segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Médico faz desabafo sobre situação da Covid-19 em hospitais de Manaus: 'É devastador'

 

Em vídeo, clínico geral chega a se emocionar em alguns momentos e pede que a população fique em casa, a fim de evitar uma piora no quadro da pandemia na cidade.


Médico do Amazonas fala sobre a situação dos leitos nos hospitais de Manaus.


"Em questão de 48h, 72h, esgotamos os leitos da rede particular de UTI, de enfermaria, e de internação. A gente está se virando como pode para receber os pacientes com Covid. (...) Muitos, muitos casos novos. E que infelizmente estão evoluindo para uma necessidade ventilatória mais avançada. É devastador não ter material suficiente, não ter leito para esse pessoal esperar (...)".

É desse jeito que começa o desabafo do médico Filipe Shimizu enviado ao G1. Nas redes sociais, um vídeo em que ele também aparece relatando a situação da pandemia no Amazonas neste fim de ano viralizou.

Com aumento de casos e internações por Covid, familiares de pacientes e funcionários de um hospital de Manaus também relatam a lotação e o clima tenso. Até esta segunda (28), mais de 5,1 mil pessoas haviam morrido com a Covid, e mais de 600 encontravam-se internadas.

Filipe Shimizu é clínico geral e trabalha na linha de frente da pandemia do coronavírus. No vídeo, ele fala sobre o aumento no número de internações e óbitos, e narra as dificuldades vividas por profissionais da saúde.

Em cinco minutos de desabafo, Filipe chega a se emocionar em alguns momentos e pede para que a população fique em casa, a fim de evitar uma piora no quadro da pandemia na cidade.

Enterro durante pandemia de coronavírus, no cemitério Parque Tarumã, em Manaus


"Todos os colegas que eu tenho conversando estão extremamente extenuados. A impressão que dá é que é tão grande, tão forte quanto o começo da pandemia, lá em abril, maio, quando a gente tinha uma super lotação dos hospitais, e agora tá acontecendo tudo de novo", relatou.

O médico compartilhou, ainda, alguns relatos de casos vividos durante esse período. Segundo ele, não existem palavras para descrever a tristeza de olhar para uma paciente e dizer se ela vai ou não acordar da entubação ou dar uma notícia de óbito para uma família.

"Tem que ter a cabeça muito no lugar. Mas mesmo com a cabeça no lugar e com toda tranquilidade, é muito difícil. Tá sendo muito desgastante físico e emocionalmente tudo. Fisicamente porque chega um paciente e a gente tem que preparar para a entubação, às vezes para a ressuscitação cardio-pulmonar, e cansa demais isso. Cansa demais. E mentalmente porque a gente não tem a certeza de como esse paciente vai se adaptar ao ventilador, de como o paciente vai responder às medicações para controle da pressão [...]".

Hospital 28 de Agosto lotado, em Manaus


Filipe também explicou que, com o agravamento da Covid-19 nos hospitais, criou-se um clima de hostilidade com a classe médica frente à demora nos atendimentos.

"A gente tá dando mais do que a gente pode, de verdade, na questão da celeridade e qualidade nos atendimentos. Mas não tem como comportar tanta gente de uma vez só. Não está dando para atender todo mundo de maneira rápida. A gente, infelizmente, deve perder muito mais gente agora. Cada morte é sentida pela equipe médica, tanto quanto pela família, tenham certeza disso. A gente se sente muito responsável pelas vidas que a gente toca. É muito complicado quando a gente perde alguém".

Por fim, o médico fez um apelo para que as pessoas fiquem em casa e só saiam para o extremo necessário. Ele também disse temer os reflexos da pandemia no futuro.

"Fiquem em casa, pelo amor de Deus. Só saiam para o extremamente necessário. [...] A Covid tá voltando com tudo, numa velocidade assustadora e eu tenho medo do futuro, dos reflexos da pandemia, do que ela pode gerar de resistência bacteriana, de bactérias resistentes a alguns antibióticos prescritos de maneira equivocada por colegas médicos, tomados de maneira equivocada pelas pessoas. Enfim, a única forma de combater isso é permanecer em casa, se cuidando, principalmente cuidando dos outros. Não tem mais leito, não tem mais UTI, não tem mais corredor", concluiu.

Aumento de casos


O número de pessoas vítimas da Covid-19 não para de crescer no estado. Na segunda-feira (28), o Amazonas registrou mais de 196 mil casos da doença e mais de 5 mil mortes.

Segundo a Prefeitura de Manaus, a média de enterros aumentou de setembro para cá, com a flexibilização das medidas de isolamento: de 30 pulou para cerca de 45 sepultamentos diários.


Segundo o governo, dos 11 hospitais particulares da capital, sete estão com 100% dos leitos de UTI ocupados. Já os hospitais públicos estão com mais de 90% de taxa de ocupação de leitos.

No domingo (27), houve o registro de 95 novas hospitalizações em um único dia no estado. Em Manaus foram 88. Esse é o maior número de internações em um único dia desde o dia 15 de maio, quando foram registradas 82 hospitalizações.

Nesta terça-feira (29), dois hospitais de Manaus voltaram a montar tendas externas para triagem de pacientes. O objetivo das estruturas montadas nos prontos-socorros 28 de Agosto e Platão Araújo é melhorar o fluxo e agilizar o atendimento nos casos de urgência. Essas tendas já tinham sido usadas em unidades de saúde da capital amazonense no pico da pandemia, em abril e maio, quando o estado passou por colapsos nos sistemas de saúde funerário.



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