Giltemberg Fernandes Cruz, de 40 anos, sofreu um acidente de trânsito em 2010 e passou por uma cirurgia com comprometeu o movimento da mãe. Desde então, ele diz que não consegue trabalhar, e sofre com dores físicas e psicológicas.
Giltemberg Fernandes Cruz entrou na Justiça para tentar garantir cirurgia de reparação
O pizzaiolo Giltemberg Fernandes Cruz, de 40 anos, está há mais de 11 anos esperando uma reparação de um erro cirúrgico no Hospital Geral de Roraima (HGR). O problema, segundo ele, comprometeu os ossos do braço e o movimento da mão. Desde então, ele lida com fortes dores e com a vergonha por não conseguir usar o membro.
Giltemberg conta que sofreu um acidente de trânsito em 2010. Ele conta que o erro cirúrgico comprometeu não só a mão, mas também a autoestima, o psicológico e, principalmente, o trabalho tendo em vista que ele não consegue mais executar os serviços porque precisa utilizar os membros superiores.
"Colocaram meu braço em uma posição errada, ao contrário, e dói todos os dias desde então. Dói demais. Já procurei de todas as formas fazer essa cirurgia de reparo durante todos esses anos e até agora nada. Nunca fizeram nada, nunca ajudaram em nada, nunca fizeram outra cirurgia para consertar", afirma.
Por erro cirurgico, a mão de Giltemberg sofre com desfiguração
O pizzaiolo relembra ter procurado todas as formas fazer a cirurgia de reparação, mas nunca conseguiu. Em fevereiro de 2011, entrou com uma ação judicial para conseguir o procedimento e também indenização por danos morais e estéticos.
Em abril de 2021, uma decisão do juiz Luiz Alberto de Morais Junior, da 2ª Vara da Fazenda Pública, julgou o caso como "parcialmente procedente" e condenou o governo de Roraima a pagar R$ 20 mil reais ao pizzaiolo por danos morais.
A decisão cita que perícia constatou que houve "uma falha de técnica cirúrgica devido utilização de material de osteosintese (placa) incorreta" e também destacou que em momento algum o estado se dispôs a tentar realizar o reparo.
"Dessa forma, forte nessas argumentações, há prova do nexo causal entre os danos sofridos pelo autor e a conduta ilícita culposa da parte ré e médico em referência, encontrando-se configurada a responsabilidade civil do Estado, surgindo para este o dever de indenizar, em razão da teoria, faute du service sendo entendida a como elemento subjetivo, no caso, a culpa".
"Como se não bastasse, em momento algum demonstrou o Estado, ou o médico que realizou a cirurgia, que haveria ao menos tentado reparar os danos físicos acarretados ao autor, com uma nova cirurgia, para minimizar as dores crônicas e a limitação funcional do membro cirurgiado, como mencionou inclusive o perito do juízo, de modo a reduzir pelo menos o sofrimento e a dor crônica resultante da infeliz cirurgia em tela", destaca a decisão judicial.
Após a decisão, o governo entrou com um recurso à decisão em julho de 2021, mas o recurso ainda não foi julgado. O governo foi procurado mas até o momento não houve resposta.
O Tribunal de Justiça informou que a ação está em fase de manifestação "sobre o julgamento da apelação".
Já o governo, por meio da Secretaria de Saúde, informou não ter conhecimento do caso. "Nenhuma denúncia formal relacionada ao caso foi feita junto à Ouvidoria da Unidade [HGR]".
"Reforça ainda que também não recebeu qualquer notificação referente à suposta denúncia por parte do CRM-RR (Conselho Regional de Medicina de Roraima) ou do CFM (Conselho Federal de Medicina), que são os órgãos com competência para fiscalizar o exercício das atividades das unidades hospitalares do Estado."
11 anos sentindo dores
Giltemberg conta que desde que a cirurgia foi feita, sente fortes dores todos os dias. Ele afirma que tenta conviver com a dor, mas nunca conseguiu se acostumar. Ele tinha 28 anos à época do acidente.
"Eu sinto muitas dores, eu tento acostumar mas não tem jeito, está lá todo dia. Eu tento aprender a conviver, mas é muito ruim. É muito difícil. Eu tomo remédio e não passa. E é esse o meu dia a dia".
Giltemberg ganhou um processo parcial mas ainda não foi tomada nenhuma providência
O que mais o revolta é a demora de uma década para que seja tomada alguma providência sobre o problema. A reparação, de acordo com o pizzaiolo, custa R$ 70 mil em clínicas particulares e, mesmo assim, muitos profissionais sentem medo de apenas agravar os erros da primeira cirurgia.
"Tenho que conseguir uma cirurgia de reparo pelo governo pois eu não tenho R$ 70 mil para fazer uma cirurgia dessas. Já tentei tanto, ninguém faz essa cirurgia com medo por estar há muito tempo assim e mexer e fica pior. Eu já tô perdendo as esperanças, tenho muito medo de ficar assim para sempre".
Além das dores, ele relata que sente vergonha da mão, o que afeta a rotina e o bem estar.
"Está com muito tempo, já era para esse processo ser julgado, já era para ter dado um jeito de mandar fazer essa correção, mas ninguém faz nada e eu não quero ficar assim para o resto da minha vida. Eu tenho muita vergonha de sair na rua, eu tenho vergonha de aparecer. É muito constrangedor".
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