segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Familiares de pacientes e funcionários de hospital em Manaus relatam lotação e clima tenso

 

Segundo relatos, por causa de lotação, pacientes com suspeita de Covid-19 estão junto com outros doentes. Governo nega.


Vídeo mostra lotação dentro de hospital de Manaus

Manaus, mais uma vez, é cenário de um caos na saúde por conta do aumento de casos de Covid-19. Grande parte dos prontos-socorros estão com os leitos de UTIs totalmente ocupados e, por conta dessa demanda, dois hospitais instalaram tendas externas para triagem.

Na manhã desta terça-feira (29), o G1 esteve no hospital e Pronto-socorro 28 de Agosto, na Zona Centro-Sul de Manaus. O local também recebeu a instalação de uma tenda no lado de fora que, segundo o governo, serve para melhorar o fluxo e agilizar o atendimento nos casos de urgência. Acompanhantes e funcionários relataram superlotação e contaram à reportagem que pacientes com diferentes enfermidades dividem o mesmo ambiente - informação negada pela Secretaria da Saúde, conforme nota abaixo.

Um homem que acompanhava seu tio internado na unidade há uma semana contou que teve de sair do hospital por ordens da direção, pois foi informado que os acompanhantes não poderão mais permanecer dentro das unidades. A permanência será permitida somente em casos de idosos e crianças.

O tio dele, de 53 anos, realizou uma cirurgia por conta de uma pedra na vesícula, por isso, ele estava acompanhando o familiar. Duas semanas atrás, o homem esteve internado no Hospital Delphina Aziz com Covid-19 e tinha se recuperado.

"Lá dentro [do 28], pelo menos onde estávamos, não tem distanciamento. Contei umas 120 pessoas num só lugar, entre pacientes e acompanhantes. Está tudo misturado, gente com Covid, amputação, idosos", contou o homem, que preferiu não se identificar.

Ao lado de fora, muitas pessoas aguardam notícias de pacientes. Uma cuidadora de idosos denuncia que os pacientes estão misturados e há um verdadeiro caos. Ela conta que é responsável por um paciente de 66 anos, cardiopata, que acabou se contagiando dentro da unidade e não tem mais notícias dele desde que seu estado de saúde se agravou:

"Ele adquiriu Covid aí dentro. Nós passamos um mês com ele. Ele entrou com outra doença, é cardiopata e agora está na sala de Covid-19 em grave estado. Ele entrou na sala rosa, que é isolamento de domingo para segunda, na madrugada. Hoje já é terça-feira e não sabemos nada dele, nada, nada. Nem se está vivo, se entrou na UTI, não sabemos de nada", afirmou ao G1.

"Está uma calamidade, infelizmente. É muita gente morrendo. É todo o tempo, muita gente morrendo, todo o tempo gente descobrindo que está com Covid, gente que está com Covid e nem sabe que está com Covid. Gente que está com Covid e não está fazendo o tratamento", disse.

Já um funcionário terceirizado do estabelecimento relatou que, atualmente, o clima dentro dessa unidade está tenso.

"Está um verdadeiro caos. E quem acaba pagando o preço somos nós. As pessoas acham que temos culpa e acabam brigando com a gente. Muitos casos são de Covid", contou.

Na área do necrotério, somente na manhã desta terça-feira, sete corpos estavam no local de pessoas que morreram durante a madrugada.

Medo de se contaminar


Um paciente de 39 anos contou ao G1 que aguarda uma cirurgia ortopédica internado no 28 de Agosto. Disse que, no mesmo local, há pacientes "de todas as especialidades", com vários problemas de saúde.

"Está muito complicado. A situação é que tem muita gente para pouco espaço, que deve ter uns dez metros de comprimento e quatro de largura. São cerca de 25 leitos, mais ou menos", disse.

Ele contou que não foi contaminado pela Covid-19, mas teme.

"Nesse momento, temo contrair essa doença, a saúde está um caos, falta de material, falta de espaço. Tem que olhar também pelos profissionais da saúde, que não têm muitos recursos e atendem a gente como podem", contou.

Ele ressaltou que todos os acompanhantes, exceto de idosos, tiveram que sair para evitar aglomeração.

Pessoas se aglomeram na porta do hospital 28 de Agosto, em Manaus, na manhã desta terça-feira 29


Morte no chão


Nesta segunda-feira (28), uma imagem que circulou em redes sociais, chamou atenção: um homem jogado sobre o chão do hospital sendo atendido por profissionais da saúde. A Secretaria de Saúde confirmou que o homem morreu.

Em nota, o órgão informou que o homem chegou ao hospital levado por familiares no final da manhã e, teve uma parada cardiorrespiratória, "sendo prontamente atendido pela a equipe médica, que realizou apenas os procedimentos iniciais no chão, o colocando em uma maca logo em seguida".

Governo nega que pacientes estejam juntos


Em nota, a Secretaria de Estado de Saúde negou que pacientes com Covid-19 estejam juntos com pacientes diagnosticados com outras doenças. O texto afirma ainda que ampliou o número de leitos e deve abrir novas vagas na UTI nos próximos dias. Leia na íntegra:

"A Secretaria de Estado de Saúde (SES-AM) informa que não procede a informação de que pacientes com outras patologias estejam misturados com pacientes de Covid-19 no Hospital e 28 de Agosto. Os pacientes que se encontram na ala da Clinica Cirúrgica de Observação (CCO) são aquelas com problemas cirúrgicos e ortopédicos. As alas para pacientes Covid e não Covid são no mesmo andar, mas em lados opostos da unidade.

A SES-AM reforça que, para a melhoria do fluxo de atendimento, desde a segunda-feira (28/12) estão sendo montadas tendas externas de triagem nos Hospitais e Prontos-Socorros (HPS) 28 de Agosto e Platão Araújo. O objetivo é a segregação dos pacientes de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) dos demais.

Desde o início da pandemia da Covid-19, em março de 2020, o Governo do Amazonas ampliou o número de leitos em 207%, saindo de 50 leitos de UTI exclusivos para pacientes de Covid-19, para os atuais 207, triplicando a oferta de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Estando prevista a abertura de novos leitos para os próximos dias.

A SES-AM destaca que todos os esforços estão sendo feitos para garantir atendimento à população e que conta com a colaboração da sociedade para manutenção dos cuidados para evitar o contágio da Covid-19, como o uso de máscaras, higienização das mãos e, principalmente, para o não comparecimento a qualquer tipo de aglomeração. Também contamos com a colaboração da imprensa para conscientizar a população de que, quem puder, permaneça em casa. "

Aumento de casos


O número de pessoas vítimas da Covid-19 não para de crescer no estado. Nesta segunda-feira (28), o Amazonas registrou mais de 196 mil casos da doença e mais de 5 mil mortes.

Segundo a Prefeitura de Manaus, a média de enterros aumentou de setembro para cá, com a flexibilização das medidas de isolamento: de 30 pulou para cerca de 45 sepultamentos diários.

Mesmo com o aumento das vítimas, o governo do estado publicou um decreto que autoriza a reabertura do comércio não essencial. A decisão foi tomada depois de uma onda de protestos contra o fechamento de lojas durante o fim de semana.

Segundo o governo, dos 11 hospitais particulares da capital, sete estão com 100% dos leitos de UTI ocupados. Já os hospitais públicos estão com mais de 90% de taxa de ocupação de leitos.

No domingo (27), houve o registro de 95 novas hospitalizações em um único dia no estado. Em Manaus foram 88. Esse é o maior número de internações em um único dia desde o dia 15 de maio, quando foram registradas 82 hospitalizações.

Imagem feita por acompanhante de paciente do 28 de Agosto



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