“Como pode uma pessoa entrar em estado de decomposição na própria cama?”. O desabafo é da professora Elisangela da Silva, de 42 anos, que denunciou negligência médica como causa da morte da amiga, Camila Reis da Silva, de 26 anos, na segunda-feira (2), na localidade de Baixa Grande, na Baixada Campista. De acordo com a denúncia, Camilla teria sentido falta de ar na quinta-feira (27) e procurou atendimento médico na unidade de saúde da localidade, passando também por Farol de São Thomé e Hospital São José, em Goitacazes, no entanto, segundo ela, em toda Baixada não havia médico. Após falecer dentro de casa, na frente do pai e de uma tia, às 13h de segunda-feira (2), o corpo levou 32 horas para ser removido pelo rabecão do Corpo de Bombeiros devido à ausência de médico para emitir o atestado de óbito. O assunto foi levado à plenária nesta terça-feira (3), na Câmara Municipal de Vereadores, pelo presidente da Casa de Leis, Fred Machado.
“O médico do Hospital São José se recusou a sair da unidade para emitir o atestado de óbito. Na Saldanha Marinho, nos informaram por telefone que um médico estava a caminho, mas nada foi feito. Na terça-feira, a gente vendo que já caminhava para 24 horas, sem solução, acionamos a polícia, que esteve no hospital em Goitacazes. Foi quando uma médica emitiu um pré-relato, mas, o delegado constatou que, por duas vezes, o documento apresentava erros. Foi preciso uma iniciativa particular, da funerária, para que o rabecão chegasse à residência às 21h18 para remover o corpo. Houve um jogo de empurra empurra desde quando ela buscava por atendimento médico. A gente não tem direito sequer de morrer”, declarou Elisangela enfatizando que Camilla não é a primeira pessoa a morrer por negligência médica na Baixada.
Camilla era do lar, morava com a família na Estrada Alto da Pitanga, em Baixa Grande. Ela foi sepultada às 15h desta quarta-feira, no cemitério de São Bento, na Baixada.
O tio Valcleir Reis da Silva, de 49 anos, lamentou que a morte, atribuindo a causa por negligência médica, não é um caso isolado. “O município de Campos está deixando muito a desejar com falta de médicos. Ninguém quer trabalhar com pagamento atrasado. Mas os profissionais se esquecem que quando abraçaram a causa juraram em defender a saúde e os pacientes que os procuram por socorro. Que Camilla não caia no esquecimento”, declarou.
O caso veio à tona no momento em que os médicos de Campos estão em greve e da polêmica titulada como "farra dos atestados" na Saúde Pública de Campos apresentada pela Inter TV, do Grupo Folha, na noite de segunda-feira (2), no RJ Inter TV 2ª edição. Mas, de acordo com o presidente do Sindicato dos Médicos de Campos (Simec) José Roberto Crespo, a falta de médicos na Baixada não ocorre por conta do movimento, já que durante a paralisação, atendimentos de urgência e emergência dos hospitais e unidades pré-hospitalares estão sendo mantidos.
“A falta de médicos nas unidades da Baixada nada tem haver com a greve da categoria. Pela lei orgânica do município, em cada posto deve haver dois médicos, no mínimo. Se houver apenas um médico na unidade, ele não pode abandonar o seu posto de trabalho para emitir o atestado de óbito deixando o atendimento desguarnecido. Cabe a Prefeitura apurar o caso e explicar a falta de médicos nas unidades”, disse.
Em nota, a Prefeitura de Campos informou que, de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), "quando o pedido chegou a Unidade Pré-Hospitalar (UPH) de Goitacazes, a médica da unidade se deslocou para o endereço e, chegando ao local, constatou o óbito. Como se trata de uma mulher jovem, sem histórico de doenças, a causa foi considerada inconclusiva. Foi emitido um pré-laudo e, seguindo os procedimentos, encaminhado às autoridades policiais para as devidas providências, incluindo a remoção do corpo. Sobre a falta de atendimento na UBS de Baixa Grande, a SMS vai abrir procedimento interno para apurar os fatos", disse.
O caso foi discutido entre os vereadores na sessão de terça-feira. O presidente, Fred Machado, expôs sua indignação diante do fato. “Soube da morte dessa pessoa e tentei ligar para algumas pessoas. Amanhã (hoje) vou estar procurando o secretário de saúde, prefeito, presidente, quem for, para descobrir o por que aconteceu esse fato. Vou pedir uma sindicância para apurar os culpados dessa tremenda sacanagem. É uma coisa que não pode acontecer. Estou indignado. Quero saber se houve negligência médica, se foi erro do governo, de quem quer que seja vou buscar respostas”, declarou.
Outro – Na última segunda (02), moradores de Porto Belo, na Penha, se mobilizaram para a remoção do corpo do catador Marcos Carvalho de Azeredo, de 56 anos, que foi encontrado morto no quintal de casa. Vizinhos contaram que o Corpo de Bombeiros foi acionado, mas não poderiam fazer a remoção sem o atestado de óbito. A Polícia Militar esteve no local, mas verificou não ser atribuição da corporação. Um médico esteve no local, mas o corpo só foi removido mais de 15 horas depois, após o irmão da vítima ser localizado e acionar uma funerária.
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