sexta-feira, 25 de junho de 2021

Denúncia aponta homicídio e negligência no Hospital Estadual de Mirandópolis

 


Uma notícia-crime protocolada no Ministério Público contra a AHBB Gestão em Saúde, responsável pelo gerenciamento dos leitos de enfermaria e de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Covid do Hospital Estadual de Mirandópolis, pede a apuração de possíveis crimes de homicídio, lesão corporal grave, negligência, omissão de socorro e até exercício ilegal da profissão de médico que teriam sido cometidos por profissionais que atuam ou atuaram naquela unidade de saúde.

A denúncia, protocolada na quarta-feira (23), anexou gravações de dois ex-funcionários da AHBB que narraram fatos que teriam ocorrido no hospital, e é assinada pelos vereadores Emerson Carvalho de Souza e Magali Maziero Rodrigues, ambos do PSL, e pelo advogado Riberto Veronez, que é autor de outra denúncia protocolada contra o ex-diretor do hospital, o médico Nivaldo Francisco Alves Filho, por acúmulo ilegal de cargos, dentre outras irregularidades.

A reportagem ouviu as duas testemunhas que atuaram no corpo clínico do hospital com o compromisso de manter em sigilo suas identidades. Dentre as denúncias relatadas por elas está a falta de experiência de médicos para fazer intubação em pacientes com Covid-19. “A maioria que é intubada vai a óbito, além de não saberem intubar, os profissionais não têm conhecimento para aplicar sedativos. Sem contar que falta medicação para deixar os pacientes sedados”, afirmaram os ex-funcionários da AHBB.

Eles contam, inclusive, que houve um caso em que o paciente estava no leito à espera de intubação enquanto o médico falava ao celular, sobre a compra de uma caminhonete.

Uma das testemunhas também relata que um médico de nome Leonardo fez plantão no pronto-socorro respiratório mesmo ser ter registro no Conselho Regional de Medicina (CRM) e um paciente acabou perdendo a vida porque o profissional usou uma superdosagem de sedativos para induzi-lo ao coma, o que causou duas paradas cardíacas. E ao introduzir um catéter para aumentar a pressão do paciente, perfurou o seu pulmão.

“Este médico estava usando CRM de outro profissional, mas nunca mais se soube dele”, consta um dos trechos da gravação encaminhada ao Ministério Público.

Outra denúncia envolve os procedimentos de diálise, que segundo as testemunhas, são feitos por duas técnicas de enfermagem, sem a supervisão de um médico nefrologista. “Todos os pacientes submetidos à diálise no Hospital Estadual de Mirandópolis foram a óbito”, afirmam. A diálise é comum em doentes com Covid e faz o papel do rim, de filtrar todo o sangue do organismo.

Há, ainda, denúncia de uso de medicação do Estado pela AHBB e de “fura-fila” da Central de Regulação de Ofertas de Serviços de Saúde (Cross).

“A empresa é responsável pela mão de obra e pelos medicamentos usados na UTI 1, mas pega remédios do SUS e não devolve depois”, afirmam as testemunhas.

Sobre o “fura-fila”, a denúncia aponta que os gestores do hospital eram coniventes e encaminhavam pacientes sem respeitar a Cross, que faz a regulação de vagas de acordo com a gravidade do paciente e oferta de leitos.

Outro ponto da denúncia relata que o nome de uma médica que se desligou da AHBB no dia sete de junho constou nos plantões dos dias 11 e 12 do mesmo mês, quando já não mais trabalhava no hospital. O caso foi levado ao Ministério Público pela profissional.

 As testemunhas contam, ainda, que os médicos omitiam dos familiares dos pacientes Covid o real estado clínico deles. “Os profissionais eram orientados a falar que o doente estava bem, mas hora depois, o paciente morria”, contaram.


Folha da Região


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