terça-feira, 13 de dezembro de 2022

Justiça determina afastamento de médico suspeito de causar lesões em mais de 15 pacientes no RS; cinco pessoas morreram, diz polícia

 

Durante período de 180 dias, cirurgião João Couto Neto não poderá exercer função. Polícia Civil de Novo Hamburgo cumpriu mandados de busca e apreensão em três endereços.


Justiça determina afastamento de médico suspeito de causar lesões em pacientes do RS

A Justiça determinou, nesta segunda-feira (12), o afastamento por 180 dias de um médico suspeito de causar lesões em 15 pacientes no Rio Grande do Sul. Inquérito policial aponta que cinco pessoas morreram após intervenções realizadas pelo cirurgião João Couto Neto. Durante o período, ele não poderá exercer a função nem se aproximar das pessoas e parentes das vítimas que teria lesado.

A defesa do médico diz que ainda não teve acesso aos autos do processo.

A investigação identificou que a maior parte dessas cirurgias foi realizada no Hospital Regina, em Novo Hamburgo, na Região Metropolitana de Porto Alegre. O inquérito policial aponta que o cirurgião possui "uma espécie de reserva antecipada" e sugere "fácil acesso aos blocos cirúrgicos".

Em nota, o Hospital Regina diz "que colabora com a Polícia Civil, Ministério Público e Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul em sua investigação e que não informa nenhum detalhe sobre os trâmites das autoridades" e que "reafirma seu compromisso com a saúde da comunidade e segue normalmente com seu atendimento".

Clínica de médico investigado pela Polícia Civil no RS 

Mandados


Durante a tarde, a Polícia Civil cumpriu mandados de busca e apreensão no apartamento do cirurgião, em uma clínica particular de propriedade do médico e no Hospital Regina. A Justiça negou o pedido de prisão preventiva do médico.

Conforme o delegado responsável pela investigação, Tarcísio Lobato Kaltback, o médico, que se apresenta como especialista na realização de cirurgias do aparelho digestivo, é responsável por "intervenções desastrosas e desumanidade no tratamento pós-operatório, com descaso total quanto à saúde".

"Uma vítima, por exemplo, ia fazer a correção de uma hérnia e tinha o intestino perfurado. Uma outra vítima ia fazer uma cirurgia de uma pedra na vesícula e tinha o fígado cortado", conta o delegado.

Entre os relatos coletados pela polícia, há depoimentos que apontam casos de infecção generalizada, trombose, embolia pulmonar e até mesmo demência após a realização de procedimentos realizados pelo cirurgião.

Policiais cumprem mandados em investigação contra médico no RS

Mortes


Dois irmão dizem que o pai foi para a mesa de cirurgia por causa de uma hérnia. O procedimento, que era para ser simples, terminou em morte. "Em virtude dessa cirurgia, ocorreu uma perfuração do intestino. Aí, como o intestino estava perfurado, também não havia como fazer a alimentação enteral, parenteral, vazava. Então, ele foi definhando", afirma um deles, que prefere não ser identificado.

"O nosso pai foi dirigindio para cirurgia e saiu num carro funerário do hospital", diz outro irmão.

Uma comerciante de Sapucaia do Sul, que também não quer ser identificada, conta que a mãe teve um órgão perfurado durante uma cirurgia e não sobreviveu.

"Ele perfurou o intestino em mais de um lugar. Disse que estava tudo bem, e quando nós voltamos para internar, porque ela estava realmente muito debilitada, ele interviu novamente mais três vezes cirurgicamente, só, porém, ela veio a falecer", conta.

Médico João Couto Neto, investigado pela polícia no RS

Dívida contraída e órgão perfurado


Uma paciente afirma ter recebido uma conta de co-participação do plano de saúde no valor de R$ 50 mil. O valor cobrado era correspondente à extração de um cisto no ovário.

Algum tempo depois, ao realizar exames e levá-los para avaliação de outro médico, foi constatado que o órgão não foi extraído e que ela teve o intestino perfurado.

"É um trauma muito grande. A gente perde a confiança nos médicos, a gente perde a confiança no corpo da gente, na possibilidade de ter uma vida em paz, porque a qualquer momento tu acha que vai voltar, que vai precisar passar de novo por algum procedimento", relata a mulher, que prefere não ser identificada.







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