domingo, 5 de setembro de 2021

Médico é indiciado por homicídio após paciente morrer em cirurgia de vesícula

 Segundo a investigação da PCDF, o paciente morreu por não ter tomado um medicamento que deveria ter sido aplicado com urgência


A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) indiciou um médico por homicídio culposo e falsificação de documentos após a morte de um paciente que havia passado por uma cirurgia para a retirada de pedras na vesícula. José Nóbrega de Lima, 67 anos, morreu em 9 de julho de 2019, na unidade de terapia intensiva (UTI) de um hospital particular, no Gama. Como a unidade de saúde não foi indiciada, o nome dela será preservada até o fim das investigações.

As apurações conduzidas pela 14ª Delegacia de Polícia (Gama) concluíram que o paciente morreu por não ter tomado um medicamento que deveria ter sido aplicado com urgência. A ausência do remédio provocou um desequilíbrio nas taxas de potássio no sague e a consequente parada cardíaca de José Nóbrega.

Os investigadores também cumpriram mandado de busca e apreensão no hospital em 15 de julho deste ano, e conseguiram provas de que havia dois prontuários assinados pelo médico Ielvis Rosa Madureira. Em um dos documentos, consta o atraso na aplicação da medicação que poderia ter evitado a morte do paciente. No outro, não constava mais os trechos que informavam a negligência na administração do remédio.

Por acaso

A suposta falsificação no prontuário médico do paciente foi descoberta, por acaso, pela viúva de José Nóbrega. Após procurar a Promotoria de Justiça Criminal de Defesa dos Usuários dos Serviços de Saúde (Pro-Vida), a companheira do paciente relatou que precisava do prontuário para dar entrada em um seguro de vida em nome do marido.

Ela obteve, dias após o óbito, um relatório médico no qual constava que José Nóbrega faleceu pela falta de aplicação de uma medicação receitada pelo médico intensivista e que a morte ocorreu às 17h10 de 9 de julho de 2019. A viúva relatou, ainda, que solicitou ao hospital uma cópia integral do prontuário. Quando recebeu a documentação, o relatório estava diferente do que havia recebido anteriormente e não constava mais os trechos que informavam a negligência na administração da medicação.

A Pró-Vida instaurou Procedimento de Investigação Criminal (PIC) e ouviu a enfermeira e a técnica de enfermagem que estavam de plantão na oportunidade. Elas informaram que não conseguiram obter a medicação na farmácia da UTI em função de problemas na realização da prescrição no sistema eletrônico do hospital. Esse fato gerou a demora que levou à morte do paciente.

No PIC, o Ministério Público concluiu que a morte de José Nóbrega de Lima estaria correlacionada à falha assistencial decorrente do atraso na administração de medicamentos imprescindíveis. “Importante destacar que o retardo do início do tratamento diminuiu as chances da vítima, que evoluiu para um quadro grave de disfunção dos sistemas cardiovascular e respiratório. Esse desfecho deu-se por fatores administrativos hospitalares”, aponta o MPDFT.

Médico interrogado

Com a avanço das investigações e a coleta de provas, os investigadores acreditam que o médico Ielvis Rosa Madureira alterou o relatório 10 dias após a confecção do primeiro documento, e não tomou nenhuma conduta médica no período das 15h24 às 17h10 no dia em que o paciente morreu.

Interrogado para explicar por que seu login teria sido usado na alteração do relatório para não constar supostas falhas do hospital, o médico afirmou que elaborou os dois relatórios e que não adulterou o prontuário. Segundo Madureira, alguém utilizando sua senha teria entrado no sistema e mudado o relatório.

Sobre a alteração do potássio do paciente, que provocou a morte de José Nóbrega, o médico alegou que teria visto o resultado do exame de sangue por iniciativa própria no sistema do laboratório. Ele teria assinado o livro de controle não às 15h24, mas ao fim do plantão, como ocorre em muitas ocasiões. Ele detalhou que, no encerramento dos plantões, assina muitos documentos, inclusive sem ler ou visualizar detalhes.

Segundo o delegado da 14ª DP Willian Andrade, que investiga o caso, o inquérito também chama a atenção por outro fato. “Quantos casos não acontecem semelhantemente a essa apuração, e a família e o paciente nunca fica sabendo? É muito fácil para o médico ou para o hospital, de forma geral, alterar conteúdo de relatórios e documentos médicos e encobrir falhas, atrasos e negligências”, avaliou.








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