terça-feira, 3 de março de 2020

Mãe acusa hospital de Gravataí de negligência: 'Foram 27 horas de trabalho de parto para me darem meu filho morto'

Jeniffer Gabriela de Lima, de 22 anos, deu entrada no Hospital Dom João Becker na madrugada de quinta (27). Na sexta-feira (28), depois de cerca de 27 horas de trabalho de parto, Théo nasceu morto. Polícia investiga o caso.


Marcel e Jeniffer estavam ansiosos pela chegada de Théo

Era para ser o dia em que Jeniffer Gabriela de Lima realizaria seu maior sonho: o de ser mãe. Mas nada saiu como o planejado. Após 27 horas de trabalho de parto no Hospital Dom João Becker, em Gravataí, Théo nasceu sem vida: "27 horas para me entregar o meu filho morto. Parece que arrancaram um pedaço de mim", desabafa.

Por meio de nota, a Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre disse que o Hospital Dom João Becker prestou todos os protocolos de atendimento assistencial de acordo com os estabelecidos pelos órgãos municipal, estadual e federal de saúde. E que está à disposição para prestar esclarecimentos junto aos familiares e autoridades competentes. Confira nota completa abaixo.

Jennifer, que tem 22 anos, deu entrada no hospital na madrugada de quinta-feira (26). "No início a equipe que me atendeu me tratou muito bem. Era uma médica ótima. Ela examinou meu bebê e estava tudo certo. Foi me dando comprimidos para dilatar o colo do útero", relata.

A jovem conta que, conforme o tempo ia passando, novos médicos chegavam. "Ia mudando os plantões e vinham novos. O último que tinha entrado na noite de quinta me disse que não precisaria dar mais comprimidos porque meu bebê estava bem e já ia nascer", conta.

Já o médico seguinte a atender Jeniffer mudou de ideia e disse que daria outro dilatador. "Depois desse comecei a sentir mais dor, vomitei, estava com falta de ar. Minha mãe que estava comigo começou a dizer que pagava particular para fazer a cesárea, porque eu tinha entrado pelo SUS. Eles não quiseram", diz.

Segundo o relato de Jeniffer, o médico teria se recusado a fazer o procedimento. "Ele disse que era contra a lei porque eu já tinha dado entrada pelo SUS".

'Era o sonho da minha vida', diz a jovem 

Foi às 3h de sexta-feira (27), cerca de 27 horas depois de ter chegado ao hospital, que uma equipe entrou no quarto para examinar o bebê. "Foi aí que eles viram que o Théo estava com os batimentos cardíacos mais baixos. Estava em 110, sendo que o normal era 170, 180", relata. De acordo com Jeniffer, as enfermeiras correram para chamar o médico, que levou ela diretamente para fazer uma cesárea.

"Fui para cirurgia e não me diziam nada. Eu perguntava o que tinha acontecido porque não ouvia meu bebê chorar e não me respondiam. Só quando vi que minha mãe estava desesperada chorando eu entendi".

Os médicos alegaram que o bebê teve sofrimento fetal, mas Jeniffer acredita que houve negligência. "Eu tenho todos os exames de toda minha gravidez. Fiz mais exames do que era necessário até. Ele esteve muito bem durante todo o tempo", diz.

A Polícia Civil investiga o caso. Segundo o delegado Márcio Zachello, Jeniffer e o marido Marcel Paulo Peçanha, de 34 anos, registraram boletim de ocorrência por negligência. “Eles relataram o que ocorreu, que teriam insistido em uma cesariana, e apresentaram os prontuários médicos”, diz.

O próximo passo, de acordo com Zachello, é ouvir a equipe médica que atendeu Jeniffer.

“Vamos apurar se a conduta foi a causa ou contribuiu para a morte do feto, aí os responsáveis vão responder por crime”, relata.

O delegado explica que, preliminarmente, a equipe médica pode responder por provocação de aborto em terceiro, que é quando interrompe a vida de um feto. “Com pena prevista de 3 a 10 anos de prisão”, destaca.

'Não quero que aconteça com outras mães'


Em meio à tristeza da perda do filho, Jeniffer agora luta por justiça. "Fui até a polícia para que façam justiça. Não quero que aconteça a mesma coisa com outras mães", diz. Segundo ela, depois dos relatos publicados em redes sociais, outras mães contaram que já aconteceu o mesmo com elas.

"Várias mulheres vieram falar comigo, e nada é feito. Muitas estão com medo", diz.

Para ela, o que vai ficar é um vazio no peito. "Nove meses fazendo tudo para ter ele. Roupinha, tudo. Era meu sonho. Só quem perde um filho pra saber, eu não pude nem ir no enterro dele, nem pegar no colo", relata.

"Parece que arrancaram um pedaço de mim, que tiraram o meu coração fora, que tenho uma coisa oca no peito."

Nota da Santa Casa de Misericórdia

A Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre informa que, referente ao atendimento prestado à paciente gestante que deu entrada no Hospital Dom João Becker às 1h17min do dia 27/02/2020, todos os protocolos de atendimento assistencial foram prestados de acordo com os estabelecidos pelos órgãos municipal, estadual e federal de saúde. Entretanto, a instituição registra a sua solidariedade com a família neste momento de dor e está à disposição para esclarecimentos junto aos familiares e autoridades competentes.


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