 19, a menina estava com 39°C de febre e gemia de dor. O pai pediu à médica, que atua em Ribeirão Preto também, que retornasse à Franca para atender sua filha e, caso necessário, até pagaria uma consulta.

A médica cirurgiã falou novamente para que retornassem ao Regional e orientou aos pais que pedissem uma série de exames. No momento, o corte de Maria Eduarda também apresentava um abscesso, com pus no local. A médica também recomendou que a família pedisse, no hospital, que o abscesso fosse tratado. A família voltou ao Regional e a criança foi atendida por uma médica plantonista, que optou em não retirar o abscesso dos pontos, diferente do recomendado. 

“A cirurgiã falou que conversaria com uma amiga dela, para dar dois pontinhos e vazar, porque talvez seria alguma coisa. Essa doutora então veio e explicamos para ela. A médica disse que não tinha necessidade da obstrução e que o pus sairia, mesmo com a minha menina reclamando de dor.”

Maria Eduarda seguiu no hospital, devido à febre e para receber medicamentos na veia. Mesmo medicada, a criança continuava com febre e dores na barriga. 

No dia 21, a família pediu à médica cirurgiã que atendesse sua filha. Para espanto dos pais de Maria Eduarda, a médica teria dito que a visitaria, mas não sabia como, porque "os seus óculos estavam quebrados". 

Começou a vazar sangue no corte no dia 22 de maio. A médica tratou como normal e que se tratava de sangue “ruim”. “Eu exigi que fosse a médica que fez a cirurgia, para cuidar da minha filha. Ela não veio. No sábado, minha filha não fez xixi o dia todo e eu fiquei 24 horas com a minha filha naquele hospital. Eu não arredei o pé. Questionava tudo, dizia que não eram normais os vazamentos e pediam para eu me acalmar. Ninguém fazia nada, só curativos. Eu pedia para trazerem a médica dela e nada. Para eles, era tudo normal.”

A “normalidade”, no entanto, só piorava. Chegou ao ponto em que Maria Eduarda já nem conseguia andar. “Desci minha filha da cama e ela disse que não conseguia andar. Ela se sentou no chão e disse que ficaria ali. Dizia que ela não poderia ficar daquele jeito. Peguei ela, coloquei na poltrona e chamei a enfermeira, que perguntou o que estava acontecendo.”

Com mais essa complicação, a situação da criança só piorou. A menina sofreu uma convulsão, precisou ser intubada e passar por uma tomografia cerebral até ser internada na UTI (Unidade de Terapia Intensiva). A internação fez com que os pais fossem afastados da garota. 

“Internaram ela na UTI e não deixaram nenhum de nós entrar, de jeito nenhum. Deixaram a gente esperando quatro horas.”

Mesmo distante, a família não deixou de cobrar explicações. A médica cirurgiã disse não ter informações e que estava a caminho de Franca. Uma hora depois, a cirurgiã chegou e foi entender o caso com a equipe médica. “Ela entrou na UTI e, depois de umas quatro horas, saiu e disse que os batimentos estavam voltando ao normal. Meu marido disse que minha filha era forte e sairia disso.”

Após o prognóstico inicial da médica cirurgiã, os pais foram chamados para conversar com o resto da equipe. Os médicos explicaram que a menina adquiriu uma infecção, devido a uma bactéria contraída, e corria risco de vida. 

“As médicas nos chamaram, disseram que ela teve uma infecção e umas bactérias apareceram e que ela correria risco de morte. Minha princesinha estava deitada, intubada e eu cheguei perto dela, pedindo para ela não deixar eu e o pai dela. Pedi muito para médica não deixar eu perder minha filha.”

Cerca de 30 minutos depois, médicos e enfermeiros correram para UTI. A família foi levada até uma sala separada. O espaço era próximo à sala onde Maria Eduarda seria operada. Segundo a mãe, dava para escutar até o que os médicos diziam. 

Foi aí que Taiane, irmã mais velha de Maria Eduarda, escutou a médica cirurgiã questionar como conseguiria encontrar a hemorragia, uma vez que estava com os óculos quebrados. 

“Ouvimos praticamente tudo. Minha filha mais velha até conseguiu escutar que a médica de Ribeirão estava sem os óculos dela. Ela escutou a médica perguntando como acharia o sangramento, se não estava vendo nada. Como um profissional, dentro da UTI, com uma criança morrendo na frente, diz que não estava enxergando?”, questionou.

Por volta de 3h30 do dia 23, os pais receberam a notícia de que a pequena Maria Eduarda não havia resistido e veio a falecer. Para os pais, tudo se tratou de um erro médico. A indignação dos pais com o hospital é a dor que mais pesa, com eles se questionando o motivo de a médica ter operado sua filha naquelas condições. 

“Nada vai trazer minha filha de volta, só não quero que a médica faça isso com nenhuma criança mais. Quero ficar frente a frente com ela e perguntar o que aconteceu com a minha filha.” 

A médica cirurgiã enviou uma mensagem de pesar no WhatsApp de Maykon, no dia 29 de maio. “Olá, pais. Me desculpe entrar em contato. Não tenho a intenção de magoá-los, neste momento de tanta dor, mas quero compartilhar com vocês a minha profunda tristeza com a perda da Maria Eduarda. Minha alma está triste, muito triste. No tempo que a acompanhei pude ver o amor, o cuidado de vocês com ela. Eu sei que será difícil, mas tenho orado ao Senhor Jesus para trazer paz, sustento e força a vocês. Eu não poderia deixar de externar a vocês o meu mais profundo pesar com a partida da Maria Eduarda”.

Procurado pela reportagem, o hospital Regional/São Francisco disse que avaliaria o caso e informou que enviará uma resposta até o fim da tarde desta terça-feira.





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